domingo, 30 de dezembro de 2018

O Homem Que Vai Procurando

Algum lugar em nós, tão próximo do regresso,
Procurando pelo feixe de luz divino, pelo imortal,
Nesta simples demanda deixo o impulso, o ingresso,
Caminhando fora e dentro do trilho, quase acidental

É o passo escolhido, o amor é a única pretensão
Pois a alternativa é fechar os olhos e deixar de ser,
Isso não tem magia, não preenche o coração
Então é pseudo vida, é quase morte, não é viver,
 
Assim, não nos podemos de nós próprios aposentar,
Isso é sem dúvida o que o homem velho há-de matar,
Há beijos a dar, abraços a partilhar e a única mudez

Daquele silêncio visceral após responder aos porquês,
Rezo por encontrar esse lugar, o resto é passo dado,
Para o homem que ora se vai perdendo, ora é encontrado.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Sede, Sede de Infinito!

Sede de infinito, de infinito tenho infinda sede,
Atravesso deserto levando na mão o coração,
Saltando alto, sem trampolim ou sequer rede,
Assim dita o passo que vai passando na estação,

Preciso de relva, ar e mundo, o resto é passado,
Acredito na palavra amor e assim vou indo
Pois trago perto do peito o ósculo dourado
Que é beleza, é tristeza, é o universo revindo,

Assim exploro o dia, cada dia sou explorador,
Trago palavras para com o transeunte partilhar,
Algumas são feitas de brilho intenso, outras dor

O que importa é que todas elas eu consiga amar
Pois o que é eterno ou imensurável para além do amor?
Nada, silêncio onde fui ruído, o aqui é o que tenho para dar.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Partindo Para Um Dia Regressar Pt. III

Tenho beijos nas mangas e colibris na algibeira
Confessando ao poeta a sua própria naturalidade,
É fruto de amor sincero, de sonhos à cabeceira
Que se alastram pela planície expondo a verdade,

Aparências enganam então de mim sou o vestido,
O resto é sobra logo acabará por um dia escassear,
Pois lembrem-se que regresso sem ter ainda partido
Porque ainda não encontrei meu poiso, o meu lugar,

Esta viagem é interna, é caminhada pela alma eterna,
Quase sem se notar para além dos segundos vigentes
Que pela escuridão são ora a luz negra, ora a lanterna,

Não obstante do trilho, do esforço ou do sorriso perdido,
Há tanto a andar como a vislumbrar, acordai descrentes!
Reparem no tecido na vida, o ínfimo detalhe subentendido.

Partindo Para Um Dia Regressar Pt. II

Quando aqui regressarem as doces andorinhas
Já terei partido para outras longínquas margens,
Portanto farei por ver mais longe, ler entre as linhas,
Pois este eu é o acumular dessas diferentes viagens,

Ósculando o caminho, por vezes tão e tão perdido,
Vamos na procura pelo encontro, a universal voz,
Tal ribeiros vamos fluindo lestos entre o já vivido
Enquanto este se alastra pelo leito do rio até à foz,

E eu meus amores sou porção da metade plural,
Alma sem trela, coração sem rédea, sou temporal
E monção sem a mera pretensão de o querer ser,

Amores - só no meu peito vos quero a todos reter!
E então novamente partirei sem ruído ou palavra
Esperando somente o encontro e que a porta se abra.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Partindo Para Um Dia Regressar

Encharcado por sussurros, sou o inevitável,
As roupas usadas encaixadas na cadeira
São pirâmide para reis, para o confortável
Que outrora era regra e lei ora na algibeira,

Pintado a sangue no dedo indicador, oh amor!
Não sabes que és teia de aranha, a envoltura
É ser pedinte sem suplicar, ser pintor sem cor
Pois para a revolução enfim chegou a altura

E eu na curvatura, no beijo que é tão estranho
É escravatura sem mestre, pastor sem rebanho,
Pois então estou a partir para um dia regressar,

Chamem-me de aventura e que seja o vosso lar
E enfim que os séculos se tornem nos segundos
Que trago na mão do pintor por mundos e fundos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Tu És a Voz do Poeta

Ajoelhados e não suplicando mais por perdão,
A maré então despindo-nos destas impurezas,
Se um dia me esquecer há sempre uma canção
Para sussurrar ao ouvido e dispersar as tristezas,

O crepúsculo é vista na poeira do regaço perdido,
Se olvidar haverá sempre uma história para contar,
Se houver lembrança então de escuridão despido
Serei a tentativa de amor ou ensaio ao querer amar,

Estrada lúgubre e luminosa, lenços levados na brisa,
Há pensamentos, há tormentos e há até testamentos
Para viver e por ela morrer, por essa esbelta poetisa,

Vamos à volta, a correr e escapar do tido como dor,
Há momentos, há rebentos e há até agradecimentos
Por ainda escutar a música e a voz, a voz do trovador.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Para Quê Amar Apenas Uma Estrela Se Tenho Todo Um Firmamento?

