segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Este É O Momento

Pelos campos carbonizados de neve existe um palpitar,
Cada um deles sufrágio silencioso para um tempo sem espaço,
Pois quando havia um pouco, uma metade, um respirar,
Então o floco era quebrado na ausência de um abraço,

Este é apenas um poema para os partidos, para a passagem,
Perdendo a ressonância com os seus nomes e apelidos,
Os ossos que engulo ao exalar nesta quase viagem
Que é apenas campo de batalha para os mortos e feridos,

Este comprimido é só para existir, não para viver,
Possivelmente dormitamos enquanto ardem cidades,
Se assim for, irei em frente para poder ser e conter,

Estes são os dias que passam, o bocadinho retido
Ficando entre as linhas dos olhos através de minutos e idades,
Que somente se torna a história do nosso passar quando sentido.






domingo, 22 de dezembro de 2019

Hemorragia

Ele nem se pendura dos campos vestidos de Serafins,
Ele nem vê o brilho dos teus olhos, as rugas da tua mão,
Os sapatos de salto alto que esqueceste no armario, os enfins,
Por isso porque o queres se eu poderia preencher o teu coração?

Então abraça-me ou deixa-me ir mas não sejas meio termo,
Não é simples quando não há oxigénio para respirar,
Não é beijo quando os lábios nem sequer se conseguem tocar,
E eu até estou bem, eu não estou louco ou sequer enfermo,

Eu sou ilhas, eu sou glaciares e foste semeada neste peito,
Estas palavras não têm significado, não têm horizonte,
Os pares entre si vistos num eterno para sempre rarefeito,

Preenches os teus copos com estes ossos contornados a carvão,
E nesse bocadinho há espaço para um beijo, tempo para a ponte
Onde és o giz no contorno que larguei e abdiquei no meu coração.



La La La La

Se passares a noite aqui seremos encurtados,
Abaixo da cintura, abaixo dos joelhos no beijo,
Penso que a ela e a mim fomos sim encontrados
Neste lento passar da noite onde tenha lá sido todo o desejo,

Por vezes é difícil sarar,  chama-me o instante,
O relapsar do suspiro que suga o latejar do coração,
Preciso mais dela nas veias, fluindo em frente, adiante,
Quando o único momento real é quando damos a mão,

Esconder a vez que fomos a queda, que excede e escorregamos na merda,
É uma piada, o não haver novos caminhos para explorar,
Pois quando o sol se põe, eu sinto a ausência, eu sou a perda,

Sou o esconder no fim da garrafa, o prefácio para o pouco, o muito, o amar,
Sentindo o suor, sem medo, o pé à esquerda da esquerda,
Pois por vezes, por vezes, estamos todos perdidos até nos encontrar.



segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A Dor do Terminar em Segundo

Acordei desnudado após com amor ter sonhado,
Polindo os ângulos destros, a réstia do encontrado
Era esta a dor do homem trilhando no solo sem piso
Pois de veias e sangue por elas escorrendo é preciso,

Procurando os seus pedaços no fundo da garrafa,
Até desvanecer o contorno desta entoada canção,
A estrada solitária até levou a palavra que estafa,
Preenchendo os bolsos com os ossos do coração,

Pois nesta corrida hei sempre terminado em segundo,
A sala cobrindo-se de fumo, erguido ou permitindo,
Os sussurros perfurando os ecos do vazio profundo,

É a dor do permitir, deixar o presente vir, sorrindo,
E quando a lágrima assentar e imperar a escuridão,
Um dia, novamente virá o sol, virá uma nova estação.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

4 e 43 da Manhã - Empregada de Balcão

O cigarro no canto do cinzeiro, define o trilho passado,
O tempo para lá deste momento, a sua cor, o seu estado,
O pouco que não foi, o muito no receber de uma mão,
E a espera pela procura do que puder preencher o coração,

E os cobertores daquilo que deixei de ser caminho,
A parte do trilho, a parte do pai, a parte do filho,
Largaste amor nas ruelas, vielas, na tua ausência,
Esqueceste o beijo iterado que era a próxima essência,

Abres garrafas pois perdeste a sede, o toque consagrado,
Atendendo a parte que foste e não pediste para ser, o tocado,
Entretanto esqueceste as beatas, os bêbedos, o ser partida,

Até te esqueceste do instante que era para lá, que era ida,
O fluxo natural, o passo dado através desta bizarria,
Se és essa metade, eu sou o sorriso, eu sou a melancolia.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Acorda Amigo, Não Morras Antes de Viver

Incrédulos, trago amor nas alcovas para partilhar,
Envoltura, o propiciar e o ver toda a estranheza,
Pois procuramos e por vezes não há espaço para andar,
Por vezes há momentos em que não há beleza,

Mas há espaço eterno sem importunar o infinito,
Ver o revés da moeda, com o coração nas nas mãos,
E perder o pouco que tínhamos no último grito,
Quando percebemos e deixamos cair todos os nãos,

Quando apenas temos a queda como único irmão,
Dormitando perto do prefácio próximo do trilho à margem,
E há tentativa sem sequer tentarmos ser tecto sem chão, 

E para viver há nuvens porém nunca tempo suficiente,
E o aqui é perto, é a última parte ou resto da miragem,
E o pequeno bocado que pode passar, passa sempre rente.

(Mas não rente o suficiente)...

sábado, 30 de novembro de 2019

Aqui e Agora Encontrado

Residimos nas mãos de quem tem amor para compartilhar,
Incorporando o brilho que cega, o escuro quando achado,
É o carrossel de emoções, o anseio e o esvoaçar
Que dão asas por cada resto e por cada bocado,

Saboreando as nuvens que perseguem a voz altiva,
São os anjos que se erguem do meu ombro apontando,
Pois sou aceno de cabeça, sou a procura, sou a tentativa,
Mesmo quando em mim próprio não sou encontrado,

A libertação não é o muro que foste mas o que ainda serás,
E o lar tem de ser aqui e hoje, no lugar ora ocupado,
Só assim combateremos a não-vida transpondo as horas más,

Por isso persigo o sol, a lua em mim albergando,
Por isso escuto o ruído, permitindo o silêncio - em ambos o recado,
Por isso vou no caminho, por permito ser e por isso vou largando...

(Pois nada é meu para possuir, nem este bocado).





segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Querida Deixa-me...

Esta noite estatelada no chão e eu - a tempestade,
Sim, o álcool bebido afogará a mágoa do coração
E essa morte enfim permitir-me-à matar a saudade,
Querida deixa-me sarar, querida concede-me a mão,

A manhã não terá amanhã e cada uma das horas malditas
Serei eu na quantidade destes comprimidos engolidos,
A viver com um alfabeto de palavras para sempre inauditas,
Querida deixa-me entrar, querida somos os ímpetos preteridos,

Parece-me tão difícil dormir quando as ovelhas são este nevoeiro,
Que adensa, que é este asfixiar e eu sem conseguir resfolegar,
Querida deixa-me respirar, querida não me atires para o bueiro,

Não funcionamos, é difícil ficar se cada memória é um lacrimejar,
Pois sei que este peito para os seus lábios é somente mais um cinzeiro,
Querida deixa-me ficar, querida deixa-me ir, doce querida deixa-me amar!!!

Aurora Queria

Aurora queria..  O esvoaçar do instante deixado,
A reflexão desta alma, o bocadinho já esquecido,
É retirado e repelido por residir, é o prefaciado,
Para outras, para os outros serei o nunca vivido,

Aurora queria..  O esvoaçar do instante deixado,
A reflexão de uma alma, o bocadinho do outrora,
Procurando o eu, aquele pedaço nunca encontrado,
Para tudo o que vem, passa e vai, eu sou o agora,

Eu sou o acenar e a despedida, o último bocadinho,
É o cedo sem ainda amanhecer, é o silente a gritar
E a parte que é metade da vida, é parte do caminho,

Já deixei o meu eu, aquele pedaço nunca encontrado,
O coração foi pois foi lugar, o único que pôde ocupar,
Aurora quero, é parte do latente do outrora imaginado.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Eu Sou a Cidade Sem Sonho

Amor, este tempo é o espaço que não nos é pertença,
Percorrido foi o tempo do passeio e veio a despedida,
Este é olhar do penar, é a enfermidade e é a sentença,
Por favor permite-me o retrair e o fechar-se da ferida,

Na mente ainda sombreado por passadas aventesmas,
Percorro e corro sendo apanhado pelas relembranças
Deste andar nu por ruas que para sempre serão as mesmas
Porém indo sendo diferentes nestas renovadas andanças,

