Tenho tragado o som da madrugada,
Como se tivesse em mim repousado,
E à primeira claridade aqui albergada
Será que do dia havemos abdicado?
Um dia soltarei as amarras deste cais,
Partirei sem olhar para o que foi ontem,
Queimando as pontes pois sei que jamais
Terei lar onde quer que estes olhos apontem,
Faço da incerteza a única e bela certeza,
Do vento longínquo o beijo, os abraços,
Não sei se haverá dia, se haverá beleza
Porém estou desejoso de dar esses passos
Que levam ao desconhecido em franqueza
Deixando para trás meus mil e um pedaços.