quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

À Cópia da Lua Pt. II: Vela Por Mim (à Ausência da Lua)

21 gramas em entrelinhas aos pedaços
Nestes restos à beira da cópia da Lua,
Por vezes lanço-me leve em seus braços
Esperando pela Lua enquanto o dia recua,

Esta é a varanda do morto e este silêncio
É o da sua ausência onde lhe confidencio
Tal e qual quanto uma cópia me basta,
A ela tal meretriz penosa, triste e gasta,

Hoje o morto quer viver, ele quer vida!
Pergunta à Lua se ela brilhará sobre ele,
Será que ela virá, será que se fará sentida,

Entre a aurora e o anoitecer de sua pele
Serei o revelar da cópia em mim perdida
À ausência da Lua, que ela por mim vele.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

À Cópia da Lua: Vamos Por Onde Não Nos Encontrámos

Olha-a bem na alma, a Lua está acesa…
Ela, a cúmplice deste soneto que escrevo
Eu do outro lado da meia-noite na incerteza
Deste vaguear clandestino a que me atrevo,

Insónias diferentes nesta sombra das cores,
Mementos de restos de poemas e maresias
Em estórias de ninguém pelo céu e arredores
Lua, Lua minha sem dono, rainha das poesias,

Fragmentos da vertigem dos campos estrelados
Por onde íamos os dois, ela sem pé, eu sem chão,
Em nuvens tal poltronas e candeeiros tal Eldorados,

Ela sendo a luz e eu o crepúsculo desta nossa mão
Onde deslizamos em mil gotas em lagos azulados
Nós – este Tudo, este nada entre o berço e o caixão.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Capturai-me: E Fazei-me Sorrir

Por favor, capturai-me a essência,
Não vedes que quero ser capturada?
Sede o espelho da minha presença
Trazei à infindável noite a alvorada,

Ponde a mão na minha mão e vinde
Fechai os olhos e chorai-me ao ombro,
Esperarei por ser a refém num brinde
Por vossa voz para erguer o escombro

Do tempo que não passando se perde
Dentre a entrelinha desta terna espera
Pois se não vierdes que a vida me deserde

Levando-me a última réstia de primavera,
Só preciso desse sorriso como sentença
Trazei-lo na mão da partilha e pertença.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Viagens Pt. III: Por Terreno Familiar

Sou o conceito trazido na nebulosa
Espero ansioso a difusão pelo espaço
Envolto pelo silêncio e solidão brumosa
Neste desejo de me libertar do compasso

Que nem incauta criança a brincar
No afluente em direcção ao estuário,
Fluo e flutuo em mim neste abandonar
De quem sou ao reflexo do calendário,

Aquele que espelha esta subtil silhueta
Perseguindo o caminhar do mensageiro,
Visto ao longe tal esvoejar de borboleta

Trazendo o último àquele que fora o primeiro
E guardando-o no canto do fundo da gaveta
Nesta viagem feita ao toque do travesseiro.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Da Minha Rua: Vejo Milhares de Janelas

Da minha rua vejo milhares de janelas,
Estes olhos que tanto têm por onde ver
Foram sendo esquecidos pelas ruelas
Que o escuro enlaçou sem devolver…

A vista, sem pista, tornou-se na subtil cilada
Fugindo avultada levando o precioso sorriso
Até que a pálpebra ficou tão e tão pesada
Que os olhos olvidaram o que é preciso,

O amanhecer, glorioso sobre a vista indefesa
Enquanto a noite finge ofertar a Lua à viela
Donde mal consigo ver Ema e sua beleza,

Prisioneira de quem não a vê, será ela cega?
Quando o não ver se torna a parede e cela
Há sempre o feixe de luz que a vista sossega.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

À Branquidão Pt. III: O Paraíso dos Fracos

Então ele fechou os olhos perante o sono,
A cada pronunciação o sonho tardava
Deflagrando as ramagens de um outono
Esquecido, como sua pele o queimava,

E eu via-o, de olhos fechados, sem sonhar,
Num quarto fechado por nevoeiro cerrado,
A não adormecer e também sem acordar
Onde o vi naquela porção do bocado:

Era o paraíso dos fracos – o beijo na testa
Do pai ausente, a sangrenta asa do colibri
Levando o tempo para o que já não resta,

Acreditai em mim, eu faria tudo mais belo,
A vida é mais que o sonho e o sonho aqui
Não será sem vida na moldura que pincelo.

À Branquidão Pt. II: Por Onde Vou

Por onde vou, vou eu e vou sozinho
Diz-lhe a ela que por cá passei
Sem saber bem se este é o caminho,
Só sabendo que cada pegada amei,

Por onde hoje vou um dia já cá passei,
Vai-se esquecendo o então passado,
Por vezes fui certo, outras vezes errei
Porém o trilho é sempre o destinado,

Esta vida tem sido o diário da viagem
A pétala e a folha da raiz semeada
Terá e não terá lugar nesta imagem

Livre e insana, contida e desenfreada
Expondo o que restou da bagagem
E o espaço para o que vier na jornada.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

À Branquidão: Diz-lhe que me Viste Passar

Vejam-me bem, não sou daqui,
Sou aquele do outro lado do rio
Que foi passando por aqui, por aí
Sendo abrigo para o níveo e o frio,

Ouvimos o canto da menina do mar
Nesta terra que se dissolve no coração
Que olvida a voz e esquece o seu lugar
Cantando a aresta e o pouco da porção

Da metade que é naquele bocadinho
Através deste olhar de boneca negra
Deste quarto escuro, triste e sozinho,

Onde já nem a neve se lembra e cai
E pouca é a luz que enleva e alegra
Nesta viagem de quem vem e se vai.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Confidências à Lua Pt. II: Os Sonetos Lançados à Estrada

Confidencio à Lua e à chuva este soneto,
Sobre este instante que tarda a chegar
Tal quarto verso de inacabado terceto
Que tanto anseio poder completar

E pertencerá ele ou não terá pertença,
Será ele luz e voz ou só bruma silente
E do vindoiro trará qual sentença,
Tornará ele o céptico no crente?

Vaguearei pelos confins da terra vadia
Pelo espaço entre os vivos e os mortos
Envolvido pela bruma de outro dia

Sussurrado à estrada no rocio dos corpos
Aos olhos do viandante tudo é poesia
Que se escreva bem nos trilhos tortos.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sobre a Terra: A Criança de Língua Universal

Sou filho daqueles que me antecederam,
O último da linhagem de queixo erguido,
Sou a flor das raízes que aqui cresceram
No sabor e no gosto do fruto amadurecido,

Venho de uma terra onde sou o infante,
Deixo pétalas ao vento por onde passo
Por lá escrevo e deixo escrito no instante
Dormitando de olhar aberto no abraço

Dado pelas ramagens à brisa passageira,
Eu - sempre mudando de bênção e fardo
Em busca do que trago e perdi na algibeira,

Apenas ofereço esta sede de além e infinito
Que será da criança universal o legado
No toque aos cegos através do inaudito.

Eu e Ela Pt. VIII: Casa

Se uma outra noite eu fosse aquele dia
E nesse preciso instante fosse a melodia
Que já não recordo e que até já esqueci,
Tão clara era mas na noite escura a perdi,

Foi aquele beijo, aquele insano almejo,
Naquela rua escura que ainda perdura,
Nem era bem abismo mas era a caída
Através da fraga do colibri de asa partida,

Era sem ser, era a fracção deste pedaço:
Eu e ela, o dois não se tornando no um
Era tempo para tudo sem espaço nenhum

Onde o cansaço é senhor e o peito abrasa
E eu, apenas pretendendo chegar a casa
Sendo que casa é onde for o seu regaço.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Eu e Ela Pt. VII: Dois

Trago restos e porções nestes passos,
Seus ecos reverberados à despedida
No bocado daquele beijo, no abraço
À hora do adeus, ao instante da partida,

Apenas o vento sai irado e possante à rua,
Onde sombras se esvaecem pela lembrança
De quando sua mão era minha e a minha sua
Num ver que era sorriso e que era esperança,

Se ela soubesse das belas constelações que vejo
Atrás de suas pálpebras e que me basta esse céu
Onde seus lábios são o sorriso, o sonho, o beijo

E tudo aquilo que sou deixa de ser somente eu
Torna-se parte e porção de tudo o que almejo:
Estes passos ladeados por aquilo que é seu.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Este Silêncio: E o Seu Discurso

Por vezes ouço o silêncio a discursar,
Aí falta-me o fôlego e a vontade
Se vai por onde vejo o tempo passar
E eu sustido ao abraço da saudade

Daquele abismo trazendo a sua face
Nesta queda aberta da alta fraga
Quando apenas seu beijo é enlace
E torna em sorriso toda esta mágoa,

Há dias em que não apetece dormir,
Rareiam raios de sol como cobertor
E o ser... esse apenas pretende existir

Pois não há melodia para nossa canção
Porém quando apenas parece haver dor
Será ela ainda parte deste triste coração?

