quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Suspiros e Murmúrios

Sou suspiro e derrocada, a procura por tudo e de nada,
O pássaro azul que tenta ser e vai de boca aberta,
O aceno de olá e o adeus que reside na alma do peito cravada,
O apelo ao floco de neve em indeterminada hora incerta, 

Que em mim desperta gratidão por ter em mim nascente, 
Por um momento vivido, pela raiz e através de um ramo, 
Sentir-me acompanhado mesmo quando nem sequer há gente,
Ir pelo trilhado enfim, através do caminho que ainda amo, 

Expresso o passado por um instante outrora eclipsado, 
Esperançando alcançar o começo de outra margem querida
Por onde, por vezes, não há nada a alcançar no esperado, 

Pois por vezes ao caixão tiquetaqueamos, silêncio ouvido, 
Porém há berços jorrando entre o abismo, a ferida, 
Mesmo quando só resta o que já expirou, o perecido. 


terça-feira, 19 de dezembro de 2023

O Caminho É O Caminhar

As lembranças caiadas ao som de passos proferidos
Mediante sussurros ao descuido da manhã largados,
Passando de mão em mão, por momentos já retidos,
Onde eu, por segundos, fui outros seres fraccionados,

Dormente e ofegante, entrementes por fôlegos sustidos,
As folgas entre o pavimento, o chão, e eu em bocados,
Numa dança entre o ontem e o amanhã, os sóis esquecidos
São suspiros partilhados entre crianças, breves e alongados!

Por entre valsas perfeitas fecho os olhos e sonho ilimitado,
Não idolatrando a morte, a bruma, a tristeza, esvoaçando,
Enfim sou Homem Inteiro mesmo que por vezes encurtado,

É preciso ir e correr atrás do luar, pois há gestos ainda a Ser,
E o caminho é o caminhar, cada passo que vai assim passando,
Mesmo perante a sepultura, há altura para o salto, para o viver.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Procurando a Efémera Beleza

Entre as paredes de mármore há inusitada beleza,
Danças lentas onde se relembram certos instantes, 
Por lá torna-se o outrora vulgar na maior grandeza,
E viram-se os desconhecidos finalmente em amantes,

Resignados, aceitamos o amor que pensamos merecer,
E quando entardece, quando a noite faz em nós lugar, 
As linhas de vida escurecem, segue-nos o tentar crer, 
Mesmo quando o chão esmorece, o permitir acreditar

Confere asas a quem se esqueceu por fim de esvoaçar, 
O sonho alado, o beijo indómito, paraíso em passagem, 
Sou apenas outro poeta amador, e neste intenso almejar

Trago todos os poentes referentes a uma dada infinidade, 
Desde a monção tida em frialdade até à eterna mensagem,
Passarei segundos para sempre à procura dessa breve beldade.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Efemeridade Transcendente

Pensamentos sobre voar, sobre sob a chuva sair,
Numa jornada para as estrelas, para o infinito,
As razões para o seu sorriso, sobre o seu vestir
Constelações tal princesa de um céu bonito,

Roupas feitas de areia que a maré teima em esconder,
Enquanto estendo a mão para o firmamento indagar,
Olhando por pinturas de vidro escurecido, manuscrever
Quem disse "adeus" ao se ouvir "olá" num suspirar,

E o Verão foi partindo e o seu calor foi esmorecendo,
A multidão para casa foi procurando um lugar quente,
Num tempo sem resposta, numa noite que escurecendo

Se vai procurando no amanhecer e na sua divina beleza,
Condecorado seu beijo súbito, as cores sem fim e a gente
Que se esconde entre as pedras da calçada e na sua delicadeza.

Ecos na Eternidade: A Busca

Não quero morrer jovem, ser eterno é a pretensão,
Ruído e silêncio nestes braços ao Sol estendidos,
Este apego ansioso, outra forma de terna monção,
Nó na garganta e no estômago,  dor nos sentidos,

É preciso ir, mas como ir se a passagem está fechada?
A vertigem do coração é real, é precipício e falésia,
Olhando para dentro, seta de Cupido então quebrada,
O sono entre o tempo e o espaço, da insónia à amnésia,

Abreviado em Vida, sedento por ser na eternidade,
A libertação do coração por si próprio algemado, o ar,
Sustenho o fôlego, esta é sim a minha única verdade,

Nasci para amar magia, toda a sua maravilha conhecer,
Nasci para amar ninguém, ninguém para me amar,
Não quero morrer jovem, pretendo para sempre viver!

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

O Canto da Desilusão

Esta dor que trago no peito é minha somente,
A lágrima caída pelo canto de um luzente olhar,
Onde sou vulto passageiro de uma estação ausente,
Aonde por vezes parece que nunca chegarei a chegar,

Entre a gente e através das ruelas perdidas da cidade,
De coração quebrado, mau olhado, sem qualquer sorte,
Triste por vocação, ignorando sua canção, na ociosidade,
Pois venha a paz do caixão pois beijarei a mão dessa morte,

E eu fatigado por percorrer, cansado de ser poeta espezinhado
Pela correria da Vida, na casa partida, sem ter sequer chegado,
De iris semifusas, tão contusas, sem ter sítio para apelidar de lar,

Perdido entre os botecos, alcanço o fundo do copo, sem sequer me dar,
Morrerei por temer o amor, serei mártir e herói jamais proclamado,
Fechando os olhos, andando sem chão, sim! Penarei por não ter amado. 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Estórias na Algibeira do Tempo

Uma mão vazia e outra por poeira preenchida,
Porém trago estórias e rascunhos na algibeira,
A leve pluma do pássaro azul pela areia tolhida,
O pedaço da alma deixado no poente e na ribeira,

Há um sorriso patente no rosto de um semblante,
O vulto potencial, o beijo factual, o perfeito olhar
Mesmo quando torna o perto em longínquo e distante,
Vai sempre se esforçando para ver a flor desabrochar,

Trazendo em abraços a fragilidade, por esta geração cedido,
Em roupas ora usadas ora estendidas, diante conferidos sóis,
Por vezes preterido porém jamais alguma vez esquecido,

Vagueando onde a Lua se põe, numa metade do coração,
E quando vem o frio esconde-se debaixo dos lençóis,
Perante a mudez dos sentidos e a passagem da estação.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Cicatrizes Duradouras

Entre as margens e marés, a insegurança da respiração,
É a razão para a cedência, para a gaiola da debutante,
Este fado da não pertença é um cântico para a desilusão,
Os murmúrios entre dentes rangidos, venha o restante,

Pois anseio por beijos eternos apesar da sua efemeridade,
O desgaste da alma, os sonhos enterrados em vala comum,
É esta imanência que condena o vulto desta nebulosidade
Preenche de cicatrizes estas feridas delicadas, sou mais um,

Vamos indo no trilho, almejando a chegada, sem ser em partida,
Não percebes que fui capturado pelas linhas dessa beldade,
Entendei que entre essas margens e marés fiz toda uma vida,

Esta odisseia melancólica provém de um coração quebrado,
A natureza reflectiva do poema é indelével em curiosidade,
Então quando morrer, enviem flores bonitas ao meu cuidado.

Voo Interrompido

Linhas definidas nas plumas destas asas quebradas,
Por onde outrora esvoaçamos vou e latejo ofegante
Por onde vamos percorro com veias ensanguentadas,
Estado de mente onde nem sequer basta o bastante,

Olhar cansado, alma conturbada, falta-me o restante,
Escavado o buraco onde fiz ninho com estas unhas,
Estas paredes tornam-se numa cinza gaiola do adiante,
Delicadas feridas são as trazidas ao olhar das testemunhas

Que me vão apontando o dedo, acenando a mão ao caixão,
Uma vida ligada a um fado não nosso, vai-se o sonhado,
A não pertença é a sentença desta ânsia e preocupação,

O que me carece, o que me escasseia para além do almejado,
A droga da esperança, a agulha da crença bate no coração
E eu, entre margens, sou deixado à maré e o seu cuidado.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Há Que Partir Para Conseguir Chegar

Se ela visse os pássaros azuis neste olhar trazidos,
A boca aberta onde caem as gotas de água matutinas, 
A respiração ofegante por estes poemas imbuídos,
Este sorriso mantido somente pelas horas libertinas, 

Os seus cachos de cabelo pelos ombros colhidos, 
É diferente, assim de repente, o ver entre as cortinas,
Ela é toda a beleza que me vai agravando os sentidos, 
Ela é fado, destino, e chegada derramada nestas páginas, 

Pois se um dia não for partida e enfim conhecer a morte, 
Terei tido na palma da mão a sua, dar-me-ei por contente, 
O prisioneiro de si então por fim rendido à sua própria sorte, 

Não sou estranho à preocupação, à subtileza do apelo do caixão, 
Contudo ainda há potenciais caminhos para ir em frente, 
Há que colocar em prática o aprendido pelo coração. 

