domingo, 30 de outubro de 2011

No Interior de Tudo: Luz

A Luz é um pouco de brisa, céu e mar,
Antes e após na substância presente,
Que uma certa vez se resolveu tornar,
Na sublimação do imenso no recipiente,

O mar e a poesia em dia de maresia,
É sim soneto de sol para o caminhante,
Um Ver afortunado que avistou magia,
Na original implosão do luzente instante;

Assim manifesto o Universo em cada latejo,
Somos pois a consequência do inevitável,
Se desejo é matéria, com a alma almejo,

Essa dualidade que versa nas entrelinhas,
A epopeia de Deus no excelso inefável,
Através do contacto com suas adivinhas.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Num Sonho de Coral: Uma Vida Erigida

Num sonho de coral uma vida erigida,
Frágil como porcelana numa despedida,
Neste sereno jardim cinzento,
Sente-se a passagem do vento,
Ouve-se ao longe, o murmúrio da fonte,
Suave como a brisa, que maternal me reconte,
Belas estórias de formosas princesas de lazúli,
Que em imensos contos me beije aqui,
A princesa das princesas, que seja ela,
Aquela que jamais apelide, mas chame de bela,
Assim como o esvoaçar de um dente-de-leão,
Que tenha sempre asas, que voe nesta imaginação;
Retratando desta feita a paisagem em redor,
A beleza a embelezar a beleza do amor.
Então com áureas asas veio o toque do céu,
Num enlevar que não é somente meu,
Pois colocaram-me uma coroa de estrelas,
E nesse retrato tornei-me irmão delas,
Tendo o mundo se revelado num puro sim,
Afirmação e paixão, dessa janela aparecestes assim,
Acenando ao longe com a vossa própria formosura,
Enviei aos céus um ver dessa espontaneidade pura,
Essa beleza que faz tremer o passageiro transeunte,
Pois então que ele se achegue e pergunte,
Qual a medida certa de um abraço,
Qual o nó perfeito para este laço,
Qual o preciso ritmo do palpitar cardíaco,
Aquando de encantada viajata por sonho idílico?
Pois, quão incerta é a proporção certa do sentir,
No que foi ou ainda no que há para vir,
E vós, oh bela e imortal rosa!?
Que do frio e vazio se há tornado piedosa,
Recordai a fortuna de vosso enamorado amante,
Que há caminhado ao vosso lado e adiante,
Vendo novamente as cores de vosso sorriso,
Num suspiro satisfeito, lestas nuvens vêem o piso,
Do caminhante errante, o nobre peregrino,
Procurando o néctar que perfaz o divino,
Retorná-lo-ei em segmentos de brilho,
E no pináculo da viagem, no fim do trilho,
Sorrirei então com o vosso sorriso no meu,
Contar-lhe-ei das odisseias de Orfeu,
Que evocava a esplêndida harmonia,
Mas que sem musa… nem a ele próprio se ouvia.

A Ema III: A Colhedora de Brilho Estelar

Sorrindo a pureza frágil de uma menina,
Que outrora pelas margens errara,
Cantarolando num tom seu, por cima,
Do areal dos rios onde se enamorara,

Um dia, pela bonita abóboda celeste,
Pelas estrelas e pelas suas grinaldas,
Deixado a orla, pelo que hoje a reveste,
Um áureo madrigal estelar de caldas,

Que usa como seu próprio vestido,
Criado pela linha do onírico tecelão,
Oh tão belo, longo, vasto e comprido,

Ágil numa eterna canção, é hoje vê-la,
Sua casa, pode ser apenas um coração,
Mas esse coração, bom… esse é qualquer estrela.