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Através do Deserto Esfaimado Pt. IV: A Imperecível Crença

Confesso a queda através do deserto
Do coração que outrora era oceano,
Onde o Sonho era leve abraço aberto
Num perpétuo brinde ao desengano,

Sou os grãos de areia que ora piso
E as lágrimas derramadas lá atrás
De quando esse abraço era Paraíso
E asa branca perante as horas más,

Os labirintos criados por este tempo
Esvaecem, apenas deserto a trilhar
Mas à velocidade deste sentimento

Ainda creio em rios, mares e no oceano
E só o coração sabe a razão de seu errar
Através do seu cair e voar ano após ano.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O Viandante Pt. III: Sou Eu

À subida ou descida das oblíquas escadas
Vai aquele que já passou e um dia passará
Onde margens forem dignas de ser cantadas
Sendo na partida a chegada de outra manhã,

O espaço para o tempo entre as margens
Ao pé-coxinho, rápido e até devagarinho
É o facto e a hipótese deixada às aragens
Tal como o recém-nascido e seu passarinho,

É ainda o moribundo e seu último desejo,
Ele é a ponte onde os segundos passam,
Os dias de outras noites que já não vejo

Logo entre aspas, entre o ponto e a reticência
E um pouco além onde horizontes se traçam
Sou ele e não o sou nesta presente ausência.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O Viandante Pt. II: À Subida ou Descida das Oblíquas Escadas

Entre margens e cantos se faz a viagem,
Vim cantar sobre o visto e o ainda por ver
Com a mente e coração como bagagem
Trilhando a terra e o céu neste crescer,

Por onde quer que vá desde que vá
Saúdo vales e montanhas neste olhar
Cujo beijo é a única coisa deixada cá
Pois tudo o que tenho é este viandar,

O resto já passou, passa e ainda passará
E que alívio é ser parte de tudo e nada
E desconhecer a vista do amanhã

Pois de todas as pétalas hoje inaladas
Trago-as em mim, largo-as à estrada,
À subida ou descida destas escadas.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Aos que Respiram: Sem Viver

Vivemos para ocupar salas vazias,
Só vivemos pois tememos a morte,
Partes vão caindo por outros dias,
Para quem resta e esta é a sua sorte

Escuto vossos prantos ao adormecer
E não adormeço pois já não sonho,
Neste leito sois os gritos ao morrer
Sois o luar pálido, penoso e tristonho

Sobre ruas desertas que esperam por nós,
Onde por vezes o próprio andar é triste,
É sombra deixada por alguém sem voz

E apesar de toda a beldade que cá existe
Não é a morte mas o não viver o algoz
(Logo pergunto:)
Fará Vida parte dos deslumbres que viste?

O Viandante: Entre Margens e Cantos

O viandante vai sempre entre margens
Nunca partindo e raramente chegando,
O já visto passa e é deixado às aragens
Sob e sobre o céu por onde vai andando,

Por dentro traz o homem e a criança
E as estrelas que são pela noite fora,
Por vezes até vê Ema e a sua dança
Tão delicada quando é tardia a hora

Aonde canta por tudo quanto é canto
Das últimas estrelas até à madrugada
Entoa o seu riso onde ecoa o seu pranto,

Outrora corredores vazios cheios de dor
Que se mudam por cada sua passada
Desde que feita por retoques de Amor.

Entre Portas e Janelas Pt. II: Entreaberto

Entre a porta e as janelas entreabertas
Quero o mel de tudo o que for flor
Aonde o colibri vá por horas incertas
E tal asas da borboleta ganhem cor,

Entre o prado e a neve a sina é esta
Sendo-se o trilho e quem o imagina
Dia a dia novos versos o Sol empresta
À estrofe e ao voo até à doce menina,

Entre as nossas mãos olvida-se o depois,
É ela aquela que tanto ressoa a Vida
Que é meu nascer e até meu fim pois!

Entre nós os dois só a distância é nossa
E só vós podeis sarar a insanável ferida,
A caricia que quero Amor… é só vossa.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Entre Portas e Janelas: A Neve e o Prado

Silêncio! Lá fora jaz tanta neve
E eu apenas vejo o prado verde,
Vejo-a caindo, tão fofa, tão leve
E imagino-a onde a chuva se perde,

Daqui ainda observo o fluir da água, 
Pergunto-me onde irão as onditas,
Ao se dissiparem sentirão elas mágoa
Indo tal sonhos tão doces, tão bonitas?

Através da praia o homem nu vagueia
Onde as estrelas fogem e se escapam
Vejo-a coberta por roupas de areia

Nesse lugar que nunca mais alcanço
As faces se vão e dedos se enlaçam
Quase… quase repouso em tal remanso.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. IX: A Janela era a Mesma

Voávamos contra a mesma janela fechada
Apartados pelo vidro azul e o seu vulto
De coração silencioso e de cara tapada
Em dias de vinho e rosas - no tumulto

De mãos bem dadas que não se tocavam
Onde se atrasava o mais belo dos beijos,
No parque onde tão airosos brincavam
A pé-descalço tal como estes desejos...

De quem? Quem pouco de tudo anseia
Aquele pouco onde se vai perdendo
Em esquinas onde o sol nos rareia

Voámos contra a mesma janela fechada
Sorrimos, podia ser uma parede tendo
Tudo, tudo um pouco e de tudo nada.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A Nébula: Nas Pegadas do Viandante

A lembrança remota, o sonho dispersado
Alinho os seus pedaços - os seus e os meus,
Tragando-os como se não tivessem passado
Na beldade do repousar no abraço de Deus,

O limite é a falta de tempo para o eterno
Porém deixo-o vir e passar por mim
Voltarei por mais, venha sol, seja inverno,
Deixo-os ir, há beleza na queda, há trampolim

No dia que nunca chega, nos cortes de papel
E aquela voz, só minha, estranha e familiar
Ouvi-a! Estou pronto para mudar esta Babel

Sem hesitar a manhã vem e anjos também,
Não morrerei nunca serei voo sem pousar
Através do fim do horizonte e mais além.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Ema Pt. XII: A Menina que Rascunhava a sua Vida

A menina que rascunhava a sua vida
Terna, ponto a ponto e linha a linha,
Quieta, apontava olás na despedida
Ao que ficava cá e que outrora tinha,

Esboçava quem não tinha conhecido
E aquilo que nunca aqui tinha visto
Ou amigos que nunca tinha tido
Sozinha escrevia a traço imprevisto,

Vivia na companhia da sua imaginação
Onde o inusitado era regra e esquadro
Ao deslizar da caneta na ponta da mão

Tudo é risco entre espaços brancos à partida
Da menina que se desenha num quadro
Enquanto este vai retendo toda a sua vida.

A Partida Pt. II: Por Onde Sós Vamos

Por onde sós vamos, sós viajamos sozinhos
Quando nem a lua nos encobre, não faz mal,
Por vezes é suposto sermos todos pequeninos,
Por vezes estar solitário e perdido é normal,

Por onde meios fomos, em metades vamos,
Quando só névoa há, tudo bem na mesma
Pois pelo que perdemos algo encontramos,
Pois o que cá fica advém de igual resma

Onde se banha o mensageiro da palavra,
Aquela que liga margens e cria pontes
E que o solo estéril docemente lavra,

Não temerei outras noites pois trago o dia
Que nos mais secos desertos erige fontes
E que de palavras sós recria a poesia.

A Partida: Nestas Andanças em Busca do Presente

Parti… Parti sem saber sobre o regresso,
Fui à aventura de destino incógnito,
Caguei na hóstia e vivo no excesso
De sangue nas veias e grito indómito,

Procuro por vida enquanto me aguardo,
Por cada momento o amanhã acontece,
A viagem não é nem deve ser um fardo
Quanto menos esperamos amor aparece,

O sorriso é aberto e o resto incondicional,
O instante é breve gerando esta semente
Que da alma vai revelando o essencial

Atrás da estrela do que é realmente preciso
De onde vou tomo este aqui como presente
Por onde vá e passe em busca do paraíso.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O Amanhecer Pt. III: O Céu Como Abrigo

Outra vez vou algures de olhos fechados
Para onde? Onde houver magia soa bem,
Onde o Sol caia suave em beijos doirados
Num sítio onde não passe quase ninguém,

No fundo da algibeira ficarão os instantes
Vestidos e enaltecidos pelo que passou
E ao que aqui restou provindo do antes
Sou eu, o poeta que cada passo amou,

Com o Céu como abrigo viajando-o sozinho
Sempre indo de coração aberto na mão
E que quando perdido se revê no caminho

Ao escutar a melodia da sua própria canção
Que ao deixá-la ir se torna no seu passarinho
Com o passar do tempo, ao passar da estação.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Amanhecer Pt. II - Eu e Ela Pt. VI

Hoje ainda cá esperámos pelo amanhecer
Tal como suspirávamos - de olhos fechados
O trilho vai-nos lembrando do alvo escurecer
Para onde vão os abraços e beijos não dados,

Tal e qual ave a voar contra a mesma janela
Seu sorriso é o que a mim me tem procurado,
Só Lua e Céu por onde vou por mim, por ela
Agora silêncio… pois este ruído tem-me bastado,

Repouso enfim ao abrigo da pluma de mil poetas
Aqui onde morro e se me vão as cem vontades
Esvoejando por nosso amor em dez borboletas

(...Me pergunto:)

Se tanto gosto dela e ela gosta tanto de mim,
Neste peito esta vida é em meias metades,
Como ousa o vento separar-nos assim?