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Primavera dos Sentidos

Numa moldura escrevemos o som de uma canção,
Em papel pintado a esdrúxulas, num doce suspiro,
Entrelaçados, o seu corpo, os meus braços, um coração,
E vem a aurora, ofegantes nos damos em apartado retiro,

Vestígios de perfume por um beijo encantado deixados,
É o labirinto inefável de um silêncio que vai perdurando,
Resplandecente, no olhar brilhante por uma brisa afagados,
Há flores no seu sorriso e por onde formos enfim caminhando,

Encanto, calma e harmonia, para trás vai ficando a preocupação,
É um reflexo de refractado, é equivocado é comboio sem estação,
Anseio a silhueta que é sombra e vulto na noite e sua passagem,

Chegada enfim e finalmente a terna primavera e a sua paisagem,
Nunca esquecerei de que há vislumbres de nós em nossos lugares,
Divagados ao esmo da poesia, debaixo do Sol e dos nossos madrugares.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Aprendizes na Arte do Amor

Circundo a noite de outrora com as luzes apagadas,
Vem a poeira de um tapete persa dentro dos pulmões,
Dentro deles o mar move-se por entre terras onduladas
Onde sou esquecimento sem culpa de mil e um apagões,

Este olhar brilhante repleto de estrelas esvai o firmamento,
Procuro um novo dia sob a forma da mão que traga a eternidade,
Da escuridão estou ofegante, passa-me a voracidade do momento,
E ela assim respira profundamente numa terna e sublime beldade,

E casa não é sinónimo de lar, por isso fantasmas se deitam nesta cama,
Há alívio perante o espaço que não é meu, milhões de pontos reluzentes,
Onde eu já fui adjacente ao instante que se instalava ao lado desta lama,

Insónias e ausência de sonhos não pode ser existência para o trovador,
Porque tenho uma certeza, este Amor é a outros tempos pertencentes,
Consequente esta é a verdade, em cada um de nós existe um amador.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Parece

Parece que levemente a palavra da página foi virada,
Não regressou enfim aquele beijo outrora retornado,
E eu fiquei triste e apeado no meio da cinza estrada,
Sem sítio para ir ou ficar, tão perdido e transtornado,

Parece que lentamente foi o dom da expressão escondido,
Num momento lúgubre detido pela falta de um coração,
Encalhado na nostalgia do passado, a quimera ferida
É sonho sonhado feito de estrelas, feito de oração,

Parece que sou homem realizado somente por metade,
De garganta seca com sede por um tempo sempre vindoiro
Que aparenta não vir e que despoleta toda esta saudade,

Parece que o comboio veio e já foi, e eu nem na estação,
Sem chegada ou partida, neste caixão acabado em oiro,
Eu sou só mais um poeta, esta é a minha bênção e maldição.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Infinita Monção

Preenchidas algibeiras de ossos recheados de nada,
Não voltaremos aquele singelo sítio chamado de lar, 
Sustemos o fôlego por um momento sem chegada,
Dizemos obrigada e regressamos ao não lugar, 

Pois já fomos passageiros do comboio sem vagões, 
Levanto o braço e não sinto entre ele a brisa, 
São as meninas bonitas que escavam os mais belos caixões,
E costuma ser o poeta que se perde aonde pisa,

Precisamos de balanço, ainda estamos longe da distância, 
O quebranto da água a bater no soalho é apelido
Da lágrima estalada, da madrugada e da sua instância,

Próximo do fim, sem ver a eternidade, parte-me o coração,
De dedos cruzados, esqueci das estrelas que havia vestido, 
Somente há funis sem fundo, assim vem a infinita monção. 

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Melancolia Outonal

Estes passeios repletos de folhas caídas em noites contadas,
Devagar inundam as artérias inóspitas, as ruelas sem lugar,
Parecem mais longas do que são, contêm outras passadas,
E sobre a terra húmida sinto-a a descer, quase a solavancar,

É a melancolia própria do Outono, de uma quase não estação,
Entre lábios murmúrios de palavras há muito tempo silentes,
Onde nos perdemos dentre o trilho, perdemos o nosso vagão,
E nos preenchemos em restos de chuva num abraço latente,

Embalo a enxurrada como se ela fosse uma filha, um familiar,
E parece nunca acabar, mesmo quando a pouso neste chão,
A sombra que vem e vai da qual pareço não conseguir escapar,

O espaço que vai daqui ao horizonte, o pulsar deste coração,
Que bate, como não, a dançar e com o aguaceiro a se enrolar
Basta-me ficar, só mais um instante e estarei pronto para o caixão.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Jornada do Homem em Busca de Si Mesmo

Quando vier a tarde e cair a noite, vou-me embora,
Para um sítio solitário para onde vão os perdidos,
Independentemente do momento ou sequer da hora,
Abrirei um sepulcro para sepultar os em batalha feridos,

Quem haverá que me defenda ou, em boa fé, resguarde?
Num doce e gentil gesto de imaculada e delicada brancura,
Quando vier a tarde, quem haverá que no seu peito me guarde
Ou diga por belas palavras o quão foi muito nobre a aventura?

Pois por vezes perco a formosura, a vontade de ir e ser adiante,
O crente perde a crença, o olhar bem focado no seu horizonte,
Mesmo quando esse horizonte não aparenta ser tão distante,

Apesar do medo do escuro quando sol nem sequer é soalheiro,
Procuro a fé, procuro a força para, sem temer, passar a ponte,
Lá no fundo dói, e por dentro me rói, esta busca do homem inteiro!

Tão Longe, Tão Perto: O Lar do Coração

Incessante procuro o sítio a que possa chamar de lar,
E ela pode-me dar a mão, pode-me ensinar a amar,
Supondo que o tempo passa e não volta para trás,
Sabendo que por vezes é difícil passar por horas más,

E tenho saudades de tocar singelamente no seu rosto,
Andarmos de mão dada e no seu ombro sentir o recosto
De uma alma concedida a um amanhã ainda por ter vinda,
Relembro e celebro o seu semblante numa só moção ainda,

Mesmo quando não durmo e os maus pensamentos afloram,
O meu coração bate mais forte a pensar nela, a si se decoram,
Ensinam-me que podemos ser maiores do que o que existe na Vida,

Vejo-a e num frondoso retoque então sei que ela é a minha querida,
Por um sonho beijado que um dia espero que seja enfim realizado,
Trago-te na algibeira do peito, perto de mim e do que tenho sonhado.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Quem Tem Terra

A subtileza da sua voz, uma proporção de encantamento,
Pergunto se haverá porções que poderei levar no caixão,
Enquanto vou retendo a terra da passagem do momento,
Lembro-vos, suponho que o passado tem sido por estação,

E estas mãos têm criado logo tenho sido Deus na terra,
Que vem e me enterra, cada vez mais profundamente,
E cada fragmento que inalo torna paz o que era guerra,
A aceitação do sonho de outrora e vindouro faz o crente,

Entrementes, recordo as asas no limbo entretanto perdidas,
A busca incessante por significado, por sítio, por lugar e lar,
Sentir tantas vezes estas estocadas pelo tempo investidas,

Tantas vezes que por vezes até desconhecia onde ficar,
Por isso passava além do que eram as margens queridas,
Fazendo por esquecer o que era permitir ser ou mesmo amar.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Sonho Matinal

Almejo acordar ao lado daquela esbelta donzela
Que me faz o coração saltitar sempre tão ofegante,
Olhá-la nos olhos, permitir ser osculado só por ela,
E nesse momento em que tudo parece menos distante,

Aguardar as suas pálpebras abrirem para este mundo,
Naquele instante abençoado por dois olhares atentos,
Sacudir de seus lábios o tom do silêncio mais profundo,
Entrar com a luz pelas janelas tal o renascer de rebentos

Que florescem libertos numa somente sua doce cantiga,
Numa melodia soalheira, revelando assim o seu despertar,
As brisas passageiras, o vento refrescante e a manhã amiga,

Escancarar a porta e permitir o som dos encontros reentrar,
Deixar o pássaro azul encantar numa canção que nos bendiga,
Sim, de entre todos estes sonhos tidos posso ainda estar a sonhar.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

A Queda de Uma Folha de Outono

Cai oblíqua, incidente sobre o desnudado pavimento,
E eu, de boca aberta, aproveito para a poder saborear,
É esta propensão para a queda, a intuição do momento
Que permite ser num breve instante no céu, no esvoaçar,

Cai silente, subsiste um ruído nulo e vem num sossego
Que é o pisar sobre folhas outonais num lene murmúrio,
Tão doce e tépida, numa doce enxurrada, num aconchego,
Vai rebatendo na moldura da janela azul que em infortúnio

Relembra-me a passagem do tempo em doce melancolia,
Sobre o berço as suaves boas-vindas que vêm sem demora
Quando nos despedimos sobre a pernoita de mais um dia,

Cai branda, cai ténue retraçando os passos dados outrora,
Vejo-a pelo canto do olhar procurando a sua única magia,
Esperando assim o tique e o taque de uma forasteira hora. 

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Esperança e Ciclo da Vida

Reavivemos a imensidão do homem outrora morto,
Preenchendo o vazio com memórias e esperanças,
Navegando e trazendo a maré enfim a bom porto,
Esperando por boas sinas, bom fado e bonanças,

Trago areia entre os pulsos, entre a palma da mão,
Os segundos que fui, as sombras no que é destinado,
Ao destino, não a chegada, o bater atento do coração,
A vontade de ir além do e pelo horizonte açambarcado,

Há crianças brincando entre a face de um velho enrugado,
Encharcado por momentos, ensoleirado por aceitação,
Tentando ser um homem melhor por cada seu bocado,

Cativando com ênfase num beijo pelo Universo libertado,
Por cada queda da folha, por cada passar de cada estação,
Almejando de que pelo menos cada Amor tenhamos amado.


sexta-feira, 13 de outubro de 2023

A Vida é o Que Acontece Nas Encruzilhadas

Há suspiros a aguardar a sua altura para serem libertados,
Marinheiros naufragados abaixo de cruzes em cruzamentos,
Guiam-me as falésias do coração, esses instantes eclipsados,
Por onde as sirenes são o pelejo escurecendo destes momentos,

Se apanhar as fagulhas nas palmas das mãos, tudo melhora,
Estas avenidas são para os mortos que a mim antecederam,
Ao longo do tempo tenho sido só o passageiro da fugaz hora?
O segundo entre muitos, o sono acordado nos que remeteram

Os seus sonhos ao zénite mais alto, à noite de magia encostado,
Promessas sussurradas, suas mãos nas minhas, por fim em paz,
Paz para este olhar triste, para esta ânsia louca, o ser encurralado,