Eu, cemitério para ti, para este amor ainda não sentido,
Sonhos, venham a mim, tragam-me o beijo eternizado,
Por um ou algum momento e para ainda o ver hoje partido,

És a sombra deste caminhar, a nuvem triste e tristonha,
Há noites que a tua cara é todo o meu dia, o único ansiado,
Mas… se esta cidade nunca dorme, será que alguém sonha?

sábado, 16 de novembro de 2019

Quando A Noite Persegue o Dia

Era ela, esbelta sob a candeia da noite esquecida,
O sorriso e a diversão pautada em sensualidade,
Aquele que num breve suspiro resumia uma vida,
Renegado ao silêncio do olhar contendo a verdade,

Feita e revestida de partículas de brilho, a pertença
É sentimento aflorado na pele, a eternidade do aqui,
Passageiro do palpitar do coração, marca a diferença,
Sou eu, é ela, o que é, o que foi e portanto será no ali,

Lá vai ela, lá vou eu, indefinidos como a sua definição,
Eu, dia eterno, ela, noite infinda rodeando este mundo,
Onde não basta ser para ter, onde é preciso ter coração,

Pois as pegadas dadas passam, sendo pelo ontem afastadas,
É a impermanência rainha, o único amor a este segundo,
A lágrima vertida no asfalto, as mãos separadas... (E eu... Nauseabundo).


quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Rendição Não É Palavra

Basta deixar e permitir a ausência de condição,
É simples, renovada vida jorrando ao segundo,
Ao a olharmos nos olhos, vemos, solta-se a mão,
No brilho entre o escuro, o lindo pa hira lá do imundo,

Sim, é súbito o fôlego sobre o berço de quem nascerá,
A verdade é inteira, rescendendo a sonho acordado,
Envolvendo a planície, seguidor e vigia onde haverá
A procura por lugar no eu,  o tal suspiro aligeirado,

O círculo interminável e inevitável jamais terá um fim,
Mantendo luz por perto, mesmo no regaço da morte,
Há foco, há prefácio para o inefável e só assim

Seremos trajecto dentro de nós,  o encontrar da solução,
O resto é esquecimento, o não ver enfim o norte,
Pois na ausência de nós, quem em vós verá coração?

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Deixem a Caixa (Por Favor) Deixem-se Amar

Os escravos do relógio, de uma hora apressada,
Estes corpos enviados esperando pelo passado,
Trilhando adiante mas caindo na mesma emboscada
Auto-imposta, auto-infligida, pesando os bocados,

Entre as persianas semi-cerradas destas paredes
Aprisionando os brilhos de um olhar sonhador,
Escritórios ou caixões não distinguem esta sede
Que é fulgor para quem é livre e partilha amor,

A distância entre margens é o passo aqui vadeado,
Entretanto, entre o tanto, curemos a alada viagem,
É dia de despertar enquanto ela alcança o ansiado,

Essa é a estrela que alguns deixaram de ver e olhar,
Esta é a noite em que vivo desde que esta miragem
Descurou a vinda do sol, vem a nós, deixem-nos amar.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

(No Escuro) Apenas Procurando a Mais Bela Cantiga

Lá trazia o abrigo da tempestade num olhar inocente,
A voz envolvida por trapos de silêncio humedecidos,
Perante o fim era caminho face ao destino indiferente
Pois os homens erram até à morte, por vezes indefinidos,

Os passageiros eram marés passadas e mãos enrugadas,
Este frio trajado por lençóis novos por ontem rasgados,
E eu, Cupido apontando para as ampulhetas quebradas,
Aquelas esquecidas pelo vento em ausência de legados,

A bússola ficando turva perante o rosto deste espelho,
Alheado pela cilada da pureza dos oceanos erguidos
Por uma semente estelar tornada em pó, num velho

Que se esconde num silêncio inaudito, a eterna intriga
Era respiradoiro para céus abertos e de sóis vestidos,
A procura por um lugar em mim, a mais bela cantiga.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Somos Anjos Com Saudades Do Lar

E por isso tomamos o céu e aquele peso dos criadores,
A alma solitária, o corpo quebrado falando o ontem,
Chacais esfomeados, abutres beijados e seus amores
Seriam o esquecimento de um silêncio de outrem,

Por vosso nome desbotado com um sorriso na cara,
Há a flâmula que é o caminho para quem a não vê,
São esses braços abertos, envolvidos na noite clara,
De quando tudo que é, simplesmente é, então sê!

O bocadinho de mim que por mim quase não é pilhado,
O corpo acordado, sonhado para além deste horizonte,
Sendo eu a negritude, a bruma, o passageiro adiado,

Por isso vou, por isso fico, trago uma legião sem ponte,
A sombra da parte que é metade, o toque aqui retratado,
Pois a sede é de tanto: o estro poético de anseio da fonte.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Albergando no Centro do Peito os Estrangeiros

Era o suspiro que pelo canto do olho era escape
Para o sonhador esquivo e o trovador radiante,
Pois desse perene brilho não há quem se enfarte
Rumo à chegada para além do horizonte distante,

Pergunto se para o lugar que ocupo sou suficiente,
Pois procuro pousio após o voo alifero sem retorno,
Esta é a eterna batalha entre o incrédulo e o descrente
O não distinguir a pena da pluma, é imenso o transtorno,

Pois sonho sem adormecer e vejo de olhos fechados,
Projectando a luz do sol no peito num olhar reflectido
Pelo cerúleo, são esses os amantes outrora separados

Indo por eras e épocas, segundos em mim passageiros,
Porém em aqui que sou encontrado apesar de perdido,
Que no peito consigo albergar os a si próprios estrangeiros



sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Codeas de Pão, Vida Adiada

Ninguém quebrou este coração para além de mim,
Pois com a beata da beira do cinzeiro sou casado,
Fui eu que o pintei a carvão negando seu real fim,
Boneca de porcelana às mãos do vento deixado,

Os suspiros familiares de uma memória esvaecida,
Por um fantasma matutino és vestido para ele voltado,
E eu, na margem largado, os vestígios da noite rescindida
Pois procuramos mais luz que aquilo ainda não repintado,

Eu conheço os teus rostos melhor do que ninguém,
As fissuras das tuas mãos, ruas para o meu viver,
Percebe, neste mundo só pretendo ser o vosso alguém,

Poris como podes ama-lo se me podias a mim amar?
As côdeas de pão são o toque jamais tocado no ser,
E eu, cansado do hoje adiado, do esquecer do beijar.

domingo, 22 de setembro de 2019

Sois Vós Os Anjos?

Sois vós os anjos que nos levarão para casa?
Sois vós os anjos que nos levarão para casa?
Sois vós os anjos que nos levarão para casa?
Sois vós os anjos que nos levarão para casa?

Sois vós os anjos que nos levarão para casa?...
Sois vós os anjos que nos levarão para casa.. ?
Sois vós os anjos que nos levarão para casa??...
Sois vós os anjos que nos levarão para casa?

Sois vós os anjos que nos levarão para casa?
Sois vós os anjos que nos levarão para casa?!?!
Sois vós os anjos que nos levarão para casa?!?!?!

Sois vós os anjos que nos levarão para casa?
Sois vós os anjos que nos levarão para casa?
Sois vós os anjos que nos levarão para casa?

