segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Trago

Trago só mais um resto de esperança,
A presença de um pouco de saudade
É o passar com um olhar de lembrança
Que é do viandante a sua cara-metade,

Trago só mais um bocadinho de vontade,
Só mais um pouco de querer ser e poder ir,
Para o trilho o já ido apenas meia verdade
De quem se dá ao choro tanto como ao rir,

Trago em mim décadas que aqui nunca foram
E píncaros e minúcias a quem já não importa,
Se foram instantes negros que ora douram

Não sei! Foi ponto de vista de quem passa
Nem sei se bateram de todo nesta porta,
Trago todos e nenhum ao passar na praça.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Esta Nossa Noite

Esta nossa noite deambula pelo já ido,
Encontremo-nos algures pelo seu meio,
Procurai-me lá quando já tiver partido
Partindo sem algum travão nem freio,

Por mim seremos novamente um dia,
Haja sol ou chuva seremos novamente,
De vós já quase ouço a familiar melodia,
Somente há que caminhar em frente,

Será aquilo que em nós é maior que nós?
Inquiro às sombras que passam na calçada
Pois se for é preciso dar-lhe cor, dar-lhe voz

É preciso dar os passos para a caminhada,
Não mais me interessa a distância até vós
Desde que estejais lá minha doce, doce cilada!

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Desabrocha

Desabrocha a suavidade do porto de abrigo
E eu, sozinho ou contigo, lembro o passado,
Sim há vezes em que preciso de um amigo,
Há vezes em que o sol não se dá dourado,

Oferece-me o peito e deixa o tempo passar,
Cansam-me as correrias da sobrevivência,
Não tenho tempo para viver, para amar
E magoa-me da situação ter consciência,

Verte-se-me a tristeza de uma geração
Que não tem hipótese de ser ou viver
Que não tem quem lhe ofereça a mão

E lá vai indo direita por caminho torto,
Há vezes que a vida só deseja morrer
E que em vida é só o homem morto.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Tenho Tragado

Tenho tragado o som da madrugada,
Como se tivesse em mim repousado,
E à primeira claridade aqui albergada
Será que do dia havemos abdicado?

Um dia soltarei as amarras deste cais,
Partirei sem olhar para o que foi ontem,
Queimando as pontes pois sei que jamais
Terei lar onde quer que estes olhos apontem,

Faço da incerteza a única e bela certeza,
Do vento longínquo o beijo, os abraços,
Não sei se haverá dia, se haverá beleza

Porém estou desejoso de dar esses passos
Que levam ao desconhecido em franqueza
Deixando para trás meus mil e um pedaços.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O Tempo É Tão Curto

O tempo é tão curto nesta breve viagem,
Ficam ideias de rostos que vão passando,
Especando à vidraça tal de louco miragem
Cravam-se ao olhar por onde vou olhando,

Hoje há recôndita penumbra e seus luares
Relembram as vezes de um sorriso aberto
E desta minha passagem por tantos lugares
O trilho desta jornada parece sempre incerto,

Dos passos dados, lágrimas derramadas,
De que todos partiram deixando-me só
E desses fins, dessas fotografias rasgadas

Por vezes parece que o tempo não tem dó,
E se um dia for entre paredes tresloucadas
Esqueçam-me enfim entre estratos de pó.