terça-feira, 30 de julho de 2019

Através da Noite

Através da noite, encontrei a lua e a sonolência,
Para além do beijo perdido, o eu suprimido, aqui,
Eternidade num momento, o oposto da ausência,
Acordado e despertado, para além do ponto em si,

Que não chore quem hoje ainda corre pelo nocturno,
É absurdo correr quando a andar se chega lá também,
Quando regressarmos e nas mesmas ruas correr o diurno
Talvez do Sol, talvez da lua, desde que venha tudo a bem,

Ninguém quer estar sozinho, mas eu quero estar sozinho
E correr descalço por campos abertos, por verde pintados,
Mesmo que nos pés haja pedaços de vidros, este é o trilho,

Como é que rejuvenesço este jardim que destruí aos poucos?
Como é que regresso ao ponto de onde me parti aos bocados?
Este espaço é tempo de ir, tempo dos poetas, viandantes, loucos!

sábado, 27 de julho de 2019

Escuta, Daqui Deuses Erguem-se!

Seguindo o segundo e por ele no instante abdicado,
Sou o homem presente por ele próprio deixado,
E nesse bocado, há vida, há moção, há energia
Para revisitar o nunca visitado, como a mim queria

Permitir-me ser no infinitesimal, no trono emoldurado,
A eterna criação, desde o berço ao já sepultado,
Na mente que é sorriso e beijo para o infinito
E propaga a voz de Deus num silencioso grito,

Há espaço, há momentum e suspiro resoluto,
Ao homem que é seu, a cerúlea herança divina,
E a quem a si se esqueceu de procurar o meu luto,

Pois procuro de mão aberta, de coração cheio de amor,
Acredito que o sol pode espreitar a cada esquina
E que o mundo só é monocromático para quem não quer ver cor.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Sozinho, Irremediavelmente Sozinho, Convéns Todo o Universo

Sozinho, tão sós e irremediavelmente sozinhos,⁠
Nostalgia por quem não vem, a cama é o vazio⁠
Do coração que já não sabe quem foi nos caminhos⁠
E que pretende encontrar poiso, deixar de ser vadio,⁠

Somos apenas estranhos face a face desencontrados,⁠
A miragem para a afeição, mercê para os desvalidos,⁠
O rei sem trono é o sepulcro para os outrora coroados,⁠
Gritos silentes, rompidos e ténues sob beijos indeferidos,⁠

Contudo sei que há espaço para excelência, para o amor,⁠
Pois sou espera e procura, a corrida desenfreada no escuro,⁠
Cantando tal escravo fugido, insano varrido, tal resto de cor,⁠

Errante é a crença na berma da estrada, o resto é pouco ou nada,⁠
E me separa do horizonte, da eterna ponte, o inultrapassável muro,⁠
Por isso acredito no acontecer e no infindável Universo nesta alçada. ⁠

(Eu acredito que um dia voltará a Alvorada).

quarta-feira, 17 de julho de 2019

A Herança É Viver Nos Ombros de Gigantes

Sim, havia gigantes donde se ergueram as estrelas,
Colossos alcançando a abóbada retida no celeste,
Submergidos pelo firmamento em mil aguarelas
Mesclando-se no que o semblante ainda reveste,

Eu, insciente ao vestido cerúleo de tronos abdicava,
Olvidando a herança de uma coroa então soalheira,
Eu era essa criança, eu nesse voo enfim embarcava
Rumo à imaginação em tom sério mas de brincadeira,

Fugindo até me tornar perdido e então esquecer
Que escalávamos montanhas de uma assentada
Pois trazíamos ao peito o que conseguimos reter

E esse peito era trago para este tudo, esta estrada,
Dependendo da perspectiva e da inclinação do Ver
Enquanto nos erguíamos rumo ao beijo da alvorada.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Para Quem Tem Sede de Infinito

Milhões de centelhas de luz pelo olhar reivindicadas,
Somos os filhos do Sol procurando por onde alcançar
O voo que prolifere alado por estas asas alvoraçadas
Que sabem e tudo pretendem menos o deixar de voar,

E remetemos cartas para o cerúleo tal amantes lunares,
Com o peito preenchido de segundos e a sua bela canção
Que vai ecoando eternamente através de sonhos díspares
Assim pavimentando o trilho para o horizonte deste coração,

E talvez venha o ruído um dia ou talvez o silêncio nos afague,
Não obstante do brilho recambiado, nada disto nos pertence,
Portanto que esse brilho para o Universo volte e se propague

Pois somente é poeta quem por aqui caminha e por aqui sente,
Percebendo o sentido que para o transeunte sacie ou embriague
Porque alguns de nós temos sede de infinito e esse trilho é em frente.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Insatisfeito

Preenchido por campos de centeio e mariposas,
Lançando longamente os braços e pulsos ao Sol,
Unem-se os astros tal amantes, noivas e esposas
Se isto for outra armadilha, cairei nesse belo anzol...

