quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Rendição Não É Palavra

Basta deixar e permitir a ausência de condição,
É simples, renovada vida jorrando ao segundo,
Ao a olharmos nos olhos, vemos, solta-se a mão,
No brilho entre o escuro, o lindo pa hira lá do imundo,

Sim, é súbito o fôlego sobre o berço de quem nascerá,
A verdade é inteira, rescendendo a sonho acordado,
Envolvendo a planície, seguidor e vigia onde haverá
A procura por lugar no eu,  o tal suspiro aligeirado,

O círculo interminável e inevitável jamais terá um fim,
Mantendo luz por perto, mesmo no regaço da morte,
Há foco, há prefácio para o inefável e só assim

Seremos trajecto dentro de nós,  o encontrar da solução,
O resto é esquecimento, o não ver enfim o norte,
Pois na ausência de nós, quem em vós verá coração?

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Deixem a Caixa (Por Favor) Deixem-se Amar

Os escravos do relógio, de uma hora apressada,
Estes corpos enviados esperando pelo passado,
Trilhando adiante mas caindo na mesma emboscada
Auto-imposta, auto-infligida, pesando os bocados,

Entre as persianas semi-cerradas destas paredes
Aprisionando os brilhos de um olhar sonhador,
Escritórios ou caixões não distinguem esta sede
Que é fulgor para quem é livre e partilha amor,

A distância entre margens é o passo aqui vadeado,
Entretanto, entre o tanto, curemos a alada viagem,
É dia de despertar enquanto ela alcança o ansiado,

Essa é a estrela que alguns deixaram de ver e olhar,
Esta é a noite em que vivo desde que esta miragem
Descurou a vinda do sol, vem a nós, deixem-nos amar.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

(No Escuro) Apenas Procurando a Mais Bela Cantiga

Lá trazia o abrigo da tempestade num olhar inocente,
A voz envolvida por trapos de silêncio humedecidos,
Perante o fim era caminho face ao destino indiferente
Pois os homens erram até à morte, por vezes indefinidos,

Os passageiros eram marés passadas e mãos enrugadas,
Este frio trajado por lençóis novos por ontem rasgados,
E eu, Cupido apontando para as ampulhetas quebradas,
Aquelas esquecidas pelo vento em ausência de legados,

A bússola ficando turva perante o rosto deste espelho,
Alheado pela cilada da pureza dos oceanos erguidos
Por uma semente estelar tornada em pó, num velho

Que se esconde num silêncio inaudito, a eterna intriga
Era respiradoiro para céus abertos e de sóis vestidos,
A procura por um lugar em mim, a mais bela cantiga.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Somos Anjos Com Saudades Do Lar

E por isso tomamos o céu e aquele peso dos criadores,
A alma solitária, o corpo quebrado falando o ontem,
Chacais esfomeados, abutres beijados e seus amores
Seriam o esquecimento de um silêncio de outrem,

Por vosso nome desbotado com um sorriso na cara,
Há a flâmula que é o caminho para quem a não vê,
São esses braços abertos, envolvidos na noite clara,
De quando tudo que é, simplesmente é, então sê!

O bocadinho de mim que por mim quase não é pilhado,
O corpo acordado, sonhado para além deste horizonte,
Sendo eu a negritude, a bruma, o passageiro adiado,

Por isso vou, por isso fico, trago uma legião sem ponte,
A sombra da parte que é metade, o toque aqui retratado,
Pois a sede é de tanto: o estro poético de anseio da fonte.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Albergando no Centro do Peito os Estrangeiros

Era o suspiro que pelo canto do olho era escape
Para o sonhador esquivo e o trovador radiante,
Pois desse perene brilho não há quem se enfarte
Rumo à chegada para além do horizonte distante,

Pergunto se para o lugar que ocupo sou suficiente,
Pois procuro pousio após o voo alifero sem retorno,
Esta é a eterna batalha entre o incrédulo e o descrente
O não distinguir a pena da pluma, é imenso o transtorno,

Pois sonho sem adormecer e vejo de olhos fechados,
Projectando a luz do sol no peito num olhar reflectido
Pelo cerúleo, são esses os amantes outrora separados

Indo por eras e épocas, segundos em mim passageiros,
Porém em aqui que sou encontrado apesar de perdido,
Que no peito consigo albergar os a si próprios estrangeiros



sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Codeas de Pão, Vida Adiada

Ninguém quebrou este coração para além de mim,
Pois com a beata da beira do cinzeiro sou casado,
Fui eu que o pintei a carvão negando seu real fim,
Boneca de porcelana às mãos do vento deixado,

Os suspiros familiares de uma memória esvaecida,
Por um fantasma matutino és vestido para ele voltado,
E eu, na margem largado, os vestígios da noite rescindida
Pois procuramos mais luz que aquilo ainda não repintado,

Eu conheço os teus rostos melhor do que ninguém,
As fissuras das tuas mãos, ruas para o meu viver,
Percebe, neste mundo só pretendo ser o vosso alguém,

Poris como podes ama-lo se me podias a mim amar?
As côdeas de pão são o toque jamais tocado no ser,
E eu, cansado do hoje adiado, do esquecer do beijar.