segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Estranhos Obscurecidos

Estranhos obscurecidos no leito da porta,
Sombras de um longínquo outrora passado,
Passeiam-se em redor de uma árvore torta,
Inspirando o tempo que há então restado,

Amor, somos somente estranhos hoje em dia,
A perdição das vielas escuras, o sofrimento,
Dessas estações tenho em mente tal fotografia
Enquanto a perdi, perdi-me a mim no momento,

Tu eras a mais bonita com o teu vestido de gala,
Procurando-te onde não me encontro – adeus,
Prostro-me tal morto no vazio de uma sala

Não sou convidado para dançar, foi-se a dança
Que continha toda a beleza desses olhos teus
Nada mais, nada mais que uma lembrança.

sábado, 29 de outubro de 2016

Amor, Ainda Veremos

Amor, ainda veremos de novo a estrada,
Entre o choro e o pranto de uma tentativa,
A imerecida busca por aquela almofada
E a continuação da findada narrativa,

Olho nos meus olhos e vejo porções pequenas
De restos deixados pelo ontem em desmazelo,
Algures onde descansa toda a minha pena,
Algures onde este sonho é só pesadelo,

Durmo e perco a luz e a perda de paisagem
É tanta de que é óbvio que falta espaço,
Que a ideia em si é somente triste miragem

Enfim contornada por giz de embaciado traço,
Onde foi que perdeste a crença na viagem
E o mundo se revoltou morto e escasso?

O Espelho Tem Duas Faces

O espelho tem duas faces, só um rosto,
Cicatrizes e a sua beleza, olhos de poeta
Que desvanecem no horizonte tal encosto
Para o ainda não visto ou tirado da gaveta,

Nunca verão pelo olhar de um poeta enfim,
Desejamos contra desejos esperançados,
Brilhamos apagados e extintos em mim
Enquanto por nós algures somos esperados,

Sonhamos com o não sonhado a traço impreciso
E quando acordámos somos rosto sem face,
Não acordados sempre procurando o paraíso

Na moldura que não dorme, deixem-me ir
Pretendo ser uno nesse derradeiro enlace
Sentirei enfim neste não saber o que sentir.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Adiante Trilhos

Adiante trilhos cravados e encruzilhadas,
Atrás de nós somente a poeira do passado,
Aqui o ser abstinente de ideias ancoradas,
Quem quereria só por si ficar a seu lado?

Olhos dialogam verdades já esquecidas,
A morte em vida sem reflexo no espelho,
O viandante estagnado e suas horas perdidas
Outrora a criança esperançada, hoje o velho,

Quietude escutada, a penúria no céu estelar
Que suspira entre murmúrios bem baixinho
“És sono, até quando poderás por cá ficar?”

Vem o Inverno, enfim aceito sua imensidão,
Por ele irei e farei meus passos só e sozinho
Enquanto se não me cura o sopro do coração.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

As Esquinas na Noite

As esquinas na noite ouvem este pranto,
Ressoando seu nome, as noites de paixão,
Aquele sorriso, aquele beijo soube-me a tanto
Que já não sei se conseguirei um dia dar a mão,

Amo-te ainda Ester, sou ainda cativo dessa fragrância
Que sossega e importuna neste resfolego cansado,
Mesmo de que hoje em dia só tenhamos distância
A verdade é que de mim levaste um grande bocado,

O azul destes olhos é teu, abafa os nossos instantes
Pois agora que havemos, finalmente, terminado,
Outrora fomos do mundo seus únicos amantes!

Porém o destino e sua insanidade assim tece
Não obstante do quanto havemos tentado
O tempo continua e o mundo se esquece.

Emaranhado na Neblina

Emaranhado na neblina da alvorada
Que ao longe apesar de me saudar,
Parece não chegar, não saber a nada,
Para além de um instante a se recuar

Para outras tramas passadas de beleza
Horizontes e apenas uma lua tão cheia,
Agora esboçado a cores azuis de tristeza
Riscos e rabiscos, prisioneiro de uma teia

Onde não há lugar para poesia ou dar a mão,
Somos levados ao vento pelas marés adiante
Ai, quem me dera ser o poeta de tua eleição

Que fosse por um mero momento, um instante,
Esta vida merecedora de ser vivida faria então
Deste amador e do seu trilho menos errante.

