segunda-feira, 31 de julho de 2017

Vestidas de Raízes

Vestidas de raízes e ramos de um outro dia,
A saudade do Outono, Ícaro e a sua queda,
Quase as ouço ao longe com sua melodia
Que é escuridão e luz por uma azul labareda,

As musas dos poetas de outrora são enfim
O único motivo pelo qual há de todo poetas,
Apaziguam a alma e iniciam onde só há fim,
São do superior as únicas e verdadeiras profetas,

Confidências à Lua, sorrindo, entre as suas irmãs,
Suspiros enviados à margem da estrada esquecida,
Enlevava o poeta das horas enfim tidas como más,

Pontuo  com reticências o resto do rosto da maré,
Persigo-a hipnotizado através da noite indefinida,
Deixando um bouquet de estrelas em seu rodapé.

Tal a Ardente Fénix

Tal a ardente fénix ergue-se de novo o sonhador,
Seu sorriso esboço para musas e ternas donzelas,
Tu aquele que mesmo sem amada é eterno amador
E este trilho é o teu pincelar por diferentes telas,

Estes raios de sol não são pertença, são irmandade,
Espaço para o movimento e moção para o sentimento,
De pés no chão e alma no céu jaz essa eterna beldade
Que por vezes vai de mão bem dada com o sofrimento,

Beijo o espelho e sua testa é beijada, oh doce trovador,
Tens asas arquejadas nas costas ao horizonte esticadas,
Por onde passas deixas um rasto de fragmentos de cor

Onde os segundos passam e as horas são bem amadas
Por vezes numa ferida aberta para se ocultar melhor
Pois tu és a delicadeza de tantas mãos até agora dadas.


As Núpcias

As núpcias com o beijo da suave maré,
Contava as bolhas e porções de areia,
Dormia em sonhos quase perdidos até
Por instantes altivos de luzente candeia,

Envolvido por cânticos de musas esquecidas,
Em confidências à Lua, lembrava nosso amor,
Um sonho lindo de histórias mútuas vividas,
Crescendo e propagando-se tal a mais viva flor,

Sorria entre lágrimas pela beleza conferida,
Delineando asas de assombro e esplendor
Numa praia deserta em si então já perdida,

Reaberto e esticado a todo esse belo ardor,
Oh praia deserta ainda és a minha querida,
Ainda és tu a receptora deste meu calor.

As Aventesmas

As aventesmas pairam fora desta janela,
A lua cheia é de seus nomes esquecida,
A confidente aos prantos ditos por ela,
Intima com a noite, tão suave e querida,

Quase esqueci daquela que me deu a mão,
A sua envoltura e beijo dado no regaço,
Parece que quase tenho um inteiro coração,
Parece que nem sinto falta daquele abraço,

Aos passos ecoados por uma eternidade,
Já vos beijei a mão, lanço-me à estrada,
De peito a arder e sem grande finalidade,

Sereis vós minha verdadeira e única amada,
Em vós encontro enfim o reflexo de beldade
No viandar pela mensagem desta jornada.



Seu Apelido Era

Seu apelido era a penumbra de uma margem,
Acossada pela maré, beijada pelo céu ofegante,
Assim esvoaçava e deslizava ao toque da aragem
Num momento que parecia tudo menos distante,

Esperando o reencontro eu era o simples trovador,
Com a Alma, com o criador e quem me é querido,
Ladeado por galáxias e nebulosas isto sim Amor,
Era ser aquilo que em outras vidas tinha perdido,

Procurando o toque ao fio do fim do horizonte,
Por aquele instante que é superior ou igual a Deus,
Encantado por ser e fazer parte de uma una ponte

Transbordando através de constelações, mil corações,
Estrelas, minhas perenes amadas entre eternos céus
Sou quem vai e imagina cantarolando vossos refrões.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Os Buracos das Estrelas do meu Tecto

No tecto observo buracos de estrelas cadentes,
Outrora eram a companhia tal apaziguante farol,
Relembravam a luz e magia ao homem ausente,
Que as nuvens eram trampolim, voo, lençol,

Assim passavam as noites pelo trovador,
Um trilho ínfimo transbordado de um peito,
Era meretriz e ladrão do beijo do beija-flor,
Resgatado em poesia e vertido num terno leito,

Era hora de cantar, acordar e subir escadas,
Hastear o sol, acender candeias atrás da lua,
Elevado, erguido e volteado entre suas amadas