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Confesso, O Meu Amor É O Eterno

Por favor, sê o meu derradeiro sonho de porcelana,
O abraço, o regaço, o espaço para o meu sonhar,
O abrir do bocadinho maior que eu, o fechar da pestana,
O último instante, a verdadeira partilha deste beijar,

O resto é passagem oblonga, o ir sem ter chegada,
As sombras que seguem a metade do homem partida,
Não percebeis que desta vida só a pretendo ter abraçada
Num instante que se propague por toda uma vida,

É a promessa de luz, a cumplicidade com o divino,
A contenda dos semi-deuses a mim precedentes,
É por dois que vivo e morro, o escapar do citadino,

A vertigem da alma, a fobia do coração é o ser abstinente,
Beija-me e perpétua-te em mim num sonho coralino,
O infinito é lar para os segundos passageiros, a afluente.

domingo, 8 de setembro de 2019

Poema Pertencente Aos Poetas Que Me Precederam

Eu sou a cor ainda por vir, o Ícaro e a sua alma,
Lato o fim do mundo num coração despedaçado,
Sem luz, sem espaço, sem tempo ou calma,
Perdido entre aqui e o após, o infindo malfadado,

Escondido no olhar de quem implora ao sonho
A proximidade de mais luz, brilho e eternidade,
Pois na vista que levemente contorna o enfadonho
Somente procurando um pouco mais de verdade,

A bruma alcança e vai puxando para o seu regaço,
E na minha alma está o único beijo que consigo ser,
Esperando por dois num eterno e inteiro abraço,

Por um lugar bonito onde possa enfim viver,
Pois por vezes é a vertigem que encontra o espaço
Portanto ouçam esta voz que apenas quer dizer:

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Serei Caminho Enquanto For Pt. II

Amanhã vem mas permite-me o beijo ao instante,
O sorriso efémero vindo da eternidade adjacente,
Que brilhe sobre a bruma no infundido radiante
Pois assim faremos de deuses a comum gente,

Pretendo sentir os sentidos em êxtase fecundo,
A sedução passional do momento aqui  vertida,
Eu sou o detalhe, sou o todo altivo e bem profundo,
Mesmo quando se perde a estrada ou esta não é sentida,

Por isso corro mais do que espero, sou o desejo,
O amor incondicional, só pretendendo eternidade
Pois quando há aceitação e partilha, há o divino beijo,

E para beijar apenas é preciso cerrar os olhos e ver,
Recobrar o fôlego e procurar o resto, a metade,
Pois o resto não essencial não é vida, não é viver.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Serei Caminho Enquanto For

Eu sou amor incondicional ou camisas outroras usadas,
Os olhos cerrados beijados no rosto, a eterna magia,
Ousadia é pertença para estas mãos esticadas,
E esta partilha é estrela sozinha, a esbelta melodia,

O regaço para enxurrada, ouvindo tudo e nascendo de cesariana,
Pois procuramos a singela voz, eterna e perfeita,
Porém só escutamos o sussurro sob a persiana
De quem é quem que fica longe do que foi a colheita,

Ouço o motor assoprar, anjos a cair por enredos
Pois beijei-a sem amanhã, fui o melhor de mim
E sempre os verões a fugirem dentre os dedos,

Falando em línguas até o meu corpo se erguer,
Chorando nos seus braços abertos por fim,
Só assim serei sempre caminho até um dia morrer.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

O Coração é a Única Melodia Para O Caminho

Sustenta o fôlego, vêm as folgas entre o pavimento
São aprendizagem feita pelo instante, o momento
É aqui, não o deixes passar, só assim existe amor
E com partilhado pincel e tela pintamos com vera cor,

O suspiro de uma criança pode ser a infinita dança,
A única forma de manter a inocente esperança,
Por isso beijo o chão após por fim nele aterrar,
A distância entre todos nós assim há-de encurtar,

Pois esta serenata é perfeita, tal beijo dado na testa
Da criança que lá fora brinca insciente ao mundo,
Sou ela em milhares de vozes que o tempo empresta,

Entretanto alfim percebo, sou o encontro e a perdição,
Ouço-vos melhor do que vós vos ouvis a vós no fundo,
Porém sou só um instante: aquele que pulsa no coração.

(Trago-o na mão)

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Ainda Há Lua Sobre o Orvalho

Jazz nos bares da sub-cave, a lua flutua sobre o orvalho,
E eu bebi demasiado, gastei demasiado, de novo pobre,
Amor... por onde andas esta noite, qual é o espantalho
Que amedronta quando penso quem agora te encobre?

Por trilhos parecidos na memória imagens por ti assinadas,
O toque sob o cerúleo suplementado por vistas inocentes,
Hoje escondidas no meu bolso e pelo tempo esfarrapadas,
Na margem do rio as luzes do talude tal jóias em correntes,

Pergunto-me por onde caminharás e quem contigo irá de mão dada?
Colocou-te uma coroa de luzes no coração e te faz sentir amada?
Pois na algibeira não tenho moedas, e o dia começa enfim a clarear,

Eu espero que ele faça tudo pela tua felicidade e te saiba abraçar,
Pois eu bebi demasiado, gastei demasiado e dói-me o coração
Por um momento perdido no tempo, pois que a lua oiça esta oração...

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Sonhos de Algodão em Sapatos de Chumbo

São sonhos de algodão trazidos nesta algibeira,
Arrombando a alma do pecador que os vê partir,
Enlevando-me mesmo quando perto da ribanceira,
É o veludo e o cetim que revestem este pesado sentir,

Mãos de papel e papel de dedos, este é o recanto,
Assim iluminam o espírito, pulsa forte a viagem,
Olhos cor do mar, tantas flores traz no seu canto,
Mar adentro, bem rápido, o resto é nutrir a miragem

De só sono sem despertar, tocado por esta voz,
Sentindo o sol queimando este peito, insano!
E eu juro que quando não sou eu só quero ser nós,

Por isso grito sob a água, prometo de dedos cruzados,
E vem um velho tomando meu lugar ano após ano,
Sendo que só pretendemos por um sítio ser abraçados.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

A Vida é Percurso e Dimensão

Por onde não passa viva alma, eu vou sim derramado,
Pela curva sôfrega da estrada, olhando para o querido,
As vozes de ontem subsistem e rumo ao então procurado,
Sou um pouco mais inteiro, mesmo quando subtraído,

São as quatro estações aprendidas somente num dia,
A tentativa de ver cor onde só monocromático existe,
Pois assim chega a maior tempestade e a sua acalmia
Torna-se revestimento para este sonho feliz ou triste,

Amigo, nada mais existe para lá do retido no real,
E o concreto exige foco por ser demasiado banal,
Portanto retorno quimeras onde apenas vejo nevoeiro

E vos sussurro ao ouvido: "a vida não é um cinzeiro",
É sim atenção ao percurso e às curvas da estrada,
Amigo, a vida é só a dimensão entre o tudo e o nada.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Através da Noite

Através da noite, encontrei a lua e a sonolência,
Para além do beijo perdido, o eu suprimido, aqui,
Eternidade num momento, o oposto da ausência,
Acordado e despertado, para além do ponto em si,

Que não chore quem hoje ainda corre pelo nocturno,
É absurdo correr quando a andar se chega lá também,
Quando regressarmos e nas mesmas ruas correr o diurno
Talvez do Sol, talvez da lua, desde que venha tudo a bem,

Ninguém quer estar sozinho, mas eu quero estar sozinho
E correr descalço por campos abertos, por verde pintados,
Mesmo que nos pés haja pedaços de vidros, este é o trilho,

Como é que rejuvenesço este jardim que destruí aos poucos?
Como é que regresso ao ponto de onde me parti aos bocados?
Este espaço é tempo de ir, tempo dos poetas, viandantes, loucos!

sábado, 27 de julho de 2019

Escuta, Daqui Deuses Erguem-se!

Seguindo o segundo e por ele no instante abdicado,
Sou o homem presente por ele próprio deixado,
E nesse bocado, há vida, há moção, há energia
Para revisitar o nunca visitado, como a mim queria

Permitir-me ser no infinitesimal, no trono emoldurado,
A eterna criação, desde o berço ao já sepultado,
Na mente que é sorriso e beijo para o infinito
E propaga a voz de Deus num silencioso grito,

Há espaço, há momentum e suspiro resoluto,
Ao homem que é seu, a cerúlea herança divina,
E a quem a si se esqueceu de procurar o meu luto,

Pois procuro de mão aberta, de coração cheio de amor,
Acredito que o sol pode espreitar a cada esquina
E que o mundo só é monocromático para quem não quer ver cor.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Sozinho, Irremediavelmente Sozinho, Convéns Todo o Universo

Sozinho, tão sós e irremediavelmente sozinhos,⁠
Nostalgia por quem não vem, a cama é o vazio⁠
Do coração que já não sabe quem foi nos caminhos⁠
E que pretende encontrar poiso, deixar de ser vadio,⁠

Somos apenas estranhos face a face desencontrados,⁠
A miragem para a afeição, mercê para os desvalidos,⁠
O rei sem trono é o sepulcro para os outrora coroados,⁠
Gritos silentes, rompidos e ténues sob beijos indeferidos,⁠

Contudo sei que há espaço para excelência, para o amor,⁠
Pois sou espera e procura, a corrida desenfreada no escuro,⁠
Cantando tal escravo fugido, insano varrido, tal resto de cor,⁠

Errante é a crença na berma da estrada, o resto é pouco ou nada,⁠
E me separa do horizonte, da eterna ponte, o inultrapassável muro,⁠
Por isso acredito no acontecer e no infindável Universo nesta alçada. ⁠

(Eu acredito que um dia voltará a Alvorada).