Promessas Tolhidas

Promessas tolhidas por acções fracassadas,
E em redor ao sol e a sua refulgência,
Suspirando o silêncio das lembradas,
Que parecem só fantasmas à tua ausência,

Confesso às estrelas o beijo não entregue,
A porção do coração não dada por completo,
E do um dia dito a ponta do icebergue
Dos afectos ainda jazendo por perto,

Confesso pensar nela a todo o momento,
Na lembrança que se alastra para o futuro,
Numa espera esperançada sem cabimento

Que de tanto se distorcer me deixa no escuro
De um triste lugar sem espaço para o sentimento,
Não me falem mais dor do coração, sei quanto é duro!

Beijos e Abraços

Beijos e abraços a quem por si espera,
A rota do indivíduo é verdade, é caminho,
Lugar, saudade do já esquecido oh quem dera
Ter sítio ao sol, pedaço e não ser tão sozinho,

Esperançados por quem beija com o coração,
Madrugada que nunca chega espero por ela,
Procurando quem não vai, alma na mão,
Porção encoberta do resto da estrela

Que brilha e fulge por cada passar de estação,
Enquanto o palhaço não sorri, a ave não voa
Ancorada ao tempo, tempo sem sazão,

Crepúsculo vem e leva o que aqui sobrar,
O viandante moribundo, o colibri à toa
Porque aqui estranhos somos do que é amar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Passos Dados

Passos dados e pulsos quase rasgados,
Amor, já esqueceste o nosso caminho,
Os beijos da tarde ao céu ofertados
Agora só mais um substrato ao ser sozinho

Que eram, que foram, que já não são,
Suspiro onde surgem restos dessa ausência,
Onde faltam pedaços enormes do coração,
Tanto que já nem o sinto tal é a dormência,

Pudesse eu repousar de novo ao teu lado,
Ser de nossa paixão o eterno escravo
Por essa jornada que é meu bocado

E nessa estação ainda para sempre algemado,
Perdido e no bolso sem nenhum centavo,
Com tantas saudades das porções que hei amado.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Para Este Mundo

Para este mundo parece não haver lugar,
Enfim sozinhos, longe e distantes,
Não a vejo à minha procura a esperar
E prendendo segundos mato os instantes,

Lembranças de um tempo hoje partido,
Inocentemente já não sei daquele beijo
Que separava galáxias em tom colorido,
Hoje em dia mal estrelas no céu vejo,

Apenas chuva e porções de um passado
Que engana, que já não é verdadeiro,
Assim sucumbimos ao trilho errado,

Impinjo as sobras às sombras do amanhã
Porém ainda admito meu amor por inteiro
Nesta lágrima que trago por onde quer que vá.

Chuva Aberta

Chuva aberta, escorrendo pelo cabelo solidão,
Ouvia então o relógio encostado à parede,
Adormecia ao ombro de quem não dava a mão
E nada neste Universo saciava esta sede,

Nenhures tremia de frio sem cais de abrigo,
Reticências após o perdido passageiro,
Cruzando esquinas tornado mendigo
De amor sem ter no barco timoneiro,

Simples a giz riscando seu próprio contorno,
Simples sem sonho ou sono, só à procura
De um lugar onde já não havia retorno

Pois soa a lar, parece ser uma aventura
E ela era coroa, sabia a altivo adorno
E a chave sem saber o que é fechadura.

Quanto Mais Perto

Quanto mais perto vou mais longe dela estou,
Partido coração porque teimas tanto?
Não vês que este é o preço de quem amou
As mortes dos sorrisos dados neste pranto,

Onde não cabe luz de nenhum solarengo sol,
Apenas espaço para negrume e solidão,
Assim caem os poetas em seu próprio anzol,
Sem a amada para abraçar ou dar a mão,

Suspiramos uma tristeza que não tem fim,
Ansiamos a morte sem alguma despedida,
Pois aqui se fragmentam homens assim

Almejando por vida mas não a tendo sentida,
Que mais pode um velho trovador fazer enfim
Se não há luz, dia... só uma eterna descida?...