A noite sem fim é onde sou em pertença,
Tal lenço usado procurando luz e magia,
Esta leve saudade é a nostálgica sentença
De quem é da noite mas vai procurando o dia,

Pois de estrelas é constituído esta leve alma,
E súplicas, orações e preces, quase há lugar,
Para encontrar, para sossegar em suave calma,
Quase sei o que é ser, partilhar e talvez até amar,

Alvoraçados pelo ruído das pessoas os pássaros fogem,
Eu sou tal como eles, um escape sem tempo a fugir,
Indagando o firmamento enquanto buquês colhem

O que me interessa a moça do sonho? A única donzela?
Em contraluz é a voz desfalecida e eu entretanto sem ir,
Sem sitio ou lugar para amar de facto uma ímpar estrela.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Caminhar Sob a Chuva Nocturna

Então largando no pavimento achas de cigarros,
Está frio, está a chover e nos charcos o reflexo
De quem passou no som distante dos autocarros
Que me levam para onde não vou - tão perplexo,

Vestido de cinzas, precisamos de um remédio,
Algo que não seja eu, que seja outro qualquer,
Que enfraqueça a vontade de morrer, este tédio
É encobrido por nevoeiro, por mim a envelhecer,

Suspenso por um baloiço de uma infância ida,
Fotografias mentais de dias tornados memórias,
Esta dor é o conto de fadas pilhado, esta partida

É residente nas sombras deste peito, as estórias
Acumuladas tornadas um dia na ideia foragida
Nos degraus que sequestram as horas inglórias.


sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Uma Penúltima Dança

Ouço bater na porta, mas que doce sussurro,
Gritos sonegados pelo mármore dos corredores,
Cobrimos a face do sol, saltamos o último muro,
Temo que não haja tempo para chorar por falta de cores,

O que jaz na noite é o trilho esquecido do coração,
Aquele beijo que se deixou para um outro instante,
E eu a pedir tempo emprestado, os olhos da multidão
Não são suficientes para parar o inquieto pé dançante,

Respiro ao seu pescoço, esta noite seremos estrelas,
Dentre constelações, o sorriso do nobre infante,
Ela virá comigo, eu irei com ela sem amarras ou trelas,

Ofereço tudo, rendido, soterrado pelo canto da sereia,
Cuidado não é palavra para este coração lampejante,
Retracemos as linhas das mãos e sejamos a candeia.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Há Que Ver, Há Que Acreditar

Nestas mãos vazias tenho vários sonhos e aspirações,
Do sonho para o real, do abstracto para o concreto,
Quando o Sol se põe e vem a Lua com suas imitações
É que percebo o quão este solo que piso é incerto,

Procuro Amor em mim e umas mãos nos ombros,
Para sair e esperar pelo vindoiro ósculo imortal,
Pois, por vezes, a Vida é enterro, é só escombros,
Oscilando o pêndulo do relógio que  vai e vem tal

Ampulheta soando a segundo sempre passageiro,
Aqueles que fui e outros que serei outrora um dia,
Eternamente entre a luz do berço e o cinza do cinzeiro,

Perenemente entre a vil atrocidade e a bela melodia,
Pois quando esta última falha há apenas o bueiro
Onde cai o descrente, aquele que deixou de ver magia.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Amor, Amar é a Viagem

Escuto as horas pela alameda sob o luar,
Vestido em trapos de seda, só a observar
Quem passa e cedo é ida, é a lei da cidade,
Pois quando vem a partida e se vai a idade,

Por vezes, embalo madrugadas nos braços,
Viajando por alvoradas, por outros regaços,
De noites deixadas para trás mas tão perto,
Onde o passo do rapaz deambula pelo incerto,

E há fantasmas do passado e anseios de futuro,
Por tudo que tenho albergado: o saltar o muro
Que separa as caixas da dimensão - a vogal aberta