quarta-feira, 17 de julho de 2019

A Herança É Viver Nos Ombros de Gigantes

Sim, havia gigantes donde se ergueram as estrelas,
Colossos alcançando a abóbada retida no celeste,
Submergidos pelo firmamento em mil aguarelas
Mesclando-se no que o semblante ainda reveste,

Eu, insciente ao vestido cerúleo de tronos abdicava,
Olvidando a herança de uma coroa então soalheira,
Eu era essa criança, eu nesse voo enfim embarcava
Rumo à imaginação em tom sério mas de brincadeira,

Fugindo até me tornar perdido e então esquecer
Que escalávamos montanhas de uma assentada
Pois trazíamos ao peito o que conseguimos reter

E esse peito era trago para este tudo, esta estrada,
Dependendo da perspectiva e da inclinação do Ver
Enquanto nos erguíamos rumo ao beijo da alvorada.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Para Quem Tem Sede de Infinito

Milhões de centelhas de luz pelo olhar reivindicadas,
Somos os filhos do Sol procurando por onde alcançar
O voo que prolifere alado por estas asas alvoraçadas
Que sabem e tudo pretendem menos o deixar de voar,

E remetemos cartas para o cerúleo tal amantes lunares,
Com o peito preenchido de segundos e a sua bela canção
Que vai ecoando eternamente através de sonhos díspares
Assim pavimentando o trilho para o horizonte deste coração,

E talvez venha o ruído um dia ou talvez o silêncio nos afague,
Não obstante do brilho recambiado, nada disto nos pertence,
Portanto que esse brilho para o Universo volte e se propague

Pois somente é poeta quem por aqui caminha e por aqui sente,
Percebendo o sentido que para o transeunte sacie ou embriague
Porque alguns de nós temos sede de infinito e esse trilho é em frente.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Insatisfeito

Preenchido por campos de centeio e mariposas,
Lançando longamente os braços e pulsos ao Sol,
Unem-se os astros tal amantes, noivas e esposas
Se isto for outra armadilha, cairei nesse belo anzol...

Pois chamam-se vozes partidas há muito, esquecido,
Por quem me quer bem, por quem não olha para trás,
Escasseia o beijo na curva sôfrega do lábio humedecido
Por onde passam os passageiros destas horas vis e más,

A ampulheta tornada compasso dirige o passo da concertina,
A Vida desponta para além do monte retido no final do peito,
E eu, contrafeito, viro quase borboleta ao encerrar da cortina

Pois o que de facto almejo é mais do que me podem oferecer,
Por isso procuro e busco, insano, incontrolado e insatisfeito,
Nada material, nada banal, só o simples, o simples acontecer.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

A Quem Não Larga O Ontem

Entoo o som do mar nesta voz suspirada,
Nos olhos o azul de cada onda vindoura,
Os pulmões preenchidos de água salgada,
Trarei nos cabelos o brilho que o sol doura,

Mergulhando no oceano de sorriso aberto,
Lembro como o mundo vai sendo passado
Entre mãos de uma criança o trilho é incerto,
Importa é que vá passando um bom bocado,

Por isso mergulho mais do que consigo respirar,
Por isso caminho como se não soubesse parar,
E por cada ilha cativa de mim vou trazendo flores

Que me conciliam e separam de mil e um amores,
O vindouro é simplesmente o que ainda está para vir,
Deste passado não somos reféns, saibamos quando partir.

terça-feira, 9 de julho de 2019

Soneto Para O Homem Que Vai

É a subtileza de um toque na pele da sua amada,
É Deus nos detalhes a sorrir em eterna centelha,
É resfolego, suspiro e murmúrio perante a estrada
Que enfim ao final do dia o viandante assim espelha,

Por vezes sentimos a falta do lar, do prometido abrigo,
Porém sabemos que enquanto esse mesmo não chegar
Que de nós próprios devemos sempre ser o melhor amigo
E que o fim da pista só é real quando o fim da estrada voltar,

Despontam os sóis vindouros em quem intencionalmente vai,
Procurando por um lugar à luz solar longe do poço onde se cai,
Eu? Eu somente pretendo um beijo, por um instante eternizado,

Ofereço a alma a quem dela precisa, por um fragmento, um bocado,
De resto venham os quilómetros e as léguas, eu serei toda a distância
Para por ter e conter em mim esse momento eterno e sua abundância.

sábado, 6 de julho de 2019

Ode a Quem Caminha Fora do Rebanho

Esta é uma Ode a quem caminha fora do rebanho,
A quem evita a vida entre as nove e dezasseis,
A quem não se mede pela altura, pelo tamanho,
A quem caminha entre o povo, aos magos, aos reis,

Prometo fazer uma vénia a quem for passageiro
Deste instante cativo, a quem é poeira estelar,
Ao homem que apesar de ainda não ser será inteiro
Pois de si não se cansou pois ainda se vai buscar,

Pois almeja após as migalhas que são a normalidade,
Que o sonho consegue recriar nesta realidade,
Que beija sem exigência sementando a partilha,

Que sabe que o instante passa e deixa armadilha,
Que é rugas no rosto e artérias vincadas no coração
Porém isso é o suficiente para ir, voltar e conter na mão.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Ode a Quem Vai

Esta é uma Ode ao transeunte e ao seu destino,
 Ao vagabundo que segue o seu rumo por fim,
Que entre voos é o prisioneiro e o clandestino
Que vai por onde não se vê, que é em mim,

Há naufrágios e aleijados de braço ao peito,
Assim dita a bruma da tempestade do porão,
Pois quando vão dão o próprio ir por desfeito
E assim ficam, não preenchendo o seu coração,

De súbito, acostumo-me à solidão deste olhar
Porque pincela o mundo, até reaprendo a amar,
Mesmo que apenas vá parecendo o escuro do dia

Por onde um dia foi passagem houve vera magia,
Não se esqueçam que a morte espreita à esquina,
Portanto cada passo é vida e a Vida quer-se libertina!

terça-feira, 2 de julho de 2019

Um Brinde Aos Perdidos

É o trilho e o passo, tenho sede, sede de infinito,
É o pincel e o traço, abreviado e quase emudecido,
Vou segurando um bouquê de flores neste uno grito,
Que em sua ausência não alcança o horizonte preterido,

Por isso engulo as ruelas enegrecidas pela noite calada,
Em cada desfilada, sou um pouco menos do que outrora,
É a única maneira de ser um pouco igual no beijo da estrada,
E assim enfim me ver ao espelho tentando reflectir a aurora,

Há máscaras atrás de máscaras nesta verdade inaudita,
Por isso só a ouve bem quem em si vai e em mim grita,
Porém parece que somos filhos de deuses tão menores,

Trazendo as maleitas dos condenados nestes clamores,
Não obstante da magia que trouxemos sem exigência
Por todas as vezes em que nos perdemos em ausência.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Eu Por Mim

Refolgando e respirando de novo e finalmente,
Defronte o sobrevoo de quem em si é perdão,
A revelação é inteira e acontece no presente
E é suficiente para preencher o resto do coração,

Repreendo os mortos-vivos, desatentos à alegria
Que é Vida para quem se espera um dia encontrar,
Para os transeuntes essa é a fonte de toda a magia,
É revinda a infância, beijo no céu, o enfim acreditar,

Hoje erguer-nos-emos tal fénix pulsando nas veias,
Com a mão de Deus e a voz do trovador relembrado,
Por cada pestanejar, por cada passo nossas epopeias,

Não obstante do que já foi outrora e agora já é passado,
Eu por mim dividido, entre o ontem e o amanhã a meias
- Beijei-as! Não mais me verão, por mim fui reivindicado!

quinta-feira, 20 de junho de 2019

E Os Outros Chamam

No olhar a tempestade ainda vindoura,
Trazendo nos passos o raio e o trovão,
Cobrindo a cara do sol, a luz que doura
É parceria com o rasgo do beijo no coração,

O que jaz na noite por fim é assim revelado,
O menino dormirá no regaço do presente,
Abraçando o seu escuro, aqui sangue estancado
Ele será o velho um dia partido, o ser  ausente,

Retraçando os passos que aqui foram guarida,
Serei respiração em celofane, velório esquecido,
Este rosto poeira estelar, a asfixia querida,

Pintado por dedos de crianças, o destino merecido,
Vêm os Outros, os cadáveres da estrada escolhida
E eu apenas intervalo entre o silêncio e ruído.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

O Regresso do Verão

O verão acenado volta a transbordar em mim,
Vai-se o dia e fica a alegria de ser no mundo,
É neste breve espaço entre o princípio e o fim
Que há tempo para ser em terno beijo profundo,

Apelado pela noite e as suas ruelas sem regresso,
A inflexão é a poesia e a prosa inaudita pelo poeta,
Nas pontas do dedos e num livro eterno impresso
Todos aqueles momentos idos pela hora incerta,

Fecho os olhos e vem o Sonho tido em perfeição,
Preenchendo a tela de cores, de amor o coração,
É o sorriso do trovador, deixando em si um rasto

De luz para quem o seguir pelo horizonte vasto,
Há quem procure a resposta onde não aconteceu,
A esses sempre direi: "Ir é ir em frente de eu em eu".