Por isso albergo as estrelas nestas lágrimas, as gotas dos mares
São pertença, sentença para a passagem das horas que o vento traz,
Vindoiro o para sempre, trocarei esta alma se tu por enquanto ficares.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

A Seta Quebrada

Repleto de estrelas são os horizontes distantes,
Que esta vara se levante, que conte seus contos,
A paixão de outrora, a estocada viril de um antes,
A recta rascunhada entre a certeza de dois pontos,

Esta quietude é aparente, difusa, muda e impotente,
Sem conseguir entrar, o cego por quem vê ladeado,
Ele bem quer, ele bem tenta ir e tenta ir em frente,
Porém não consegue, é velho, é de homem bocado,

Rasgado o silêncio, as noites por dias então passados,
Escrito no grito silente de quem vê a mocidade passar,
A angústia é perscrutada por vários corpos definhados,

Cicatrizes negras e profundas, o eco à serenidade destinada,
Revoltado por uma sina não esperada, a necessidade de arfar
O ar que não entra, não pujante, não libidinoso, a seta quebrada.

sábado, 7 de outubro de 2023

Árvore dos Sonhos

Por onde andei, havia uma árvore sonhada,
Um instante onde sentia por fim a pertença,
Eu era uma criança com a alma lá cravada,
Numa quimera grandiosa, sem cruel sentença,

Dessa árvore caíam folhas na altura do Outono,
Revestindo o soalho a amarelo, as cores de então,
Onde fechava os olhos e entrava num eterno sono,
Permitindo ao momento vir e ser dentro do coração,

Chorava dentre o riso, entre o vento e a rama, perdido,
Suspirando o desabafo enquanto o beijo era libertado,
Quem é que disse que a chuva nos lavaria num dia ido?

Era somente um criança brincando numa infância nostálgica,
Tantas lágrimas e começo a afogar-me nesse tempo amado,
Mesmo que me tenha desviado do caminho, há a eterna mágica!



quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Entre Dois Corações Através do Tempo e da Distância

Nesta praia vejo porções de passos emparelhados,
E a sua mão na minha atravessam o lesto oceano,
Onde se aventuraram alguns marinheiros encalhados,
Por onde fomos adiante perante as ondas e o insano,

Nostalgia do que passou e dos instantes ainda por vir,
Saudade de momentos em que em um nos fundíamos,
Num terno e eterno sonho sonhado a chorar ou sorrir,
Contornados a corações de papel, onde belos urdíamos

Firmamentos repletos de estrelas entre horizontes distantes,
Apesar da distância, trago o seu coração neste coração,
Ondulando de onda em onda em doces beijos mareantes,

Trago-a no espaço que corre atrás do tempo, nestes ventos
Que afastam e unem duas almas solitárias juntas pelo vagão
De uma Vida e seus caminhares e seu inabituais cruzamentos.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Até o Amor Dói

Que abismo abrirá este cárcere para matar esta dor?
Cairei tal estrela cadente entre as nuvens adjacentes,
À sepultura de uma vida, entre os dentes de uma flor,
Até o amor dói para os crentes ou mesmo descrentes,

Preciso de oxigénio e que me ensinem enfim a respirar,
Pois de olhos fechados perco o meu sítio, perco o lugar
Que me mostra o além do horizonte, o doce nascente,
Até o amor eleva o doce crente ou até para o descrente,

Esquecemos os votos, ficando apenas com a nostalgia,
Que é ilusória, que é fictícia, um pé para trás da berma,
Amor, percebe-me, só pretendo aquele pouco de magia,

Não as migalhas que semeias nesta fonte de água sedenta,
Não as côdeas que plantas nesta ria com esta tristeza enferma
Que me prende, que me amarra, que em mim vem e rebenta.


quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Beijo Dado no Pavimento

Estorva-me este beijo dado no pavimento,
Serei substrato sob o solo enfim deixado,
Por cada passagem do instante, do momento,
Parece que por mim jamais fui ainda perdoado,

E apega-se na vista um lenço tecido de poeira,
Vejo menos com cada passado aqui conferido,
E logo se me quedo, recaio, me dá a canseira,
Da estrela cadente através de um céu querido,

Vou escutando uma voz dentro de uma cave fechada,
Questionando se pretendo tudo ou se quero nada,
Eu, a sombra de um vulto, o vulto tornado semblante

À distância de um além do horizonte, o petiz infante
Em que cujo olhar cabia o céu, esquecido à orfandade
De um beijo dado no pavimento numa eterna beldade.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

E Esmorece-me o Chão

Estas antigas feridas tornam-se numa prisão,
Respiro restos de ar de um sítio sem pertença,
Agora que dois se afastam do bater do coração,
Baixo o olhar, esmorece o ânimo, vem a sentença

Onde sou juiz, júri e carrasco de um olhar penante,
Despeço-me da alegria de viver, revolvo as costas,
Bebo da fonte desta sede e esta água é estagnante,
A morte do sonho, o largar da mão, a cair das encostas,

E falta-me corrimão tal é a ausência de um porto de abrigo,
É óbito da quimera, as mentiras adjacentes, a bater no fundo, 
Transformando Éden no Inferno, de amor sou ainda mendigo,

E estou cansado de não dormir, este é um dia moribundo, 
De que me serve sonhar se depois acordo? É este perigo
De amar de que ninguém fala, a dor de acabar em segundo.

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Em Busca do Lar Interior

Nos olhos trago o mar, um oceano e um deserto,
A ti, envolvida por lençóis, pela brisa envolvente,
Vou ouvindo o trautear do relógio sempre incerto,
Porém, desta vez, nesse tiquetaque há algo diferente,

Parece bater mais próximo do ventrículo esquerdo,
Permitindo o sonho erguer-se para lá deste horizonte,
E sentindo na sua plenitude e ser na ausência do medo,
O deixar de ter sede da própria sede, enfim beber da fonte!

Para trás um Inverno longo por gerações e épocas contado,
Entre lembranças difundidas por um eco entretanto disperso,
Esta é a ilusão de um tempo retornado finalmente em passado,

Essas sombras dançando nas paredes serão vultos na madrugada,
Alcançando o zénite, as roupas usadas deixam de servir, e eu absterso,
Procuro o sítio para chamar de Lar, deixar por fim de ser servente da estrada.

Reflexões Efémeras e Transcendentes

O silêncio destas palavras traz-me serenidade,
É efémero pensar que para sempre aqui estarei,
Será que deixarei aqui uma marca na eternidade,
Algum vestígio regular daquilo que fui ou serei?

A luminosidade que ao peito é brisa então trazida,
É um subtil beijo na aurora, sussurro na alvorada,
Lamparina entre a escuridão crepuscular aduzida,
Por vezes, sou os ecos entoados através da estrada,

Aconchegado no sonho, há ternura e esta encantação,
O céu fica mais estrelado, é a serenata aos sentidos,
E neste espelho vejo finalmente esta minha reflexão,

Esta é a altura para nos erguermos da silente sepultura,
Tomarmos novamente as rédeas destes fados enaltecidos,
Despertar a claridade para além do horizonte e sua envoltura!

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Resgatado

Resgatado, fui prisioneiro da adversa pluviosidade,
Refém maldito acorrentado entre quatro paredes,
Retratado por pincéis cinzentos, sem idoneidade,
Entre labirintos internos, capturado por mil redes,

Resgatado, outrora sem visão, o fumo era nos pulmões,
E as asas eram iguais às de Ícaro, nunca iria muito longe,
Almofadado por pensamentos negros, sem ter travões,
Onde as sombras eram lar, mas o hábito não faz o monge,

Resgatado, a madrugada aproxima-se e toda a sua maravilha,
Vou trilhando entre as bermas, vem-se o sorriso ao rosto,
Tenho sonhado, pois tenho dormido, tenho sido em partilha,

E eu, resgatado, frágil e delicado, deixando o medo para trás,
Finalmente preparado para Viver, penso que paguei o imposto
Do anteriormente devido, está na hora de postergar as horas más.

Renovação Almofadada

Abrindo as asas procuro finalmente por redenção,
As fracções de esperança que o mundo tem morto
Não foram o suficiente para desanimar o coração
Ou permitir as velas deste barco o levar a bom porto,

E pelos Outros, pela noite adentro, já não sou perseguido,
Disse adeus às preocupações, aos tumultos da alma,
Outrora era pela ausência de sono então inquirido,
Não encontrando descanso ou sequer em mim calma,

O sol raia lá fora, a chuva aparenta ter por fim acabado,
E eu, apesar de impaciente, sinto de novo este sorriso,
Os fantasmas vão escasseando, pois, o passado é passado,

Para todos os efeitos, clareia-se o dia, regressa a madrugada,
Enfim deciframos o essencial daquilo de que não é preciso,
Este é a minha crença e fé pela altura do precipício almofadada.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Renascimento nas Estações

Renuncio à obscuridade da noite, venha a aurora,
Esperei toda uma vida por este vindouro instante,
Regresso ao paraíso, lugar ao qual pertenci outrora,
Hoje percorro buscando o Inteiro, o factual inobstante

Dos caminhos já percorridos, dos beijos então concedidos,
Procuro pertença, não a vil sentença dada pelo soar do vento,
E eu, entre mil paredes labirínticas de desejos então atendidos,
Digo-vos, esta Vida tem sido num piscar de olhos, num momento,

Estas pegadas, silentes perante a perfídia de um tortuoso caminho,
Agora firmes e obstinadas, segurando o coração na palma da mão,
Revinda a Vida, acompanhado por anjos, não mais aqui sozinho,

Porém ainda tenho tanto a aprender e tanto pelo que pedir perdão,
Portanto, entre o sim e o não, sorriso no rosto, doce amorzinho,
Aqui farei o meu templo a Afrodite, erguido de estação a estação.