De quem teve lugar no coração, na planície deserta,
Por vezes é tão difícil dizer adeus e ser a despedida
Porém são os trilhos de Deus que afiguram parte da Vida.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Boa Noite Doce Príncipe

Questiono estas revelações à luz das velas,
Semanas passam e este pedinte pede seu enterro,
Pois são elas, as princesas, as mais que belas,
Que lhe atiram terra para o caixão, assim me soterro,

Sinto-as respirar, atrás de um sorriso estranho,
A quem me viu buscar, a procura é eterna meus amores,
Os lobos vêm jantar hoje e eu sou parte do rebanho,
Dormindo no frio dos nossos corpos mutilados por flores,

O poeta é somente mártir para o coração clandestino,
Por vezes partindo antes da salvação, antes do não,
Pode parecer uma partida rápida, um ir repentino,

Vem o chão, a crença esmorece pois o berço arrefece,
Que é queda, que é monção pois sabia de antemão
De que esta dor é só lembrança de quem não esquece...

domingo, 11 de novembro de 2018

Por Janelas de Vidros Azuis - Enxurrada

Por janelas de vidros azuis - enxurrada,
Tempestade em cada beijo ao pavimento,
Recaímos do berço do Sol, na calçada,
Pisamos o aguado em tons de cinzento,

Alguém diz: “Solidão és a companheira”,
Remetendo às rugas finas atentas no olhar,
Degraus e degraus até ao final da ribanceira,
Descalço e leve, um empurrão e a esvoaçar,

A tristeza de ir e nunca conseguir mesmo chegar,
Alvoroço no coração, cataratas para a visão,
E eu então? E eu?! Sem poiso para sequer poisar,

Por vezes faz tanta falta um toque, um carinho,
Escondido num quarto escuro, oiçam a oração
De quem perdeu a crença e vai indo tão sozinho.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Imagina o Céu...

... e estes pedaços de versos são oferendas
Para quem os colocar bem no coração
São até confetes, buquês e prendas,
Por amor, asas em busca de uma mão,

Por onde eu tenho andado a paisagem
Sussurra, deixo-ta tal lábios, perdida,
Que te afague e leve sejas a mensagem
Até que por força do destino a despedida,

Até lá indelével e docemente que esse olhar
Retenha a força para dizer não, a recusar
E então capitulo a capitulo te tornes inteiro

E cada novo beijo saiba para sempre a primeiro,
Pois somos estrelas cadentes por e em sentimento,
Esse é o rasto que deixamos no mundo tal fragmento.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Trago Sonhos Para Os Insones

Pé esvoaçante na estrada secundária, perdido,
Visando juramentos eternos, vagueando sozinho,
Preciso de sentir vida para me sentir vivido,
Há poeira nesta alma, há poeira no caminho,

Longe está o meu belo horizonte, o firmamento,
Procurando a busca, a arte do desencontro,
Pois o que é instante passa, é somente momento,
Dança e o mundo vira universo, esse reencontro

É tudo o que trago escondido neste coração,
Através dum véu nocturno acordo desperto,
Homens vejam, trago sonhos nesta mão

Para quem não dorme ou não os tem por perto,
E é assim que vou passando estação a estação
Com a certeza de antemão de que tudo é incerto.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Voltaremos a Brilhar

Luzes dependuradas das abóbodas celestes,
Invadimos o cerúleo, frágeis e tão delicados,
O pedaço do Sol erguendo-se enfim a oeste,
Aí vem a madrugada silente nestes bocados

Que são de quem não tem pertença, o beijo,
É céu repleto de estrelas, a imensidão é bela
Pois é rede para o sonhador e o seu almejo
Fica, fica connosco foge daquela escapadela,

Apesar de para já ser escuro e haver nevoeiro,
Um dia seremos as luzes que fomos um dia,
Teremos enfim um lar, por fim o verdadeiro!