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Eu e Ela Pt. V: Sem Recordação Cá Recordo

Fizeram-se então as estrelas tristes brilhantes
Envolvidos nesta brisa do beijo um dia almejado
Próximos se tornaram desejos outrora distantes
No sonho de quem dá a mão e se sente amado,

Por ela, sossegavam os ruídos da noite infinda
Em ânsia a suave marca d’água esboçada
Onde o olhar era reflexo da vista bem-vinda
E o ver era visto a dois onde o rio era estrada…

Hoje à noite luas azuis reluzem sob seus ecos,
Este quarto tão vazio, esta noite tão longa
Suas ruas azuis estreitadas para azuis becos

Onde o sono não alcança, o sonho não vem
Aquando sua ausência a não-vida se alonga
Eu - meia-vida e por sua ideia o ainda refém.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O Amanhecer: Vai Restando

Ontem esperávamos pelo amanhecer
Respirando-o enquanto ele era enlevado,
Suave e docemente éramos a tal acontecer
De braços bem abertos e olhar bem fechado,

Através de quatro olhos a vista era a mesma
Saciando por instantes esta inesgotável sede,
Alcançando vida longe desta aventesma
Que assombra o que sonho aqui concede,

Somos a alba, pronuncio-a em minúsculas
Esta é a valsa do trovador ao pé-coxinho
Cujo passo é apelidado por esdrúxulas:

“Ama e sê o sonho que for no pergaminho
Ama-o muito e sê-o no trilho que osculas
Esperar-vos-ei na luz que restar do caminho."

domingo, 4 de agosto de 2013

A Ponte Pt. III: Segundos Vêm Vindo e Indo

A manhã vinha no fôlego do respiro,
Eu – o almejo do que o orvalho traz
Do alto do morro em apartado retiro
Ecoam as vozes que ficaram lá atrás,

Os suspiros em memória na nostalgia
De quem vem e vai porém não passa
Assim saudando o alvor com tal ousadia
Que seu néctar vai tragando desta taça,

Que Deus me permita viver hora a hora
Pois entretanto segundos vão passando 
Neste mar de olvido e ser pelo mundo fora,

Bebendo de ruas vazias a luz dos lampiões
Por cada lufada da brisa que se vai dando,
Sentido faz se for uma ode a dois corações.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A Ponte Pt. II: Entre o Silêncio e as Pegadas

É preciso este silêncio e nesse bocado
Sou a ponte entre o canto e a aresta,
Trago nas pálpebras o olhar semicerrado
E parte da brisa que da mão aberta resta,

Tenho passado por lampiões e ruas vazias
Por vós a voz amada, amante e amiga
Ofereço-a onde soam doces melancolias
Partilho-a e a mim ao abrigo desta cantiga

A gente que passe e não seja apenas gente,
Entre o vértice e o ângulo, sempre à margem
De abraços cruzados deslizando em frente

Onde gritos se dissipam juntando-se à aragem,
Bebo-os inteiros e trago-os todos neste presente
Nestas nébulas que do viandante são a viagem.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A Ponte: Entre o Canto e as Esquinas

Por mim sim canto em qualquer canto,
Haja ruído ou o silêncio do abissal recife,
Para quem traga bolsos forrados a tanto
Que cada tom soe a berço ou a esquife

… E eu ponte, sempre entre outras margens
Trazido no vento onde o grito retorna o eco
Ressoando nesta brisa por outras paragens
Através da planície verde ao pardo beco,

Caímos tal e qual quanto voamos - alados,
Vivemos entoando a perdição das esquinas
Em salões de dança vazios outrora povoados

Não atingindo o fim somos a parte da parte
E enfim percebo defrontando estas ruínas
O quão me aguardo entre Vénus e Marte.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Eu e Ela Pt. IV: Tornaram-se As Ruas Vazias

As ruas vazias relembram as nossas mãos
Sob os candeeiros que são estas sombras
Que reverberam ecos atando-os a sótãos
Da noite ao dia - à poesia que ensombras.

Para quê por alguém ainda aqui esperar
Se por mim aqui não espero nem vou?
Com quem poderei ser ou enfim abrigar
Se sou relento, se sozinho não me sou

Para lá da estrada atravessada ao peito
Sou suspeito em ar rarefeito e tão pouco
Quero que tudo anseio tão e tão perfeito

Que é tanto e tal o mundo que cá albergo,
Tentando ser belo e lá vai o poeta louco
Entre ruas que vazias ficam mal as enxergo.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Eu e Ela Pt. III: Que Fique O Seu Fulgor

A muda persegue quem pertence à estrada
Noutra suave despedida uma nova partida
Vem o terno Sol enquanto cai a enxurrada
E do ínfimo nada, o arco na mão querida

É a íris dos dias que me deixaram aqui e ali
Esparso nas noites que ainda estão por vir,
Os fulgores de beleza que do éter socorri
Serão parte do sonho desperto a reflectir

O eco das salas vazias ainda por preencher
Por palavras e sonetos ou cerejas com areia
E desejos e anseios do rapaz neste meio ser

Enviados às nuvens em leves balões de papel
Onde todos somos à vigília desta lua cheia
Quando toda vista é tela e todo o Ver pincel.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Eu e Ela Pt. II: A Interrupção da Metade do Meio

Como um rosto sem apelido
Tal e qual o aceno sem resposta
Na frase do discurso interrompido
Porém bem à frente dos olhos posta,

Como o dar a mão e reaver restos de ar
Tal como aguardar por quem não espera
E virou as costas a quem apenas quis amar
E que portanto ao não ser, lá nem sequer era

Em interrupto riso perdido no espaço vazio
Naquele suspiro que só as paredes ouviam
Que ao habituar-se à frieza deixou de ter frio,

Tanto quanto esta ânsia que o estômago carcome
Neste almejo daqueles que a mazurca sentiam,
Aquela que todos dançam e ninguém sabe o nome.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Eu e Ela: Éramos Nós Dois

A margem do rio era somente pano de fundo
Pois aquele seu belo sorriso, aquele seu olhar
Era no efémero do instante todo o meu mundo
O reencontro ao Inteiro nesse tão leve esvoaçar,

Cada gesto seu instilava para o almejado romance
Da intangibilidade do sentimento então suspirada
Pelo portão saltado de uma só vez o Céu ao alcance
E na ternura de nosso ósculo a alma então recobrada,

Aqueles olhos cerrados vejo-os onde a chuva tombava
Seus lábios eram todo e meu único papel nesta vida.
Onde a sua cabeça repousava este ombro continuava

Suave através de seu rosto e a cada renovada batida
O sorriso crescia e num súbito ápice se apaixonava
Esquecendo que seria algo ao longe em despedida.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

As Nuances: De um Iglô no Gobi

Arcos e blocos de gelo fazem paredes estranhas,
Despertai-me para a vida desta oblonga elipse,
O sangue que me corre dentro das entranhas
É o suficiente para provocar um Apocalipse,

No semblante de quem nunca conseguiu mesmo ver
Quando as dunas e o deserto se mesclam consigo
Vagamente, na amplitude tão breve deste ser,
Onde por vezes a bênção mais parece castigo,

Rascunhámos cones e cubos sem grande sentido,
Desdobramos os membros orientando o vento
Dos pólos ao equador sem ideia do apetecido

Que nos inebria a cada nova nuance de cinzento,
Levamos  iglôs ao deserto com ideia de abrigo
Habitando-os só com a passagem do tempo...


domingo, 16 de junho de 2013

Descalça: Foi Ela

Descalça vai ela pela noite tão escura
Aonde seus passos as flores sustentam
Suaves em tal Amor e em tal brandura
Que ao seu passar os abrolhos rebentam,

Aqui aguardo tão só seu efémero retornar
Na espera consorcio com a sua aventesma,
Tão eterna e tão temporária neste andar
Que ela leva onde seu trilho foi na mesma

Fracção de instante coincidente a este,
Sorrio... suas pegadas foram nestas um dia,
Hoje passado onde um só olhar era a oeste

Luz e inspiração ao poeta e à sua melodia
Embalava gigantes e enlevava o cipreste
Em ténues e suaves tons envoltos em magia

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Através do Deserto Esfaimado Pt. III: As Crianças e os Mortos

As crianças estão cercadas por mortos
Aqueles que envolvem o cadáver da vida,
Do berço à sepultura passam absortos
E ao fim de setenta anos atingem a partida

Ignorando o mais árduo passo: o primeiro...
Que enxagúe as mãos e renasça inocente,
Irradiando a luz do farol ante o nevoeiro
E que são se torne quem antes fora doente

Aprofundando raízes fortes para sua altura,
Simples é sentir Amor de perto e à distância,
Vir do ontem rumo ao amanhã com a abertura

De quem semeia e acolhe do semeio a fragrância
Em celebração aproveitando a rota da aventura
Sem medo ou receios sendo o adulto em infância.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Através do Deserto Esfaimado Pt. II: Entre o Caminho e a Casa

As mãos que o agarram são as mãos que me levam,
Adiante o puxam e empurram perante o que vem,
Os balões que as esticam são os dedos que enlevam
Pois quando tocam o céu tornam o trovador em alguém

Que brilha mais do que mil estrelas num bolso albergadas
E ele, tal cometa, apenas alcançável pelo rasto que deixou
Nos vestígios de meias palavras em certas telas pintadas
Ou através do fulgor que no olhar dos outros ainda restou

Após o terem visto a rasurar obliquamente o horizonte,
Esses jamais serão os mesmos pois enfim aqui foram
O instante e perceberam que o poeta é Amor e ponte

Entre o frio do caminho ao aconchego da divina casa
Onde voamos em anseios aos abraços que demoram
Pois a mão que o toca nem é sequer bem mão, é asa.

Através do Deserto Esfaimado: A Sede Por Ela

Esta sede é a sede do deserto esfaimado,
Gota a gota acumulada na vista do poeta
Que anseia mais do que o que já foi olhado
E que precisa de mais cores para a sua silhueta…

Para lhe dar significado, para fazer sentido
Das esquinas fazemos cantos e entretanto
De tanto correr esquecemos o acontecido
Do bonito em que temos sido e seu encanto

Esvaece onde só há grãos de areia para tragar,
Onde a cópia da Lua vem e sussurra baixinho
Que somos O beijo por isso não devemos beijar,

Por tanto olhámos assim pelo ornato da janela
Ansiando sem saber pelo que aguardar no caminho
Quando ao longe de bem perto sabemos que é Ela…

(... Ela… sempre Ela.)

sábado, 8 de junho de 2013

A Criança do Elísio: Ainda Trazemos

Somos… Somos aqueles que deixam às nuvens pegadas
Que vão e deslizam nos raios de sol e nas enxurradas
Atirando seixos às vidraças e vendo o mundo crescer
Sob o pé descalço reflectindo a criança ao envelhecer,

Frágeis amontoamos tons de vida e outros acinzados,
Somos quem semeia flores em canteiros imaginados,
Quem caminha ao pé-coxinho devagar ou corridinho,
Quem traz supernovas e galáxias no alado passarinho,

Tantas vezes também corremos ajoelhados sobre a lua
E de bem perto ainda somos tão longe aos dias comuns
Por onde navegamos resfolgando sendo suspirados à rua

Onde passámos ontem sendo tão poucos ou até nenhuns,
Aqui e agora nesta hora de dedos esticados e alma nua
Ao tentar amar o impermanente que tentemos ser alguns.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Morro dos Ventos Uivantes: A Ela e Ao Seu Fantasma

Teremos balões e confettis à hora da morte,
Venham e tragam um bom amigo também,
Ela lívida e serena me há deixado a tal sorte
Que por instantes olvidei que ela era quem

Outrora se banhava leve nestes rectos ombros
Sorria, chamando-lhes o que sentia ser o lar,
Hoje ao monte dos vendavais seus assombros
Com seu níveo espectro a vidraça a arranhar,

Seus ecos reverberados nestes corredores vazios
Amaldiçoo-os a todos por esta insanável ferida
Enlouquecei-me mas deixai-me não restos sombrios

De toda uma viagem onde sóis o fado nesta palma
Aonde e onde não posso viver sem a minha Vida
Que sentido sequer faria viver sem a minha alma?

