terça-feira, 26 de julho de 2022

A Contemplação do Poeta

Escuta-se uma voz ao longe, pequena e esvaecendo,
Por segredos tornados cicatrizes e lábios então rachados,
Alcançando o precipício pondo as montanhas tremendo,
Que não falte a sorte de uma vida com todos os seus bocados,

Desde a manhã em que acordo até à noite em que adormeço,
Aí vem o anoitecer num despertar de um céu deveras estrelado,
E ela com uma grinalda feita de astros na cabeça que teço
Em poesia cuja reflexão é nos lagos um amor enovelado

Por milénios passados, silenciosamente tecidos pela atenta mão
Do trovador, que com ou sem dor, vai mostrando a face de Deus,
E assim caminhando para a montanha, condecorando o coração, 
 
Emudecido, calado, com vultos aos seus pés, no céu só um semblante,
Que num momento, num instante, tanto nos acena como nos diz adeus!
E o desejo do poeta é esse meio que ele completa num único olhar vigilante.
 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Prisioneiro De Um Abraço e Beijo

Há um escape entre os nós das nossas mãos, 
As pontas dos dedos enrugadas por fim dadas, 
Elas vão até aos ventríloquos de um coração
Dividido entre dois e as suas águas furtadas,

Há pontes para o além no sorriso da donzela,
Navegando entre marés do ciano mais azulado,
Deixando flores desse brilho d'oiro numa tela
Lembrando que esse brilho é sempre partilhado,

E à distância entre os nossos lábios assim enlevados,
Nesse breve instante somos da Vida companheiros,
Trazendo indentações de asas, de céus esvoaçados,

Que nesta visão são maiores que quaisquer aguaceiros
Que diagonalmente caindo nesta boca tão imaculados
Me tornam o vosso abraço e beijo, sou eu vosso prisioneiro.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

O Pronome Para o Dia

Trago as mãos enrugadas de tanto as ter aqui vestidas,
Por noites estreladas findando a solitária caminhada,
Pintando paletes de outros dias e as suas despedidas
Sombras nos montes para esta Vida que rascunhada

Soava a mais, mas eles não ouviam, não sabiam como, 
Acalmados pelo suave toque dos dedos do artista,
Que apesar  de livre nos olhos tinha apenas fumo
E breu, da noite escura, da ode olvidada do paisagista,

Tons mudando de tom, esperançando com o potencial,
Há beleza na mudança, no temporário, na possibilidade,
Equaciona o adiante seja este então diferente ou igual, 

Quadros pendurados em corredores sem nome, e a fome
De mais, de ser o homem das roupas usadas, sem idade,
Ouço o estático, o barulho branco, sou deste dia o pronome.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Canto

Canto as cantigas de amores ainda trazidos,
Cantando epopeias doutras épocas já passadas,
Lábios e beijos de amor um dia e outrora sentidos,
Hoje com a cabeça ao ombro destas horas cessadas,

Pergunta-me quem sou e o que este olhar vê e procura,
Qual ponte é horizonte e qual lugar dará enfim guaridas,
Quando o tempo se torna água que tanto bate até que fura
Começamos a confundir os encontros com fugidas,

Murmuremos a fonte da poesia em doces palavras 
Ao ouvido, quase sussurrando o adeus jamais ouvido,
Perdido numa prisão de reflexões de trevas obscuras

Esperando a vogal que jaz entre as linhas do poema,
Nadando na água em busca do tesouro querido,
A iluminação da mente e a entrega do diadema.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Por Vezes os Outros Vêm a Mim

A paixão por um beijo adagiado estancado no peito,
Enamorado por um gesto quase consumado em vida, 
A vida vira meia morte por alívio, remédio, por respeito, 
Entre dedos as mãos de Rhea nos últimos restos desta dívida, 

Cama de rosas impaludada, enfim em frente o jardim do Eterno, 
Um toque de alaúde e caem todas pérolas dos seus pés, 
Rasguei as asas para andar com os humanos, oh tão ingénuo, 
É mera luz e restos de sonhos dentro de vagões indo invés 

Do caminho da graça, este vestido rasgado das paradas atrasadas, 
Aí meu amor, a nossa dor, a nossa vida, trouxesse o restante deifico,
Esta é a a minha serenada a quem atravessou, aquelas outrora amadas, 

Por isso sereno a madrugada, por isso as indentações do coração são sorrisos, 
Conto os segundos para a manhã, fujamos para algures bonito, por lendas Élficos! 
Depois descansaremos num majestoso lugar… já ouço os passarinhos cantar, amor meu... já ouço os passarihos a cantar….

sexta-feira, 1 de julho de 2022

A Guerra das Flores

Sou o órfão de uma geração hoje e agora esquecida,
Dum passado nunca longe, cicatriz jamais perdida,
Procurando porto de abrigo para lá da tormenta,
Ao coração uma grinalda de espinhos o ornamenta,

Quem me levou o sorriso conheceu minha queda,
Por onde vou sozinho na clausura desta vereda,
Com imagens mentais de um momento eclipsado
Por si próprio, o sorriso que é só de um bocado,

Desconhecido sou, as razões vazias de potencial,
Amanhã talvez não consiga mais, que não usual,
Olhos completamente abertos sem conseguir ver,

É preciso oxigénio, possivelmente para viver,
E quando o sono chega, já nem sei como sonhar,
Restam estes lábios que em guerras souberam beijar.