A Ema II: Da Água em Luz

No rasto de poeira estelar há porções dela,
Em ténues e sutis pegadas de seu bailar,
Este sorriso realumia-se tanto ao vê-la,
Nessa dança pelo firmamento a vaguear,

Errante sim, porém sempre constante,
Num retrato cerúleo sempre tão belo,
És a menina do superior, a amante,
Reflectindo no brilho ocular o singelo,

Recolhes flores pelo forasteiro distante,
Trocando um pouco de azul por amarelo,
A água reluz, acordas cores no elísio infante,

Reabres neblinas em suspiros do inaudito véu,
E eu? Eu sou espectador e absorto lá pincelo,
De pés assente na terra e de coração no céu;

O Quarto: 112

O quarto 112 tem uma luz no tecto,
Paredes brancas e um tic tac familiar,
Relembra idos tempos de terno afecto,
Em frágil ode ao ósculo único e singular,

O quarto 112 tem um silêncio só dela,
Que sonhos e sentires permite ao ser,
E noutrora a presença dessa donzela
A mim erguia aos céus, fazia-me crer,

Esse quarto pequeno detém nosso odor,
E em sua história contém prados e relva,
Por expressões de memória é tão tão maior,

Pois mudo recorda seu recital ao mundo,
Em torno e ao redor desta agreste selva,
Que o que foi fica, no passar do segundo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Soneto: Às Estrelas

Mirando as belas flores da serra,
Sob um céu estrelado enamorado,
Sempre, e esse sempre em mim erra,
Em negro sonho de porcelana velado,

Num terraço ao altivo estelar aberto,
Uma cadente passou e trouxe almejos,
Eram suspiros partilhados com o incerto,
Em cristalinos e somente nossos lugarejos,

E ora, aqui vem a aprazível Aurora,
De áureos tons e em ténues pisadas,
Sossegando o almejado beijo na hora;

Nessa luz que sejas estas preces dissipadas,
Como suspiros largados ao volátil zéfiro, agora,
Nas idas noites, haveis sido minhas únicas amadas.

Orfeu III – Através de Estrelas Cadentes

Na ausência de prado, flores, céu e estrelas
Vou bradando ululados de agonizante dor,
Separando a Aurora do Crepúsculo por ela,
Pintando nas nuvens lágrimas enquanto for

Sua balada a pulsação partilhada na minha,
Rebelde e insano deambularei pelo mundo
E destas cordas farei uma só e única linha
Na qual seu corpo baixarei ao silêncio profundo;

Que os céus se fechem esta penosa madrugada
E que do sol a luz se atreva a resplandecer jamais,
Sou negro, o silêncio! Minha meia voz está calada,
Tudo o resto é paisagem, é cinzento, é de mais!...

Chorar-vos-ei… sempre através de estrelas cadentes,
Eternamente por vós, para sempre… enamorado,
Outros saberão de nós, tornar-se-ão crentes

E recordarão por milénios a minha, a nossa história,
Num conto de outro qualquer poeta atormentado,
Que perdure e jamais seja apagada de sua memória.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Orfeu II – Prossecução por Dantescas Galerias

Eurídice, minha alma, minha amada,
Indaguei-vos pelas noites e pelos dias,
Havendo sido vós por Hades reclamada,
Iniciei eu jornada por dantescas galerias,

No submundo ressoando a insana lira,
Na barca dos idos, atravessando o rio,
De enxofre, o frémito das sombras em ira,
Havia enfim deixado os domínios do estio,

O cão do Inferno sob esta melodia repousa,
E a flagelação dos condenados aquietada,
No caminho do aventureiro que assim ousa,
Alcançar quem é sua Vida, sua vera amada;

Vendo-vos o semblante, minha noiva de luz,
Empalecida e inerte a princesa de branco,
Neste olhar dormente que a fria neve induz,
Como a pesada cruz do mártir outrora santo,

Sim, resgatar-vos-ei dos confins dos Infernos,
Hei acordado com o negro mestre dos idos
Subamos juntos para longe deste Inverno,
Escutai esta lira, reviver-vos-á os sentidos,

Pela trilha íngreme, enfim o tempo não passa,
Ouço-o no tormento acutilante desta respiração,
Que, à ausência de som, meus interiores trespassa

Degrau a degrau, e ainda o vazio silêncio impera,
Nem vossa voz, nem brilho neste ténue caminhar,
E com nada, esta alma chora, esta alma desespera,

Acolá a entrada, avisto além a luz afinal!
Atrás olhando, e ao vos confirmar, um último…
Suspiro… perco-vos no negrume e como tal…

Um amor por uma memória de um aventesma,
Todo este fôlego não mais do que uma brisa,
No submundo e a canção já não é a mesma,

Olvidarei essa canção, nem Vida, Fado ou Deus!
Cessarão a dor do tormento Infernal desta lira!
Adeus minha alma, meu querido Amor… adeus…