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Do Baile Dos Olhos Cansados: Ao Morro dos Ventos Uivantes

Conto relógios e ampulhetas até vós,
Sou os que esperam um dia aguardar,
Conto as luas, as estrelas e a vossa voz
É o único som capaz de nos despertar

Pois trago em mim os que me precederam:
Os sonhadores, os trovadores e os insanos
Que noutro dia por cá luziram e choveram
E também foram e vieram no passar dos anos,

Perdoai-me esta alma assente no pé-coxinho
Neste ósculo ao baile dos olhos cansados
Vamos indo e não indo doce e devagarinho

Com meias de lã, sapatos de chumbo e esta fome
Por nossa dança tão delicada, tão sem cuidados
Onde todos dançam e ninguém sabe nosso nome.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Aquela Valsa: Ao Pé-Coxinho

A valsa ao pé-coxinho é na vida
De salto em salto a pé descalço
Mal alcançámos somos a partida
Onde o presente é um meio passo

Entre o petiz menino e a menina
De pestanas cobertas de estrelas
Que avivam a luz da lamparina
Luzindo através das tristes ruelas,

Bordado nos vultos da noite passada
O viandante é o seu próprio caminho,
A tela daquele tudo e do outro nada

Lado a lado vai ele e o passarinho
Sendo ele em cada beijo à estrada
Tão e tão só ao olho do torvelinho.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Entre Aspas: O Ponto e as Reticências

Acabámos antes de começar,
Descontínuos no tão completo
Que terminámos antes de acabar
Na entrelinha maior do axioma incerto,

Do finito ponto as eternas reticências
O entretanto entre o plural e o singular
A linha comum em perfeitas tangências
Entre o respirar fundo até à falta de ar,

Além do escuro, através do terno Amor
Os gradientes da luz no oblíquo aguaceiro
Onde ambos são contidos em prazer e dor

Tal a mais formosa flor cultivada num cinzeiro
Ornado gentilmente pelo Sol cujo nascer e pôr
O dois nunca e sempre relembra - do um ao Inteiro.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Um Pouquinho Mais Pt. III: Imagina

Imagina um pouco mais e muito mais pode ser…
Preenchido de coisas que ocupam o espaço,
Socorríamos o luar guardando-o em nosso ver
No espaço do fundo da algibeira e ao pedaço

Que é espaço, que é o tempo entre nós os dois
Porém se é tempo é reunião de outros segundos,
Será ele espaço de tudo o que foi e no depois
Indo e vindo no rodopio ao périplo dos mundos?

Tantas páginas que foram ou não aconteceram,
Hoje a lua é seu reflexo na rua e no firmamento,
O que as estrelas dos trovadores cá enalteceram

Revelando sete mil amores rumo àquele belo luar,
Imagina-os nas linhas do caderninho e o cinzento
Torna-se o pouquinho de cor que é boa de se dar. 

domingo, 19 de maio de 2013

Um Pouquinho Mais Pt. II e Menos: Sempre É

Um pouco mais e muito mais e menos seria
Todo esse imenso nada envolto no bocado
Onde pacientemente aguardo aquele dia,
O dia quando enfim voltaremos ao prado,

A vida é louca correria, a vida é terna espera,
Eu à indentação desta breve viagem deixado
Com fulgor obtemos cautelas para a primavera
Do dia quando enfim voltaremos ao prado,

Um muito menos e pouco menos e mais seria,
Nada desse parco todo envolto no fragmento
Que sou e ao qual pertenço em subtil harmonia

A procura do meio do pouco e do muito é eldorado
E nesse mais e menos somos todos o eterno momento
Onde ainda virá o dia quando enfim voltaremos ao prado.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Um Pouquinho Mais: Então Muito Mais Seria

Um pouquinho mais e então muito mais seria
Algo diferente que jamais algures tenha sido,
Um píncaro de estrelas, uma pitada de magia
Eis a poção que nutre o homem recém-nascido

Cheio de coisas que são o espaço na algibeira,
Espaço esse que agora é este relógio entre nós,
Errámos para onde a casa não é em tal canseira
Que da ária que era nossa se apartou a una voz,

Destes lábios juntos, toda a embriaguez e perdição
Do olhar do poeta e de sua esperança e almejo,
Quão ansiava desejar, quão queria o sim e o não

Para reter no frasco que tragava a cada lampejo,
Aspirando e respirando para o poder dar a mão,
Resfolgado e viandado neste tão breve versejo.

domingo, 12 de maio de 2013

Sobre o Inteiro: E o Destino no Caderninho (Entre Luares e Dias de Verão)

As suas lágrimas caiam mais do que páginas havia,
Eu - as frágeis letras delicadamente escritas a azulino,
Sem fim, embaladas por ela que era a Lua desse dia,
Esbranquiçadas a azul onde imperava o sonho coralino

Nocturno e submerso, impelido através dos abrolhos
Linha a linha através da entrelinha de um dia de verão
Por onde já havia alguma poeira a cansar estes olhos
E a fatiga da viagem esmorecia o ânimo de dar a mão,

Contudo não desistíamos não, várias páginas faltavam,
Talvez alguns sorrisos algures a serem impressos também
Aí sabia que por vós em mim as brumas cerradas recuavam

Para ver o esbelto semblante desse cativante alguém,
Que me há cativado no escrito que os passos ansiavam:
Entre nebulosas e buracos negros por onde o Inteiro é além.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

... E O Rapaz Pt. V: Que Olhava Por Estes Olhos

Através do rio onde se espelhou outrora
O olhar reflectido era diferente mas igual
Na íris trazia os pincéis das cores da aurora
Iluminando nas mãos abertas um coração tal

Que o mundo ao vê-lo parava na precisa hora
E o velhote enrugado ficava catraio pequeno
A brincar com bola colorida no que era lá fora,
Sorrindo não pelo olhar mas pelo Ver enfim sereno,

Ssh! O mundo sempre discursa nos pequenos nadas,
Para o escutar é preciso parar e nosso ruído silenciar,
E… aceitar cada brisa suave e as tormentas danadas

Como prémios e ornamentos a este breve caminhar
Até mesmo as cicatrizes nas pegadas atrás deixadas
As aconchego bem perto do peito num irrestrito amar.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

... E O Rapaz Pt. IV: Que Deixava o Colibri Acontecer

Era a melodia da caixa de música entoada
Pelas persianas entreabertas um pouquinho
De nada mais e seria um pouco mais que nada
Pois no que aqui é enfim deixarei voar o passarinho,

Que sou eu e é de todos por isso a ninguém pertence,
Por vós e eu esvoaça ele através da brisa e tormenta,
Que ele aconteça planeado há quem ainda tal pense
Não percebem que o ruído deste mundo o afugenta,

Que ele detém a única vera politica, religião e filosofia
Aquela de quem é nos braços da brisa e a bem aceita,
Por vezes é a Lua invernal mas há vezes em que é dia

Então é a pluma no ar do colibri, a melodia que a enfeita
O sorriso do Sol, o beijo e o anzol numa sublime sinfonia,
E aí sim, é Magia... Nesta união que vai para lá de perfeita.

terça-feira, 7 de maio de 2013

... E O Rapaz Pt. III: Que Viandava Através da Estrada Branca

Se em vez de Lua fosse aquele outro dia
Colorido a crayons e embebido em poesia
Se em vez de pouco fosse só o bocadinho
Que juntava duas almas num só caminho,

Se em vez de lágrima fosse o azul do céu
E lá em vez da nuvem parda fosse só eu
Envolto pela noite alta na voz do trovador
Através do silêncio que é Sol e resto de cor,

Se em vez do destino fosse apenas a estrada
E de tudo um pouco quisesse pouco ou nada,
Sempre tão perto e longe à berma da viagem

Sem origem ou destino e sendo tão só à passagem,
Por aqui vou viandando sempre e sempre adiante
Até que o que era fica aqui enfim em mim distante.

sábado, 4 de maio de 2013

… E O Rapaz Pt. II: Que Colhia Faúlhas Uma a Uma... Uma... A Uma

Em admiração ele observava atento o firmamento
Algures por lá Ema bailava insciente à desfolhada,
Pequenas faúlhas caiam em oscilante movimento
Colhidas pelo rapaz deitado à berma da estrada,

Cada rodopio era rascunhado a régua e esquadro
Sendo em papel de marca de água por ele pendurado,
Suas mãos tinham nascido para pintar o seu quadro
E o seu olhar para verter em memórias o tão ansiado:

A melodia que era dela e que era sua pertença também,
Às vezes lamentava cada pestanejar pelo então perdido,
Ela era a visão estranha tão familiar, seu tudo e seu ninguém

Onde o resto passava e raramente ficava após ter partido,
Porém ele era enamorado por ela e por ela cativo e refém
E era ela a ocasião nele emoldurado e no seu olhar retido.