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Reflexões de um Caminhante Solitário

Estes passos antecedem os tempos doutrora,
Ouço-os levemente pelos corredores entoados,
Esculpidos algures entre o crepúsculo e a aurora,
Doces pedaços vigilantes de facto de outros bocados,

Pássaros fugidios distintos somente pela sua coloração,
E eu encostado à berma da estrada, com mãos de velho,
E um corpo enxovalhado, batendo apenas parte do coração,
Esquecido pelos demais, de olhar baixo, sem reflexo no espelho,

Num breve silêncio, olhando para o interior da alma, envolvente,
Onde pontos abstractos lideram o caminho e eu quase sozinho
Quase vejo a origem deste caminhar, o olhar de uma nascente,

À passagem, à quase intenção de falar onde palavras eram perdidas,
Então sussurrava, indistinto, diferente do habitual, lá ia o rapazinho,
Feito velho por dentro, procurando por si onde sentenças eram urdidas.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Rendição ao Amor: Passado Dissipado, Presente Abraçado

Enfim sorrio perante uma silhueta quase erguida à perfeição
Pois encontrei finalmente o amor, à sua beleza sou rendido,
E estas brumas dissipam-se, é possível por fim dar a mão,
Sob estas passagens concretas, não mais estou rescindido,

Sim, somente por agora, libertarmo-nos deste fardo antigo,
O passado não significa futuro, deixemos a desesperança,
É preciso desamarrar as suas algemas, deixar esse castigo
Que nos enforca, que nos fustiga, que ladrilha a insegurança,

Por um pouco de tempo respirar bem fundo e permitir o ser,
Secretamente este instante é tudo alguma vez pretendido,
E esta passagem, barra, aragem, tudo o que anseio aqui ver,

Serei uno com o presente, a sorrir no sonho entretanto sonhado,
És assim a quimera, a seta de Cupido em mim e no céu difundido,
Com as constelações, galáxias e supernovas estou aqui alinhado.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Reflexões do Isolamento Interior

A mente inquisitiva reconhece a fraternidade do frio,
O seu rio congela no declive da alma de si esquecida,
Qualquer sinal de sanidade dá espaço a um infindo vazio,
Sou eu então o tamanho para a pendência e a sua medida,

A ideia cabisbaixa, o sorriso lúgubre de um soturno toque,
Os pingentes de gelo que permitem a este caixão estar fechado,
Não são mais do que novas maneiras de ter uma visão e enfoque,
Pois dos passos retraçados, perseguimos um fantasma requebrado,

E eu, agoniado, partido sem ter chegado, será que algum dia chegarei?
Sorrio cansado, de lágrima no canto do olho, sendo o eterno fora da lei,
Até quando irei sem regressar, caindo em minhas próprias passadas,

Com este olhar penitente, fora da cabeça, contra estas cabeçadas,
E se eu eventualmente começar a chorar, deixem-me ir, deixem-me passar
Pois por vezes não encontro sítio, por vezes não encontro o meu próprio lugar.

Uma Jornada do Humano ao Divino

Se olhares bem, bem fundo nos meus olhos,
Consegues ver estrelas, abóbodas aos molhos,
Reflexos de constelações e partes do firmamento,
Píncaros do altivo, do esplendor do divino fragmento,

E este sentimento, finalmente o Humano ultrapassado,
Faz-me sentir como um Deus com o coração retocado,
Com razão e emoção lado a lado, o eterno pretexto,
Marquem, pois, a suor, lágrimas e sangue este texto,

Percorri o caminho, prisioneiro dos próprios passos,
Acorrentado ao passado, aguardo enfim a libertação,
Esquecer este peso no peito e aqueles tristes percalços,

Permitir vir o sono e o sonho com a Vida esperançada,
Sorriso no seu sorriso, conceder-lhe por fim esta mão,
E que um dia provenha a Terra, tão imensa e ansiada.

O Toque em Busca de Pertença e Amor

As luzes incandescentes e mãos procurando chão,
Pretendo ver além desta bruma, desta escuridão,
Pois estas paredes hão-de em jaulas enfim tornado
Eu e a mim de que me vale sonhar se estou acordado?

Não anseio não pertencer, almejo por um lar, por um lugar,
Com estes pensamentos acossando esse desejo, alarmado,
Ouço o silêncio, temendo as subtilezas desse simples abraçar,
Porém o seu olhar, a sua beleza faz-me sentir por fim encontrado,

Não quero ser barco naufragado, passar por um mau bocado,
Apenas sonho com o seu beijo e abraço por fim e em mim,
E se um dia, ela me deixar a meio da viagem, a triste miragem,

Espero ter a força para me reencontrar de novo e enfim,
Pois não é fácil amar, não é fácil arriscar e me dar à aragem,
Para ir além e ser com alguém, antes é preciso ser tocado.


sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Jornada da Aceitação: Entre Lágrimas e Belezas

Uma lágrima mais no mar, outra gota no oceano,
Esperando ver o sorriso mais esbelto do mundo,
Adornado Sois e Luas, por vocação sou soberano,
Após a queda, aguardando afundar-me no profundo,

Enterrado entre os silêncios inauditos, sons malditos!
Bebendo até chegar ao fim do copo, chegamos tarde
À fantasia, à ternura da tragédia, aos sítios recônditos,
E está tudo bem, pois há beleza que a mim me resguarde,

Por isso devo deixar ir e atirar-me de face na enxurrada,
Fechar os olhos, esticar os braços, ser a onda permitida,
Assim vamos e colocamos os pés perante a vil estrada

Só assim vamos indo e deixamos a trilha outrora submetida,
Em molduras vamos pintando vestidos a cal esbranquiçada,
E, portanto, encontramos a "tal" sobre o coração sustida!

Um Poema Sobre Relacionamentos Passados

O nó na garganta, o estômago então apertado,
Há o trajecto de duas vidas e a sua ansiedade,
A preocupação por algo enterrado no passado,
Por isso recontam-se as raízes desta mocidade,

Vejo-a vividamente e por quem ela foi tomada,
E vejo a minha alma triste, penante, quebrada,
Por ela ter sido básica, fútil, e talvez até vulgar,
Porém neste instante, é a única que quero amar,

Então que se vá esta névoa sobre os olhos envolvente,
Que se faça de novo no incrédulo enfim em crente,
Pois não consigo não rever, não consigo me conter,

Os uivos dão lugar a suspiros, a corações partidos,
Mas acreditem no que digo, somente quero crer
Que bem lá dentro, ela seja diferente em todos os sentidos.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Banho Frio na Mente Agitada

É quando vem um banho frio e me passa pelo olhar,
Que me apetece desaparecer do mundo, aqui acabar,
Temo a companhia daquela que me traz novamente
A um estado de vulnerabilidade e então, realmente

Perco-me em pensamentos intrusivos, vem a inquisição
Estas mãos diligentes e folgadas, em si conspurcadas,
Não pretendem permanecer no vazio destas estradas,
Porém reparo que tenho razão no instinto, na intuição,

E torna-se complicado viver na mente, através deste ver,
Não me arrependo do passado, mas custa-me aprover
Legiões de demónios, legiões neste ombro abancadas,

Pois vão passando os tempos e vão passando as temporadas,
E eu fui outro numa vida que já não recordo, de mim me esqueci,
Não sei por onde caminhei, mas sei que quando nela toquei enfim vivi!

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

O Tiquetaque da Passarela da Vida

Há brisas que sopram que nem doces promessas,
Tal farol no nevoeiro, compasso para um deserto,
Após a terra, sujidade e poeira nas unhas impressas,
Há também espaço para o tiquetaque que é tão incerto,

Tenho pouco tempo para viver exponencialmente,
Ofegante por ela, suspiros deixados entre janelas,
Ainda há a tanto a fazer e experienciar felizmente,
Tornam-se as horas feias finalmente em horas belas,

Os segundos exsudados lugares entretanto passados,
Esticando os braços,  estalando os nós destes dedos,
Vamos ficando inteiros deixando homens fragmentados,

Há ganho nessa perda, há momentos que anseio tocar,
Por isso vou passando na passarela da Vida sem medos,
Pois tenho noção de que só essa vivência me permite amar.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Turbulência Interna: Reflexões de uma Mente Agitada

O olhar cerrado rodeado por pontos de exclamação,
As subtilezas das sombras e bruma no pensamento,
Tantos vultos e semblantes, tantas formas de tormento
Que preenchem por inteiro as artérias em sublimação,

Suponho que há momentos em que somos perdidos
Em oceanos de tumultos de dúvidas e até repetições,
Há dias em que a atribulação é evidente no subentendido,
O algoz de joelhos pisados, a fúria e as suas conturbações,

Pensamos demasiado nas impossibilidades infinitas,
Os galhos destas árvores ramificam, ficam maiores,
E de tanta convulsão deslindamos as noites incógnitas,

Sem espaço para o sonho, sem espaço para o sonhado,
O sono torna-se num luxo, desliga-se a luz dos bastidores,
E o cérebro de tanto pulsar fica por metades, fragmentado.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Calçada do Tempo: Entre a Busca e o Encontro

Colidimos com os átomos por um instante abreviados,
Perguntando por onde fomos, qual o trilho percorrido,
A Vida permuta destes poros e dos seus doces cuidados,
Sou seu destinatário, imputando o ganho no já incorrido,

A estrelas caem, caminhando no tempo e na sua calçada,
Rezamos, prostrados que haja candeias para os perdidos,
Pois tanto vem como vai a noite, aguardamos a madrugada,
Para procurarmos outro lugar, não mais estarmos escondidos,

Ressoam os trovões e os lampejos, levantamos as mãos ao céu,
A tempestade cria-se e assim eleva-se no horizonte distante,
Lágrimas caem no rosto, parece que encontramos nosso apogeu,
 
Encontramos algures nosso lar, a imagem é trazida em felicidade,
Somos sonhadores e amadores escapando à chuva, não obstante,
De grinaldas ao peito, no arco contrafeito, não mais esta orfandade!

