sexta-feira, 31 de maio de 2013

Aquela Valsa: Ao Pé-Coxinho

A valsa ao pé-coxinho é na vida
De salto em salto a pé descalço
Mal alcançámos somos a partida
Onde o presente é um meio passo

Entre o petiz menino e a menina
De pestanas cobertas de estrelas
Que avivam a luz da lamparina
Luzindo através das tristes ruelas,

Bordado nos vultos da noite passada
O viandante é o seu próprio caminho,
A tela daquele tudo e do outro nada

Lado a lado vai ele e o passarinho
Sendo ele em cada beijo à estrada
Tão e tão só ao olho do torvelinho.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Entre Aspas: O Ponto e as Reticências

Acabámos antes de começar,
Descontínuos no tão completo
Que terminámos antes de acabar
Na entrelinha maior do axioma incerto,

Do finito ponto as eternas reticências
O entretanto entre o plural e o singular
A linha comum em perfeitas tangências
Entre o respirar fundo até à falta de ar,

Além do escuro, através do terno Amor
Os gradientes da luz no oblíquo aguaceiro
Onde ambos são contidos em prazer e dor

Tal a mais formosa flor cultivada num cinzeiro
Ornado gentilmente pelo Sol cujo nascer e pôr
O dois nunca e sempre relembra - do um ao Inteiro.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Um Pouquinho Mais Pt. III: Imagina

Imagina um pouco mais e muito mais pode ser…
Preenchido de coisas que ocupam o espaço,
Socorríamos o luar guardando-o em nosso ver
No espaço do fundo da algibeira e ao pedaço

Que é espaço, que é o tempo entre nós os dois
Porém se é tempo é reunião de outros segundos,
Será ele espaço de tudo o que foi e no depois
Indo e vindo no rodopio ao périplo dos mundos?

Tantas páginas que foram ou não aconteceram,
Hoje a lua é seu reflexo na rua e no firmamento,
O que as estrelas dos trovadores cá enalteceram

Revelando sete mil amores rumo àquele belo luar,
Imagina-os nas linhas do caderninho e o cinzento
Torna-se o pouquinho de cor que é boa de se dar. 

domingo, 19 de maio de 2013

Um Pouquinho Mais Pt. II e Menos: Sempre É

Um pouco mais e muito mais e menos seria
Todo esse imenso nada envolto no bocado
Onde pacientemente aguardo aquele dia,
O dia quando enfim voltaremos ao prado,

A vida é louca correria, a vida é terna espera,
Eu à indentação desta breve viagem deixado
Com fulgor obtemos cautelas para a primavera
Do dia quando enfim voltaremos ao prado,

Um muito menos e pouco menos e mais seria,
Nada desse parco todo envolto no fragmento
Que sou e ao qual pertenço em subtil harmonia

A procura do meio do pouco e do muito é eldorado
E nesse mais e menos somos todos o eterno momento
Onde ainda virá o dia quando enfim voltaremos ao prado.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Um Pouquinho Mais: Então Muito Mais Seria

Um pouquinho mais e então muito mais seria
Algo diferente que jamais algures tenha sido,
Um píncaro de estrelas, uma pitada de magia
Eis a poção que nutre o homem recém-nascido

Cheio de coisas que são o espaço na algibeira,
Espaço esse que agora é este relógio entre nós,
Errámos para onde a casa não é em tal canseira
Que da ária que era nossa se apartou a una voz,

Destes lábios juntos, toda a embriaguez e perdição
Do olhar do poeta e de sua esperança e almejo,
Quão ansiava desejar, quão queria o sim e o não

Para reter no frasco que tragava a cada lampejo,
Aspirando e respirando para o poder dar a mão,
Resfolgado e viandado neste tão breve versejo.

domingo, 12 de maio de 2013

Sobre o Inteiro: E o Destino no Caderninho (Entre Luares e Dias de Verão)

As suas lágrimas caiam mais do que páginas havia,
Eu - as frágeis letras delicadamente escritas a azulino,
Sem fim, embaladas por ela que era a Lua desse dia,
Esbranquiçadas a azul onde imperava o sonho coralino

Nocturno e submerso, impelido através dos abrolhos
Linha a linha através da entrelinha de um dia de verão
Por onde já havia alguma poeira a cansar estes olhos
E a fatiga da viagem esmorecia o ânimo de dar a mão,

Contudo não desistíamos não, várias páginas faltavam,
Talvez alguns sorrisos algures a serem impressos também
Aí sabia que por vós em mim as brumas cerradas recuavam

