sábado, 24 de dezembro de 2022

Um Milhão de Pedaços da Estrada

Suspiros vazios empurrados por goles de vinho,
A visão da donzela pelo canto da mente vestida,
Parece que a encontrei sob a folha do azevinho,
E parece que neste coração a tenho amanhecida,

Pintando espelhos a tons de dias do passado,
Onde a poesia levava os dias na bagagem,
Estou perdido, suplicando para ser encontrado,
Solitário tal gestos inauditos pela paisagem,

O aprendizado então mudado, beijo o desconhecido,
Precisando de oxigénio para poder enfim respirar,
É fácil fechar os olhos e deixar ser o permitido,

Sei que sou um milhão de pedaços da estrada,
Os momentos aos quais me propus finalmente amar,
Então enterrem-me no fim no céu da tela já viajada.




terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Entre a Treva e a Luz

Tenho ainda nós no ventrículo esquerdo,
E luminárias delineiam esse sentimento,
Que é a beleza dos instantes que herdo
Entre a treva e a luz – o seu casamento,

Onde inebriado ouço o esvair das lágrimas
Dum coração pela estratosfera descalço,
Quando tudo o que pretende são as rimas
Para fazer do seu bater tudo menos percalço,

Vendo os anos a passar através da janela,
Os sentidos humedecidos, hoje preteridos
E perpassados pelo avistar de uma donzela

Que era todo o meu pesar, todo o meu voar,
Enquanto eu rastejava, oh quanto a ansiava,
Entretanto assim carecia todo o meu amar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Não Obstante

Objecções e insinuações, para voar instruções,
Ânsias e fragrâncias de tempos já eclipsados,
Entretanto há instantes onde dois corações
São assim todos os caminhos jamais pisados,

E neve incandescente cai só para quem a sente,
Procuramos um sítio ao qual chamar de lar,
Onde poder pernoitar e ir adiante e em frente,
Para a terra dos sonhos, para aquele lugar

Que não tem dono, nome ou sequer apelido,
As saudades de quem ainda não é passado,
É sim uma porção fragmentada de vento ido,

Acredita, por todas essas tormentas te hei amado,
Não obstante do quanto fui queimado ou ferido,
Ainda penso no amanhã, inteiro ou quebrado.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Despeja Uma Constelação No Meu Copo

Despeja um para mim, os sonhos vou segurando,
Escrevo estes poemas por gotas de sol recolhidas,
E esta voz é o erguer das constelações, recuando,
Entre as sombras que nos seguem, ora partidas,

A última nota tornou-se na primeira, sou guarida,
Sítio para pernoitar, para ficar, para enfim sonhar,
Dedilhando esta brincadeira dos céus conferida,
Há-de ser a minha flor de cabeceira, o meu lugar,

Lar livre como o próprio éter, em árvores pousando,
Escutar-vos-ei nas cantigas e nos risos das crianças,
E desse recitar ver-me-eis desde aqui esvoaçando,

O noturno torna-se diurno, a memória torna-se promessa,
Eu dormindo no ombro das constelações e suas danças
Assim o mundo lentamente se vai e tudo o resto cessa.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Para Lá Dos Portões Há Sonho

Espera-me acolá a voz do beijo negro outrora concedido,
Tal desabafos deitados sobre esta neve incandescente,
Pintados na alma, gravados no peito, no descomedido,
Fechado entre quatro paredes por mão do tornado crente,

Dedos cuidados procurando descalços um sonho, a paisagem,
De lábios vertidos, os sentidos humedecidos pela enxurrada, 
Viverei de sonhos pois para sonhar somente é preciso coragem, 
Nossos segredos cantados desse precipício da berma da estrada, 

Ensombrados pelo esquecimento da criança em velho tornada,  
Esperamos a manhã, a aurora cobrindo um jardim prazeroso,
Onde nos beijemos com amor numa quimera assim encontrada,

Inexactos, mas certos do brilho da vida, altivos e enfatuados, 
Segurando os meus sonhos dentro deste embalar generoso,
Para lá dos portões da morte, eternamente seremos serenados.