... E O Rapaz: Que Vivia Sob as Estrelas Cadentes

Encontrai-o em sítios abertos e arejados
Onde se ouça o cicio do ribeiro aligeirado,
Das estrelas revendo em si mil bocados
Aqui por fim e finalmente reencontrado

De pés descalços a beijar a relva verde,
O rosto delineado pela brisa da viagem,
O sedento de tudo enfim de saciada sede
Prostrado à lua nova pela breve passagem

Agora ele vive, finalmente ele é na Vida!
Não há tormenta ou sequer bruma no olhar,
Há um brilhozinho tornando a viagem sentida

Aqui finalmente, por fim e enfim basta o bastar
E quando a brisa o beijar em terna despedida
Que se lembre que um dia soube... ele soube ficar.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Eu, Tal Orfeu Pt.III: Saltitava, Submerso no Viandante

Aquelas eram as noites dos três murmúrios distantes.
Esboçando sorrisos suspirava através da branda brisa
Que rodopiava em espirais por escadarias ondulantes,
De mãos e braços esticados à Lua estava Rosa - a poetisa.

Ema espreitava, porém raramente olhava para baixo,
Saltitava de nuvem em nuvem sempre amorosa e ligeira
Confundindo-a com Orfeu apenas algumas pegadas abaixo,
Esse viajando dentre avantesmas largando o trilho à poeira,

Por vezes tomava Rosa por Eurídice e invitava-se ao escape,
Essa fuga era para o Sonho de Ema ou para o sono de Rosa,
Que nem Ícaro esvoaçava desenfreado entre Vénus e Marte,

Arrebatado ele era o pouco demasiado, o poema em prosa
Em vagão destravado, o caldo entornado no que é à parte
Nesta propensão à grande ascensão e à queda buliçosa.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

À Brisa e ao Mar Pt. II: A Aldeia da Criança e do Velho.

Hoje não, não haverá o vulgar alarido da mente,
Ela é aldeia e sossego situada em lugar incógnito,
Envolvida por água cristalina iria contra a corrente
Porém não hoje, hoje não há lugar para tal frémito,

Hoje são, são passarinhos a bailar e flores a crescer,
É hora de apanhar e soltar borboletas após o beijo,
Até quase caio na tonta ousadia de voltar a crer
Que o Universo é tão sublime tal e qual como o vejo,

Tudo é maravilha quando envolvido em mãos de criança,
Este olhar torna-se pólen voador, sorriso e bola de sabão
De lado para lado nessa tão esporádica e delicada dança,

Tão sincera como a lágrima que lhe delineia o semblante
Que embala o velho para o sonho nesta bonita canção
E que à chegada ambos acomoda dentro do viandante.

À Brisa e ao Mar: (Em Maresia) Pintando Escadarias para o Céu

Aqueles eram os tempos do não olhar para trás
Deslizávamos distraídos atrás do candor da maré,
Nossos lábios entre o azul e o vermelho eram lilás
Tolhidos pelas suaves ondas contudo em tal banzé

Que Deus era através de nós e nós éramos através dele,
Seguindo o Sol fazendo escadarias para o horizonte
Poucos percebiam o precioso sorriso que era daquele
Instante cativo e que de resto era a nascença da fonte,

Vinham as planícies, os vales, as montanhas e os penhascos
O viandante apenas era quando a brisa se reflectia no rosto
Cujo melífluo sabor preservava num multicolorido frasco…

Para tragar pela viagem e para beber o outrora eclipsado,
A berma da estrada para a cabeça era aprazível encosto,
Para sorrir e chorar às pegadas, para sustentar o ansiado.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ao Sono: Pois Permite a Concretização do Sonhado

O recosto da almofada dá este dia por acabado...
Assim cedi, eventualmente sendo pela alvorada
Entre o despertar e o acordar então retratado
A pinceis suaves e borrões de sulcos da estrada

Que tudo me dão e que neste ir nunca dão nada,
Há portanto de aproveitar a brisa desta paisagem,
Respirá-la, senti-la e sê-la por onde ela for levada,
Da alta e baixa sou e faço parte tal como a folhagem

Que esvoaça e é pisada porém de vista no horizonte
Vale sempre a pena, vale sempre a pena quando se é
Pois o tudo e nada são irmãos que precisam de ponte

Para tudo o que é e certamente foi e talvez um dia seja
Em mim… sempre enfrentando o céu e o abismo até
Que durma… Perceba o porquê… e que enfim Veja.

Truz-truz-truz: ... Assentado

Este sono é pertença entre pálpebras semicerradas
Onde os cantos das paredes escutam as confidências
Feitas ao rosto da lua quando só a lua nova é escada
Para o sublime pincelado onde se esboçam as ausências

De quem por lá passou e ora as desceu ou então as subiu,
Deixado para trás ficou o aqui neste ténue almejo suspirado,
O sonhado concretizado que este olhar um belo outrora viu,
Gentil e suave, como batidas sobre o caixão levemente baixado

Truz… truz… truz… seu semblante é neste tão formoso sorriso
Chorado por diferentes segundos alguém num dia já percorrido
E tornado passado em tal rapidez através do meandro indeciso   

Que por vezes até duvido que a Vida tenha realmente acontecido…
Vem sono, traz-me o Sonho, da sua concretização ainda preciso
Pois o ser na Vida para um dia beijar bem a morte assim faz sentido.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Por Mundos e Mundos Pt. II: Aonde a Brisa ou a Tormenta o Levar

Através da vista onde ainda a trago, revisto a vida,
Seu reflexo é óbvio no sincero beijar do beija-flor
Que traz o coração à flor, dá-lhe cor e à despedida
Não pergunta se deu ou recebeu pois ambos são amor,

A brisa é a passageira por onde ele esvoaça alado,
Há mundos e mundos todavia apenas um beijar,
Ao vê-lo no ar dá para apontar o rasto deixado
Onde rodopia e parte pois ainda não aprendeu a ficar,

De instantes vem a espera, o esvoaçar e a nova partida,
Para esquecer as gotas do tempo que bebia outrora
Fazia por deslembrar aquelas três palavras na Vida,

Tentava e estrebuchava, tentava e cambaleava torto,
Ferido, compreendia tudo, percebia todos e à demora
Do tempo o mundo não passava e ele tombava morto.

Há Mundos e Mundos: Porém Apenas Um Beijo do Petiz Beija-Flor

“Olá, Eu Amo-Vos, Adeus”: quando o dia termina
Soluços pendem aquelas palavras e frases inauditas,
São nos restos fragmentados que ofuscam a lamparina
Que se prostra de joelhos a vida face às horas malditas,

Já nem apetece respirar ou escutar o bater do coração,
A criança que catraiava jaz neste seu vil silêncio interior,
Visito-a por vezes nos riachos onde tento dar-lhe a mão
Onde raramente sei se a deixo ir ou a embalo num cobertor,

O beija-flor raramente repara no que é na sua proximidade
Contudo quando beija uma, ela torna-se no seu amor, seu tudo,
A sua saúde por aquele sorriso, das suas lágrimas - a enfermidade

Porém nada, nem este céu em redor delas ou a sua cor são meus
Tenho sempre em mente que a brisa passa por aqui sobretudo
Por isso ao vê-la sempre digo: “Olá, Eu Amo-Vos e Adeus”.

Sobre o Reflexo: Através da Vista Onde a Trago e o Revisto

Aproximai-vos e espreitai para o espelho
Através do canto deste plácido olhar,
Dizei-me, vislumbrais o miúdo ou o velho
Que este rapaz foi e que um dia se irá tornar?

Ou vedes o instante neste actual presente
Por vezes invocado pela noite infinda
Outras onde é o abrir da aurora luzente?
Quando o partir tantas vezes soa a revinda

Ao sítio donde partimos naquele outrora
Polvilhado na vista, no reflexo inda vos vejo,
Trago-vos em cada olhar por cada arquejo

(…em cada agora…)

Seremos o reflectido ou aquilo que supomos (Ser reflectido?)
Ouvi! Parti todos os espelhos e nesse lampejo
Que eles nos mostrem por fim quem somos.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sobre o Coreto Onírico: … E as Pegadas na Areia

Meia pegada deixada no rosto da areia,
Aqui somos o fragmento do dia incompleto
Pela noite dentro o avistar da luz encandeia
Vacilámos pois errantes na ausência do coreto,

Uma pegada dada, de pé em pé a salto
Aqui pulámos e andamos ao pé-coxinho,
O mundo precipita-se em imenso sobressalto
Hesitámos sim… mas vamos indo devagarinho,

Duas pegadas na areia e deslizámos enfim,
A viagem é a brisa no rosto e o vento o rasto
E que frescos ambos são ao passar por mim,

(Agora…) Quatro pegadas eventualmente serão uma,
Cobrirão então toda a porção deste areal tão vasto
Sim, ainda voaremos leves no adejar dessa pluma.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

As Suas Flores Pt. II: De Instantes Vem a Espera

Pensávamos no imaginar tanto e tanto maior,
Mesmo quando éramos tão e tão pequeninos,
Os pedaços que éramos também eram no beija-flor
E passavam por nós e pela aragem aos bocadinhos,

Silentes e pelo silêncio em tal alarido estapafúrdio
Além do que era, era o beijo de semente a semente,
Em nossos bocadinhos deste nada e naquele tudo
O que nele era, tanto e tanto ainda era no ausente,

Do coração enfim a parar, o saber não conseguir estar
Passava tudo, passava tudo, passava tudo e nada era
Como eu naquele momento e no seu instante ao luar…

Como o Sol eu a perseguia… tal como eles, eu à espera,
Ter esses instantes, altos e belos nesta parede a ornar
O mais do que tudo aquilo que ali parecia... oh quem dera!