Fica, fica connosco e sê novamente a magia
Daquele belo tempo iluminado pelo candeeiro
Que erguíamos pela mão afastando a melancolia.


terça-feira, 23 de outubro de 2018

Elegia do Filho do Sol ao Pai

Igual ao meu coração, jorra sangue pelo olhar
O ócio matou o sol, a nascença se há derramado
No filho do sol, enfim o abismo abrirá a cancela do ar
E o esqueleto moribundo do presente será passado,

Quem dera ouvir a sua voz com um abraço sentido,
Porém só há uma nuvem de fumo nesses pulmões,
Que me deixa a meio percurso e eu tão perdido,
Não há conforto para esse corpo nestes colchões,

Pai, lembro-me dum sorriso próprio somente teu,
Que não te esqueças de despertar, é hora de acordar,
Não te dissolvas numa memória de quem creu 

Que era só beijo para se afagar e permitir sonhar,
Apesar de ter nas pernas a eterna lira de Orfeu
Tenho um longo caminho para ainda mais me afastar.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O Poeta e a Prostituta

O poeta oferecia prados e céus num só almejo,
Ela neles corria sem tréguas, paixão ou desejo,
Ele conferia-lhe pérolas e no olhar a imensidão,
Ela engolia-as uma a uma sem amor ou perdão,

Ela era breu da noite, bruma e olhar bem cerrado,
Ele de tanto dar era só em seu brinde entornado,
Ela, tropelia em atropelamento sem sentir nada,
Ele com o coração ao vento e de vista tão ornada

Reparava que ela era partida, pela viela absolvida,
Sem querer saber de si, quanto mais desta poesia,
Era ele e ela numa estrada dentro de si já perdida,

Onde ambos deambulavam não indo mais em frente,
Assim escasseava o beijo, assim morria a magia
E enfim ele chorava e ela ocupada fodia toda a gente!

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Para Quem Quiser Viajar Comigo

Eu era o grito de pés descalços no chão,
Deitado numa mesa, esbracejando só,
Querendo ir onde me levasse o coração,
Num círculo eterno coberto por este pó,

Que nos pulmões era um furor contagiante,
Em delírio enlousante, quase sem querer,
Ouçam o eco da sombra em mim distante,
O custo será o continuar a olhar sem ver

E não obstante, sentir as raízes em colapso,
As folhas na estrada estalando sob os pés,
Em meu olhar traçar-te-ia em fino traço,

Permite então que te mostre a verdadeira dor
Pois vamos e recuamos em marcha a rés,
Reconhece a minha doença - falta de amor.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Beija-me e Sente o Universo

Beija-me e compreende as galáxias do firmamento,
Abraça-me e sente o calor de cem supernovas,
Este é o único instante, é o único momento
Para mostrar que em nosso peito batem trovas

Pertencentes aos poetas que nos antecederam,
A quem jorrou sangue por um puro sentimento,
Que foram joguetes todavia aqui aconteceram,
Este é o rosto do éter e este trilho seu testamento,

Cadente entre o cerúleo, o palpitar do coração
É magma escaldante, os mais leves passageiros,
Este é o descanso que vem com a nova estação

Solta as amarras e liberta os teus prisioneiros,
Vem para o vendaval, agarra-te e dá-me a mão,
Não é tempo para os náufragos, este tempo é dos inteiros.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Sou Uma Nuvem

Sou uma nuvem passeando lá no céu adiante,
Ligeira e leve, tão próxima do sol e horizonte,
Navegando pelo vento ora perto ora distante
Para no final do arco-íris encontrar a ponte,

Por vezes sorrio, outras sei bem o que é lacrimejar,
Por onde a brisa me levar, sobre desertos e prados,
Há até alturas de onde ouço o coração quebrar,
Momentos soturnos por silêncio impregnados,

Procuro o que fui deixando pelo caminho
E que nele ainda não apareceu, oh Deus meu,
Por isso deixei o rebanho, por isso vou sozinho

Onde o sol nasce e a lua se põe, este é o fado,
Sou uma nuvem dando o beijo, aquele só teu,
Sim, amor é tudo o que nesta terra tenho deixado.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Procurando-a Tal Mariposa (Para O Candeeiro)

Procuramos o candeeiro quando se revela,
Abrimos então a janela esticando a corda
Pois quando pensar é somente pensar nela,
Até o mais sonolento sonhador enfim acorda,

Então confesso de joelhos o quanto a quero,
E do antro da estranheza não sou estranho,
Esbracejo, grito e da insanidade do desespero
Separo-me atrozmente do tido como rebanho,

Na lápide escrito "... de um coração apaixonado"
Fecho os olhos não duvidando dessa certeza,
Enquanto o sonho não vem estando eu ensonado

Tocarei de leve o que nomear como beleza,
Num tecto derelicto, num trilho abandonado,
Onde flor a flor darei passos com toda a delicadeza.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Aquele Lugar Em Mim