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Idolatrando O Lugar Entre o Principio e o Fim

Praticamente cercado, livre entre quatro paredes,
Em algum lugar entre o principio e o fim, a beleza,
Ainda há tempo e espaço para estas mil e uma sedes
Porém há quem idolatre a morte, a bruma, a tristeza,

Cantemos com voz de quem está presente no momento,
Pois um dia quando partirmos poderá não haver chegar,
É neste solfejo que por vezes se atende o indeferimento
E que há quem idolatre os mortos e seus epitáfios, o azar,

Nós aprumados no sonho com o nascer de um simples beijo,
É melodia para os ouvidos, tacto para o coração, o desejo,
Afasta a melancolia da escuridão, o rarear da humanidade,

Pois então que consigamos encarar a luz, enfrentar a verdade
E que a partir do primeiro dia saibamos que foi um bom dia
E quando partirmos que o seja também nesta vida fugidia.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

A Morte, Companheira

Sentado de uma lápide enquanto passa uma criança,
O berço foi abandonado para o trilho e o regresso,
Para além da vida um cemitério sem saída ou fiança
Que confira sentido a esta passagem, ao ingresso,

Por onde somos filhos sem pais, órfãos à nascença,
Assim por cada pluma largada vejo pássaros sem asas
Que se lançam no precipício sem donos ou pertença,
Tal mártires ou párias indesejados, paredes sem casas,

É o tiquetaque da ampulheta que é compasso para a Vida,
O segundo passageiro, o eterno bueiro de uma viagem...
Que passa, entardecendo tal murmúrio pela noite lida,

É a arte cipreste, o saber passar e o que é a única miragem
O pensar reter sem o conseguir ser, que seja precavida
Esta vontade, esta saudade sobre a negra paisagem.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Somos Os Eternos Amadores

Sentado observando a cascata do fim do mundo,
Lembro-me de tempos que hoje são o passado,
São essas memórias e um sentimento profundo
Que me beijam o rosto me dando por afortunado,

Falta pouco para esta vida culminar e enfim entardecer,
Chegamos a meio percurso vendo a linha do horizonte,
É caso para lembrar das vezes em que não foi possível ver
E para verificar que de muitas situações somos insonte,

Enxugamos a roupa após termos vindo desta enxurrada,
E quanto a nós? Somos ainda os poetas e trovadores,
Assim confessando os ais de uma vida outrora passada

Não obstante do que pinta a aragem ou nossas dores
Para o salva-vidas de  uma viela entretanto abandonada
Por cada instante e para sempre somos os eternos amadores.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Abre A Janela Quando Se Fecha A Porta

De uma janela fechada vem a porta aberta,
Um gesto para a abrir, um gesto para a fechar,
Acredito na mudança, na hora sempre incerta
Pois é nessa hora mutável que devo procurar

Deus nos detalhes, na beleza dos fragmentos,
A porta sem fechadura com chave para a abrir,
Sou metade por tocar, por diagonais segmentos,
Os quais a todos irei um dia ou outrora vestir,

Ouvi! Este é o beijo que cobre toda a paisagem,
A brisa fresca que enleva o rosto e a aragem,
De olhos deslumbrados hei-de em mim conter

Cedo ou tarde no peito essa imensidão enfim ser
Pois esta é uma tão delicada e esbelta contradança,
Pois relembra o que será que a vida não alcança.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Ao Que Em Mim Foi Passageiro

Trago nas mãos o que em mim foi passageiro,
A beleza e a melancolia do momento tocado,
Até ao rosto do horizonte serei eu o primeiro
Ou apenas outro forasteiro nunca chegado?

Por onde passo deixo um trilho de segundos,
Eu sou quem por eles um dia foi passando,
Perdido no ruído do caminho e seus mundos
Tanto correndo impaciente como esperando,

O meu coração trago em baú de tesouro,
Para quem o encontrar num dia d'ouro,
Partilhei tudo o que me pareceu bem partilhar,

Assim como beijei quem me pareceu bem beijar,
Agora que o passo anterior já se torna passado,
Espero por cá ter sido, ter existido, ter estado.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Na Vista de Uma Criança (Antes de Ela Partir)

Deitado no colo da primavera tal criança,
Pela encosta a Vista de um longo prado,
É o instante que vem e que com ela dança
Embebido pela Lua, atento e deslumbrado,

Assim encontro galáxias e suas constelações,
No céu tudo é verdadeiro gritam as estrelas,
E eu, sou trovador e explorador das estações
Apenas pretendendo ser irmão de todas elas,

Serei com a criança revestido por momentos
Onde o olhar é encoberto pela abóbada celeste,
Alcançando o toque a milhares de firmamentos

Em inocência, um dia dando ao velho este lugar,
Que vá enlevada, encantada e a sorrir ao cipreste,
Que nós saibamos partir pois nunca lá iremos voltar.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

A Recompensa Para Quem É Ao Segundo

Pretendendo ser tudo vou aqui sendo ninguém,
Observando-me indo entre esta rua e a vereda,
Ao mero transeunte não deixo o meu desdém
Pois todos merecemos luz, a divina labareda,

Então aconchegado na Lua e o seu eterno embalar,
A aprendizagem de quem há pouco tempo chegou,
Esta necessidade de ir além, de ser e de esvoaçar
Que separa o que ainda há-de vir do que já passou,

Encosto-me ao ombro de quem é passageiro silencioso,
Esta voz só ouvirá quem aproveitar o segundo precioso,
A fonte e o manancial da criação, do sonho e da poesia

São parte de ninguém, são beijo para o trovador, a magia
Que trago dentro da passagem das horas não é pertença
É bênção Universal, compasso para o horizonte: a recompensa.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Olhando Para Trás

É a delicadeza ténue de um rosto tocado,
Frágil, sentado numa cadeira abandonada,
Vestindo as roupas de ontem e arrebatado
Vendo os sinais indicadores, a seta quebrada,

Então relembro, sem moção, outros instantes
Em que era quase poeta, trovador e até Orfeu,
Sim, passam rápido esses tempos ora distantes,
Como passam esses segundos através deste eu,

E Amor éramos nós de mãos dadas ao caminho,
O refúgio para a tempestade, para o eu sozinho,
Nem de olhos fechados me daria como perdido,

Nem o clamor de mil vozes removeria o proferido
Pois mesmo vindo o fim do mundo e a sua teia,
Teria no fundo do coração ainda a mesma ideia.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

O Sonho Por Trás Das Pestanas

Sim, há o sonho encerrado por trás das pestanas,
Beijo oblongo à passeata de uma Vida almejada,
O sorriso rasgado de uma qualquer hora insana,
Assim se erguem os deuses na sinuosidade da estrada,

Dormitando num fulgor de uma esquecida alvorada,
Vem o brilho da aurora, cúmplice deste único plano,
O conseguir abrangir o horizonte numa assentada
E alui-lo num mergulho vertical, tornar-me o oceano,

O imaginar é gota d'água caindo em miríade eterna,
Salva-vidas ou naufrágio para quem não sabe nadar,
Na escuridão o compasso é o fulgor da vossa lanterna,

Procurando o sono, fecho os olhos numa dança delicada,
De coração aberto, eventualmente saberei o que é sonhar
Pois este é o único momento para voar e a ter como amada.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Um Dia Será Hoje

Aqui espero a Vida, aproveitando o momento,
Pois cada dia é hoje, pretendo ser para ele tela,
No corpo tatuado a passagem, o acontecimento,
Porque fora os instantes de bruma, a Vida é bela,

Por isso dou a mão a quem por mim vai passando,
O sorriso assim é, mesmo quando a lágrima é vertida,
Um dia será hoje, amigos é preciso cada hoje ir amando,
É preciso ir e beijar esta passagem assim fazendo-a sentida,

Pois sim, sabemos que o tempo passa e as rugas se afloram,
Que então um dia a olhar para trás as mortes enfim morram,
Não nascemos para ser fantasmas de quem não soube passar,