Vendo finalmente a aurora sob esta pele nua,
Buracos de estrelas cadentes tenho-vos cravadas
Na alma, pelos cantos e nas esquinas desta rua.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Visto-me de Plumas

Visto-me de plumas e lanço-me no precipício,
Com duas asas rascunhadas por uma criança,
Estes olhos são pintores para esse solstício,
Duas almas ciganas cantarolando uma dança,

Deixo a partida em abraços apertados à brisa,
Vertido na paisagem que imagino num beijo
Contido por candeias e sombras a esta poetisa
Que mora em mim entre a ânsia e o desejo,

Vagueio entre estrelas e luas de fragmentos
Da noite para o dia, procurando meu amor,
Por entre apelos largados aos quatro ventos,

A ampulheta será a minha senhora, o ardor
Das noites em que varei por acontecimentos
Junto ao vosso coração plantarei uma flor!...

Assim me Separo de Mim

Assim me separo de mim, das ânsias e dos desejos,
Divorcio do pretendido, das mazelas do querido,
Cobre-me o céu, subterfúgio do mar e seus beijos,
Vim do longínquo, sou a distância do reflectido,

Sou em mim amor universal, o filho elisiano,
Sobro de mim, vertido na tapeçaria da vida,
Esparramado por sete cores, o poeta insano,
Para sempre procurando amor na hora tardia,

Canto a maré e vocalizo a brisa na entoação
Que é este eco restante do ficado por dizer,
Quase só me falta encontrar o resto do coração

Para poder enfim gatinhar, andar e correr,
É tempo de partir, dedico-vos uma canção
Feita de luz desde a sombra deste meu ser.

Confidências

Confidências e restos de existências doutra vida,
Ladeado por sombras envolvidas na bruma,
Quantas vezes fui a chegada sem partida
E lembrança deixada sem coisa alguma,

Se até de uma calçada pode nascer uma flor,
Se do nevoeiro cerrado há espaço e caminho,
Então escolho aquele cujos passos são amor
Desde que emanados com todo o meu carinho,

Por searas auríferas cicatrizes ora diademas,
Feridas abertas enfim tornadas em enfeites,
Removem a falta de oxigénio e estas algemas

Abrindo o caminho para mil e um deleites,
Sob o assombro destes largados poemas
Há o infindo, o eterno desde que o aceites.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Emaranhado

Emaranhado assim numa teia de espelhos,
Vendo-me nu porém vestido e por baixo
Serei tal um recém-nascido e mil velhos,
Onde será que neste mundo me encaixo?

Enredado ainda ouço seus ecos pela escada,
Suspiros tornam-se lágrimas de incerteza
E sua passagem é pesadelo sem alvorada
Num trilho já trilhado rumo a vera beleza,

Enleado por bruma esbanja-se o encanto,
Rugas grisalhas tornam-se beijos perdidos,
E entre esquinas prolifera indómito o pranto

De quem morreu para mil sonhos coloridos,
Por fim repouso em gélidos braços enquanto
O presente é a saudade de mil anjos caídos…

Planto

Planto para os céus uma semente de ruína,
Esperando de palmas abertas um passado,
Também espero olvidar um dia a doutrina
Que me tolda a vista e não confere estado,

Estendo os braços para o mar inteiro albergar,
Sou filho dos que me antecederam, a quimera,
Fui tantos quanto consegui ser e mesmo amar,
E de tantos ser muitos deixei de ser oh quem dera

Poder ir no trilho do virtuoso, na dança sem nome,
O rapaz feito homem extraviado ao caminho,
Que venha o vero beijo e por mim me tome

Pois este resto é lugar quase por fragmento,
A face lunar, o viajar tão e tão devagarinho,
A parte de mim deixada ao passar do momento.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Estou Pronto

Estou pronto para ser seja o que for,
Fardos são os melhores amigos dela,
Escondem o dito, o perfume de uma flor,
Fazendo noite sem espaço para uma estrela,

Entre margens de estrelas trilhando sozinho,
O poeta perdido de sua própria fragrância,
Onde se terá ele extraviado do seu caminho?
Somos nós deste mundo sua maior distância,

Hesitamos perante a perfídia de um poente, 
Sou parto para a luz num enigma silencioso, 
Outrora sonho grandioso de fronte comovente, 

Sob um céu aberto suspirei de joelho na mão, 
Inocência respirada de novo num olhar ansioso
De tudo um pouco dela, um píncaro no coração.