Orfeu I – Das Cordas da Lira

Das cordas desta lira, beldade acontece,
Flores florescem, pássaros param de voar,
Nesta melodia que os efémeros enaltece,
Dourei em pegadas passando terra e mar;

E poesia é tudo o que nesta viagem anseio,
Porém acolá, vi algo mais esbelto do que ela,
Então, senti meu bater sob a forma de chilreio,
E eis que, de joelho dobrado, à bela donzela,

Prometi minha lira, numa única e bela palavra:
“Amor” – que caminhemos juntos pelo infinitivo,
Por tudo quanto for caminho, que o céu se abra,

E sorria inteiro, enfim, por somente um substantivo,
Por vós, a única estrela no firmamento almejada,
E em cada novo suspiro serei vosso eterno cativo.

sábado, 1 de outubro de 2011

A Ema: Uma Canção De Arco-Íris

Canta-me um arco-íris composto de flores,
Escutá-lo-ei do breu de minha azul subcave,
Que contenha as mais belas e vividas cores,
A claridade do Sol com a forma de clave;

Essa oferenda levantará o pó da alvorada,
Sussurra-a neste ouvido em doces semifusas,
Que invitem a esperançar enfim, a chegada,
Ao despertar plenário de minhas belas musas;

Com pó de estrela nestas fendas abertas,
Que sane pois as cicatrizes das cicatrizes
Que envolvam de amor as horas incertas;

Nesse arco-íris construirei minha estrada,
Nota a nota, um acorde de várias matizes,
Sendo o destino afinal, a própria caminhada.

A Clave de Sol: De Um Meio

As vertiginosas melodias dessa curva clave,
Só à minha almejada amada pertencem,
Pois é dela a única voz com a única chave,
Que emana os tons nos quais se sentem,

Macios suspiros em ternas harmonias,
Quase sempre em ritmos apressados,
Esse canto ressoa em primaveris elegias,
E este coração é nessa cantiga cativado;

Espalhando por campos repletos de flores,
O encanto de vossa vista formosa à janela,
Esta íris torna-se maior, capta vívidas cores!
E os braços abrem-se para te tocar oh bela!

És enfermidade, olvidaste meu atento escutar,
E nossas duas estrelas afastaram-se desta mão,
De quando te tinha do desperto até ao acordar,

E sorrio, embriagado no ardor dessa canção,
Que enleva e desalenta ininterruptamente,
Na breve passagem desta frágil estação,

Pretendo ouvi-la sempre, ternamente,
Ecoando afinal entre a razão e a emoção,
E ainda, ainda… ainda a escuto em mente…
No palpitar ténue de um meio de coração.

Crença: A Minha

Acredito nos anjos que rondam o mundo,
No toque e na magia, no beijo de Amor profundo,
Dos poetas, esses profetas da Divina Benção,
Às exuberantes cores das asas das borboletas,
E que como afluentes tendemos para a mesma (sagrada) Reunião
Acredito no poder do sorriso e do simples e impassível aceitar,
De que estamos cá para partilhar não para só dar ou tirar;
E que os sonhos acontecem e que os arco-íris aparecem
Em grinaldas de flores retornadas de singelos amores;
De que quem sente, consegue tocar as estrelas,
E que o engraçado é… é que basta acreditar nelas,
Acredito no romance em beijos ao luar,
Num único, cristalino e puro tocar;
Provindo de belo e cristalino peito,
Enaltece como flores um campo ou um rio um leito.
Acredito no arrebatamento do morro dos vendavais,
Em estórias de encantar e outros contos que tais,
Mas não acredito no Amor,
Sei-o no Aqui existente,
Sendo essa a mais vibrante cor,
A justificação deste presente;
E que as cores do arco-íris,
São para sentir e tactear,
De e em supernovas vestidas,
Provém do Sonho – O Oscular.
Que do ruído vem a suave melodia,
Sendo o ritmo onde esta assenta,
E que várias enlaçadas formam a una harmonia;
Que da única, Divina e Superior Obra,
Revém o grande, o imenso, o Inteiro,
E que de acreditar em tanto, o pouco que sobra,
Ainda é o Universo, em mim! Isso sim… Nisso eu creio.