quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Suspiros e Murmúrios

Sou suspiro e derrocada, a procura por tudo e de nada,
O pássaro azul que tenta ser e vai de boca aberta,
O aceno de olá e o adeus que reside na alma do peito cravada,
O apelo ao floco de neve em indeterminada hora incerta, 

Que em mim desperta gratidão por ter em mim nascente, 
Por um momento vivido, pela raiz e através de um ramo, 
Sentir-me acompanhado mesmo quando nem sequer há gente,
Ir pelo trilhado enfim, através do caminho que ainda amo, 

Expresso o passado por um instante outrora eclipsado, 
Esperançando alcançar o começo de outra margem querida
Por onde, por vezes, não há nada a alcançar no esperado, 

Pois por vezes ao caixão tiquetaqueamos, silêncio ouvido, 
Porém há berços jorrando entre o abismo, a ferida, 
Mesmo quando só resta o que já expirou, o perecido. 


terça-feira, 19 de dezembro de 2023

O Caminho É O Caminhar

As lembranças caiadas ao som de passos proferidos
Mediante sussurros ao descuido da manhã largados,
Passando de mão em mão, por momentos já retidos,
Onde eu, por segundos, fui outros seres fraccionados,

Dormente e ofegante, entrementes por fôlegos sustidos,
As folgas entre o pavimento, o chão, e eu em bocados,
Numa dança entre o ontem e o amanhã, os sóis esquecidos
São suspiros partilhados entre crianças, breves e alongados!

Por entre valsas perfeitas fecho os olhos e sonho ilimitado,
Não idolatrando a morte, a bruma, a tristeza, esvoaçando,
Enfim sou Homem Inteiro mesmo que por vezes encurtado,

É preciso ir e correr atrás do luar, pois há gestos ainda a Ser,
E o caminho é o caminhar, cada passo que vai assim passando,
Mesmo perante a sepultura, há altura para o salto, para o viver.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Procurando a Efémera Beleza

Entre as paredes de mármore há inusitada beleza,
Danças lentas onde se relembram certos instantes, 
Por lá torna-se o outrora vulgar na maior grandeza,
E viram-se os desconhecidos finalmente em amantes,

Resignados, aceitamos o amor que pensamos merecer,
E quando entardece, quando a noite faz em nós lugar, 
As linhas de vida escurecem, segue-nos o tentar crer, 
Mesmo quando o chão esmorece, o permitir acreditar

Confere asas a quem se esqueceu por fim de esvoaçar, 
O sonho alado, o beijo indómito, paraíso em passagem, 
Sou apenas outro poeta amador, e neste intenso almejar

Trago todos os poentes referentes a uma dada infinidade, 
Desde a monção tida em frialdade até à eterna mensagem,
Passarei segundos para sempre à procura dessa breve beldade.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Efemeridade Transcendente

Pensamentos sobre voar, sobre sob a chuva sair,
Numa jornada para as estrelas, para o infinito,
As razões para o seu sorriso, sobre o seu vestir
Constelações tal princesa de um céu bonito,

Roupas feitas de areia que a maré teima em esconder,
Enquanto estendo a mão para o firmamento indagar,
Olhando por pinturas de vidro escurecido, manuscrever
Quem disse "adeus" ao se ouvir "olá" num suspirar,

E o Verão foi partindo e o seu calor foi esmorecendo,
A multidão para casa foi procurando um lugar quente,
Num tempo sem resposta, numa noite que escurecendo

Se vai procurando no amanhecer e na sua divina beleza,
Condecorado seu beijo súbito, as cores sem fim e a gente
Que se esconde entre as pedras da calçada e na sua delicadeza.

Ecos na Eternidade: A Busca

Não quero morrer jovem, ser eterno é a pretensão,
Ruído e silêncio nestes braços ao Sol estendidos,
Este apego ansioso, outra forma de terna monção,
Nó na garganta e no estômago,  dor nos sentidos,

É preciso ir, mas como ir se a passagem está fechada?
A vertigem do coração é real, é precipício e falésia,
Olhando para dentro, seta de Cupido então quebrada,
O sono entre o tempo e o espaço, da insónia à amnésia,

Abreviado em Vida, sedento por ser na eternidade,
A libertação do coração por si próprio algemado, o ar,
Sustenho o fôlego, esta é sim a minha única verdade,

Nasci para amar magia, toda a sua maravilha conhecer,
Nasci para amar ninguém, ninguém para me amar,
Não quero morrer jovem, pretendo para sempre viver!

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

O Canto da Desilusão

Esta dor que trago no peito é minha somente,
A lágrima caída pelo canto de um luzente olhar,
Onde sou vulto passageiro de uma estação ausente,
Aonde por vezes parece que nunca chegarei a chegar,

Entre a gente e através das ruelas perdidas da cidade,
De coração quebrado, mau olhado, sem qualquer sorte,
Triste por vocação, ignorando sua canção, na ociosidade,
Pois venha a paz do caixão pois beijarei a mão dessa morte,

E eu fatigado por percorrer, cansado de ser poeta espezinhado
Pela correria da Vida, na casa partida, sem ter sequer chegado,
De iris semifusas, tão contusas, sem ter sítio para apelidar de lar,

Perdido entre os botecos, alcanço o fundo do copo, sem sequer me dar,
Morrerei por temer o amor, serei mártir e herói jamais proclamado,
Fechando os olhos, andando sem chão, sim! Penarei por não ter amado. 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Estórias na Algibeira do Tempo

Uma mão vazia e outra por poeira preenchida,
Porém trago estórias e rascunhos na algibeira,
A leve pluma do pássaro azul pela areia tolhida,
O pedaço da alma deixado no poente e na ribeira,

Há um sorriso patente no rosto de um semblante,
O vulto potencial, o beijo factual, o perfeito olhar
Mesmo quando torna o perto em longínquo e distante,
Vai sempre se esforçando para ver a flor desabrochar,

Trazendo em abraços a fragilidade, por esta geração cedido,
Em roupas ora usadas ora estendidas, diante conferidos sóis,
Por vezes preterido porém jamais alguma vez esquecido,

Vagueando onde a Lua se põe, numa metade do coração,
E quando vem o frio esconde-se debaixo dos lençóis,
Perante a mudez dos sentidos e a passagem da estação.