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Vida nas Calçadas: Entre o Passado e o Futuro

As calçadas são o pavimento do deitado,
Levado pela chuva, pejado pelo seu destino,
Por onde estas paredes e tectos sou procurado,
Acossado por um rosto para mim sempre clandestino,

Roupas penduradas indiciam um momento passado,
Estas ruas foram percorridas noutro instante de vida,
Bem acordado, na terra dos perdidos sou fragmentado
Entre aqueles que fui e aqueles doutra margem vivida,

Pois apontamos para o horizonte, erguendo essa ponte,
Deixando para trás a angústia, o medo e a ansiedade,
Esta sede de si mesma é saciada pela eviterna fonte

Que mostra os dias vindoiros, o tempo ainda por acontecer,
Preenchendo o peito de brilhantes luzências, de verdade,
Ainda estou por cá num beijo duradoiro no espelho do ser.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Suspiros ao Horizonte

Estas asas alcançam o zénite do horizonte,
Olhando através de vidros azuis, libertado,
Vão erigindo fortes há muito idas pontes,
É o coração que se completa, não quebrado,

O quebranto do passo dado vai e esvaece,
Cerrando os olhos e abraçando a madrugada,
Viandando vou por onde a Vida vai e acontece,
Não mais perdido entre becos da noite enrugada,

Não é fácil esperar tal como não é fácil procurar,
Por vezes vai-se o tacto ao momento presente,
E a enxurrada vem e cai da qual é preciso curar,

Porque dos tempos passados serei agora ausente,
Para no ouvido de um futuro poder enfim suspirar,
Tenho a mão no sorriso que trago para o remanescente.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Entre Anseios e Esperas

Eu pertenço às fagulhas tidas no cisco do olhar,
Há flores neste jardim por caleidoscópio vistas,
Leve anseio de quem já não precisa de procurar,
E se deita nas folhas caídas das árvores intimistas,

Há um tempo e lugar, para ansiar e para esperar,
Por um momento tenho asas nos pés descalços,
O mundo vem assim tão depressa e tão devagar,
Que vamos indo ante o firmamento e seus encalços,

Doces percalços, este de sentir por cada poro, Vida,
Alongando as pernas, ansiando a margem querida,
A sua voz torna-se nítida e o seu semblante eterno,

Perdendo-me no seu abraço e no seu abraço fraterno,
Fechando as janelas de vidros azuis num doce suspiro,
Hei-de encontrar-me finalmente neste presente que aspiro.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Em Busca da Alvorada

Vim a esta Terra cantar sobre o firmamento,
De pés descalços, entre o choro e o sorriso,
Tentando lentamente capturar o momento,
Por onde vou sem explicação ou sequer aviso,

Ouço corações ao longo desta branca estrada,
Trilhando dias e noites, confuso ou encontrado,
Pois nem sempre a flecha do Cúpido é endireitada,
E por onde vou procurando o sonho bem acordado,

E a sua voz, deixando-me de noite sem o descanso,
Vou por onde me canso, vou por onde pretendo,
Sem luz ou sequer ideia, entre estrelas e ranso,

Não me amanso, busco o final da eterna caminhada,
O beijo que toca na alma, o regresso dessa alvorada,
Pois quero tudo ou nada, não apenas um simples remendo. 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Em Busca do Eterno Percalço

Por favor, espera por mim no final do já trilhado,
Com vossa mão o nevoeiro parece menos denso,
Olho para trás e vejo o caminho entretanto passado,
E tenho medo do escuro, daquilo que por vezes penso,

Sou um estranho reflectido no espelho de outra pessoa,
A poeira apensa-se ao corpo, vou ficando fragilizado,
Pois as rugas afloram à mercê do tempo e tão à toa
Perco noção do Amor que tenho, deste peito tocado,

Porém anseio vulnerabilidade, o estar nu e descalço,
Perante o beijo inevitável, perante o doce descanso,
Pois o Amor é inabalável, é o eterno e cíclico percalço,

Onde muitos perdem o fôlego, onde desistem de nadar,
Porque a maré é alta, apesar das ondas submergirem eu amanso
O Oceano que traz o esquecimento e então vou aprendendo a amar.

terça-feira, 25 de julho de 2023

Promessa de Inteireza

Debaixo de um céu por estrelas encoberto,
A ver os passos que aqui me foram trazendo,
Ornado por brisas de um vento que vai incerto,
Nele vestígios do Homem Inteiro que vai sendo

Por tentativas, procurando não viver por simples metade,
Não chorarei como os outros, darei ao tempo espaço para ser
Mesmo que por vezes a Vida seja madrasta e traga orfandade,
A resposta encontrarei ao prenúncio da busca por um pleno viver,

Que seja real e que traga luz e dissipe a insegurança, o medo, a ansiedade,
Pois trilhamos por onde o Cúpido pretende um beijo, e a verdade
É que trago as estrelas que vi num olhar único e simplesmente singelo,

Pois mesmo que por vezes chova, a maior parte delas há sempre algo belo
Para ver e tocar, independentemente daquele tempo que demora a chegar,
Prometo, juro, faço das tripas coração, serei vosso até de mim me distanciar.

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Não Obstante, Em Busca da Felicidade

Vejo-me reflectido no vidro azul por mim embaciado,
O fôlego ofegante por um instante enfim eclipsado,
Faz de mim nostálgico, afogando-me em saudade,
Por um sorriso em partilha onde procuro a felicidade,

Porém há tanta contrariedade, deambulo no adverso,
Escrevendo a frase de estrofe a estrofe, de verso a verso,
Sonhando com a donzela que por fim me queira dar a mão,
E que me preencha de vida e que me reavive o coração,

Pois canto esta canção, e o seu suspiro reconhece-me tão bem,
Sou amigo do Outono, do carrossel que vai e por vezes não vem,
E tenho medo da escuridão, do tempo em que vai caindo a monção,

Contudo vou buscando nesta Vida o que sempre será uma bênção,
Este olhar é somente para a ver, estes lábios apenas para a beijar,
Não me é mais importante de que só vá, hoje pretendo enfim chegar.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Repouso Para o Coração

Sonho acordado no instante de um simples suspiro,
De mãos dadas inalando o pólen de um passado,
Caminhando além, onde há vestígios de um respiro,
Ainda não conferido, a mim quase ainda endossado,

É fragmento da flor, uma pétala por um beijo tocada,
Procuramos um ombro ao qual enfim chamar de lar,
Por isso imagino a bela donzela na luzência revelada,
Por isso vamos ansiando por um dia nele repousar,

E já estou quase a chegar, falta apenas o próximo passo,
Sinto-o nestes ossos que necessitam de por fim descansar
Num momento esbelto tal o retornar de um compasso,

Áquele sítio bonito onde palpita e é um simples coração
Que na sua beleza finalmente vai e consegue esvoaçar,
Farei um templo desse espaço, e da sua cantiga a oração.

 

domingo, 16 de julho de 2023

O Limbo do Não Momento

E assim passou o tempo da nossa canção,
O vento o encaminhou para outro lugar,
Ficou a lágrima da saudade, a inquietação
De alguém que se tinha esquecido como amar,

De rédeas soltas, e novamente estas palmas vazias,
Estes sonhos só fazem sentido quando neles estás,
Não tenho como me aquecer nestas horas frias
Que passam tal andorinha evadindo as estações más,

As falésias tornam-se mais altas, os desertos mais vastos,
E os instantes trazem a solidão e a escarpa sem voz,
O silêncio entre adagas e o sossego entre os rastos,

Quando partiremos deste limbo, deste não momento?
O espaço entre a vida é real, sabe a amarra tão atroz
Entrementes o poema é não corrido, e eu de nós – fragmento.

terça-feira, 11 de julho de 2023

Estilhaços Passados e Esperança

O sonho de um instante de olhos cerrados, 
Atirados para a profundeza da madrugada,
Parece que por vezes para trás ficam bocados
De um quase inteiro tornado porção fragmentada,

Quando é tudo ou quase nada, um coração latejante,
A lâmina na artéria, corte de papel no vento norte,
Somos indómitos, inabaláveis, no tempo gritante,
Abafado por uma memória inglória, por má sorte,

A nostalgia de quem é para um futuro propelido,
Galopando adiante com cascos feitos de imprevistos,
As roupas usadas esticadas no pedestal do amor perdido,

Por isso me é difícil dar a mão, ser, estar, permitir o coração,
Porém há espaço entre as cicatrizes, por momentos revistos,
Há sempre novo tempo para permitir e deixar cantar esta canção.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Fragmentos de Encantação

Nestas estrofes há fragmentos de encantação,
Pequenos pedaços daquilo que é pássaro a voar,
Tal partida para o peregrino no entoar de uma canção
Que é a procura por um novo e surpreendente lugar!