Sinto anjos na língua arrebatando-me para cima,
Abraçam-me enquanto dormito, envolve-me o beijo,
E logo deixamos o terrestre, somos obra-prima,
O resto passa em silêncio, sem gesto ou desejo,

Frios e quentes, sou nu, sou a última despedida,
Que importa o vindouro? Morri antes de nascer
Pois nada importa e eu sou tudo, a bem-vinda
Parte que quase falta, que não pára de acontecer,

Logo impludo em possibilidades, expugnado,
Procurando sem descanso aquele lugar em mim, 
Deixai-me voltar sem duvidar do coração quebrado,

Passar pelo tempo traçando percursos sem fim,
Sou culpado por todos estes segundos ter amado
E a sentença é viver que nem um danado, ámen, plim!

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Beija-me Os Lábios

Beija-me os lábios e sente esta enxurrada,
Traz-me à vida, reavive este meu coração,
Pois por vezes quando vai o pé à estrada
Esquecemos o quão este trilho é benção,

Beija-me os lábios e amortece esta queda,
A morte é transeunte no passo trilhado,
Olvida o ontem que outrora era alameda
Hoje é o presente que se torna passado,

Beija-me os lábios e enfim faz-me feliz,
A felicidade é passageira na nebulosa,
Ergue tal manancial o pequeno petiz

Apesar de um beijo ser apenas um beijo
Ele tem a energia e a força miraculosa
De se tornar no poeta em seu almejo.

sábado, 15 de setembro de 2018

De Sorriso Ladeado Com O Esquecimento

Atrás do sorriso de menino de pés descalços,
Há estrelas e nebulosas para quem ousa sonhar,
Mesmo vindo a morte e a bruma e seus percalços
É preciso urgentemente permitir ser e aí então amar

Com o coração de mil supernovas, ser a explosão,
A brisa e a tempestade, o último catalisador
E então haverá paz, serenidade e enfim a solidão
Do homem tornado velho tendo em si todo o amor

Que é deste mundo, que é de quem partiu há instantes,
Somos vagabundos sem pertença, somos párias
De uma época há muito partida, agora  distantes

De quem nos deu a mão e nos trouxe ao caminho,
Foste tu amor, a saudade de um passado, uma ária
À ausência de futuro, morrerei um dia sozinho.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Quando Viver é Morrer Um Pouco Mais No Caminho

Nesta montanha-russa, a noite é o único guia,
Beber até acreditar no impossível, beijos molhados
Por chagas e chamas, desejos sujos e perde-se o dia,
Tenho Deus e o Diabo ambos no peito cravados,

Acredito neste doce sofrimento, vim para a doença,
Esta crosta pungente de sentimentos perdidos,
Autoproclamo-me de maior que a vida e a sentença
É quando vem a morte e nos damos por vencidos

Afónicos, por favor, oferecei-me o esquecimento,
Andemos sobre a água e afoguemo-nos mais além,
Percebeis agora toda a minha tristeza, este lamento?

Não há maneira de ir em frente, penso no nada,
Juro e prometo, rogo e suplico, somos sozinhos e sem
Casa procuramos lugar entre os cantos vis da estrada!

domingo, 9 de setembro de 2018

A Leveza Insustentável do Horizonte

Nascendo do sonho e morrendo na sepultura,
Entre o nada e o nada há uma vida inteira,
Partindo e amando com o fogo que dura
E doura, tudo o resto é somente canseira,

Sorriso para o cerúleo de coração quebrado,
Todos os segundos enfim passados são ponte
Para o momento justamente agora eclipsado
Macerado pela leveza insustentável do horizonte,

Tirando as pétalas que vão adornando o caminho,
Aceno em despedida aos rostos então adjacentes,
Chama-me o vento, sussurra-me a brisa, e sozinho

Vou indo por onde a bruma é senhora e rainha,
Enquanto o destino vem-me cerrando os dentes,
Afastado do sol sou eu a indubitável sombra sozinha.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Trocando Sonhos Por Copos

Um copo de silêncio, descanso para quem escuta,
Agora já sabes que estou no barco dos perdidos,
Entre o gelo e as dunas, é a vida que aqui nos enluta,
Mal chegamos ao objectivo e já estamos vencidos,