Porque somos o Universo em beijo dourado, somos poeira estelar,
Não importa o buraco negro intermitente, a quebra do coração,
A pretensa é amar cada passo conferido de estação a estação.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

O Caminho Para a Minha Distância

Sim, este é o caminho para a minha distância,
O suspiro do instante que ainda não chegou,
Nessa forma encontro conteúdo, substância,
Para o segundo que em mim ainda não morou,

Pois se caminho sombra há em mim do passado,
Há mares e mares entre mim e a margem querida,
Se regresso vai-se o beijo que tenho partilhado,
Em abrigo ou naufrágio, na hipótese concedida,

Essa arte do desencontro que trago neste olhar,
Parte da terra que pisada, de mil e um regaços,
Se um dia escorregar e o trilho alfim for e passar,

Que entre mim e o horizonte haja poucos espaços,
Pois há tanto caminho e a distância para caminhar
Que por vezes parece não haver suficientes passos.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O Poema da Solidão

O ermita sozinho rumando errante ante o trilho,
É a solidão sua amante, o presente sua ausência,
Da noite feita e caída ele é então o beijo e o filho
Para quem passa por ele, aí a sua eterna carência,

Escorre sim chuva sobre o seu rosto, isto posto,
É ele perdido após o que foi e o antes de o ser,
Apartado retiro, o escape para o inicio de Agosto,
É importante o passar para além da neblina e ver

Que no momento lúgubre há beleza, há imensidão,
Sem meandros, a clareira para quem pretende Vida,
Para quem se cansou de andar sem qualquer noção,

Para quem almeja ir e alcançar a margem querida,
Aos transeuntes passageiros mostro-vos esta solidão,
Perfilando ao que determinado instante a mim convida.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Após A Tempestade Vem

Por entre lentes diáfanas passam rastros de estio,
Qualquer tempo é tempo de ir um dia chegando,
É preciso ir sem medo para preencher este vazio
Que na esquina da ruela vamos alfim deixando,

Acordo no despertador da ponta de um compasso,
Escrevendo um poema para quem ficou para trás,
Se entre nós houver distância haverá sim espaço
E eterno fragmento para preencher as horas más,

Mesmo na solidão e incerteza, há toque e grandeza,
Para ser inteiro e único e ter alívio para o enfermo,
Que da fragilidade venha a fraqueza e nessa fraqueza

Encontremos toda a força, o ciclo infindo e sem termo,
Assim a infusão no firmamento esvaecendo a tristeza,
Para por fim poder plantar flores em qualquer lugar ermo.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Indo e Ficando, Chegado Sem Partir

Vem e fica, é Abril e chove o mundo neste regaço,
Flui um rio em leito frio, procurando a sua foz,
Celeremente vem o Universo e num breve abraço
Sou mais do que alguma vez fui, sou a única voz

Que pela estreita passagem da Vida perscruta,
Tão atento à água límpida, a noite sobrevoando,
Suave e docemente vendo o que o beijo escuta,
Hoje sim serei Serafim, hoje abrir-me-ei amando,

Tatuado na alma entre eternos sulcos vincados,
Bocado a bocado viajando entre seus cabelos,
Pelas delicias dos céus rendido a deuses ornados,

O percurso é a estrada que passa sem abrandar,
Se ainda houver Verões a ideia será então tê-los,
Para ir indo sem jamais partir mas um dia chegar.


terça-feira, 16 de abril de 2019

Há Que Dar Asas Aos Filhos do Sonho

Tacteio o Sonho como se fosse uma donzela,
Recordação para o infinito tido num momento,
São as noites e as suas cores que fazem da tela
O espaço suficiente para em si ter todo o tempo,

Fragmento, raiz dos meninos por mim perdidos,
Lembra-me um Sonho lindo em mim à desfilada,
E nós vendidos, somos os órfãos outrora esquecidos,
Caminhando ao relento, ao verter desta enxurrada,

Entre margens, o barqueiro é o náufrago e o navegar,
Mesmo que entre as ondas por vezes não saiba estar,
As vagas azuis boquiabertas investindo nesta maré,

Sou eu em mim escondido, ainda sonhando estar de pé,
Marcha-a-ré e o olhar fechado é catapulta para o navegado,
Há que dar asas a estas crianças e ao objectivo imaginado.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Quando a Noite Sem Fim Passa

O despertar da noite sem fim, vem enfim o clarão,
As pálpebras entreabertas para este horizonte,
O dia a despontar sem receio, a dar-me sua mão,
Já parece até que o sonho é, o sonho tem fonte!

Vertendo-me caio entre o fulgor da aurora, a beleza
Encetando a bruma, visto-me com os raios solares,
Aluindo entre nuvens celestes vai-se esta tristeza,
Não estarei mais quando lá por mim procurares!

Entretanto as estrelas esvaecem neste firmamento,
Então chegou enfim o instante, este é o momento,
Entre a Terra e o Sol contemplando esta passagem,

Respirando bem fundo, preenchendo-me de aragem,
Sim de segundos sou passageiro sem um objectivo,
Espero alcançar o presente pois o resto é subjectivo...

Enquanto Destes Pulmões Houver Folêgo

Clandestino dentro do contorno deste semblante,
Jornais velhos esvoaçando ao abrigo duma cidade,
Apela-me a noite entre nebulosas e eu hesitante
Pois se fosse pluma seria então fardo na sanidade,

Esfregando o olhar e procurando a bela Primavera,
Quase sonho com o beijo que é poesia no presente,
Por vezes há dias que chovem e a noite é efémera
De momentos para reter ou largar ao fogo latente,

Pois tudo é ausência quando acordamos de manhã,
A enxurrada incipiente lava-nos ao de leve o rosto,
Essa é a regra aplicada ao ontem, hoje e amanhã,

E já agora, enquanto tiver por cá, serei a guarida
Para quem em mim habita de Setembro a Agosto,
Enquanto navego por mundos explorando a Vida.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

A Cidade a Matar o Sonhador

Pizarro matou Inti e com ele todos os filhos do Sol,
O mundo escalavrou-se e em chamas se envolveu,
Oferecendo uma serenata em segunda mão tal anzol
Para quem anseia amor mais do que a si e alfim morreu,

Escravos para o relógio, fantasmas cinco dias por semana,
O Sonho adormeceu e à realidade cedeu para por aqui ficar,
É este cinzento citadino a envolver os ósculos de porcelana,
Quebrando-se, um a um, esquecemo-nos o quê é que é amar,

Civilização é aberração, os pais são meninos ainda por nascer,
Procurando luz onde feneceu o grão estelar que um dia brilhou,
A vida deveria ser tanto, tanto mais do que o simplesmente viver,

Por onde passo suspiram os outros que por aqui jamais passaram,
Estas ruas são mesmo ladrilhadas por quem por aqui jamais ecoou
E eu, somente um estranho familiar cujos dias nunca começaram.

Os Mortos Que Trago Aos Ombros

Estes são os mortos que vêm de mão dada,
Eu sou mausoléu e sepulcro para os partidos,
Talvez sonhe sobre negros sonhos de enxurrada,
Escutando por longos monólogos ainda sentidos,

Vejo-os através do canto do olho rapidamente a passar,
Num cemitério o fantasmagórico e funesto casamento
Entre os mortos que fui e os vivos que hei-de alcançar,
Pois quando chegar esse será de todos o testamento

Aqui deixado por um coração pulsante ainda a pernoitar
Por um instante que algures também deixou de acontecer,
Trago aos ombros estes mortos apesar de ainda respirar

Trago-os no peito, ao abraço assim reflectidos no viver
Pois quando partir e da terra me retornar enfim ao ar
Esses mortos serão tudo o que nesta vida soube ser.


terça-feira, 9 de abril de 2019

Quando Somos Toda a Distância do Mundo

Sim, quando somos toda a distância tida no Mundo,
Não há tempo, só espaço para um silêncio contido,
Ecoando lentamente um suspiro em poço profundo,
Murmúrios enfadados de um lugar então já perdido,

Pergunto aos Deuses qual fortuna para mim haverá,
Quem me dará a mão para alcançar uma nova manhã,
Tenho noção de que o tempo é um carrasco tão cruel,
Rascunhando fundas rugas no rosto tal folha de papel,

Ícaro e Orfeu sabem da procura e do anseio que é meu,
Pois vão passando sóis e subo escadarias rumo ao céu,
Amor és fantasma, espaço vazio entre estes frios braços,

