quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Pois Um Dia

Fechando os olhos apenas por um momento,
A berma afastada celebra um sonho sonhado, 
Recuso-me a partir, a esquecer o sentimento
De quem se largou no poema, o escrevinhado, 

Não posso descurar que somos poeira ao vento,
O anseio e desejo futuro, um instante passado,
Pois ao partir a pegada na estrada é testamento
De quem lá passou em ritmo lento ou apressado, 

Para a foz tragam o melhor que vem da passagem,
Esta brisa é o ponto do tempo que é toda a verdade,
Por isso preencho os pulmões, sinto-os com a aragem, 

A procura é por quem não encontramos, dentro ou fora, 
Almejando que o dia regresse agindo em reciprocidade,
Pois um dia sim iremos todos fugir, iremos todos embora.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O Passo Desalinhado

Esta melancolia verte-se na lágrima caída,
Esta solidão, esta demora é esta amante,
Por quem me enleva o coração, a batida
Aumenta o ritmo da chuva sempre errante, 

Espero por quem ainda não me apareceu, 
Espero por quem já foi e partiu há estações,
Esquecendo o beijo que esvoaçou para o céu
E timidamente, esqueceu a fluidez das canções

Que adormeciam gigantes na delicadeza do amor,
Então merecem os corações esse toque de Ícaro? 
O perdão pedido, as asas ardendo e neste torpor 

Encontrar felicidade, o morrer com um sorriso traçado,
Que o morro deixe a paz e paixão elevada ao pícaro
Do Elísio, pois tem de haver trilho para o passo desalinhado.

Acredita Nestas Palavras E Confere-me A Mão

Confere-me a mão em plena confidencialidade,
Demonstrando-me que não há razão ou idade
Para se ser feliz por um momento desta vida
Pois a qualquer instante vem o fim, a partida, 

Logo devemos aproveitar este bocadinho de sol, 
Escapar às curvas da estrada, às redes, ao anzol,
Pois há tanto para ver e saborear, há tanto a tocar, 
Por vezes parecemos baratas tontas de papo para o ar, 

E há parte do expoente do dia, parte do que é importante, 
Por isso a procuro sempre mais e mais, o eterno suplante
Do passado, o amor indomável, o beijo eterno e devasso

Em breve seremos novamente poeira, é erro crasso
Não aproveitar este mundo enquanto nele estamos,
Ou não instanciar o beijo enquanto nele habitamos.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

De Mão em Mão

Cabeça na almofada, despertador na cabeceira,
Debaixo do Sol caminhamos de mão em mão,
Perdidos entre cores, encontrados na ribanceira,
De tanta curva e contracurva, vem a contramão,

Lá fora o Luar expedita aqueles sonhos e ilusões, 
Onde, de mão em mão, estrelas foram alcançadas, 
Nas frentes outrora escuras temos nossas dimensões,
Este instante é nosso, dizem as noites alvoraçadas,

E se um dia me faltar o ar, se um dia eu for partida, 
Que o deslumbre continue, que não seja peça extinta,
Pois enquanto formos de mão em mão, na investida,

E tivermos falta de mais, chama, o mundo a nossos pés,
Trincando a maçã, bebendo o vinho na sombra indistinta, 
Com saudades do Lar, lugar, beijo na face em belos rodapés.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Eu Por Cada Momento

Transpõe-me para uma ausência de escuridão,
Pois a terra é um carvalho assente em raízes, 
É um livro escrito com galhos em imensidão, 
Apontado para Norte, somos meros aprendizes, 

Folhas caídas pelo Outono revestidas, doce som,
Pois aqueles que abdicam de si são crianças nuas, 
Calcando ignorantes o futuro e a sua sofreguidão, 
Assim vão passando os sois, assim passam as luas, 

Daqui para o infinito e dele para o preciso instante
Onde enveredamos pelo trilho cuja semente é plantada, 
Crescem fortes estes troncos do peito, não obstante

O quanto nos lembramos do que pretendemos projectar,
Este jardim de Éden, os campos Elísios, a luz fragmentada
Nada nem ninguém me irá impedir de cada momento amar.



A Candeia Para a Escuridão

A exigência de pedágios para a passagem na ponte,
Caminhando ouço as vozes dos que me precederam 
Eu, só o viandante pretendendo chegar ao horizonte
Trazendo aos ombros os gigantes que antes viveram, 

Entre montanhas e vales, que me siga quem se procura, 
Este trilho é abóboda celeste para os reais sonhadores
E será caminho da brilhante escadaria à viela escura
Pois somente a revinda do sonho removerá as dores

De quem amou e ficou demasiado tempo perto do fogo, 
Inalando fumo nos pulmões por longínquas distâncias,
Saibam que um dia chegaremos algures... logo, logo

Seremos a pertença de um beijo doirado jamais dado, 
Anjos entre homens, homens inteiros e até crianças,
Este coração é candeia para a escuridão, é o fado. 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

O Universo de Si Consciente

Quando viramos a coberta que nos encobre,
Há horas passadas que vão pelo nevoeiro
Do tempo, nossa riqueza que nos faz pobre
Se enquanto não usado vai com o barqueiro,

Tais passos não dados, a indiferença do olhar, 
É assunção de escassez de vida, de partida
Do ser antes de ter ido, não é possível amar
Sem deslumbre se a margem não é querida, 

Fugimos à morte se atingirmos o acontecimento,
Deus pretende que entrelacemos nossa história,
Somos expoente em vida se formos no momento, 

Portanto assim vou e rumo desaforado e impaciente, 
Um dia sim, seremos apenas mais uma memória
Porém hoje somos o Universo de si consciente.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

É Preciso Despertar

É preciso despertar o brilhante do firmamento, 
Transparecer luzidio para poder alumiar o dia,
Este aqui é o único instante, o único momento
Para poder trazer o brilho das estrelas e a magia, 

Escrevo-a dentre dedos cujas pontas são esticadas
Para o horizonte longínquo, porém, no presente, 
É assim que nascem asas destas costas arcadas
Mesmo quando regressa a chuva incipiente,

Lembranças dormentes passando de mão em mão
E não tidas tais nuvens brancas além escondidas
Até andei de pernas para o ar para sentir o chão

Entardecendo a aurora com um Luar versejado,
É preciso reencontrar as horas outrora perdidas
Para finalmente reencontrar o nosso Sol amado.