quarta-feira, 26 de abril de 2023

O Rapaz das Estrelas

... E então poderia ser o teu rapaz das estrelas, 
Logo brilhando perto do Sol, dando-te a mão,
Mesmo que caísse em pedaços pelas passarelas
Seriamos unos no pulsar único de um coração, 

... E então seriamos um par a dançar enfim com o luar,
Com o passar da noite, juntos e unidos em percalço,
Procurando um sítio aonde sonhar, para logo flutuar,
E quando a Lua tentasse fugir iriamos no seu encalço, 

Através de praias desertas que ousassem ser nossas num suspiro,
Escapando por entre os dedos do tempo, seriamos nos ventos,
Na eternidade de um belo instante, no momento de um respiro,

... E então poderia finalmente ser o teu rapaz estrelado,
Com fotografias de ti nos bolsos, seguindo os cataventos,
Há sempre uma canção para cantar nesse fôlego ansiado.

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Através do Tempo

Através da noite foi a Lua que furtou a dormida
De um trovador ora tornado num romanticida,
Pois havia Vida no seu sorriso, na eternidade,
Assim passada ao seu lado, sem termo ou idade,

Através da noite foi um dia exíguo então a escassear, 
Custava-lhe por vezes passar na mesma casa, no mesmo lugar,
Que lhe acossava com água nos olhos, num sonho triste
Até regressar à memória de um instante altivo em riste,

E o relógio trauteava uma canção pelo tempo esquecida,
Porém soava a beijo na testa, a uma margem querida,
Amor, tu que te encontras distante, dá-me a tua mão,

Só assim se erguerá o sol, só assim baterá este coração,
Até lá serei ermo, relento, sonhador sem qualquer sono,
Acorda-me levemente com um beijo deste terno Outono.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Cada Pedaço do Viver

Passam estes abraços devolutos cobertos por um céu envelhecido
Parando assim instintivamente e procurando uma mão para dar,
A fragrância dos passos não conferidos é apenas o tempo perdido, 
E também o espaço entre a partida e chegada, porém o não chegar,

Estas lembranças são os dias passados de olhos quase cerrados,
O sonho a erguer-se para além do sono num beijo de despedida,
De verso em verso feito silêncio, os poetas são por fim sentenciados
À eternidade de um momento, a uma passagem imortal e abscondida,

O repousar de uma beata no cinzeiro, do último homem ao primeiro,
Esquecemo-nos da criança que se foi, ainda guardada na algibeira,
Do velho que bate à porta pretendendo tornar-se no Homem Inteiro,

"Serás poeira" - enuncia o Tempo com os seus dedos apontados,
É a orfandade da Vida o espelho desta enfim apagada fogueira,
A repetir-se cada pedaço do viver na parte dos instantes fragmentados.

terça-feira, 4 de abril de 2023

Até Já Mestre Ryuichi

Aproxima-se o soalho por um silêncio versado,
Escrevemos em palavras minúsculas o rascunho,
Vamos indo andando aos círculos num quadrado,
E flui a poesia jorrando do sangue do cerrado punho,

Já pernoitei deste lugar, já desabrochei que nem flor,
Alonga-se a distância do caminho num beijo inacabado,
E a alma feita pássaro azul procura poiso, procura amor,
Ou pelo menos sítio onde poder ficar por mais um bocado,

As algibeiras repletas de sonhos mesmo que demore a chegada,
Por vezes a orfandade é do infante a amiga, sua longa jornada,
Estendida entre o que fui e o que serei numa inconfundível pertença,

Há abraços a arrancar ao destino, outros voos a esvoaçar, essa é a crença,
E dentro da voz do pássaro volutear, escapulir por fim ao tido como mundano,
E de tal farei meu Reino, minha doutrina não há qualquer dúvida ou engano!