Há beijos ainda por serem partilhados na palma da mão,
Momentos belos e doces ensejos repletos de luz e cor,
Recolhidos por um toque e um olhar com botas de algodão
Que lentamente ficam e vão, no princípio e fim tal ornador

De estrelas cadentes em paredes de papel feitos de firmamento,
De estações de comboios que vão passando, oh doce rebento
Que me alumias o ver a alforrecas subaquáticas, o mar sonhado,

Que se estica de um alpendre para um horizonte quase alcançado,
O poeta sempre deixa impressões digitais na superfície da eternidade,
Independentemente se compreende ou não compreende a sua beldade.

sexta-feira, 30 de junho de 2023

A Passagem do Tempo

É o pêndulo do relógio o tempo a a sua passagem,
Assim rebatido às areias da ampulheta, impaciente,
O passado e o futuro não mais do que uma miragem,
Que passa ou não aparenta quase vir assim de repente,

A  passagem do tempo é sombras pousadas em cadeira,
Poltronas vazias perguntando quem um dia lá se sentou, 
Os momentos que outrora foram reais agora com poeira, 
São a aprendizagem do rosto que o vento foi e enrugou, 

Os instantes de sol, os instantes de chuva são a indagação, 
De costas para a parede, o tiquetaque  sorrateiro, 
Relembra que segundos são vultos deste coração

E que cada um deles contribui para o homem inteiro, 
Infinito,  o eterno gratuito, a força de cada estação
Feita alma, feita sonho, feita luz brilhante ante o nevoeiro.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Ondas Melancólicas e Sonhos Submersos

As ondas os meus apelidos pronunciam gentilmente,
E quietamente, o silêncio traduz o fôlego do náufrago, 
A tempestade dorme, bem abaixo do momentaneamente.
Gostava de te poder dar o Sol, porém somente a Lua trago,

As minhas lágrimas são oceano deixadas na corrente do mar,
Algemados a um sonho que gostaria que tivesses no âmago, 
Deita-te comigo nesta cama, dançando um trilho, um rascunhar,
Vem querida ondina, viste os reinos de corais, as estrelas e o lago,

Onde olhar os vossos olhos estrelados é a minha queda tal rocha,
Engolfado pelas trevas de um Inverno, cada esfera preenchida,
Velas acesas trazemos pelos caminhos onde se apaga a tocha, 

Antes de subir para a superfície, tal pirilampos tremeluzindo,
Uma sombra de sono passando um véu sobre a vista tolhida,
Hoje dormirei nas profundezas num sonho negro e quase lindo.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Fragmentos do Silêncio

Simplesmente palavras ao vento por fim deixadas,
Encontrando o silêncio versado na estrofe inaudita, 
Pulmões abertos, as vozes nas almas cravadas
São fragmento do que cada momento ímpar possibilita,

Simplesmente frases num solene olhar reflectido,
Pretendemos eternidades encontrando só o imanente,
Por vezes, a verdade é que me sinto sozinho no imbuído
Que é cor e pastel, uma cascata requebrando  de repente,

Simplesmente ideias tentando por fim se concretizar, 
Bocadinhos de nuvens e o beijo quase, quase dado
Planos e mapas, a tentativa de os pés no céu assentar, 

Mesmo que venha a queda no pavimento, por baixo do estrado, 
Havemos um dia novamente e finalmente nos levantar, 
Mesmo que hoje apenas haja silêncio, e seja o surto do bocado. 

terça-feira, 20 de junho de 2023

Pretensões Poéticas: A Procura Pela Plenitude

Pretendo num terno abraço ter o mundo contido,
Rodopiando nas pontas dos pés numa dança infinita, 
Neste percurso, neste trecho a Vida tem-me sorrido, 
Pois o caminho tem sido palco para quem nele acredita, 

Versam estes passos por um poema vero e inabalável, 
Fagulhas crepitando no olhar espelhado do viandante, 
Refractários e incendiários, nascemos para o inalcançável,
Faremos habitação e lar na perpetuidade de um instante, 

Este é o epitáfio do comum, o mausoléu do por metade, 
Subamos os corações em grinaldas feitas de balões, 
Bem alto no céu ainda há lugar para o último em orfandade, 

O amanhã trará o que trouxer, sem dúvida ou se arrepender, 
O fluxo natural das coisas dita o que é sem hesitações,
A procura pela plenitude por tudo sempre pretender!

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Entre Sonhos e Realidade: Uma Jornada de Vida

Tudo o que tenho de fazer é viver e morrer,
Tenho pressa de chegar, apresso a estrada,
Por tantos tijolos acumulados continuo a ver
E deixar respirar tal brisa fresca a temporada,

Percorrendo os aros da pele como o paraíso,
A fragrância do cabedal de notas de suicídio,
Camas feitas e barbas desfeitas num sorriso,
A estrela da manhã e da sua queda o subsídio

De homens que foram esquecendo o que é ver,
As camisas passadas por trilhos desconhecidos,
Tipos de contos de fadas, será isto o que é viver?
Tentando apagar vestígios de sonhos coloridos,

Estranhando este respirar, esta procura incessante,
Apesar de tudo, pergunto-me "Quando aprenderei?"
Fechando os olhos e o ver num fôlego inebriante,

Aproximo-me do fim, deste uno momento final
Esperando a sua deixa deixada pois por fim sanei
Na aprendizagem do distinguir entre o sonho e o real.

Se A Morte Vier Ter Comigo Em Juventude Pt. III

Se a morte vier ter comigo em juventude,
Serei imortal através das lembranças,
Deixando um legado que nunca se ilude,
Um testemunho de amor e esperanças,

A juventude é um suspiro na eternidade,
Um momento efémero de luz e fulgor,
E se a morte vier, na minha mocidade,
Encarara-la-ei com altivez e com valor!

Então, venha, morte, se assim desejar,
Em juventude, estarei preparado,
Pois vivi com intensidade e sem par,

Para um plano além deste mundo terreno,
E meu espírito jamais será aqui apagado,
Deixarei um legado que nunca será pequeno.


Se A Morte Vier Ter Comigo Em Juventude Pt. II

A juventude é este nosso presente divino,
Um tesouro brilhante, cheio de esplendor,
E mesmo que a morte venha e eu peregrino,
Serei ainda grato por cada potencial cor e flor,

Pois vivi com paixão e sem arrependimento,
Abraçando a vida com fervor eterno e ardente,
Deixando uma marca no mundo, um fragmento,
Mesmo que parta antes do esperado, indiferente,

Então, se a morte vier ter comigo em juventude,
Sabendo que vivi plenamente minha existência,
Eu enfrentarei o fim com coragem e plenitude,

Deixando uma herança de amor e experiência,
Se a morte vier ter comigo em juventude e me levar,
Digam a quem for passagem que hei-de um dia chegar.

Se A Morte Vier Ter Comigo Em Juventude

Se a morte vier ter comigo em juventude,
Tal triste paradoxo, destino implacável,
Não temerei seu toque frio, em virtude,
Pois viver intensamente é inabalável,

Qual sombra os seus passos silenciosos,
Podem se aproximar sorrateiramente,
Hei de enfrentá-la em tempos preciosos,
Desafiando o destino, indomavelmente,

Juventude efémera, essa sublime flama,
Que queima ardente, breve como o vento,
A morte não há de apagar essa tua chama,

Pois a vida é uma jornada sempre fugaz,
E se a morte vier neste meu momento,
Eu a encararei com paz e tenacidade, audaz.

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Defeituoso Defeituoso

Direito como uma flecha, defeituoso, defeituoso,
Desflorado e amargurado, anjo caído e recaído,
A asa de um cisne quebrada num céu tempestuoso,
As junturas partidas em mais um beijo subtraído,

A armadura de Cupido e as asas de Ícaro emprestadas,
Quase soam a Amor e voos alados por todo o lado,
Estranha hora esta de somente pretender as estradas,
Ir indo, sem tempo ou espaço, ansiar o simples fado!

Pois o vento leva-nos o olhar, o silêncio é escutado,
Em passeios sem voz, derrotados por um passado,
Que me entrega ao horizonte, neste ombro transpira,

Por uma eternidade em si contida que em si suspira,
Por um trecho claro, por um pedaço aqui escurecido,
Por um instante deixado num momento entorpecido.


sexta-feira, 2 de junho de 2023

Ode à Mulher Pt. II

Oh, mulher, ser de magia e mistério,
Teu poder é eterno, grandioso e raro,
Em teu íntimo, pulsa um universo sério,
Repleto de força, sabedoria e amparo,

Tu és o arco-íris na tempestade,
A luz que ilumina o caminho escuro,
Mulher, és a musa da liberdade,
Inspiras o mundo com teu ser puro,

Teu coração, um templo de compaixão,
Transborda amor, ternura e empatia,
Em cada gesto, deixas uma lição,
De coragem, resiliência e alegria,

Em teus olhos, brilha a esperança,
Um horizonte de sonhos a se realizar,
Mulher, és a voz que ecoa com confiança,
Um exemplo de como lutar e esvoaçar,

Tuas mãos, sábias e habilidosas,
Constroem pontes e tecem laços,
Mulher, és mestra das coisas preciosas,
Transformas desafios em abraços,

És filha, mãe, irmã e amiga,
Um farol nas trevas, a nos guiar,
Mulher, és forte, a destemida que bendiga,
Na tua essência, não há limites para o sonhar,

Teu sorriso, um sol radiante a brilhar,
Ilumina vidas e aquece corações,
Mulher, és a arte de amar e perdoar,
Um ser de infinitas sensações.

Celebremos, então, a tua existência,
Nesta ode à mulher, minha reverência,
Que o mundo reconheça a tua importância,
E valorize tua força e essência,

Mulher, és a inspiração que nos guia,
Com teu amor e luz a nos envolver,
Ode à mulher, em todo e cada dia,
Por seres única, especial e eterna mulher.