Pois chamam-se vozes partidas há muito, esquecido,
Por quem me quer bem, por quem não olha para trás,
Escasseia o beijo na curva sôfrega do lábio humedecido
Por onde passam os passageiros destas horas vis e más,

A ampulheta tornada compasso dirige o passo da concertina,
A Vida desponta para além do monte retido no final do peito,
E eu, contrafeito, viro quase borboleta ao encerrar da cortina

Pois o que de facto almejo é mais do que me podem oferecer,
Por isso procuro e busco, insano, incontrolado e insatisfeito,
Nada material, nada banal, só o simples, o simples acontecer.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

A Quem Não Larga O Ontem

Entoo o som do mar nesta voz suspirada,
Nos olhos o azul de cada onda vindoura,
Os pulmões preenchidos de água salgada,
Trarei nos cabelos o brilho que o sol doura,

Mergulhando no oceano de sorriso aberto,
Lembro como o mundo vai sendo passado
Entre mãos de uma criança o trilho é incerto,
Importa é que vá passando um bom bocado,

Por isso mergulho mais do que consigo respirar,
Por isso caminho como se não soubesse parar,
E por cada ilha cativa de mim vou trazendo flores

Que me conciliam e separam de mil e um amores,
O vindouro é simplesmente o que ainda está para vir,
Deste passado não somos reféns, saibamos quando partir.

terça-feira, 9 de julho de 2019

Soneto Para O Homem Que Vai

É a subtileza de um toque na pele da sua amada,
É Deus nos detalhes a sorrir em eterna centelha,
É resfolego, suspiro e murmúrio perante a estrada
Que enfim ao final do dia o viandante assim espelha,

Por vezes sentimos a falta do lar, do prometido abrigo,
Porém sabemos que enquanto esse mesmo não chegar
Que de nós próprios devemos sempre ser o melhor amigo
E que o fim da pista só é real quando o fim da estrada voltar,

Despontam os sóis vindouros em quem intencionalmente vai,
Procurando por um lugar à luz solar longe do poço onde se cai,
Eu? Eu somente pretendo um beijo, por um instante eternizado,

Ofereço a alma a quem dela precisa, por um fragmento, um bocado,
De resto venham os quilómetros e as léguas, eu serei toda a distância
Para por ter e conter em mim esse momento eterno e sua abundância.

sábado, 6 de julho de 2019

Ode a Quem Caminha Fora do Rebanho

Esta é uma Ode a quem caminha fora do rebanho,
A quem evita a vida entre as nove e dezasseis,
A quem não se mede pela altura, pelo tamanho,
A quem caminha entre o povo, aos magos, aos reis,

Prometo fazer uma vénia a quem for passageiro
Deste instante cativo, a quem é poeira estelar,
Ao homem que apesar de ainda não ser será inteiro
Pois de si não se cansou pois ainda se vai buscar,

Pois almeja após as migalhas que são a normalidade,
Que o sonho consegue recriar nesta realidade,
Que beija sem exigência sementando a partilha,

Que sabe que o instante passa e deixa armadilha,
Que é rugas no rosto e artérias vincadas no coração
Porém isso é o suficiente para ir, voltar e conter na mão.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Ode a Quem Vai

Esta é uma Ode ao transeunte e ao seu destino,
 Ao vagabundo que segue o seu rumo por fim,
Que entre voos é o prisioneiro e o clandestino
Que vai por onde não se vê, que é em mim,

Há naufrágios e aleijados de braço ao peito,
Assim dita a bruma da tempestade do porão,
Pois quando vão dão o próprio ir por desfeito
E assim ficam, não preenchendo o seu coração,

De súbito, acostumo-me à solidão deste olhar
Porque pincela o mundo, até reaprendo a amar,
Mesmo que apenas vá parecendo o escuro do dia

Por onde um dia foi passagem houve vera magia,
Não se esqueçam que a morte espreita à esquina,
Portanto cada passo é vida e a Vida quer-se libertina!

terça-feira, 2 de julho de 2019

Um Brinde Aos Perdidos

É o trilho e o passo, tenho sede, sede de infinito,
É o pincel e o traço, abreviado e quase emudecido,
Vou segurando um bouquê de flores neste uno grito,
Que em sua ausência não alcança o horizonte preterido,

Por isso engulo as ruelas enegrecidas pela noite calada,
Em cada desfilada, sou um pouco menos do que outrora,
É a única maneira de ser um pouco igual no beijo da estrada,
E assim enfim me ver ao espelho tentando reflectir a aurora,

Há máscaras atrás de máscaras nesta verdade inaudita,
Por isso só a ouve bem quem em si vai e em mim grita,
Porém parece que somos filhos de deuses tão menores,

Trazendo as maleitas dos condenados nestes clamores,
Não obstante da magia que trouxemos sem exigência
Por todas as vezes em que nos perdemos em ausência.