sexta-feira, 28 de julho de 2023

Em Busca da Alvorada

Vim a esta Terra cantar sobre o firmamento,
De pés descalços, entre o choro e o sorriso,
Tentando lentamente capturar o momento,
Por onde vou sem explicação ou sequer aviso,

Ouço corações ao longo desta branca estrada,
Trilhando dias e noites, confuso ou encontrado,
Pois nem sempre a flecha do Cúpido é endireitada,
E por onde vou procurando o sonho bem acordado,

E a sua voz, deixando-me de noite sem o descanso,
Vou por onde me canso, vou por onde pretendo,
Sem luz ou sequer ideia, entre estrelas e ranso,

Não me amanso, busco o final da eterna caminhada,
O beijo que toca na alma, o regresso dessa alvorada,
Pois quero tudo ou nada, não apenas um simples remendo. 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Em Busca do Eterno Percalço

Por favor, espera por mim no final do já trilhado,
Com vossa mão o nevoeiro parece menos denso,
Olho para trás e vejo o caminho entretanto passado,
E tenho medo do escuro, daquilo que por vezes penso,

Sou um estranho reflectido no espelho de outra pessoa,
A poeira apensa-se ao corpo, vou ficando fragilizado,
Pois as rugas afloram à mercê do tempo e tão à toa
Perco noção do Amor que tenho, deste peito tocado,

Porém anseio vulnerabilidade, o estar nu e descalço,
Perante o beijo inevitável, perante o doce descanso,
Pois o Amor é inabalável, é o eterno e cíclico percalço,

Onde muitos perdem o fôlego, onde desistem de nadar,
Porque a maré é alta, apesar das ondas submergirem eu amanso
O Oceano que traz o esquecimento e então vou aprendendo a amar.

terça-feira, 25 de julho de 2023

Promessa de Inteireza

Debaixo de um céu por estrelas encoberto,
A ver os passos que aqui me foram trazendo,
Ornado por brisas de um vento que vai incerto,
Nele vestígios do Homem Inteiro que vai sendo

Por tentativas, procurando não viver por simples metade,
Não chorarei como os outros, darei ao tempo espaço para ser
Mesmo que por vezes a Vida seja madrasta e traga orfandade,
A resposta encontrarei ao prenúncio da busca por um pleno viver,

Que seja real e que traga luz e dissipe a insegurança, o medo, a ansiedade,
Pois trilhamos por onde o Cúpido pretende um beijo, e a verdade
É que trago as estrelas que vi num olhar único e simplesmente singelo,

Pois mesmo que por vezes chova, a maior parte delas há sempre algo belo
Para ver e tocar, independentemente daquele tempo que demora a chegar,
Prometo, juro, faço das tripas coração, serei vosso até de mim me distanciar.

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Não Obstante, Em Busca da Felicidade

Vejo-me reflectido no vidro azul por mim embaciado,
O fôlego ofegante por um instante enfim eclipsado,
Faz de mim nostálgico, afogando-me em saudade,
Por um sorriso em partilha onde procuro a felicidade,

Porém há tanta contrariedade, deambulo no adverso,
Escrevendo a frase de estrofe a estrofe, de verso a verso,
Sonhando com a donzela que por fim me queira dar a mão,
E que me preencha de vida e que me reavive o coração,

Pois canto esta canção, e o seu suspiro reconhece-me tão bem,
Sou amigo do Outono, do carrossel que vai e por vezes não vem,
E tenho medo da escuridão, do tempo em que vai caindo a monção,

Contudo vou buscando nesta Vida o que sempre será uma bênção,
Este olhar é somente para a ver, estes lábios apenas para a beijar,
Não me é mais importante de que só vá, hoje pretendo enfim chegar.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Repouso Para o Coração

Sonho acordado no instante de um simples suspiro,
De mãos dadas inalando o pólen de um passado,
Caminhando além, onde há vestígios de um respiro,
Ainda não conferido, a mim quase ainda endossado,

É fragmento da flor, uma pétala por um beijo tocada,
Procuramos um ombro ao qual enfim chamar de lar,
Por isso imagino a bela donzela na luzência revelada,
Por isso vamos ansiando por um dia nele repousar,

E já estou quase a chegar, falta apenas o próximo passo,
Sinto-o nestes ossos que necessitam de por fim descansar
Num momento esbelto tal o retornar de um compasso,

Áquele sítio bonito onde palpita e é um simples coração
Que na sua beleza finalmente vai e consegue esvoaçar,
Farei um templo desse espaço, e da sua cantiga a oração.

 

domingo, 16 de julho de 2023

O Limbo do Não Momento

E assim passou o tempo da nossa canção,
O vento o encaminhou para outro lugar,
Ficou a lágrima da saudade, a inquietação
De alguém que se tinha esquecido como amar,

De rédeas soltas, e novamente estas palmas vazias,
Estes sonhos só fazem sentido quando neles estás,
Não tenho como me aquecer nestas horas frias
Que passam tal andorinha evadindo as estações más,

As falésias tornam-se mais altas, os desertos mais vastos,
E os instantes trazem a solidão e a escarpa sem voz,
O silêncio entre adagas e o sossego entre os rastos,

Quando partiremos deste limbo, deste não momento?
O espaço entre a vida é real, sabe a amarra tão atroz
Entrementes o poema é não corrido, e eu de nós – fragmento.

terça-feira, 11 de julho de 2023

Estilhaços Passados e Esperança

O sonho de um instante de olhos cerrados, 
Atirados para a profundeza da madrugada,
Parece que por vezes para trás ficam bocados
De um quase inteiro tornado porção fragmentada,

Quando é tudo ou quase nada, um coração latejante,
A lâmina na artéria, corte de papel no vento norte,
Somos indómitos, inabaláveis, no tempo gritante,
Abafado por uma memória inglória, por má sorte,

A nostalgia de quem é para um futuro propelido,
Galopando adiante com cascos feitos de imprevistos,
As roupas usadas esticadas no pedestal do amor perdido,

Por isso me é difícil dar a mão, ser, estar, permitir o coração,
Porém há espaço entre as cicatrizes, por momentos revistos,
Há sempre novo tempo para permitir e deixar cantar esta canção.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Fragmentos de Encantação

Nestas estrofes há fragmentos de encantação,
Pequenos pedaços daquilo que é pássaro a voar,
Tal partida para o peregrino no entoar de uma canção
Que é a procura por um novo e surpreendente lugar!

Há beijos ainda por serem partilhados na palma da mão,
Momentos belos e doces ensejos repletos de luz e cor,
Recolhidos por um toque e um olhar com botas de algodão
Que lentamente ficam e vão, no princípio e fim tal ornador

De estrelas cadentes em paredes de papel feitos de firmamento,
De estações de comboios que vão passando, oh doce rebento
Que me alumias o ver a alforrecas subaquáticas, o mar sonhado,

Que se estica de um alpendre para um horizonte quase alcançado,
O poeta sempre deixa impressões digitais na superfície da eternidade,
Independentemente se compreende ou não compreende a sua beldade.