Vejo o tempo enrugado a beijar-me levemente o rosto
E eu procurando no escuro por uma lamparina
Que alumie o vazio de um coração e seu desgosto,
Assim troco sonhos por copos, eu sou a neblina,

O farol e o nevoeiro, a viagem sozinha e o companheiro,
Frio sob estes lençóis feitos de pedaços de lembranças,
Respirando ofegante sei que sou meio, quase inteiro

Mesmo na falta, na carência, na fraqueza das pernas,
Perguntando como é possível ser o velho e as crianças
Assim passo o tempo sem o passar por estas horas eternas.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Homenagem a Um Amigo Ido

Quando a peça termina e os aplausos se esvaem,
Quando as luzes se apagam, resta apenas a pessoa,
O tempo é brevidade quando despida a personagem,
Que assim nunca terminem os aplausos – voa, voa, voa!

Agora que partes amigo e deixas uma vaga neste coração,
Vai em paz pelo firmamento que tenhas encontrado a ponte,
Lembrar-me-ei do toque fantasma, da beleza e nessa canção,
Ascenderás aos céus, serás parte do nosso eterno horizonte,

Em memória ter-te-ei, respeitando esta curta condolência,
Num ínfimo gesto tentando imortalizar essa tua ausência,
Assim celebrarei a tua Vida e esse bem tão bem praticado,

Espero por convivência algo ter percebido, recebido o recado,
Até breve meu amigo, agora que ganhas asas e leves plumas
Que continues a emanar luz suficiente para esvaecer estas brumas.

para o Toni

sábado, 25 de agosto de 2018

Um Quarto Estofado

Fiquemos em silêncio, ao passo do fantasma, o abrigo, 
A rédea do cavalo branco, o mastro e o marinheiro,
Por vezes vem tal como uma benção outras castigo,
Sou irmão da brisa e o vento é o único companheiro,

De mãos atadas, o liame entre eu e os meus amores,
Esbracejando em insanidade entre quatro paredes
Brancas e eu medicado contra as polémicas dores
Este corpo sem mente peso morto nestas redes, 

Tal lugar mal situado, caminho barricado por mim
E em mim sem conseguir ser localizado e amado,
Quisera o destino que o mundo fosse só assim, 

Confuso, distorcido e entorpecido tal estático,
Eu projectado bem, bem alto no céu estrelado,
Do medíocre estou farto, dêem-me o fantástico.


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Soltem-me

Esfolando os joelhos, seguindo rastos de cadentes,
Sozinhos no mundo, lembra-te quando me esqueceres,
Trago-te na algibeira do peito, na ânsia entre os dentes,
Sob o soalho da sub-cave acreditando na força dos quereres,

Que são só e somente palpitações subentendidas
De luas perdidas, rostos desconhecidos, desejos ao ar,
Luz e eu onde me fui sobre redes estendidas,
Aguardando quem não me procura ou soube esperar

Com olhos de quem não sabe ver, tanta e tanta sede,
Deixem-me adormecer em meus espaços, seus traços
São as linhas destas mão, sendo eu a única parede,

Entretanto almejo seus semblantes e seus regaços,
A eternidade é mais do que uma vida que me impede
É cruzar-me onde o sempre mora e tê-lo nestes braços.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Novamente Colocamos o Pé na Estrada

Do topo do seu farol quase não via a sua luzência,
Negro era o céu donde se atirava para os abrolhos,
Esse escape no breu da noite era esta triste ausência
Que não permitia ver a vista, que a escondia dos olhos,

Procuramos intensamente por seu corpo nos rochedos,
Imóvel e quebrado, a sombra do sol era o firmamento,
Doce e lentamente passava por seu cabelo estes dedos
Esperando que ela retornasse e visse o que estava dentro

Do peito, era coração palpitante aguardando ser Vivido,
O sonho era maldição porém a única oração dignificante,
Assim se separavam as estrelas do céu e no beijo querido

Reparávamos que a margem era cada vez menos distante,
Novamente o poeta era por briosas constelações vestido,
E novamente colocava o pé na estrada como sendo viajante.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Quando Imergimos em Nós

Imerso na enxurrada, triste e sozinho sem caminho,
Finda-se o que era repleto de estrelas para contar,
Na algibeira poeira de um sonho bonito, o moinho
Lavra águas de um dia passado que pude albergar,

Entretanto saudades de um beijo que dure uma vida,
A predileção do cerúleo por um único momento,
Que me embeba nos braços de uma costa querida
Pois todos procuramos abrigo, aqui, no firmamento,

O resto é morte, o resto passa quase sem deixar traço,
O trecho é ensejo, lágrima por acordar, o latente
Vem do nada e é imensidão, mais que tempo e espaço

Pois quando nos alheamos do que em nós é
É perdida a ambição, a fruição e de repente
Somos sombra de esqueletos, esquecendo a fé.