Para ver o esbelto semblante desse cativante alguém,
Que me há cativado no escrito que os passos ansiavam:
Entre nebulosas e buracos negros por onde o Inteiro é além.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

... E O Rapaz Pt. V: Que Olhava Por Estes Olhos

Através do rio onde se espelhou outrora
O olhar reflectido era diferente mas igual
Na íris trazia os pincéis das cores da aurora
Iluminando nas mãos abertas um coração tal

Que o mundo ao vê-lo parava na precisa hora
E o velhote enrugado ficava catraio pequeno
A brincar com bola colorida no que era lá fora,
Sorrindo não pelo olhar mas pelo Ver enfim sereno,

Ssh! O mundo sempre discursa nos pequenos nadas,
Para o escutar é preciso parar e nosso ruído silenciar,
E… aceitar cada brisa suave e as tormentas danadas

Como prémios e ornamentos a este breve caminhar
Até mesmo as cicatrizes nas pegadas atrás deixadas
As aconchego bem perto do peito num irrestrito amar.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

... E O Rapaz Pt. IV: Que Deixava o Colibri Acontecer

Era a melodia da caixa de música entoada
Pelas persianas entreabertas um pouquinho
De nada mais e seria um pouco mais que nada
Pois no que aqui é enfim deixarei voar o passarinho,

Que sou eu e é de todos por isso a ninguém pertence,
Por vós e eu esvoaça ele através da brisa e tormenta,
Que ele aconteça planeado há quem ainda tal pense
Não percebem que o ruído deste mundo o afugenta,

Que ele detém a única vera politica, religião e filosofia
Aquela de quem é nos braços da brisa e a bem aceita,
Por vezes é a Lua invernal mas há vezes em que é dia

Então é a pluma no ar do colibri, a melodia que a enfeita
O sorriso do Sol, o beijo e o anzol numa sublime sinfonia,
E aí sim, é Magia... Nesta união que vai para lá de perfeita.

terça-feira, 7 de maio de 2013

... E O Rapaz Pt. III: Que Viandava Através da Estrada Branca

Se em vez de Lua fosse aquele outro dia
Colorido a crayons e embebido em poesia
Se em vez de pouco fosse só o bocadinho
Que juntava duas almas num só caminho,

Se em vez de lágrima fosse o azul do céu
E lá em vez da nuvem parda fosse só eu
Envolto pela noite alta na voz do trovador
Através do silêncio que é Sol e resto de cor,

Se em vez do destino fosse apenas a estrada
E de tudo um pouco quisesse pouco ou nada,
Sempre tão perto e longe à berma da viagem

Sem origem ou destino e sendo tão só à passagem,
Por aqui vou viandando sempre e sempre adiante
Até que o que era fica aqui enfim em mim distante.

sábado, 4 de maio de 2013

… E O Rapaz Pt. II: Que Colhia Faúlhas Uma a Uma... Uma... A Uma

Em admiração ele observava atento o firmamento
Algures por lá Ema bailava insciente à desfolhada,
Pequenas faúlhas caiam em oscilante movimento
Colhidas pelo rapaz deitado à berma da estrada,

Cada rodopio era rascunhado a régua e esquadro
Sendo em papel de marca de água por ele pendurado,
Suas mãos tinham nascido para pintar o seu quadro
E o seu olhar para verter em memórias o tão ansiado:

A melodia que era dela e que era sua pertença também,
Às vezes lamentava cada pestanejar pelo então perdido,
Ela era a visão estranha tão familiar, seu tudo e seu ninguém

Onde o resto passava e raramente ficava após ter partido,
Porém ele era enamorado por ela e por ela cativo e refém
E era ela a ocasião nele emoldurado e no seu olhar retido.

... E O Rapaz: Que Vivia Sob as Estrelas Cadentes

Encontrai-o em sítios abertos e arejados
Onde se ouça o cicio do ribeiro aligeirado,
Das estrelas revendo em si mil bocados
Aqui por fim e finalmente reencontrado

De pés descalços a beijar a relva verde,
O rosto delineado pela brisa da viagem,
O sedento de tudo enfim de saciada sede
Prostrado à lua nova pela breve passagem

Agora ele vive, finalmente ele é na Vida!
Não há tormenta ou sequer bruma no olhar,
Há um brilhozinho tornando a viagem sentida

Aqui finalmente, por fim e enfim basta o bastar
E quando a brisa o beijar em terna despedida
Que se lembre que um dia soube... ele soube ficar.