quinta-feira, 10 de junho de 2010

Tenções de um Derrelicto

Tencionava hospedar algo inerentemente inevitável, algo inevitavelmente cabal para partilhar, algo dotado de tal poder imenso e pleno que despoletasse em quem quer que o lesse uma acção-reacção fundamentada e real de tal ordem que as suas órbitas saltassem ou seja, o seu cérebro implodisse e a sua alma fosse embalada pelo mais suave gesto enternecedor. Almejava que o seu poder sobraçasse mundos e galáxias e sucumbisse somente quando aquele rasgo de esperança, sobejamente reconhecido pelos que ousam apontar para algo mais, cedesse…
Como se perseguíssemos o mesmo fim do mesmo arco-íris, como se essa perseguição fosse recíproca a quem a permite simplesmente ser. Somos abalados e badalados pelo cinzento rangendo os dentes em sua resposta, esquecendo de que uma resposta sem uma pergunta, é uma afirmação do ser subconsciente, do alfa propalando-se ao ómega e deste retornando ao alfa. Algures nesse intervalo, espalho meus resíduos no éter cerúleo, um dia serei o arco-íris, disso tenho a certeza, disso tenho a inevitabilidade da questão.
Mas eis a sua irmã diminuta, a inevitabilidade da sala vazia reduzida à sua perspectiva mais afónica, mais redundante e eu nela, contido, ornando suas vestes, despojado de significado… Sim hoje, sou o poeta menor e se sou menor, desconheço o significado de ser poeta. Nem com os braços estendidos, palmas abertas bramindo ao zénite dos céus provem a dignificada resposta às preces subentendidas num suspiro que mais que suspirado, é inalado, extorquindo o próprio oxigénio ao ar, onde está o mais esplendoroso de todos?
Dividindo montanhas da terra algures fui encontrando (talvez no entremear de nuvens do céu ou quiçá de suas irmãs reflectidas no mar), no fragmento do poema subdividido em partes fraccionárias oh como vos invejo minhas musas, vós que cantarolais o firmamento por cada fôlego que susteis e indagais as ondas dos oceanos por cada vislumbre que ofertais. Beijo-vos a mão, desconhecendo tal razão… mas em emoção, sou o Universo sob forma corpórea e material, feliz.
No entanto, não há música, sustem-se a génese de prolixo acalentada por esta perspectiva perpendicular que, dependendo da vista (que é minha ora é minha, será mesmo minha?), vai mirando por um ângulo agudo e então a intensidade do conhecimento relativo torna-se minha, interrompendo-se as vozes…



N. Ego e Rosa M. Gray
por joel nachio