Ode à Mulher

Ó musa divina, a fonte de encanto,
Em teu ser, o mundo encontra a cor,
Mulher, és a chama que arde no pranto,
A força que acalenta e desabrocha em flor,

Tu és mistério sob a forma de poesia,
Um oceano de graça e terna sedução,
Com tua essência, alegras cada dia,
E enfeitas a vida em plena perfeição,

Teus olhos são estrelas a brilhar,
Teu sorriso é um sol que irradia luz,
Teu toque é carinho, doce a embalar,
Mulher, és obra-prima que um ser seduz,

No teu ser há coragem e valentia,
E no teu coração, a compaixão,
Mulher, és guerreira em cada dia,
Desbravando caminhos com devoção,

És mãe, geradora de vida e amor,
Com teu ventre sagrado, gera a criação,
Mulher, és a paz que traz ao redor,
A essência de toda a renovação,

Nos traços do teu rosto, a beleza,
Na tua voz, a doçura a ecoar,
Mulher, és fonte de tanta grandeza,
Uma chama eterna pronta a inflamar,

A ti, Mulher, dedico minha admiração,
Por lutas vencidas, pelos sonhos a alcançar,
Tu és o pilar da nossa inspiração,
E mereces todo respeito a partilhar,

Mulher, és a canção mais bela a soar,
A inspiração que move o universo,
Em cada verso, quero te exaltar,
E reconhecer o teu valor imerso,

Ó Mulher, és um presente divino,
Uma dádiva aos olhos do Criador,
Que te abençoe e te guie em teu destino,
Nesta ode à mulher, expresso meu amor.

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Deus Sussurra nos Pormenores

Perseguindo o brilho estelar numa doce recaída,
Sou cadente por opção, ravinas trago no coração, 
Dilacerando o horizonte dentre a chegada e a partida,
Num soalheiro dia que por enquanto conhece a monção, 

Deitemos abaixo estas fundações de ruínas do passado,
Deste precipício vejo mais longe que uma humanidade, 
Hoje lançar-me-ei sobre o que nunca hei ainda procurado, 
O brilho estelar de uma chuva que vai caindo sem vaidade

E me mostrando as lágrimas já derramadas, o sangue vertido, 
E nós, verticais, tentando alcançar o que ronda perto do além, 
Somente os poetas compreendem este apelo na alma imbuído, 

Só eles se vão escrevendo nas palmas de mil paraísos pretendidos,
Enunciando o caminho para o céu, numa eternidade que vai e vem
Somente os poetas entendem os pormenores por Deus ainda escondidos. 



quarta-feira, 24 de maio de 2023

Poema dos Cinco Dias

Frio entre o ranger lancinante destes ossos, 
Fecho os olhos sendo engolido pelo oceano,
Aqui, por vezes, não ouço o som destes passos,
E até por vezes o caminho é tudo menos plano,

Por entre as colinas vagueei incólume à doença
Que é a rotina dos homens, a sua enfermidade,
Os cinco eternos dias que levam à não presença,
Onde contemplo a sombra da semana, a iniquidade,

Um fardo escadeirando forte aos ombros do poeta,
Provindo do distante para embater no próximo,
Isto é como esbanjar ouro atirando-o na sarjeta,

Porém esperando o que vou alcançando neste trilho,
Procurando o que vou aguardando, o ponto máximo,
Os dias obrigados ao esquecimento, mas ainda brilho, eu brilho!


terça-feira, 16 de maio de 2023

Quando A Noite Caiu

Quando a noite caiu o poeta enfim revelou sua confissão,
Queria ter estado mais presente quando havia presença,
Ansiava ter beijado sempre com amor e dado a sua mão,
E não ter sido da ansiedade refém, ter feito a diferença,

Não ser quem cerrou os olhos para não ver e esqueceu o mundo,
Num salto de um precipício alto para o poço mais profundo,
Pois a humanidade é imunda, é suja, é anjo sem as suas asas,
Velhote abjecto virado quase em demónio em fogo, em brasas

Almejava ter abraçado e tocado a parede do além do infinito,
Ter condensado o instante num mero instante, num alto grito,
Não ter desperdiçado nenhum momento porque sim e sim!

Ter alimentado a alma de confetes sem qualquer início ou fim,
Pois quando a noite cai somos sem sono a cidade, o asfalto,
Que é eterna busca na procura sem ânsia, sem sobressalto.

A Ausência

A ausência é um vazio entre a palma da mão,
O lugar com pertença num tempo sem espaço,
A memória esquecida na bruma do coração,
O rascunho inerte sem linha ou sequer traço,

A ausência é a falta no lugar de uma imagem,
A carruagem parada ao vento a ir a nenhures,
É aqui tormenta, é brisa e é também aragem
Numa tentativa vã de atingir o além e algures,

A ausência são as palavras inauditas nunca ditas,
A forma e semblante ora tornado tão inebriante,
A tentativa de eterno instante nas horas malditas,

É um beijo quase dado, o abraço quase refractado,
Os dedos passando no fantasma de uma amante,
Espelho multicolor ao chão atirado e quebrado

(para o além do longe, para além do distante).

domingo, 14 de maio de 2023

A Armadilha dos Homens Fez-nos Esquecer o Paraíso

Vamos fazendo caminho entre a bruma adensada, 
Perdidos e encontrados numa procura sem final,
Pouco pedimos para além deste tudo e deste nada,
Pouco questionando e procurando o zénite divinal,

Gostaria de ter asas para ir num voo alífero além,
Somos nós que montamos os Pégasos do sonho
Numa indómita cavalgada destinada a quase ninguém,
Que venham os anjos e nos levem para lá do risonho,

O resto é rotina, a canseira de outro dia por acabar,
Indubitável é que eventualmente acabarei por sossegar,
Cerrando os olhos do Sol com dedos sempre cuidadosos,

E pisando os jardins de Éden com passos saudosos
De quem outrora lá passou, mas entretanto esquecido
Foi e caiu na armadilha dos Homens e por lá ficou retido. 



segunda-feira, 8 de maio de 2023

Um Dia Chegarei

Permaneço por onde vou ficando, marginal,
À lei natural da Natureza e de canto em canto,
Por vezes este caminho parece ser tão irreal,
Que não distingo os alarves risos do pranto,

Escondam-me nos recantos, entre o pavimento,
Pois um dia reivindicarei sob ele meu espaço,
Contra os ponteiros do relógio em sentimento,
Por entre vidraças azuis ora translucido ora baço,

Não fosse um fantasma diurno, por vezes oportuno,
Ou casa vazia, procurando memórias de quem foi,
De passo em salto em passo, seja ou não importuno,

Um dia chegarei à outra margem em vulto e semblante,
Cativo e refém somente do Sol e da vontade que corrói,
Um dia chegarei seja aonde isso for seja perto ou distante!


quarta-feira, 26 de abril de 2023

O Rapaz das Estrelas

... E então poderia ser o teu rapaz das estrelas, 
Logo brilhando perto do Sol, dando-te a mão,
Mesmo que caísse em pedaços pelas passarelas
Seriamos unos no pulsar único de um coração, 

... E então seriamos um par a dançar enfim com o luar,
Com o passar da noite, juntos e unidos em percalço,
Procurando um sítio aonde sonhar, para logo flutuar,
E quando a Lua tentasse fugir iriamos no seu encalço, 

Através de praias desertas que ousassem ser nossas num suspiro,
Escapando por entre os dedos do tempo, seriamos nos ventos,
Na eternidade de um belo instante, no momento de um respiro,

... E então poderia finalmente ser o teu rapaz estrelado,
Com fotografias de ti nos bolsos, seguindo os cataventos,
Há sempre uma canção para cantar nesse fôlego ansiado.

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Através do Tempo

Através da noite foi a Lua que furtou a dormida
De um trovador ora tornado num romanticida,
Pois havia Vida no seu sorriso, na eternidade,
Assim passada ao seu lado, sem termo ou idade,

Através da noite foi um dia exíguo então a escassear, 
Custava-lhe por vezes passar na mesma casa, no mesmo lugar,
Que lhe acossava com água nos olhos, num sonho triste
Até regressar à memória de um instante altivo em riste,

E o relógio trauteava uma canção pelo tempo esquecida,
Porém soava a beijo na testa, a uma margem querida,
Amor, tu que te encontras distante, dá-me a tua mão,

Só assim se erguerá o sol, só assim baterá este coração,
Até lá serei ermo, relento, sonhador sem qualquer sono,
Acorda-me levemente com um beijo deste terno Outono.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Cada Pedaço do Viver

Passam estes abraços devolutos cobertos por um céu envelhecido
Parando assim instintivamente e procurando uma mão para dar,
A fragrância dos passos não conferidos é apenas o tempo perdido, 
E também o espaço entre a partida e chegada, porém o não chegar,

Estas lembranças são os dias passados de olhos quase cerrados,
O sonho a erguer-se para além do sono num beijo de despedida,
De verso em verso feito silêncio, os poetas são por fim sentenciados
À eternidade de um momento, a uma passagem imortal e abscondida,

O repousar de uma beata no cinzeiro, do último homem ao primeiro,
Esquecemo-nos da criança que se foi, ainda guardada na algibeira,
Do velho que bate à porta pretendendo tornar-se no Homem Inteiro,

"Serás poeira" - enuncia o Tempo com os seus dedos apontados,
É a orfandade da Vida o espelho desta enfim apagada fogueira,
A repetir-se cada pedaço do viver na parte dos instantes fragmentados.

terça-feira, 4 de abril de 2023

Até Já Mestre Ryuichi

Aproxima-se o soalho por um silêncio versado,
Escrevemos em palavras minúsculas o rascunho,
Vamos indo andando aos círculos num quadrado,
E flui a poesia jorrando do sangue do cerrado punho,

Já pernoitei deste lugar, já desabrochei que nem flor,
Alonga-se a distância do caminho num beijo inacabado,
E a alma feita pássaro azul procura poiso, procura amor,
Ou pelo menos sítio onde poder ficar por mais um bocado,

As algibeiras repletas de sonhos mesmo que demore a chegada,
Por vezes a orfandade é do infante a amiga, sua longa jornada,
Estendida entre o que fui e o que serei numa inconfundível pertença,

Há abraços a arrancar ao destino, outros voos a esvoaçar, essa é a crença,
E dentro da voz do pássaro volutear, escapulir por fim ao tido como mundano,
E de tal farei meu Reino, minha doutrina não há qualquer dúvida ou engano!


