terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Observador de Pássaros II

O poeta é um simples observador de pássaros em extinção,
Cada pássaro é a tentativa de aproveitar o alado momento,
Preenchendo-se até à borda de pássaros e da sua canção,
Observando-os numa dança graciosa perante este vento,

Este olhar, farol iminente para o além sempre desfocado,
Porém quando açambarcado enfim tudo faz mais sentido,
Entre ramos e galhos, um baile de plumas por si enfeitado,
As folhas, caleidoscópios de emoções para ele e o despendido, 

Nestas asas de poesia, um voo gracioso no contorno de um coração,
Cada trinar é um contemplar de um novo e entusiasmante firmamento,
Onde ele, sereno e atento, finalmente encontrou a sua eterna vocação,

Assim, o poeta se torna pássaro em seu ser, aprendiz para o esvoaçar,
Numa sintonia com a natureza coligada do estar para sempre sedento,
Por fim, o poeta se reencontra com o potencial de poder enfim amar.

Versos da Existência

Versos pingam vertidos sobre o calor de um regaço,
Engolimos colheres com oxigénio para cá nos manter,
Estas covas sob estes olhares penitentes, este cansaço
É somente outro dia por terminar, um sim quase viver,

E sobre a minha sepultura colocarão as mais belas flores,
Estas mãos outrora dadas em uma apoteótica celebração 
Versos caídos no firmamento colorindo-o em vivas cores,
O resto é permitir vir o sorriso e sol no meio desta monção,

Estas estrofes para sempre pertencentes à Biblioteca Astral,
Perscrutando os sulcos de luz colados nestas frias paredes,
Perseguimos a noite esperando dia, e aquele beijo não banal,

Amor encontrado então, regressando a casa, por fim descanso,
Reconstruindo com palavras o que as acções deixam em redes,
Para além da sombra do silêncio finalmente a mim me alcanço.

Observador de Pássaros

De poeira na boca e de cotovelo e joelho rasgado,
A cinza vai cobrindo o que o vento vai esquecendo,
Sou, pois, observador de pássaros, o elo quebrado,
Que liga o amanhecer à noite que vem me querendo,

Aqueles lábios e olhar já os sei de cor, o reino da flor,
Os desencontros de todos os caminhos deste mundo,
O que tenho e ainda ofereço é este somente amor
Que me liga à Obra Divina, ao Saber sempre profundo,

Nos ponteiros de um relógio velho, a acalmia do mar,
Um deserto cujas pegadas pertencem a pés cansados,
Trago-a onde o sol perdura e se encontra com o luar,

O preciso instante de tranquilidade onde passa a estação,
Mesmo perante esta bússola pertença dos desnorteados,
Sei que algures ofereci e partilhei este humilde coração.

O Vagão do Tempo

Esmorece o vagão, a veia oriunda do coração,
Apagam-se as luzes e esvazia-se enfim o palco,
Vamos todos para casa, essa é a triste sensação
Do momento tornado passado que aqui desfalco,

Havia tanto trilho para caminhar, para aqui esvoaçar,
Restam as veredas do caminho, a morte e o vizinho
Que é o Tempo pelas pernas agarrado e enfim a puxar,
O restante é lágrima ocular, vagabundo tragando vinho,

E esqueço-me dos planos que tinha para este futuro,
Fenecendo pelas noites onde os vidros são azulados,
Vou trazendo a sua beldade no mais claro, menos escuro,

Volto as costas para o mundo, cerrando assim o olhar,
Quem me dera ser diferente, ser de mim outros bocados,
Contudo este é o pedaço de mim que permitiu ver o Luar. 

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Transitoriedade do Ser

Estes sentidos emudecidos por um tempo eclipsado,
Sou somente mais um no meio de tanta e tanta gente,
Desde os pedaços de plumas até um céu enxovalhado,
E eu, entre quem em mim é, pois que vá e se apoquente,

Este é somente mais um poema para em mim me acumular,
Ao monte de terra trazido numa perda nesta boca aberta,
Perante o instante em que eu vou indo e pareço não passar,
Sou, pois, e assim segundo passageiro desta hora que é incerta,

Por favor sepultem-me sob uma cascata de incógnitas esbeltas,
Olhos fechados neste caixão ornado pelas estrelas mais brilhantes,
Enfim neste peito enfocam-se assim os vultos e as suas silhuetas,

E destas paredes estes mundos se tornam num lar para o enjaulado,
Libertem-me, serei esquecimento para o que venha depois ou dantes,
Serei finalmente a morte dum irmão penante sob um sonho renunciado.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Venha O Fim

Verte-te neste cálice e concede-me de novo vida,
Há alturas em que feliz fujo deste tempo perdido, 
Porém há fantasmas que trago na algibeira vestida
E cicatrizes que relembram as maleitas do querido,

Este olhar penitente que mal se vê assim de repente,
Deixem-me sozinho, perdi o sonho, dou-me por vencido, 
Não há poesia nem magia nestes dedos, deixem-me gente, 
Apenas mentiras e a perfídia de outra dor, de outro gemido, 

Colhemos espinhos por flores, já morto me dou noutras mortes, 
O ideal é a paz do sepulcro, longe dos seus almejados beijos, 
Portanto não tenho caminho, um rei sem as suas consortes, 

Há neve nas fendas destes pulsos e no interior do coração, 
Esta alma quase ida, que morra também coberta de percevejos,
Que dentro de mim encontre por fim a minha conclusão!




quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A Morte Veio E Levou-me

O quebrado pássaro azul encurralado contra a parede,
Um precipício para aqueles que vão e respiram ofegantes
No fundo da vala comum encontram outro tipo de rede, 
Realizando o óbvio, teremos sempre os olhos brilhantes, 

E uma lágrima a escorrer do sorriso e da sua alvura, 
Apetece subir a mais alta das profundidades, esquecer, 
O beijo de quem amo, descansar no topo da altura
E depois ser queda, no céu me esconder e com êxito perder

As sombras neste olhar, brumas atrás de outras sortes, 
Pois sabei que procuro a bênção de obter mil mortes, 
Ser olvidado e apagado desta vida, por fim suspirar, 

Porque neste breve tempo em que cá ando reaprendi a amar, 
Para capotar, sabotar, menosprezar e cair na profundidade, 
Ouvi o eco destas palavras, esta é a minha única verdade.