Por Onde Ia o Poeta, Por Onde Ia o Amor

Para o mundo era a ausência do poeta,
Divagando aqui docemente tal um pintor,
Apaziguando o passar da hora incerta
Serenando o palpitar do peito, a sua dor,

Por onde ia o amor, ele tal sombra seguia,
Era suficiente para se acalmar o romance
Que era do seu coração enquanto morria
Por ela e por ele, quando estava ao alcance

De um anseio, de um almejo quase trocado,
Ia por onde não se via nem por um bocado,
E, esvaecido, era lamento do não acontecido,

Da lágrima desbotada atrás do seu sorriso
Da mão fiel de amor imparcial, o preciso
Era o beijo eterno por um instante querido.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Encurralado

Encurralado entre os bares destas ruas,
Mais um copo e menos uma memória,
Assim vão passando estas pálidas luas,
Assim se vai tecendo esta minha história,

Por onde não vou, há sombras e vielas,
Esquecimento da noite outrora perdida,
Que são pertença de quem já foi nelas
Todo o beijo e o sabor de toda uma vida,

Envolvido pela neblina, vem a absolvição
De uma doce menina que mora no coração
De quem ousa soar alto e que não tem medo

Pois o silêncio é uma arte, tal manter o segredo
Que é de quem esvoaçou e quis um dia regressar
Ao destino a que já deixou mas porém ainda soa a lar.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

A História do Poema

Algures num poema há aquela ínfima beleza,
Repousando enfim longe em recôndito lugar,
Cedemos versos e pintando vai-se a tristeza,
Novamente sabemos, já não é preciso procurar,

Seremos estrelas cadentes arranhando o céu,
Essa cúpula permitindo um instante de Vida,
Ou fantasmas antigos arrancando este véu
Quando tudo o que conhecem é a partida?

Sou a bruma e a lamparina, a nebulosa da criação,
Onde se criam as maravilhas e se escuta o coração,
Separo-me dos transeuntes, daqueles sem alma

Distante do ponto inicial, só isso sossega e acalma
Pois do olho do vendaval sou oriundo, minha glória
De perto de mim rascunharei nesta história.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Através de Meandros Já Passados

Suplicava então por quem lhe desse a mão,
Por um instante único de perfeita sintonia,
Quem lhe preenchesse o resto do coração
E lhe reensinasse por fim o que é magia,

Eram cavalos selvagens percorrendo o leito,
Enfeitiçando tumultuosos o olhar procurado,
E em silêncio esperava ouvir enfim o peito
Dela sob o meu num momento já elapsado,

Esquecia o beijo que tardava, a tarde morria,
Em breves traços recuava numa noite vazia
Repleta de sonhos e almejos não alcançados,

Por mim o cerúleo era todo o seu belo olhar,
O coração que não devia mas acabei por dar
Através dos meandros de tempos já passados.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Por Pequenos Instantes Quase Sorrio

Escutando o não observado, o alheio impermanente,
É semblante para o não envolvido, o beijo indiferente,
Por onde vamos não nos vemos tal aventesmas pálidas,
Somos tal oceano ou deserto de superfícies esquálidas,

Refugiar-me-ei em casa quando o sol enfim despontar,
Quando o peito se encher e por fim conseguir respirar,
Pois por metade de uma alma não se alcança o horizonte,
Serão horas tumultuosas que não conferem uma ponte

Para lá do instante, eterno finito que proporcione lugar,
Amor qual será o meu sítio quando não sei sequer ficar?
Dormitando no ombro da Lua a sentir o seu doce abraço,

Enfim ouço a terna voz do Universo conferindo regaço
Que é maior do que aquilo que sou neste breve instante,
É quase suficiente para por segundos sorrir, é o bastante.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Demasiado Próximo do Sol

Conferido o beijo através duma oblonga passeata,
Por onde nos perdíamos em doces constelações,
No dia presente aqui preencho a minha errata
Pois o meu todo não é suficiente para dois corações,