segunda-feira, 20 de março de 2023

O Poema

Do caminho é dos ousados, faz-se poesia,
Em letra simples numa estrofe composta,
Com a rima certa e píncaros de fantasia,
Cada verso será para sempre uma aposta,

Os sonetos de um Outono à porta deixado, 
Serei folha ondulando à mercê do vento,
O esboço do coração no espelho embaciado
Através de vidros azuis neste olhar luarento, 

Cai a Primavera num terceto assim vertida,
Ao espaço de um sol nascido e enfim caído,
Num horizonte limpo, numa margem querida, 

A narração do trilho do viandante, o seu esvoaçar,
Ante abismos e precipícios, no sonho concedido,
Este é o poema, um principio sem nunca acabar.

quarta-feira, 15 de março de 2023

Amore

Vou escutando as mais simples nuances do amor, 
Sendo ele abstracto e concreto, tão feio e tão belo,
Tal o frágil balão voador e o Olhar na vista em redor
Dá-me alento para viver, retorna-me o Ver singelo, 

Torna-se significativo cada ar finalmente exalado,
Num ritmo cintilante que seja fluído ou ofegante
É mão conduzindo a um lugar já não relembrado,
O beijo à flor da pele, o saber o que é importante,

Uma luz no coração das trevas, a eternidade do sorriso
Que é brisa matutina, as estrelas fazendo-nos companhia, 
Um pouco de relva verde e pés descalços é o que preciso,

E folhas esvoaçando ao vento gentil, o que mais podemos querer?
É aproveitar o instante passageiro seja de noite ou seja de dia,
Havemos um dia de partir meu amor, havemos de um dia morrer.

sexta-feira, 3 de março de 2023

Para as Musas e Sonhadores À Espreita

Nuvens cinzentas encobertas por uma triste canção,
É a senda que estreita, a fantasia sendo contrafeita,
E eu, no topo do precipício, com a mão no coração
Questiono se há musas ou sonhadores ainda à espreita,

Vamos procurando um lugar ao qual se possa chamar lar,
Esperando para sempre, pela dízima de um ser ornado,
Sem caução e com cuidado, vamos procurando devagar
Por um beijo alado, simples e suave, eternamente dado,

Sorrisos serão partilhados e lágrimas serão enfim jorradas,
E no fim do caminho, o trilho encerrado por umas almofadas
Pois ergue-se o poeta sonhador, fruto do ir e vir e de uma dor

Estranha ao rosto da humanidade, as garras de um condor
Esvoejando sozinho perante a perfídia de uma alegre canção
Por onde alguns se perdem e por onde outros ainda hoje vão.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Quando Chega A Hora De Partir

Sustendo o fôlego de instantes outrora eclipsados,
Hoje pincelo a abóboda de cores jamais imaginadas,
Vou sacudindo a alma de pesadelos ontem sonhados,
Despindo lentamente as paredes entre si confinadas,

Acredito que suspiros são sorrisos ainda não vividos,
Pronuncio o passado, ansiando o futuro, absorto,
Rachando o chão por caminhos sinuosos e perdidos, 
Pulsando o ventre, frio e quente, erecto e até torto,

Entretanto aprendo: “Não há mais tempo para despedidas”
Pois o coração também pára na noite eterna e passageira, 
Prisioneiro do frio derrelicto, feito a dois por sendas divididas,

Somos roupas usadas recriando sombras em lúgubres recantos,
Sombras essas que vão dançando ao vento na luz forasteira, 
Trago os vultos que fomos indo, o pouco deixado e os tantos.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Beija-me o Coração

Quero da água que brota da fonte distante,
Trouxe-te dentes de leão presos numa linha,
Lágrimas sorridas de um momento confortante
De um canção só tida no que um beijo sublinha, 

Esperamos primaveras e flores de pétalas tão belas,
De outros amores, de amores por ontem esquecidos, 
E eu quero chorar, aprender a contigo ser sob as velas
Dos instantes vertidos entre os dedos e que são perdidos, 

Tal palavras trocadas entre estranhos, então prisioneiros
Por mãos envolvidas por ervas, por eras, por esta solidão
Que comove os cigarros do chão, os secos entre aguaceiros,

E é enfim bonito ser feio nos braços dos outros, na multidão,
Pouco é regra e tudo termina no fôlego de outros, de terceiros,
Quando estivermos sozinhos num instante, por favor… beija-me o coração. 




sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Andar Para Trás

Tento andar para trás num belíssimo despiste,
Revelando os passos outrora e entretanto dados,
Pois por onde já fui vou ora de arma em riste,
Enfeitiçado pelos tratados de outros passados,

Aqui, abaixo da abóbada celeste tenho lugar
Para um dia retornar, em caves procriado,
Abaixo do diálogo do soalho, num estranho andar,
Prevalecido sobre os estilhaços do caminhado,

Esta camisa de forças é a porta das insanidades,
Quisesse eu retalhos de mim, iria de novo atrás,
Não ficaria entre as crianças e o velho das idades,

Procurar-me-ia entre o gelo e o carvão das horas más,
No momento em que a lembrança eram as saudades,
No que o vento do norte vai levando e por fim trás.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Só Pretendo A Eternidade

Há lugarejos através de recantos de escuridão,
Onde o poema vai perdido sem o seu segundo,
E eu, viandante das estrelas envolto em solidão,
Vou procurando meu lugar, minha parte do mundo,

Renasço em poesia quando o fruto do amor invade
As muralhas que ergui perante a sombra que resfria,
Sabei que com o horizonte ainda sinto cumplicidade,
Um dia hei-de o passar brioso e altivo em grande euforia,

Trago raios de sol nestes meus braços que vou embalando,
Resplandecem a esperança de um outro dia, outra manhã,
Por cada esquina transvasada, verto-me em água, cantando, 

O hino dos poetas que me precedem, dos deuses lá do alto!
Acordando para mim mesmo, vem lentamente outro amanhã,
Farei desse momento eterno por cada passo dado neste asfalto.


domingo, 5 de fevereiro de 2023

O Boato (Cerebral)

Tenho gritos de guerra na garganta ainda hoje plantados,
São poiso para asas engarrafadas em navios sem destino,
Filhotes de heróis mortos cujos corpos nunca procurados
São eu, orfandade e lágrimas, as moradias sem inquilino,

E é desespero, vontade do não anseio, o suspiro perdido,
E eu vencido antes de ser derrotado, sem qualquer perdão,
A pluma na faca aguçada, um nome sem qualquer apelido,
Aprendi a morrer enquanto sou vivo de algemado coração,

Ela pavoneia-se entre as estrelas, sem qualquer amor para dar,
E cada letra, cada palavra é sentença para de mim recuar,
É o solavanco na estrada, a direcção alterada, o inebriar palato

Indiscreto, esvaecendo tal vinho entre dedos descalços, insensato
Sou eu, é o bocadinho da dúvida, o não conseguir comigo relacionar
O fragmento em que somos vida, em que não somos apenas o boato. 



terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Pela Brisa Levado

Sim, vamos segurando as mãos de eventuais estranhos,
Através de sepulturas e paixões em estado terminal,
Desabafados por fôlegos largados na dor dos rebanhos
Que vamos seguindo cegamente, é inexacto, é pontual,

Envelhecendo na berma da estrada, na quase vontade,
De quando dois olhares entre si se viam em plenitude,
E sorrisos eram sussurrados no encontro da vera metade,
Amor, eramos maiores que o mundo, a mais alta altitude,

Entrementes dela fomos queda, precipício aberto e incerto,
Fragmento de coração, sem isenção, o compromisso quebrado,
De quando urgia o bocado, o instante passageiro, o desconcerto,

Fica a nostalgia de momentos de magia - eternamente cravado
No peito do trovador, com e sem a sua dor, o momento eclipsado,
Que aquele que seja o último a suspirar seja enfim pela brisa levado.


domingo, 15 de janeiro de 2023

Enquanto Ouvir As Harmonias

Traz-me enfim conforto, sussurra o nome à estrada,
Com dedos cuidadosos cerrando seu olhar cansado,
Onde andamos por jardins verdes vem a encruzilhada,
Esta noite num outro dia viveremos um dia no sonhado,

O ar nocturno pelos poros da pele então será exsudado,
Dizendo o sabor que entre estes lábios se vai escapando,
Caindo da mais alta montanha ao precipício saudado,
Acordamos onde esvaecemos, num riso estampando

Outras alturas, na água fria entre estes pés descalços,
Lavando as mãos, a oferta daquelas asas cobiçadas,
E levantamos voo para o sol poente, ao seu encalço,

Relembrando o brilhar de estrelas altivas, mil sinfonias,
Onde dançamos ao seu som, notas do silencio afectadas
Pelo calor de uma mão na outra e das suas eternas harmonias.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Em Sonhos Éramos


Em sonhos relembro-me de calcar vidro, indo descalço, 
Também saltando sobre cinzas e rochedos, de mãos na mão,
Batendo nas portas e engolindo suas chaves num percalço,
Aonde ia beijando beatas de cinzeiros enfim dormindo no chão,

Em sonhos relembro-me de embaciar vidros com o fôlego
De mil ideais, esperando sois poentes, outras vertentes,
Cultivando o desapego, truz, truz, onde eramos resfôlego, 
Onde pretendíamos ser asas pintadas no céu e entrementes

Em sonhos éramos um pouco de luz por átomos divididos, 
Fechávamos os olhos, não obstante na cinza do dia passageiro,
O ontem torna-se um pássaro entre anseios e desejos despendidos,

Saibam que este sonhar era um outrora e um será, assim soalheiro, 
Alegria e luto ao passar, o riso e chorar sempre e sempre cândidos, 
Era Terra do Nunca nas palmas de uma criança e era o seu aguaceiro.