As Suas Flores: Eram a Gota do Tempo

As suas flores eram as minhas horas
A gota num imenso oceano de sede
Onde os segundos esperavam auroras
Então encurraladas no quadro da parede,

E eras a água pelos desertos esfaimados
Onde jaziam os desejos feitos de tudo,
Para tocá-los faltavam beijos e bocados
Dos fragmentos feitos deste olhar mudo,

E o passar não passava obstinadamente
Então nada mais passava ou era passagem
Para além do que era para lá da mente,

Era assim o tempo em porção de aragem
Onde o sonho esquecia meu nome finalmente
Aonde suas flores eram estes beijos à viagem.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Eu, Tal Orfeu Pt. II: Deslembrámos As Três Palavras

Três palavras que completem esta trova
Que concedam descanso a esta insana lida,
Que sejam a terna almofada, manta e alcova
Que soem ao retorno ao lar, à costa querida,

Aqui não tem sido a Vida ou a Morte a pulsar
Tem sido o meio-termo de vista semicerrada,
De punhos fechados que esqueceram o abraçar
Da eternidade imensa do sonho na vista almejada,

Que eternidade terá então o instante esvoejante?
Tudo parece ósculo de colibri à chuva e ao sol
Encurralados por garrafas donde bebe o viandante,

Azuis, tal como as três palavras que ainda aguarda
De dedos esticados e braços abertos à luz do farol
Pois da névoa para ele... elas são o seu tudo... o seu nada.

sábado, 6 de abril de 2013

Eu, Tal Orfeu: Após Eurídice

Há segredos que nem as paredes devem saber,
As esquinas já os conhecem e já os esqueceram,
Há becos e cantos cuja passagem é o perder
Dos passos atrás dados e o que estes souberam,

Era ela, sempre à distância de um longo suspiro,
Beleza em frágeis delicadezas adiante projectadas,
Para lá dos degraus aonde suave e lentamente espiro,
Algures… as suas pestanas por estas eram beijadas,

Agora são esqueletos no armário e monstros sob a cama
Daquele cujos lábios amontoam fracções de constelações
Ora tornadas na aventesma que este nome ainda chama,

Frágil e delicadamente ecoa e ecoa numa suave lentidão,
De olhos bem fechados passam não passando as estações
Pois o tempo não é tempo aquando da bradicardia do coração.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

… e o Mundo Parou e Disse: Viandante És o Espaço

“Viandante tanto e tanto tens viandado
Que já nem sabes o que é estar como eu,
Tanto riso e pranto aqui tens partilhado
Que do que tens dado ignoras o que é teu,

Indiscretos, serão imensos os pequenos nadas
Erigindo um castelo que rascunhe partes do céu,
Serás ainda a saudade nas ocasiões não passadas
E o tempo escondido na tribuna de quem é o réu

Entre e onde a terra se mistura com o firmamento
Sendo o horizonte que a todos toca e a nenhum chega,
A aparente linha que se divide a cada novo momento

Onde o tempo passa parado, aguardando por nós,
Sem tirar ou dar pois somente o partilhar sossega
O espaço maior que o imenso e que dele é a voz.”

Aos Amadores: Esses Poetas Disfarçados

Não ao Amor de acordo pré-nupcial esterilizado
Feito reciclável e cómodo para sacos de plástico,
Aquele que à meia-vida é o reboque ou vem atrelado
Pois não é Vida nem é Morte, não é o ser no fantástico!

Pretendo apenas daqueles amores loucos e impossíveis,
Daqueles mesmos enfermos que saibam à doença
Que torna os ligeiros contos em factos indiscutíveis
Pois um dia ao olhar para trás serão a única pertença,

Torturado morrerei por cada beijo a rosas deixadas para trás
Somente assim saberei o quão curta e bela é esta Vida,
Os veteranos da Guerra das Flores raramente terão paz,
Porém almejá-la-ei com o peito todo fazendo-a sentida,

Ao longe vejo as pessoinhas de batas e luvas brancas ao peito
E sinto honra de ser pelo tão obviamente ridículo e patético,
Sem utilizar diminutivos para a Vida em fôlego rarefeito
Ou vulgarizando o coração de namorico em penico,

Outros riem-se de dedos apontados às próprias costas,
Não sabendo que desta maldição sou o abençoado
Pois à passagem das ruas, dos vales e das encostas
Do trilho esta é a única coisa que o torna digno de ser pisado.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Para Além do Eviterno: O Que É Que Fica?

Aqui, esta almofada é o ombro ansiado,
Brilha por nós quando a noite é branca,
“Já falta pouco” – dizia em tom sussurrado:
“Esta é a respiração que o mundo estanca,

Só mais um pouco, só mais um bocadinho
E acordaremos para a jovem e moça manhã
Tendo a batida do coração o único caminho
Verá a noite reconciliando-se com a sua irmã”,

Ainda a chuva caí mais do que aqui brilha o sol
De amores perdidos e horizontes por alcançar,
Indecisos conhecendo a ausência que é farol

No nevoeiro do beijo que no eviterno perdura
Pois sem ele jamais saberei o que é o beijar…
Peço ínfimos eternos até à vinda da sepultura.

terça-feira, 19 de março de 2013

Um Beijo: Ao Céu Que nos Abriga (E a Tudo Que Contém)

“Se te traçasse as galáxias escusas em meu olhar,
Envolvê-las-ias?” - suspirava Mirto face à bela Oressa,
Enamorando-se das estrelas em pincéis feitos de mar.
- Rascunha novamente Ema na noite antes que alvoreça!

“Pois este aqui vai passando por cada novo palpitar”
- Elevando sua mão do azulino em busca de beleza
Por vezes recolhia-a outras não lhe conseguia chegar,
Eram grinaldas de luz, ofertas de Ema em tal delicadeza

Que em mente, sabia que ela era maior que todo o Universo,
De que para o Inteiro não há preço e que bom é sonhar
E conseguir retornar o sonho ao plano infinito de um verso

E que imenso privilégio é poder dar, dar, dar, dar, dar!…
Pois eu sou o resto e o resto passa mas deste nosso berço
Há refulgências e o beijo às estrelas ainda permite voar.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Aos Homens: Que Esqueceram o Seu Nome

Alguns homens já nascem velhos,
De olhar mirrado e peito escavado,
Seu semblante é fosco à vista de espelhos
Que revelam as lacunas do que há passado,

Estranham-se do caminho longo para casa
E da fragilidade do abrir os braços ao mundo
Ou quão belo é aquele adejo de asa em asa
Nas cores do olhar do incontível vagabundo,

Estas ruas tresandam a quem por lá passa
Contudo parece nunca por lá ter estado,
Estranho este estado que a alma estilhaça

Estranho até o suposto palpitar afinal silente
De quem tem tido amores mas nunca há amado,
Há existido porém não sido, nem atrás nem à frente.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Os Segundos Eus Pt. II: Do Ontem ao Adiante

Há ruído de fundo no fragmento do outro
Aquele, aquele que raramente é assumido,
Por colinas e vales por vezes ele é noutro
Lugar a metáfora ao momento não retido,

Naquele instante onde ele não é quem sou
Porém basta um pouco de brisa ao ouvido
E eu sei, eu sei que o mundo por onde vou
Será outro, o universo neste Ver renascido,

Toda esta vida apenas num olhar que veja,
Temos sido observáveis mas raramente visíveis
E as pegadas têm ficado no caminho ou seja

Não vades: Aquilo de bom e todos os impossíveis
Pois o resto será e passará sendo em quem verseja
Aqui o testemunho do toque aos ensejos tangíveis.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Os Segundos Eus… E a Viagem Pt. III : Venham os Próximos

O viandante caminha o que vai andando
E nessa passagem a Vida é em si passageira
Pois o percurso raramente vai abrandando
Porém sempre é, em vitalidade ou canseira,

À viagem o viandante vai-se indo e se esquece
Vêm os segundos revendo as ocasiões em que foi,
O mundo o esvaece mas porém quando acontece
Consegue tornar o vil covarde no maior herói,

Aquele que retorna do além fragmentos de Deus,
Uma a uma posta numa grinalda de fulgores vivos
E a partilha proclamando: “Sejam acima destes eus

Que em segundos passam pela berma do mundo”…
Ansiando que as empreguem em feitos significativos
Ínfimos ou colossais pelas pegadas do vagabundo.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A Vista: Do Olhar do Poeta

A menos que as vejam do alto da colina
Ou até mesmo do fundo de uma ravina
Jamais sabereis as cores da vista do poeta
Podeis então tirar vossas cores da gaveta?

Aquela onde estão os risos daquela infância,
Onde dar a mão não era de todo prisão
Era pular e correr sem notar qual a distância
Do corrido e era saber… de coração na mão

Que o simples é perfeito quando enfim acontece
Que o resto passa e que o mundo se esquece…
Lembrai-vos pois de quando apontáveis estrelas

Pois quando as apontais vós sois a visão do poeta
Sorrindo elas para vós silenciando a ampulheta
Relembrai-vos… para tê-las aqui só é preciso sê-las.

terça-feira, 5 de março de 2013

Os Outros Dias... e a Viagem Pt. II: Por Janelas Abertas

Vem outro Sol através do nascer de um novo dia,
Ainda é muito cedo para o tanto já viajado,
Preciso de repouso pois do ponto donde via
A areia do tempo ainda encobria o já elipsado

Sendo que da parte do que passa que fica connosco
Há várias outras partes que ficam para o que é lá trás
Fulgindo no vidro azul progressivamente mais fosco
Onde todos aqueles segundos se foram pelas manhãs

E em boa verdade, ainda habitam no que aqui é,
No eu viandante em aceitação do que acontece
Agora e aqui dentro ao que está lá fora seja até

Maior do que o que a Lua ontem por cá e aqui deixou
Na parte que tirou como se tirasse tanto quanto desse
Através das janelas abertas pelas quais não espreitou.

sábado, 2 de março de 2013

O Dois... e a Viagem: Eu Crio Enquanto Falo

Estes olhos as pálpebras têm aqui beijado
Doce e suavemente viajando pelo além,
Sendo no conteúdo e da forma desapegado
Traz-se cá para baixo lá de cima este alguém,

E como o mundo é tão grande e tão pequeno
No dois a viagem é o que se espera alcançar
Do limiar da insanidade até ao percurso sereno
As correntes das pernas hei-de a todas quebrar

Pois assim se constroem as escadas para o céu
Eu brilho, eu ardo, eu brilho, eu ardo sozinho
Neste lene silêncio, neste estrondoso escarcéu

Onde brilhámos, ardemos e somos p’lo remoinho...
Agora magia… se exprimisse este sentir por palavras
Não chegariam as letras de “A” a “Z” ou mil abracadabras!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O Quarto Sob o Tecto Pt. III: Do Quarto Para o Que É Lá Fora

O quarto sob o tecto onde vivem estrelas cadentes,
À sua queda e reencontro ora as perco ora me revejo
Numa razão para o Verão quebro o elo aos ausentes,
Vai-se o ruído de fundo, vindo o toque em tal almejo

Que apenas importa a vista acima do topo da colina
Do caminho torneado a ouro pelas crianças do Elísio
Onde Ema, sua irmã, se torna no firmamento bailarina
E as abraça e as beija a dois passos e meio do paraíso,

Calma… Suave ouço daqui a canção do querubim
Doce e lentamente quedando-se no cimo da pestana
Adormecendo o meramente humano que há em mim,

Sublime passa diagonalmente de mim pela persiana
Sendo no que é lá fora, relembrando naquele chinfrim
Que quando a Beleza é tão bela deixa de ser humana

(… Torna-se Amor).

