quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Primaveras sentirão a minha falta

Quando partir; as Primaveras entoarão minha falta
(Sei-o perfeitamente, mas… alguma vez cá estive?)

De cabeça na palha, o enegrecer do dia, luzente,
A compartilha alífera, singelamente estonteante,
Na entrega e recepção do caça-sonhos inacabado,
Aquele que não conseguia albergar toda a luz solar;
Rememoro a busca e encontro da estrela comum,
No meio de milhares, nossos olhos coincidentes
No mesmo ponto tangível, éramos magia genuína;
Indaguei os céus no dia seguinte, apontando-a sozinha,
Trazendo-a na algibeira, convicta de sua especialidade;
Sítios diferentes, caminhos divergentes, perdi-a enfim.
Alienei o que nos unia, a única estrela comum.
Nossa bela e exclusiva estrela. Nossa…

A dor da cativa, não cativada, aprisionada em anseios
Beijos a todos, o simples toque de todas as suas palmas,
Atravessando-os e dissipando-me em seus bateres,
Bailávamos lestos até aos despontares da alvorada,
Livres e selvagens, de sorriso revelado incidente
Esplendente voz em sintonia, somente eu sabia,
O néctar do conseguir deslizar sobre o vento,
O som nos ramos repercutido, re-ressoando,
Da passagem infinita ao fraterno infinitésimo,
Em mim e eu todos os eus de que faço parte.

{Mas eventualmente, farei parte delas.}


Rosa. M. Gray

A Estranheza do Olhar Pt. 4

Quando encarar o é com estranheza, tudo é estranho,
Anunciando a brevidade da derradeira despedida,
O toque lancetado à algesia, somente e único,
Deslizando na estranha consciência, maledicência
Em serena profusão, sendo esta então, difusa,
Com e em (sem?) sentido desprovido de direcção,
Sou alabastro, em margem de berma de caminho,
Contendo mãos alheias em palmas insuladas,
Somente e só, ressoando a finito ecoado além,
Reconhecendo as esquinas divinas nestas suplicas
Envolvendo e revezando com e no objecto finito,
Sediada era toda a moção, exceptuando acolá,
Exceptuando o singular e único contemplar.

A fracção restante era porção de cor,
Transposição fleumática de meio-tom,
Este sim:
Carecido de oxigénio para enfim respirar.
A única e ultima réstia de ar límpido, sim,
O objectivo é o agora fulminado,
Nas alamedas das docas em maresias,
Vai repousando a manhã em sobressalto,
A lucidez do faroleiro guardada em sótão
Poeirento em seu alvéolo, encontrado
Na vigília face ao poema inacabado,
Adormecendo à mercê das ondas,
Suas tipografias meus rascunhos,
A insídia da passeata sua perspectiva,
Mendigando a formalização da dança,
Assentando-se na fatiga da estadia,
A proximidade da noite, esmorece o dia,
Em palidez circunscrita aparente,
Beijo-vos a mão, desconhecendo tal razão,
Do azul mais escuro, ao claro mais escuro,
Surge a aurora, seu toque delineado neste rosto,

Arrastamento em consequente ebulição,
Ambivalente face ao denso, o proveniente
Espectador em palco opaco, afinal vendo
Seu sorriso retratado, em objectos vulgares,
Eram folhas rasgando as fundações cerúleas,
Breves e esplêndidas, retornando ao ponto inicial,
Silenciando-me à grandeza do fôlego em sono,
Meu carpir, desfoque difuso, panorama em tons
De matiz - o cerúleo: este olhar reflectido no céu.

