domingo, 31 de março de 2024

Entre Correntes e Saudades: Um Cântico à Solidão

Estas correntes que me encarceram nesta prisão,
São fruto daquela que deu a mão neste caminho,
É súbita a paragem, porém faz parte do coração
Mesmo que o trilho se torne bruma e eu sozinho

Lentamente vá por onde este sonho é destroçado,
Com relâmpagos e fuligem nas costas, a saudade
De quem passou deixando passos no aposentado,
De quem tornou de mentiras esta única verdade!

Quando o amor se torna em minúscula, e a insónia
É noite e de dia, o crepúsculo abraçando a escuridão,
Nossos batimentos cardíacos ao ritmo da melancolia,

Somos somente um apêndice na retaguarda da Vida,
Apenas mais um prego nesta cruz feita de solidão,
Só mais duas mãos desencontradas, a eterna dúvida.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Entre Paredes de Cimento

As suas mãos brancas de lixívia, na sombra da aurora,
Brevemente teremos asas irmão, em breve encontrado,
O falhanço do desapego, este orgulho de quem namora
Uma tentativa de ser algo mais do que um beijo almejado,

E por onde quer que vá, simplesmente não há pertença,
Escorregando no resvalo da saudade, vou e não pertenço,
Este olhar chamuscado pela cegueira de uma quase sentença,
De coração quebrado, procurando o não de um falso pretenso,

De um correr esbracejando aos círculos, um amigo é sim preciso,
Entre quatro paredes de cimento não é o final que tenho ansiado,
Obcecado e perdido nos pormenores, uma lágrima pelo seu riso,

Sonhos sem sono ferem as nossas noites, e o hoje ainda não passou,
Era eu sim, procrastinando o quanto estava em relação a tudo errado,
O não ter pertença nem sei se esta é a doença ou a doença a si se curou.

domingo, 24 de março de 2024

Entre as Brechas da Persiana

Vejo-a entre as brechas na persiana num desfile singular,
E os meus olhos, tal enchente de maré, em calma matinal,
Lembranças e esperanças de momentos possíveis de amar,
Devagar, atiçando tempestades e verdades no beijo auroral,

Provocando-me almejos insaciáveis, os inabaláveis instantes,
De livros nunca lidos, porém estremecendo entre as letras,
Dessas memórias contidas nas páginas entre dois amantes,
Eternamente ligados pelo poder que em mim vais e soletras

Através de sonâncias e toques já esquecidos pelos mortais,
Agradeço a oportunidade, agradeço o ensejo por confissões
Que fui fazendo a um rosto lunar, o coração que entregais

Faz jus aos poetas passados na ternura das suas mil canções,
Bom dia, somente outro caso de graça, o sangue me estancais,
De resto, sou pertença daqueles que se perderam entre gerações.


quarta-feira, 20 de março de 2024

Além das Palavras

Sustendo as asas repletas de plumas neste escrevinhar, 
O poeta é pintor e o poema é a escrita no firmamento
Das sentenças a que lhe foi possível outrora reivindicar, 
Com esse pintar e esvoaçar por cada incólume momento, 

Sacro sacramento, o beijo dado aos céus sem pedir em troca, 
Precisamos de dar para além do que é possível cá receber, 
Passando os arcos das portas e o que seu fogo estoca,
À procura de algo mais inteiro que permita perceber

O porquê de pintamos palavras que vão de mão em mão, 
A pergunta é feita para finalmente podermos responder
Quando será que faz sentido beijar a corrente estação, 

Mesmo quando melhores dias virão e a lágrima secará,
Portanto ao longo infinito esta moldura iremos remeter
Até quando por fim formos e chegarmos ao lado de lá. 


quinta-feira, 14 de março de 2024

O Caminho É O Estelar

Os tesouros de uma existência na palma da íris são retidos,
Em simples instantes passageiros correndo enfim graciosos,
Por cada passo conferido, vejo-os no peito firmes e embutidos
Numa relapsão quase de mão na mão em vários olhares radiosos,

Deixando um trilho cadente, somos as porções de estrelas perecidas,
Por um Ver brilhante, almejando o bastante, nascidos do firmamento,
Através do esvoaçar das asas por fios feitos de constelações tecidas,
Nestes corações o pulsar de outras vidas passadas de outro fragmento,

Dentre salas vazias e com as ponta do dedo por ouro assim decorada,
A relutância perante o efémero, diante o meramente tido como humano,
Apontando para o horizonte e para a ponte que para se erguer é obstinada,
 
Almejando mais do que a própria Vida, anelando mais num brinde ao desengano,
Nesta passeata regida por encontros e desencontros, uma flecha na carne cravada
É somente ornamentação para o caminho, num lugar onde o caminho é o soberano.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Melancolia dos Inóspitos

E assim pousa outro dia, indubitavelmente sozinho,
As lágrimas nos olhos fazem ver que estamos perdidos,
Não obstante do trilho caminhado ou do próprio caminho,
De vidros azuis observando pássaros hoje, outros partidos,

Nunca fui suficiente, emendiquei amor por portas cerradas,
Através delas restam estas ruínas, este eterno sofrimento,
O restante ainda é quase poeta apesar das asas quebradas,
O resto é somente esta ideia e este verdadeiro sentimento,

Sim! Somos nós os inóspitos, enlouquecidos e inadequados,
Os alicerces caídos, raízes sem ramagens, pés sem viagens,
Se um dia regressarmos a casa, ao longínquo lar no estelar,

Saberemos sequer ainda que dentro de nós somos regressados?
A dúvida é eterna, e este olhar peão perante tantas miragens,
Talvez um dia parta e vá esquecendo por fim o que é este amar.