Troco um Poema

Troco um poema por um pouco de vida,
Um sonho por um brinquedo de criança,
Um anseio, um desejo e vem a despedida,
A morte de Ema, amor só em lembrança,

Troco uma canção por qualquer sorriso,
Um olhar de beleza por uma paisagem
E desse ver rascunharei a traço impreciso
As linhas que fazem deste andar viagem,

Troco sozinho um último trago de magia,
A lágrima que jaz no homem moribundo
Seria suficiente para trazer luz ao dia

E aquele sentimento de amor profundo
A quem passa e passando deixa a poesia
No caminho em si e do ido ao segundo.

Somos Sombras

Somos sombras de um longínquo passado,
Sobras deixadas na berma da estrada
Por onde um dia fomos juntos, enamorados
E o mundo era lar, repouso, almofada,

Por ruas desertas hoje vagueando perdido,
As lâmpadas noturnas revestem o caminho
E a tua ausência dele a morte do cupido
O frio vem da falta, falta de amor, de ninho,

Esperava por ela muito antes de saber esperar,
Encostava beijos onde não havia abrigo
E morria de amores só por suspirar

E a sua memória é o mais cruel castigo,
Já nem me apetece construir ou andar
Pois do seu amor me hei tornado mendigo.

Enterrem Estes Ossos

Enterrem estes ossos cansados em poeira,
Este olhar é cinza enrubescendo a paisagem
Por onde tinha passado em simples brincadeira
Hoje falta-me a vontade, falta-me a coragem,

Assim é amor que preencho as horas,
Prendendo minutos com porções de nada,
Nem esperançado com estas demoras
Muitas vezes nem pondo o pé na estrada,

Repleto de areia neste olhar de asfalto,
Paralelos na garganta e pedras no peito
Algumas quase safiras outras só cobalto,

Sabes, não durmo à noite por tua ausência,
Um espaço vazio do que outrora foi feito,
Agora só outra ode em vida à abstinência.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Em Mim Vejo

Em mim vejo esta cor meio cinzenta,
Tons que entre o preto e o branco
São os rascunhos desta sebenta
Pelo trilho largado e o seu solavanco,

Pedras como travesseiro e cobertores de neblina,
Adormeço sem saber se haverá salvação,
E atrás de colina vem sempre outra colina,
Parece que não há espaço para o coração,

Já esquecendo partes que soavam a vida,
Aos instantes belos que eram voo alado
E que quando esvoaçando a faziam sentida

Há quando tempo se terá assentado tal estado
E deixado enfim partir a terra prometida,
Parece que no final nada havemos amado?

Tão Longe de Mim

Tão longe de mim está enfim a chegada,
Há quanto tempo terei eu mesmo partido?
Sei que a estrada tem sido a única amada
Pois todas as suas curvas tenho sentido,

Se soubesse do que precisa o coração,
Se entendesse quão difícil é encontrar
Então talvez por vezes fosse sim e  outras não,
Permaneço aquém do saber o que é amar,

Até vós, quanto vos tenho procurado,
Por bares perdidos nas vielas e bermas escuras,
Os cinzeiros e fundos de garrafas tragado

Batendo com a cabeça e entrando nas sepulturas
Será que também as tenho mesmo amado?
Não... Perdi a palavra tal como vossas ternuras.

Impaciência, Espera

Impaciência, espera só mais um pouco,
Assim se ornam os portões para o céu
E como tal se separa o são do louco
No resto do firmamento que é meu,

Em partilha e aceitação respiro o mundo,
Eu, o eterno viandante, amador por escolha
Como tudo se muda tão rápido, num segundo
Ao vento serei mais do que uma folha?

Rascunho sorrisos em pedaços de papel
E logo os envio para onde houver abrigo
É esta a insanidade deste carrossel,

Será este outro tom para meio castigo,
Tão frágil e delicado és tu oh Joel,
Não precisas mais de amor, precisas de um amigo!