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Quarto Sob o Tecto Pt. II: Ao Saber Pelo Que Viver e Dar a Vida

Os heróis nascem quando sabem pelo que morrer
Da bruma da sua queda vem a póstuma inspiração
Que dá vista a quem não conseguia sequer se ver
Quanto mais obter da Vida uma superior razão,

Do murmúrio áureo aos ouvidos de quem escuta
A arte do jornadear pelo trilho dos deuses é opção,
Pois antes do aceitar há uma imensa e infindável luta
Culminando no saber quem somos e à sua aceitação

Vão-se as máscaras e aquela noite branca e infinda,
Despertámos do sono sem sonho no distante escaninho
Regressando ao Aqui enquanto o Hoje cá se deslinda

E apesar de preferir viandar acompanhado a ir sozinho
Não temerei a luz ofuscante ou o negro escuro à vinda...
Da vida à morte ambas beijarei, isso aqui e agora sublinho.

O Quarto Sob o Tecto: Do Firmamento Nocturno

Este quarto à noite simplesmente vira recreio
Onde uma lamparina ondeia e fulge entretida
Pelo firmamento do ontem num doce passeio
Enquanto aponto os cantos onde ela é reflectida

Pois pela noite somos todos igualmente belos,
Plácidos à espera do resvalar do que tem sido,
À medida que ela nos passa a mão pelos cabelos
O silêncio ganha a voz que se delineia após o ruído

Da tormenta, a longa estadia nos olhos dos torvelinhos
Que quando vem a acalmia o desterro ermo vira flor
E sorrimos vertidos no tecto já não estando sozinhos

Assim resfolgando lembrando nosso nome e a sua cor
Onde o segundo acontece e nos leva pelos colarinhos,
Aqui pretendo ir para onde quer que o dia seja ou for.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Poema Refém: Do Segundo Que Não Acontece

Alguns poemas começam assim do inaudito
Sem alguma coisa planeada ou para dizer,
Esse não dito interroga se pode ser um escrito
Ou se será só mais uma linha no bloco a se perder,

Pois há alguns dias que não são bem, bem dias
Porque passam por nós sem algo nos conceder
Para além de uma cinza silente de meia travessia
Que parece nem ser o crepúsculo nem o alvorecer,

Onde não há almofada ou camioneta que valha
Pois o tempo esquece-se de si quando se lembra
Que passa ligeiro e vagaroso ao fio desta navalha

Cuja tácita balada acorda tanto quanto adormece
Neste limbo onde se é o que a ausência relembra
Do sítio que é refém do segundo que não acontece.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Ósculo: Nas Pegadas do Viandante

Deixei o caminho para o que é lá atrás
Pois nele ainda caminho para o que será,
Estas pegadas são o que a nébula aqui traz
Em reflectidos improvisos da supernova cá

Submete-se o mundo ao caminho como lar
O ósculo do viandante ao trilho em passagem
Vê-se nas pegadas dadas, no que soube tocar
No visto e escutado que ainda soa a viagem

E que é tão breve que nem parece acontecer
Porém, serei eu a passar por ela em vislumbre
Ver-me-á ela pelo canto do olho e em parecer 

Espero que tenha sido a doce, doce distracção
Pois neste intervalo sou arrojado ao deslumbre
Que é o Amor partilhado até ao assentar do caixão.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Trago Comigo: Todos Os Que Me Tocaram

Toda a beleza que tenho aqui visto
Tenho partilhado com os chegados
E eles também se têm observado nisto
Pois a beleza é de todos nela revelados,

Tenho desejado o premente não desejar,
Insano e ofegante em busca do retorno,
Quão indesejável é esse sentido, este lugar
Onde o mundo pára e o usa como adorno,

Acreditai, estes versos não são de todo meus,
São os escritos dos lugares e de quem lá passou
E ao se ver nela reflectido fugiu ou ora por cá ficou

Por vezes sem um obrigado ou sequer um adeus
Porém nesta passagem entre Orfeu e Prometeus
Agradeço os beijos e feridas naquilo que aqui sou.

… e do resto?… do resto o que fica será um dia no que restou.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Palavras Pequenas?: A Viver a Vida de um Poeta

Sim… Sim morrerei de pé e de olhos abertos,
E ao seu abraço saberei o que é a solidão,
Adeus querida luzência de fulgores incertos
Parto sem destino à passagem da estação…

Por tanto ter corrido o mundo não esperou,
Por tanto tudo e nada ter e ter tanto querido
Parte tenho sido em torno do que não restou,
Almejo sem pensar e chego sem ter partido…

Porém por vezes sim, aconteço na pertença
Que é do momento e do momento apenas
E nesse belo, belo instante a cruel sentença

Que adorna e fere no brilho destes diademas
(Amor…) beijai-me as pálpebras e reaviai-me a crença
Deixemos o mundo ir, tornemos as horas plenas.

Confidências à Lua: Sobre a Espera da Metade

Gentil Lua, encontra-nos no Sol em breve,
Vinde a mim meu doce e eterno Amor,
Retocai de novo este doído peito de leve
Pintai-o a sonhos que lembrem vosso sabor,

Esperarei uma eternidade se tal for preciso
Desde que nosso reencontro aconteça
Sereis então o sorriso dentro deste sorriso
Pela infinda espera tê-la-ei como travessa,

Deixarei de temer a sombra da noite infinda,
Pois convosco comigo será tão mas tão breve
Então vinde doce Amor, a noite vai cedo ainda

E eis que escuto suas palavras cantadas que sigo
E do reencontro que o coração ainda se atreve
Deixei-a para trás pois a ela trago-a ainda comigo.

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. VIII: Ao Caminho Como Morada

Olhando para fora caí para o dentro profundo,
Aproximaram-se os aventesmas da longa estrada
E a vida e a morte revi e senti somente num segundo,
Dei-lhes a mão… por ambos a alma ficou enamorada,

Eis que o sono sem sonho cessou perante esta sede,
Insaciável e interminável sobre e sob este tudo e nada
Incontidos pelo sufocante cinzento destas seis paredes
Aventuro-me a fazer do caminho minha única morada

Que a última maré este ósculo enfim e finalmente sustenha,
Pois digo-vos do fundo da fornalha desta ardente alma:
Não há nada nem ninguém que a contenha,

Nem vós meus ternos e demasiados amores o fareis,
Hoje serei no que o ontem deixou nestas palmas
Revivam-me e matem-me mas o sonho não me tireis!

Quatro Estações: Apenas Num Dia

Quatro estações contidas apenas num dia
Certo como a ténue linha que as separa
Mera cortina de bruma, meio toque de magia
Aqui acentuados nas expressões desta cara!

Sucedem-se as lágrimas alternadas por riso,
Crescem as flores e quedam-se as folhas
E para todos estes instantes de pontes preciso
Para alumiar e escurecer o trilho das escolhas

Pois sou recipiente para o acontecimento,
Quer no espaço ocupado como no vazio,
Legado para quem no simples tem testamento

Por isso ora corro, ora aluo no infindável sono
Que é o sonho despertado a quente e a frio,
Para mim, o rei sem coroa do reino sem trono.

Aos Querubins: As Mazurcas e o Ósculo

Na companhia de querubins além do véu do sonho,
Tão alto vivem que a névoa da terra não os alcança
E ao seu lado tenho esvoaçado tão alado e risonho
Com a espontaneidade do olhar de uma criança,

Assim nem pesam nas asas outros dias de melancolia,
Errante pelas nuvens sobre e através da luz indecisa
Aqui vão-se as noites brancas que são no dia a dia,
Aqui há oxigénio e beleza para o que a Alma precisa,

Lá de cima isto parece-se com becos premeditados,
Eu, aprendiz a Deus, só pretendo ser nesta pluma
O poema audaz e as mãos e os dedos esticados

De quem sonha e as retorna do sonho uma a uma,
Visão a visão, por crianças querubins osculados,
Trarei para cá esse abraço e o que ele perfuma.

Sobre o Rasto Cadente : … E Essa É a Verdade

Tal estrela cadente é o rasto atrás deixado
Que perdura o suficiente para ornar o céu
E que em breves instantes se torna passado
Por isso que estrela ousaria chamá-lo de seu?

Olha-as e vê-as nessa sua graciosa queda
Somos todos irmãos ligados pelo firmamento,
Quer no trilho eleito quer no atirar da moeda
Logo relevante e não importante é cada momento,

Juntos, são eles que deixam o rasto dourado,
Portanto cintilem e fuljam com toda a intensidade
Sois vós que embelezais este páramo amado

E de todas essa é a maior, maior verdade:
Escolher nossa cor e remeter-nos ao trilho ansiado,
Não são as estrelas… é a nossa  própria cor a cara-metade…

… O Reencontro: E Estou Enfim em Casa.

