segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Este É O Momento

Pelos campos carbonizados de neve existe um palpitar,
Cada um deles sufrágio silencioso para um tempo sem espaço,
Pois quando havia um pouco, uma metade, um respirar,
Então o floco era quebrado na ausência de um abraço,

Este é apenas um poema para os partidos, para a passagem,
Perdendo a ressonância com os seus nomes e apelidos,
Os ossos que engulo ao exalar nesta quase viagem
Que é apenas campo de batalha para os mortos e feridos,

Este comprimido é só para existir, não para viver,
Possivelmente dormitamos enquanto ardem cidades,
Se assim for, irei em frente para poder ser e conter,

Estes são os dias que passam, o bocadinho retido
Ficando entre as linhas dos olhos através de minutos e idades,
Que somente se torna a história do nosso passar quando sentido.






domingo, 22 de dezembro de 2019

Hemorragia

Ele nem se pendura dos campos vestidos de Serafins,
Ele nem vê o brilho dos teus olhos, as rugas da tua mão,
Os sapatos de salto alto que esqueceste no armario, os enfins,
Por isso porque o queres se eu poderia preencher o teu coração?

Então abraça-me ou deixa-me ir mas não sejas meio termo,
Não é simples quando não há oxigénio para respirar,
Não é beijo quando os lábios nem sequer se conseguem tocar,
E eu até estou bem, eu não estou louco ou sequer enfermo,

Eu sou ilhas, eu sou glaciares e foste semeada neste peito,
Estas palavras não têm significado, não têm horizonte,
Os pares entre si vistos num eterno para sempre rarefeito,

Preenches os teus copos com estes ossos contornados a carvão,
E nesse bocadinho há espaço para um beijo, tempo para a ponte
Onde és o giz no contorno que larguei e abdiquei no meu coração.



La La La La

Se passares a noite aqui seremos encurtados,
Abaixo da cintura, abaixo dos joelhos no beijo,
Penso que a ela e a mim fomos sim encontrados
Neste lento passar da noite onde tenha lá sido todo o desejo,

Por vezes é difícil sarar,  chama-me o instante,
O relapsar do suspiro que suga o latejar do coração,
Preciso mais dela nas veias, fluindo em frente, adiante,
Quando o único momento real é quando damos a mão,

Esconder a vez que fomos a queda, que excede e escorregamos na merda,
É uma piada, o não haver novos caminhos para explorar,
Pois quando o sol se põe, eu sinto a ausência, eu sou a perda,

Sou o esconder no fim da garrafa, o prefácio para o pouco, o muito, o amar,
Sentindo o suor, sem medo, o pé à esquerda da esquerda,
Pois por vezes, por vezes, estamos todos perdidos até nos encontrar.



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A Dor do Terminar em Segundo

Acordei desnudado após com amor ter sonhado,
Polindo os ângulos destros, a réstia do encontrado
Era esta a dor do homem trilhando no solo sem piso
Pois de veias e sangue por elas escorrendo é preciso,

Procurando os seus pedaços no fundo da garrafa,
Até desvanecer o contorno desta entoada canção,
A estrada solitária até levou a palavra que estafa,
Preenchendo os bolsos com os ossos do coração,

Pois nesta corrida hei sempre terminado em segundo,
A sala cobrindo-se de fumo, erguido ou permitindo,
Os sussurros perfurando os ecos do vazio profundo,

É a dor do permitir, deixar o presente vir, sorrindo,
E quando a lágrima assentar e imperar a escuridão,
Um dia, novamente virá o sol, virá uma nova estação.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

4 e 43 da Manhã - Empregada de Balcão

O cigarro no canto do cinzeiro, define o trilho passado,
O tempo para lá deste momento, a sua cor, o seu estado,
O pouco que não foi, o muito no receber de uma mão,
E a espera pela procura do que puder preencher o coração,

E os cobertores daquilo que deixei de ser caminho,
A parte do trilho, a parte do pai, a parte do filho,
Largaste amor nas ruelas, vielas, na tua ausência,
Esqueceste o beijo iterado que era a próxima essência,

Abres garrafas pois perdeste a sede, o toque consagrado,
Atendendo a parte que foste e não pediste para ser, o tocado,
Entretanto esqueceste as beatas, os bêbedos, o ser partida,

Até te esqueceste do instante que era para lá, que era ida,
O fluxo natural, o passo dado através desta bizarria,
Se és essa metade, eu sou o sorriso, eu sou a melancolia.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Acorda Amigo, Não Morras Antes de Viver

Incrédulos, trago amor nas alcovas para partilhar,
Envoltura, o propiciar e o ver toda a estranheza,
Pois procuramos e por vezes não há espaço para andar,
Por vezes há momentos em que não há beleza,

Mas há espaço eterno sem importunar o infinito,
Ver o revés da moeda, com o coração nas nas mãos,
E perder o pouco que tínhamos no último grito,
Quando percebemos e deixamos cair todos os nãos,

Quando apenas temos a queda como único irmão,
Dormitando perto do prefácio próximo do trilho à margem,
E há tentativa sem sequer tentarmos ser tecto sem chão, 

E para viver há nuvens porém nunca tempo suficiente,
E o aqui é perto, é a última parte ou resto da miragem,
E o pequeno bocado que pode passar, passa sempre rente.

(Mas não rente o suficiente)...