Àquela a Quem

Àquela a quem meu coração é pertença,
De mão beijada a lado com a incerteza,
Porquê tanta frieza e tanta indiferença?
Assim só me causas píncaros de tristeza,

Brisa passageira é que é tanta a saudade,
Parece perpétua, jorrando infinitamente,
Perde-se a noção, desencontra-se a metade
Nesta árdua contenda do ser abstinente,

Teimando pela primavera e seu nascimento,
Por beija-flores deixando-se à brisa,
Ou seria mais largando-se ao vento?

Amor eu te digo, quanto ainda te procuro,
Nesta hora maldita invita-se a poetisa
Ao lugar onde ainda perdura o obscuro.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Procuro por Restos

Procuro por restos que se completem,
Estrelas fundidas quando vem o entardecer,
Que de suas fagulhas beijos enfim restem
E que em seus fragmentos aprenda a viver,

Pois morrer é tão fácil para o sonhador,
Pousa no seu ombro e suspira morte
Porém tão mais difícil é admitir o amador
Que repousa dentro de si e se deixa à sorte,

Alguns acordam e vivem uma vida plena
Cores e pincéis encerram seus horizontes,
Rumo ao oásis do deserto que serena

Sossega a calma e fulge, vai-se a saudade,
Breve bebe-se a água de mil e uma fontes
Enquanto não se encontra a outra metade.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

O Pôr-do-Sol

O pôr-do-sol é este amor tão sozinho,
Desabrigo para o que já não tem lugar,
A primavera fugidia deste lúgubre caminho,
Saudades dela ao meu lado a caminhar,

Penso nela e este coração torna-se tanto,
Praia sem mão dada, jardim sem flor
E há poesia nesse distorcido encanto
Que é tão longe deste inexistente amor,

Tal estrela perdida passando o firmamento,
Por instantes alarga-se o sorriso do sonhador
Mesmo que só por um segundo, um momento,

Hoje espero pelo passado desse mútuo ser
Onde o que passa não sabe apenas a dor
Pois à falta de reciprocidade prefiro morrer.

sábado, 1 de outubro de 2016

Era Poeta

Era poeta pois construía pontes e não muros,
Recobrava o todo onde só havia fragmento,
Alumiando a parte do céu onde era escuro,
Sendo pincel de cor e tela para o firmamento,

Tornava em berço qualquer uma sepultura,
Seu sorriso era Sol para qualquer rosto lunar,
Assim dulcificava incansavelmente a amargura
Que o Homem esquecido de si não podia amar,

As estrelas e a Lua eram as suas melhores amigas,
Ele, trovador do azulino, sonhador do não sonhado,
A todas embalava com as suas melífluas cantigas

Frágeis e altivas com o beijo de poeta lado a lado,
Era o Amor verdadeiro esvaecendo as fadigas
Das pontes às margens que então havia cruzado.

Invadem os Olhos

Invadem os olhos poeiras de um deserto,
Lágrimas agridoces emanam desse pó,
Aonde posso ir se indo vou incerto
Sufocando em amor e seu cruel nó?

Lembro-me de quando íamos lado a lado,
De sonhos em mão, num só caminho
Pois de todo ruído me vejo enfim calado
Na berma da estrada tão totalmente sozinho,

Suspiro ainda assim por sua lembrança,
Por cada segundo passageiro no instante
De quando trazia o dia em sua leve dança

Para mim um pouco de sol era o bastante,
Para me fazer sorrir que nem uma criança
Numa nuvem longe deste inferno de Dante.

Este é o Último Sorriso

Este é o último sorriso para o resto da vida,
Vejam-no bem em breve será passado,
Sim tenho sido porções de uma partida
Sem nunca me ver enfim chegado,

Num tesoiro repouso e leva-me o mar,
Doce esquecimento, tolhido pela corrente,
Sem mais pertença salto deste patamar,
Indo em queda indo sempre em frente,

Hoje enfim respirarei esta água salgada,
Serei parte deste grande e imenso oceano,
Não mais uma seta triste e quebrada,

Cessem as preces de um sonho leviano
Fui desta vida a pérola desencontrada
Pois deixem-me ora ser o ouro neptuniano.