Envolto em seu abraço estou em casa
Neste terno chegar torno-me menino
E pluma esvoejando de asa em asa
Vagueando os confins do sonho coralino,

Dos outros encontrei algumas certezas
Não importa o seu elogio ou desdém
Pois surgem em esperadas surpresas
Mas será que de suas paredes sou refém?

Podem passar estações no tempo enquanto,
Pois de repente, de repente sou no repente
Súbito que é neste nosso mais que tanto

Que não é posse mas é em quem o sente
E que bom é sentir o lar neste entretanto,
Adormece-me Amor, estou em casa… em casa para sempre.

O Espelho: Limpando o Ser que É

Limpando a pele do espelho com sabão de rosa,
Brusca e suavemente até nele por fim me ver
Pois sou um breve poema e não uma longa prosa
Que no espelho o tempo e espaço ditam neste ser,

Olvido as lembranças ainda não concretizadas,
Esqueço os anseios ao que é para lá do distante,
Do rasto o bom e o menos tenho tido como amadas
Que se reflectem no espelho e no caminho adiante,

Espelho, extingue também este perfume feminino
Que perdura tanto que é parte cativa do caminho
Porém só anseio um Amor, apenas um destino,

Este espelho aconteceu para pela bruma ser quebrado,
Até o sujo e limpo que tem será e voltará um dia ao divino
Que seja areia então sob a espuma do mar já navegado.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A Ema XI: Através das Noites Brancas

Noites brancas, insones pelo escuro errante,
Velando o rosto que é apenas em lembrança,
Pelos luares enamorados das estrelas sou amante
E eis que a vejo, perdida na sua delicada dança,

Ema, Ema! Reflecte-me num teu leve poema
Olha e vê-me neste percurso do ido viajante
Onde nada atemoriza nem há nada que tema
Para além de quem anseio perto mas está distante,

Não obstante, sorrio às sombras desta agridoce sorte
E deslizam elas ao monte num próximo envolver,
Nem sei se elas sabem a vida ou se são a morte
Porém são querença neste não saber bem o que querer,

E enfim aproxima-se a alvorada, não vás, não vás!
Olho e vejo-a através destes olhos de criança,
Tenho tantas saudades, não me deixes para trás…

Por favor… adormece-me nessa tua bela dança
Que dá alento ao moribundo e lhe retorna paz,
Vem então no dia, assim a noite branca descansa.

Brinde ao Final Feliz: E às Viagens e Cais do Barquinho

Brinde ao final feliz e que este esteja enfim próximo
Nesta celebração ao que acontece de bonito,
Seja ao que preenche o plenário do coração
Ou o aflija e pise pois nisso também acredito,

Ligeiro vai o barquinho sempre e sempre adiante
E o caminho é o que lhe vai dando a sua cor,
Não importa se o trajecto é certo ou errante
Importa sim que os seus cais apeiem em Amor,

Um dia navegado levantar-se-à o seu véu
No límpido azul-marinho sendo reflectido
Sem dúvida ou qualquer outro sentido
De que esse fui sempre e sempre serei eu,

Só naufragarei se pouco fundas forem as raízes
Plantadas e cultivadas ao longo do caminho
Pela tempestade e calmaria virão mil matizes

Pois ao cair da maré a estrada será o regaço
Retocando as cores do casco do barquinho
Sustendo a queda adormecer-me-à em seus braços.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Eu Fui: Em Busca Pelo Regresso

A busca pelo regresso é o próprio rumo
Doce e lentamente procurando o ficar
Que já não deve estar longe presumo
Pois o longe sou eu na ausência de ar,

Asfixiantes são os contornos das paredes,
Deixadas para trás quando tento ser perto
Do rio que sacia e esfaima em mil sedes
Porém por ela… vulnerável e peito aberto,

Eu… que a viagem se sirva do que partilho,
Este tudo e nada que anseio e tanto evito
Todavia confere a verdadeira cor ao trilho

Pois das vistas vistas faço do dito o inaudito
Olhem, vejam e sejam quem do céu é filho
O regresso sempre esteve nas estrelas escrito.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ao Transitório: Porquê Tão Sério?

Os passos já conferidos sabem dos vultos em lampejo
Que eram eu sob as sombras dos edifícios como herança
Do ido só guardo o chão que piso e o céu que almejo
E esse pedaço de caminho é o que dá alento à esperança,

Sei ora que há que cultivar a arte do desprendimento,
Até o que fica aqui hoje um dia será apenas em incerteza,
Pouco tempo há para deixar passar o instante do momento
Porém não será esta transitoriedade que dá ao trilho beleza?

Acolho esses fragmentos em ósculos ao fundo da algibeira
Trago-os por onde o Sol nasce e o fim do mundo se principia
E em mente tudo é sagrado, tudo é utopia, tudo é brincadeira

Que arde no peito e atormenta a alma que em louco devaneio urdo,
Por isso ora fico ora fujo, por isso corro inverso à menor maioria
Pois alcancei uma verdade: que do tão, tão sério há tanto e tanto absurdo.

A Ema X: Ela Era o Hoje em Mim

Hoje acontece! De repente do tarde fez-se cedo
Então procurava por ela como por mim procurava,
Através dos dias as noites eram delineadas a dedo,
Aquele que o olhar aponta, o resto então não bastava

Para retornar a fulgência estelar para o único olhar
Que de facto a via, espreitando pelo canto do sorriso
Porque para mim era o único a reflectir este ledo sonhar
O resto ia e raramente ficava pois o tempo é tão impreciso,

Porém ela, ela via-me e beijava-me na e através da vista,
Ao tê-la fazia-me crer na maravilha, no divino e na magia
Que eram somente nossos sob o firmamento de cor ametista

E delicadamente lá do alto escrevia-se em mim em poesia
A rascunhos feitos de segundos nesta fulgência imprevista…
Era assim que o hoje era nos dias e ela em mim acontecia.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tudo e Nada Pt. II: Desde que Aconteça

Tudo e nada, não me importa mais desde que aconteça,
Honrarei os insanos, glorificarei os poetas num folegar,
Não serei a hipótese - serei! Desde que o céu enalteça
Largando um trilho de fogo ornado a água no olhar

Da estória, serei espectador e sobretudo protagonista
Sempre, duvidando sempre do seu próprio acontecer
Pois alguns não nasceram para ter a cinza como vista
Nasceram para ver o azul do céu e as árvores crescer,

O resto desconsidera o tudo e nada que traja o trilho
E esse trilho é o legado das estrelas num belo soneto
Que jamais olvidarei pois do Elísio ainda sou filho…

E que saudades tenho do lar e daquelas imensas asas
Que num movimento viam mais pelo onírico coreto
Do que eu no tempo daqui, sim terrestre… o Divino atrasas.

Tudo e Nada: Hoje e Aqui Acontece

Não há mais tempo para estes lugares
Pois estes lugares ainda não têm espaço,
O espaço entre nós é brisa entre passares
Que pelos luares se revêem no compasso,

Reiniciando o círculo, endireitando o passo
Dado em cada beijo e lágrima ao caminho
Sim, sou sozinho e o coração apenas pedaço
Do que outrora foi e um dia será no torvelinho,

Lá haverá pouco espaço e enfim a ansiada paz,
Este resto é cansaço e força em Vida e na Morte
Que em mim trago para a frente e deixo para trás,

Os lugares têm tempo e espaço no que a beleza tece
Simples, pequenos e verticais, entre o azar e a sorte
Que venham e sejam aqui no que for… Hoje acontece!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Por Janelas de Vidros Azuis Pt. VII: A Poeira no Presente

Tão estranha, esta busca pelo regresso,
Partindo de casa procurando o doce lar,
Pela vista da janela nas vidraças tropeço
Convidando a poeira do tempo pelo olhar,

Esquecendo o nome do sentir que se atreve
A contar a cor do sonhar em seus porquês
Eis que ao acontecer que o céu se enleve
Pois aqui de repente… passa a brisa e talvez

Nem a sinta como sinto ou como já fez sentido,
Tenho visto esses sentires de cima para baixo
Até esse ver enfim ser pela calçada acolhido,

Do visto o claro tornou-se então transparente
Tudo passa pela busca que é poeira no tempo,
Aceitando-a serei o pó ido aqui, neste presente.

(...e finalmente... Finalmente).

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

À Partida: Vejam e Beijem-me no Olhar

Ao partir tentar-me-ão colocar num oco recipiente,
Seja ele feito dos segundos por mim passados
Ou das palavras deixadas ao vernáculo da gente,
Mas saberão eles dos momentos por mim amados

Em atentos escutares e veres sob as pisadas do vadio?
Não, honrar-me-ão com epitáfios de saudosas elegias
Por nomes nas ruas e estátuas olhando de olhar vazio
As longas palestras sobre nada porém em tais quantias

Que não preencherão nem o mais fraco e ínfimo ansiar
Num recipiente que não conterá estas asas aladas,
Onde serão apenas o resto daquilo que não soube voar

Pois as nossas pegadas devem fazer a breve distinção
Entre o imprescindível para as diferentes caminhadas
E aquelas coisas que não preenchem o pleno do coração.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Entre Nossos Olhares: O Rio Que Sacia e Esfaima

Permaneci quieto apenas para que pensásseis,
Que pensásseis que o meu coração tinha parado
Pois há quem não soubesse ou até que esperasse
Que esse tal desfecho fosse realmente o esperado,

Ali, o seu olhar já não me olhava simplesmente,
Agora ele reflectia todas as cores cativas deste,
Para a foz das órbitas o dela era a sua nascente
E seu olhar meu Ver através do rio azul-celeste

Que era apenas nosso porém não como pertença,
Para além de dois num latejar a dois apressado,
Era sim propriedade do Tempo e nele a sentença

Pois nessa certeza vinha o para sempre quebrado
Do rio que sacia e esfaima que nem insanável doença
E que é temporária posse de quem o bebe apaixonado.