domingo, 30 de dezembro de 2018

O Homem Que Vai Procurando

Algum lugar em nós, tão próximo do regresso,
Procurando pelo feixe de luz divino, pelo imortal,
Nesta simples demanda deixo o impulso, o ingresso,
Caminhando fora e dentro do trilho, quase acidental

É o passo escolhido, o amor é a única pretensão
Pois a alternativa é fechar os olhos e deixar de ser,
Isso não tem magia, não preenche o coração
Então é pseudo vida, é quase morte, não é viver,
 
Assim, não nos podemos de nós próprios aposentar,
Isso é sem dúvida o que o homem velho há-de matar,
Há beijos a dar, abraços a partilhar e a única mudez

Daquele silêncio visceral após responder aos porquês,
Rezo por encontrar esse lugar, o resto é passo dado,
Para o homem que ora se vai perdendo, ora é encontrado.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Sede, Sede de Infinito!

Sede de infinito, de infinito tenho infinda sede,
Atravesso deserto levando na mão o coração,
Saltando alto, sem trampolim ou sequer rede,
Assim dita o passo que vai passando na estação,

Preciso de relva, ar e mundo, o resto é passado,
Acredito na palavra amor e assim vou indo
Pois trago perto do peito o ósculo dourado
Que é beleza, é tristeza, é o universo revindo,

Assim exploro o dia, cada dia sou explorador,
Trago palavras para com o transeunte partilhar,
Algumas são feitas de brilho intenso, outras dor

O que importa é que todas elas eu consiga amar
Pois o que é eterno ou imensurável para além do amor?
Nada, silêncio onde fui ruído, o aqui é o que tenho para dar.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Partindo Para Um Dia Regressar Pt. III

Tenho beijos nas mangas e colibris na algibeira
Confessando ao poeta a sua própria naturalidade,
É fruto de amor sincero, de sonhos à cabeceira
Que se alastram pela planície expondo a verdade,

Aparências enganam então de mim sou o vestido,
O resto é sobra logo acabará por um dia escassear,
Pois lembrem-se que regresso sem ter ainda partido
Porque ainda não encontrei meu poiso, o meu lugar,

Esta viagem é interna, é caminhada pela alma eterna,
Quase sem se notar para além dos segundos vigentes
Que pela escuridão são ora a luz negra, ora a lanterna,

Não obstante do trilho, do esforço ou do sorriso perdido,
Há tanto a andar como a vislumbrar, acordai descrentes!
Reparem no tecido na vida, o ínfimo detalhe subentendido.

Partindo Para Um Dia Regressar Pt. II

Quando aqui regressarem as doces andorinhas
Já terei partido para outras longínquas margens,
Portanto farei por ver mais longe, ler entre as linhas,
Pois este eu é o acumular dessas diferentes viagens,

Ósculando o caminho, por vezes tão e tão perdido,
Vamos na procura pelo encontro, a universal voz,
Tal ribeiros vamos fluindo lestos entre o já vivido
Enquanto este se alastra pelo leito do rio até à foz,

E eu meus amores sou porção da metade plural,
Alma sem trela, coração sem rédea, sou temporal
E monção sem a mera pretensão de o querer ser,

Amores - só no meu peito vos quero a todos reter!
E então novamente partirei sem ruído ou palavra
Esperando somente o encontro e que a porta se abra.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Partindo Para Um Dia Regressar

Encharcado por sussurros, sou o inevitável,
As roupas usadas encaixadas na cadeira
São pirâmide para reis, para o confortável
Que outrora era regra e lei ora na algibeira,

Pintado a sangue no dedo indicador, oh amor!
Não sabes que és teia de aranha, a envoltura
É ser pedinte sem suplicar, ser pintor sem cor
Pois para a revolução enfim chegou a altura

E eu na curvatura, no beijo que é tão estranho
É escravatura sem mestre, pastor sem rebanho,
Pois então estou a partir para um dia regressar,

Chamem-me de aventura e que seja o vosso lar
E enfim que os séculos se tornem nos segundos
Que trago na mão do pintor por mundos e fundos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Tu És a Voz do Poeta

Ajoelhados e não suplicando mais por perdão,
A maré então despindo-nos destas impurezas,
Se um dia me esquecer há sempre uma canção
Para sussurrar ao ouvido e dispersar as tristezas,

O crepúsculo é vista na poeira do regaço perdido,
Se olvidar haverá sempre uma história para contar,
Se houver lembrança então de escuridão despido
Serei a tentativa de amor ou ensaio ao querer amar,

Estrada lúgubre e luminosa, lenços levados na brisa,
Há pensamentos, há tormentos e há até testamentos
Para viver e por ela morrer, por essa esbelta poetisa,

Vamos à volta, a correr e escapar do tido como dor,
Há momentos, há rebentos e há até agradecimentos
Por ainda escutar a música e a voz, a voz do trovador.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Para Quê Amar Apenas Uma Estrela Se Tenho Todo Um Firmamento?

A noite sem fim é onde sou em pertença,
Tal lenço usado procurando luz e magia,
Esta leve saudade é a nostálgica sentença
De quem é da noite mas vai procurando o dia,

Pois de estrelas é constituído esta leve alma,
E súplicas, orações e preces, quase há lugar,
Para encontrar, para sossegar em suave calma,
Quase sei o que é ser, partilhar e talvez até amar,

Alvoraçados pelo ruído das pessoas os pássaros fogem,
Eu sou tal como eles, um escape sem tempo a fugir,
Indagando o firmamento enquanto buquês colhem

O que me interessa a moça do sonho? A única donzela?
Em contraluz é a voz desfalecida e eu entretanto sem ir,
Sem sitio ou lugar para amar de facto uma ímpar estrela.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Caminhar Sob a Chuva Nocturna

Então largando no pavimento achas de cigarros,
Está frio, está a chover e nos charcos o reflexo
De quem passou no som distante dos autocarros
Que me levam para onde não vou - tão perplexo,

Vestido de cinzas, precisamos de um remédio,
Algo que não seja eu, que seja outro qualquer,
Que enfraqueça a vontade de morrer, este tédio
É encobrido por nevoeiro, por mim a envelhecer,

Suspenso por um baloiço de uma infância ida,
Fotografias mentais de dias tornados memórias,
Esta dor é o conto de fadas pilhado, esta partida

É residente nas sombras deste peito, as estórias
Acumuladas tornadas um dia na ideia foragida
Nos degraus que sequestram as horas inglórias.