sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

O Corrimão Para O Céu - Mentira?

E um dia teremos parte de um fragmento, Atenas, momento,
Esta é a escrita cadente e é o anseio pelo longínquo tesouro, 
Da vida, quando o pouco que foi, todo este acontecimento,
A enxurrada entregará para o horizonte pelo escoadouro,

Onde cascos são cópias carbonizadas de homens partidos,
Drenem o lago, procurem o cadáver do derradeiro fado,
Os vestidos brancos e as danças lentas, os poentes retidos,
Respirando este ar rarefeito, se calhar passei-me ao lado,

Hoje a envoltura de uma silhueta entre um terno abraço,
Era uma a promessa de um eterno, um eterno dar a mão,
Quando nem para um certo tempo havia sequer espaço,

Abram-me as veias e acordai os anjos, hoje serão alcançados,
Ainda há impressões digitais nas nuvens, neste corrimão,
Que haja luz para fazer das sombras amigas em belos bocados.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Por Aqui Sou Caminho

Por aqui, por onde caminhamos, a tempestade ainda tem lugar,
É a parada negra, largando a mala para poder andar à boleia,
Adormecido, os comprimidos engolidos eram algo para matar
Não a vida mas a ausência dela, indeferido, nesta mão-cheia,

Ou matamos a morte ou a morte matar-nos-à minha gente,
Por isso vou quebrando as correntes deste frágil coração,
Que o seu colchão seja confortável nesse trabalho diligente,
Este amor não é preto nem branco, é o passar de cada estação,

Sim, é quando pensamos que as boas meninas vão para o paraíso,
Que vemos que esta é uma instância do limbo,a aréola soqueada, 
Somente o paraíso sabe, só ele sabe qual o lucro ou o prejuízo,

Esperando na penumbra, eu deixo-o solto, eu deixo-o apertado,
É a parte que é resto, fragmento da noite esperando a alvorada
Pois somente ela é caminho e Luz, só ela o pedaço do amado.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

É Preciso Ir e Correr Atrás do Luar!

Este pedaço de mim é ruído e silêncio - o seu namoro,
O caminho vincado na pele nua, a cicatriz e os diademas,
O assobio despreocupado, o gesto com ou sem decoro,
Pois das potenciais prisões sou eu o portador de suas algemas,

Que são esta ânsia, esta vertigem irregular por si procurada,
A altura da falésia para o vazio, para o nó da garganta, 
É um breve suspiro para o solavanco da berma da estrada,
Esperando as luzes de presença, o abraço de uma manta,

Caminhando ao meu lado, esta sombra tornada semblante,
Há poesia nesta passagem, a moção neste terno paginar,
É a ode a Deus, a ode a vera beleza, a ode ao instante,

E neles o único sítio onde pretendo de facto estar,
Pois ele é insciente a qualquer ouro ou diamante,
Este é o único espaço e tempo que pretendo ocupar.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

E De Tempo a Tempo, Estamos Todos Perdidos

O mundo roda e rodopia e quase por mim é contido,
Percebei que eu sou o fim desta era, o único alarido
Que mantém homens acordados a noite inteira,
A porção que morre na palma, o ninguém à beira,

Quando as toquei perdi a metade que era no coração,
E nesta alma o único sempre que poderia algum dia ser, 
Com o barulho que nem é ruído, que é falta de oração,
Que é pouco para estar vivo mas que nem sequer é morrer,

A abertura sem envoltura é beijo sem ser sequer dado,
Pois eu sou, eu estou na vontade do viver sem estação,
Eu sou a impermanência, a loucura e o sítio de estado,

Com todo o amor que puder dar mesmo com raiva e suor,
Na ausência da poesia, na ausência do verdadeiro refrão,
Pois o amanhã é apenas o consequinte do pôr-do-sol anterior. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A Minha Querida Amiga, A Anhedonia

Confere o papel do coração, é o corte, é o sol e a sua moção,
Batendo a porta, meu deixar-me, amor permite-me a entrada,
Entretanto lavei as mãos, banhei-me em núpcias, sou estação
Para o resto dos dias que não chegam, para a chuva inacabada,

É esta a menina das grinaldas de luz que repousa entre prados,
No instante infinitésimo perdido no infinito de um respirar,
Onde eu perco, eu encontro, eu espero, onde procuro os fados,
Que são pertença somente do aqui e agora, num lesto ansiar,

Entre as margens do celofane, pulmões negros de anjos erguidos,
Donde outrora eram caídos, a tosse sanguinolenta, a doce ternura,
Gritando por uma resposta, por cá nós os eternamente escondidos,

Por baixo de roupas usadas e cobertores rasgados, a doce ironia,
Dificilmente recordo o meu nome nesta eterna e terna brandura,
Estas algemas estão apertadas, filtra-se o lago, oh querida anhedonia!