Alguns poemas começam assim do inaudito
Sem alguma coisa planeada ou para dizer,
Esse não dito interroga se pode ser um escrito
Ou se será só mais uma linha no bloco a se perder,
Pois há alguns dias que não são bem, bem dias
Porque passam por nós sem algo nos conceder
Para além de uma cinza silente de meia travessia
Que parece nem ser o crepúsculo nem o alvorecer,
Onde não há almofada ou camioneta que valha
Pois o tempo esquece-se de si quando se lembra
Que passa ligeiro e vagaroso ao fio desta navalha
Cuja tácita balada acorda tanto quanto adormece
Neste limbo onde se é o que a ausência relembra
Do sítio que é refém do segundo que não acontece.