A mudez do coração apunhalado em mil e um pedaços,
És ausência de sonho, a doce memória quase esquecida,
Todo o espaço entre nós, morte vinda, morte e não vida.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

O Idioma do Viajante

O ecoar de um silêncio tornado quase indiferente,
Uma leve estrofe proveniente de indefinidos traços,
Nela o coração batente de quem de si é remetente,
O arauto de uma ideia ida de intermináveis abraços,

A procura está na busca por uma verdade escondida,
Na mudez da noite retida no olhar de uma criança,
Enfim suficiente para dar a Lua quase como obtida
E para terminar com beleza esta final e última dança,

Gotejam tal fontes os olhos de distanciados amantes
Pois ainda sabem o sabor que há no sal dos oceanos,
Lembram o quão importante é aproveitar os instantes,

Conferir aos olhos a beleza existente em cada aroma,
Envolvendo o quebrar do coração em suaves panos
De quase a chegar e quase a partir, esse é o idioma.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Aguenta Amor

Persigo o amanhecer sobrevoando pela estação,
É de dia e perscruto a noite as estrelas indagando,
Trilho a trilho vou através do breu esticando a mão,
Aguenta Amor, eu estou partindo, eu estou chegando,

Por onde vou ouço ao longe a luz diurna a fenecer,
E eu ainda caminho, quase o horizonte alcançando,
Pois o não caminhar é simples sinónimo de morrer,
Aguenta Amor, eu estou partindo, eu estou chegando,

A estreita passagem é obstáculo para quem muito traz,
É ele o cego inebriado as supernovas ainda observando,
Pelo compasso do relógio, pela direcção das horas más,

É de estrofes e versos que fica o coração transbordado,
Para o caminho, por um beijo deixado algures para trás,
Aguenta Amor, eu estou partindo, eu estou chegando...

quinta-feira, 28 de março de 2019

Sou Pássaros Esvoaçando...

Sou pássaros esvoaçando pela paisagem,
Cabeça procurando abrigo em belo regaço,
Ao esvaecer do sol no horizonte, a imagem,
Fica na mente concedendo tempo e espaço,

Sou pássaros esvoaçando sempre através do alado,
Sem tempo para protelar com esta humanidade,
Do júbilo à acalmia de olhar bem atento e calado,
Sou filho dos deuses e nos deuses tenho a orfandade,

Sou pássaros esvoaçando felizes e tristes no coração,
Evitando assim a chuva e a lama própria da estrada,
Suspirando cada vez que vem alguém e lhe dá a mão

E pouco depois parte sem lhe pedir ou exigir nada,
Sou pássaros  procurando onde pousar de antemão,
Sou pássaros voando tentando ter a vida aproveitada.

Sou Pertença do Outro Lado

Serei sempre quebrado, serei sempre partido,
Perdido entre o que sou e o que não pude ser,
Amor, não é que não tenha desejado ou querido,
É mais que não sei sequer beijar ou talvez reter,

Sentido saudades de mim como sem existência,
Algures entre a margem que piso em ausência,
Beijando a chaga do coração ou apostema aberto,
Passam as horas enquanto trilho passeio incerto,

Agora sabes que pertenço àqueles do outro lado,
Que apesar de ir sou ainda fragmento, sou bocado
Quase deixado à brisa e o entre nós e não obstante

Este anseio de poder alcançar e enfim ser alcançado,
Pouco me importa o resto caso não seja importante
Se não for suficiente para preencher cada instante.

terça-feira, 26 de março de 2019

Vivendo no Passado na Ausência de Futuro

Há ao lado da cama uma ferida ainda aberta,
Entre os lençóis amarrotados na hora incerta,
Pergunta quem se entrelaçará em vosso abraço,
Será somente a saudade desse esbelto regaço

Que dirige os sentidos para a noite sem fim,
Enquanto me procuro aqui, dentro de mim?
Assim descubro que sou figurino na sua vida,
Sou gente passada e pela escuridão envolvida,

Entretanto as vielas chamam o nome do desvalido,
Amor porquê? Para mim próprio já nem sou querido,
Alfim recolho-me sob o Luar de um segundo passageiro,

Deixando este coração receder na negritude de um bueiro,
Parece que por fim já não há mais estrelas para numerar,
Parece que aqui não temos mais novas marés para remar.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Que Haja Sempre Vento Sob Essas Asas

Tropeçando em fragmentos de estrelas, ofegante,
Roupas usadas trajando cadeiras por pó encobertas,
Os esqueletos no armário tal lembrete para o instante,
Seus nomes ainda suspirados por janelas entreabertas,

Ao longe vão murmurando por entre o verso e a trova,
Calcando poças feitas de sonhos provendo a realidade,
Que não falte uma ideia e que esta brilhe tal supernova
Quando apenas restar uma escuridão ocultando a beldade,

Pois por vezes chove, outras faz sol, é este o eterno carrossel,
Vem o Inverno e vai o verão ornando em anos o semblante,
Conseguis entender-me quando grito desta torre de Babel?

Para quem nunca viu é sim esta a força que arrasta o vento,
Pois que me arraste a mim também para a pradaria distante,
Para lá do horizonte e que após a morte venha o nascimento.

quinta-feira, 21 de março de 2019

A Mancha do Coração

Sendo profuso ou obtuso de mancha no coração,
Sorrio desfocado e não há quem confira a mão,
Pois andamos perdidos, errantes pela estrada,
Pretendendo um pouco de tudo, tendo nada,

Passando por último na meta de uma ida Primavera,
Eu não pertenço a este mundo, eu sou de outra era,
De quando havia romance e era Vénus no regaço,
Um beijo na cara era suficiente para dar embaraço,

Pulsando e latejando ansiando por aquele perfume,
Trazendo no peito de Orfeu todo o fogo e ardume,
Então para quando uma estrela somente para nós?

Que jamais se olvide seu ímpar instante, a única voz,
Tudo o resto é levado pela maré retida no instante,
Suficiente para separar o indispensável do irrelevante.

sábado, 16 de março de 2019

Como Uma Vida Sonhada

É preciso viver sem esperar pela alvorada
Pois a morte vem vindo bem devagarinho,
Há muito estou pronto para subir a escada
E para lá das trevas voar que nem passarinho,

A passo pautado ouço a morte além da porta,
A imortal dança entre o eviterno e o instante
Que vou trazendo no palpitar desta aorta
Ora tutucando ora próximo, ora distante,

Por vezes perdido na implosão desta supernova,
Esquecido pelo trilho estelar que me deu nome,
É esta a melodia do poema, a miríade, a trova

Que ora nos maldiz, ora nos permite em benção,
Desde que fiquemos com rasto candente do prenome,
Estou pronto para partir desde que à luz do coração.

segunda-feira, 11 de março de 2019

Um Fio de Prata Para Um Pedinte

Atirando um fio de moeda de prata para o pedinte,
Seu cabelo prateado a única salvação do presente,
Chegamos ao manjar dos deuses que rico requinte,
Quando o que ansiamos era tudo menos estar ausente,

Incógnitos, conhecidos, amigos, amores e desconhecidos,
Passando o mundo e esperando que o amanhã regresse,
Pois entre os lençóis fui deixado, por lá fomos esquecidos,
Alfim vem a lua sobre o jardim que a lagoa beija e entretece,

Para quê tanto ruído se de silêncio sou alarido? Desapegado
Ao permanente, o beijo da sua boca, soa a pouco, a bocado,
Sobrevisto e revisto, revisitado e abandonado, ouve-me Amor,

Sem a prata do seu cabelo cessa a vontade de viver, vai a cor,
Uma corda ao pescoço, este pedinte voa! Enfim venha a fadiga
Pois do sonho estou cansado, que se silencie a voz e a sua cantiga.


sexta-feira, 8 de março de 2019

De Suas Costas Jazem Mil Valas Comuns!