Seu outrora ósculo, é hoje o meu vaguear,
Na fatiga o espectador que há visto o desmedido
Balancear aparentemente impávido no olho da intempérie
Dos seus colmos e elmos delapidados, tudo o dado
Do cinzento que é tudo menos cor, a porção recebida,
Sorriso, pintado no canto do olho direito, na alma
O convite aberto às nuvens, ao paradigma tatuado
Neste espírito, confere alento até ao pesaroso fardo,
Sim! Em afirmação! Euforia concretizada - Euoé!
A brisa sussurrando pelas folhas, murmura meus nomes,
O anseio aparente em sua inquietude, redecorando minúcias
O momento de contemplação, recordando o instante vindouro,
Bosquejo estoriado no cantinho harmonioso, gentil e suavemente,
Suspiro um: “até já”.
Partindo,
(Com um adeus retratado no coração).

Rosa M. Gray

O Hálito que Exalas Pt. 3

O hálito que exalas, deveria ser todo o meu oxigénio
Respirando seu ósculo, este ténue pestanejar
No seu frágil latejar, as palavras em silêncio
Tenho saudades sim, assumo-o.
Sim… assumo-o.
(de)
Quando seu beijo, era simultaneamente o meu,
O Eu, era encontrado, o Eu, era complementado
Pela sua metade mais inteira, sua verdade remota.
Este respirar, apenas mais um tom para o anseio,
O anseio de coisas lamechas que nunca murmuraria
Em vulgares páginas de papel, na futilidade,
Esboçaria talvez na maior praia do maior oceano,
Mas somente no mais minúsculo grão de areia
Ou então em baldes de cimento atirados borda fora,
Que repousem dormitando na profundidade do oceano,
E permitam que repouse novamente também, enfim,
Talvez.

(Se te traçasse as galáxias escusas em meu olhar,
Envolvê-las-ias?)


Rosa M. Gray

A Ilha Pt. 2

A ilha oceânica que temia as ondas,
Que adormecia a cada despontar do sol,
Ouro fluindo entre olhos mais do que fadigados,
Que esmorecia perante o anómalo de cada dia,
Suas margens, pergaminhos de areia onde o mar,
Sussurrava meus nomes, e a cada novo nome,
Uma memória revezando uma existência,
Ora absolutamente alheia, ora algures minha,
Mais solitário em cada nova vaga, o anel entreaberto.
Velho amigo, como sinto a falta dos nossos passeios,
Também o oceano é apenas uma acumulação gigantesca,
De gotas, apenas gotas, só e somente gotículas minúsculas.
Não receies o jardim do céu, ora azul, ora estrelado,
Ele - Estende seu fulgor nestas gotículas fluidas,
As lágrimas do céu jamais terão fim,
Não temas, teu fim em sua reflexão.

Rosa M. Gray

Tudo quanto Choramos Pt. 3/2

Esbracejamos para ostentar vida
(Esbracejamos vida, para ostentá-la),
Quando o viver é tudo menos isso.
Porém ardemos antes da alvorada,
É a algesia à sinceridade da poeira solar,
Abrasando a susceptibilidade das pálpebras,
Enfim, engasgados pela espessura cerúlea,
Frios e ermos – o seu algoz: irresolução,
Desconhecendo o termo condensar,
E até o ascendente do fluir: natural.

Rosa M. Gray

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tudo quanto Sorrimos Pt. 3/2

Em cada canto, recanto, cofre, baú,
O verdadeiro e ímpar tesouro,
A aceleração versada,
Não pretendo nada,
Para além do além,
A estupra intempérie,
E sua diluição,
Nesta pupila,

n. ego

Tudo o que choramos é irmão de tudo o que sorrimos Pt. 1

O tom mais natural repousante no sorriso,
Caminhando perdidos com destino anódino,
O escuro da paragem é o objectivo anónimo,
Mudando sua direcção a escassez das palavras,
O anjo do fim a caminho, correndo, apressando
Sua chegada, impaciência incontida vertendo além,
Quando a fluidez é encontrada, a propagação é leve,
A zona das estrelas é alcançada, abrangida no interior,
Pois a proximidade do jazigo e a sua simples sinceridade,
É a vossa algesia, aceitai seu lamento, beijai seu antónimo.

{as causas pertencentes a cada um – cativai-os e sejai-lo}

Rosa M. Gray e n. ego