Este é um precipício entre a maré-baixa e a montanha,
Eu ouvindo ternamente as dunas e aquela sua melodia,
Num cinto de ervas daninhas e espinhos tal artimanha,
Onde jaz o fantasma que é e assombra a hora deste dia,

Os prados ondulam na brisa como os cabelos da donzela,
Entre as lajes de mármore de onde se erigem os panteões
E eu com os olhos tão repletos de magia ansiando por ela,
Insciente às valas comuns dos anteriores, de mil corações,

Troncos cinzentos erguendo-se desta floresta abandonada,
Vem a noite e vai o dia, e eu sentado esperando a alvorada
Que seria um beijo único e irremissível, pelo colo e sua mão,

Oh seriam mil sonhos sonhados, o alcançar o céu, o perdão
Do poeta por escrever sobre o seu horizonte sem o alcançar!
Oh fosse ela a reciprocidade de um doce louco a tentar amar!

quarta-feira, 6 de março de 2019

O Círculo do Eu

O refúgio para o brilho das quatro estações,
O poente deste olhar que é vista e moldura,
Sou eu e vós o pincel de mil e um corações,
Aquele livre sonhador que da Lua se pendura,

Embalamos quimeras numa cadeira devaneada,
E com o pé na estrada, uns ficam e outros vão,
Não obstante o caminho que entre tudo e nada
Concede cor e asas ao tremeluzir da constelação

Que erigimos na lágrima e no sorriso, o relance
De um vulto tornando-se finalmente semblante
São os gritos emudecidos de um perdido nuance,

Tantas vezes reencontrado no rosto do espelho
Mesmo que por vezes esteja tão e tão distante,
Em súmula, é a criança retornando-se ao velho.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Fecha os Olhos e Sê A Vista

Somos cerúleos ante o eviterno sem fim do firmamento,
Somos aquele único beijo, somos o seu único momento,
Amor é aqui, o abraço entre briosas supernovas, o peito,
O latejo retido para além do maior parece-me tão perfeito,

A obstrução ao nocturno, aquele sussurro que não tem fim,
A escrita sobre o rasto cadente até o princípio em mim
Pois quando eu vou e assim fico e se pavoneia o mundo,
Eu sou a parte de mim que é sempre aqui neste segundo,

A algibeira do colibri indo assim ingénuo de flor em flor,
Tal o primeiro raio de sol no parapeito da manhã delicada,
Do simples ao complexo detalhe, sendo aqui enfim amor,

Pois somos pássaros engavetados navegando entre estações,
As lanternas mágicas largadas à noite tornando-a estrelada,
Vós sóis quem lhes dá guarida ao abrigo dos vossos corações.



terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

... Sobre O Rasto Cadente do Firmamento

Estas páginas são sobre as pegadas deixadas na areia,
E também sobre o belo rasto cadente do firmamento,
Relembram que o que excede por vezes até rareia
Pois tudo é matéria e onda - aqui tudo é momento,

Trago sonhos para os insones com um pouco de magia,
Beija-me e sente o Universo, a procura pelo eviterno,
Esta sede de Infinito é tristeza com píncaros de alegria,
Amor é cada passo pela viagem - o abraço fraterno,

Por isso parto para um dia regressar, indo e vindo sem medo,
Através de janelas de vidros azuis eis o regaço da enxurrada,
Indo em frente ou para trás por vezes sem trama ou enredo,

Desde que permita à Lua e noite sentir-se para sempre amada,
Este é o trilho estonteante da Vida na ponta desse dedo
E estas são as tuas estrofes cadentes largadas à estrada.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Nos Seus Cabelos Há O Havia

A poesia existente na ponta dos seus cabelos,
É suave, meiga e terna, relembra o outrora lar,
Ensejo divino, feito de veludo ou auto-flagelos
Porém é paragem e até sítio, é conforto, é luar, 

Recordo esses belos cabelos num dia de verão,
Ao peito do sonho de quem mais ousa o recado,
Oh como eles deslizavam pelos ombros, pela mão
Cuja mensagem era simples: silêncio tornado,

Hoje finjo e amaldiçoo quem me toma a cadeira,
Tal sussurro primaveril, a vontade é de pertença,
Sou eu a criança preta no abismo tal brincadeira

É a vida verdadeira o inimigo da vera crença
Pois deixamos para trás os beijos sob a Oliveira
Por isso de mim próprio fiquei para trás tal doença.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Se é Andar, Andar é Ir Em Frente

Na palma o sonho, nas pernas a asa potencial,
Viajando através de quimeras e do firmamento,
Sou um nada e um Universo dando-se ao astral
Onde somos eternos num pequeno momento,

Esqueço a sombra que deixo tal rastro cadente,
Adiante há luz em mim enfim ainda por alcançar,
Todos somos eternos num minuto, de repente,
Aqui finalmente atingimos por fim o nosso lugar,

Para além dos mortos-vivos, há o esvoaçar alado,
Ouço o bater do coração que já não é só bocado
Então vamos por onde deixamos o corpo para trás

Onde a guerra reclamou os feridos nas horas más,
Por fim não há mais medo para caminhar em frente,
O mundo é muito mais desde que se vá e se tente.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Matem o Cego!

Matem o cego, matem o cego, matem o cego,
Pois a vida passa e nada a preenche, só o ego,
Fazemos castelos na areia, pirâmides para o céu,
Porém somos menores que pequenos, despe-se o véu,

Há vultos e semblantes preenchendo-se de nada,
Anseiam por tesouros sem colocar o pé na estrada,
Transeuntes explorando outrem sem dó ou piedade,
Não conhecem sequer compaixão, amor ou caridade,

E eu, eterno viajante por onde vou ousando caminhar,
Por vezes perco-me deste meu trilho, perco o meu lugar,
Haja estrelas no céu, e cadentes para ser em perseguição,

São o adorno para o caminho, são o preencher do coração
A belos contornos reluzentes tal um beijo demorado na face,
Pois de desnecessário estou farto, disso é preciso o desenlace.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Escapando da Armadilha do Beijo Sem Amor

O homem ausente é a única causa da nascença solar,
Evitando o poço que perdura no beijo do instante,
Que não é suficiente, não é o satisfatório, é não amar,
Pois fomos construídos por sonhos tidos neste errante,

Uma gota de sangue por uma vida, para sempre vivo,
Mesmo que o aqui não o auxilie, poderia ser pior,
Poderia ser ausência no coração em tom narrativo
Partilhando o hoje com nada, tal pincel sem cor,

Por isso ele é escape da estrada sem margem para ir,
Conhecendo o ar sob a asa que esvoaça sem contenda,
Amigo do Sol, do Mar e da Chuva, sabe tão bem sorrir,

Deixem-no ir, ele procura por vera magia, o poente
É ficar a meio-caminho, ser pela metade na fenda,
Vede o quanto é preciso crença para ser o crente.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Passando Tal Estrela Cadente - Eu Brilho, Eu Brilho!

Há espaços vazios ainda hoje sentados à mesa,
É o tempo que nos leva aqueles que chegados
Partem e deixam um sabor agridoce, é a tristeza
De saber que desta nossa vida foram eles levados,

Seus sabores nestes lábios de divindade semelhante,
Na orla da estrada foi onde fui nascido, ora consumido,
Para agora transbordando de vida, sou ainda o incessante
Como o ontem se empilha no perecido, é quase até querido,

O perseverante é queda vertical para acima, eu ressoo,
As colinas onde vagueei e me ergui sendo o firmamento
Segui o brilho das estrelas cadentes em ascendente voo

Sem perguntar sobre o que poderia ser amanhã, a ímpar visão
É que cada folego é sangue jorrando, assim dita o momento,
Se criar e sonhar é o mesmo - eu brilho, eu brilho no coração!!!

sábado, 5 de janeiro de 2019

A Viagem Estonteante da Vida

De vida no peito enlevando-a como oferenda,
Desencontrado com os ponteiros do relógio,
Esta máxima é o que vos deixo, é a prenda
E que bom poder partilhar, que privilégio,

Enquanto passa o tempo vou-me observando,
Espelhos mostrando faces por vezes distintas,
É necessário saber como os ir aqui quebrando
Para retomar o excelso desenho, ter as tintas,

Que é dia a dia por uma impermanência ladeado,
Quando falta um pouco de ontem, um bocado
Que não é amanhã também, é só este instante,

O carrossel é viagem através da pista estonteante,
E eu sou apenas passageiro indo em frente, adiante
Por onde o piso é simultaneamente o pé e o calçado.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Quando Pesa Respirar

Eu passo pelas ruas tal sussurro primaveril,
Por janelas azuis quase vejo minha chegada,
Entre as margens caminhando a passo subtil
Ansiando e esperando por uma eterna amada,

Por onde passei sombras beijando o caminho,
E eu, solitário, vagueio através de semblantes,
É assim na multidão que me sinto tão sozinho
Pois para mim todos vocês são ilhas distantes,

De sonhos para cinismos - é o poeta a envelhecer,
É o assassino da criança que por prados ia a correr,
É este tempo que não permite de alívio respirar

É esta cidade sem espaço para de facto se amar,
E eu a definhar com estas vertigens no coração
Por não encontrar quem confira ou dê sua mão.