E alongamo-nos em esperas que não sabem a Vida,
Respirando fumo, esbracejando e rogando por ela,
Lágrimas pela Beleza de uma quimera tão querida
Que não é o bastante para afogar esta triste estrela

Que trago abrasando e cegando tal um candeeiro,
Por onde vou à noite, perco-me na falta de luzência,
Tão sozinho tornando-me cinza caindo num cinzeiro

Por onde vou vai-se fenecendo a palpitante fulgência,
Amor, amante, amiga, conhecida, estranha, o aguaceiro
É todo o meu sentimento que não suporta esta ausência.

domingo, 5 de agosto de 2018

O Suspiro do Poeta

Passaram as enxurradas vindas de Abril,
Sonhando todos os sonhos deste mundo,
Onde vamos aguardando a brisa primaveril,
Percorrendo todos os trilhos do vagabundo,

São o homem afastado da margem querida,
Cura a sua dor, dá-lhe a mão e sê no caminho,
Apressa-te, quando chegares ele será em partida,
Esse é o fardo do poeta colocado no escaninho

Que é o seu peito arremessado ao prado infinito,
Frágil e delicado, Amor, frágil e tão delicado,
Somente este silêncio para conter o seu grito,

O refúgio torna-se escape de um medo tão real,
É xeque-mate ao coração por vertigens trucidado,
Esse seu suspiro demarcado pelas estrelas do astral.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Até as Estrelas Morrem

Escapa-se-me o coração, cantando a sua canção,
Quase a encontro entre escombros e penhascos,
Poderia ter sido amor mas era um simples não
Remetido dentre o golpe eficiente de mil carrascos,

Perdido em incerteza, o lar que nunca mais chega,
Perdido num novo trago onde me enterro sozinho
Pois quando o bom dia deste lugar se desapega
Enfim trajamos as sombras de passado caminho

E vamos indo entre as poeiras e brisas partidas
Por onde não fomos, juntos, verte-se a morte,
Trazemos bruma, noite e nevoeiro aqui vestidas,

Valeu a pena, pelo menos dei-lhe a minha mão,
Não obstante de qual era o poente ou a sorte,
Amor, somos os restos de uma moribunda constelação.

domingo, 29 de julho de 2018

Procurando Por Deus... Aqui e Agora

O dia de verão passou outrora, um dia,
Recolhido ao silêncio dessa primavera
Onde tudo era possível pois havia magia
Embutida na moldura, a bela quimera,

Era quem eu era, a crença no firmamento
E naquele dia em que o dia foi passando
Percebi que o dia não passa de momento
Mas que cada momento se vai acumulando

E assim nos libertamos no vazio do horizonte,
Não como crianças mas tigres feitos de plumas,
Alcançando Deus e erigindo uma eterna ponte,

Sorri meu irmão, acorda e sê num sonho bonito,
Há luzências, há fulgências para lá destas brumas,
A procura é em nós, aqui rumando para o infinito.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Aos Que Almejam Ninharias

Certamente há gente que vai passando
Pela berma da rua sempre procurando
O que é fácil, o que é pouco importante
Pois ficam-se por ninharias, não obstante

Do que procuram, ambicionam o nada,
Colocam o pé na rua mas não na estrada
E então vendem a alma por meio tostão
Que não preenche a alma nem o coração,

Prego-vos aqui sem pregar a canção do amor
Aquele que fecunda a mente e retrai a dor,
Pois quando tudo passar querer-vos-eis lembrar

Que por cá passaram, que foram Deus a andar,
Então ambicionem estrelas, longe do humano
Pois o tempo passa e nos ceifa ano após ano.

Este Caminho é Fealdade e Beleza

O homem envelhece e torna-se poeira,
Vai passando a linha continua ao vento,
Aquilo que gosta coloca na sua algibeira
E o que não fica deixa ficar ao relento,

Entretanto renascem dias no horizonte,
A cinza é no cinzeiro feito de passado,
Entre eles há amor, a sua única ponte
Que é o que há mesmo que eclipsado,

Nasceu para amar magia, a ela conhecer,
Mesmo que por vezes só haja tristeza
Ela também é precisa, é preciso a conter,

Até ser levado e tudo se tonar clareza,
Entre essas margens é necessário o ser
Pois este caminho é fealdade e beleza.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Reparei e Gostei dos Traços

Adaptamos-nos ao estático de uma ausência, 
Pernoitando num instante já cá eclipsado, 
Deixo por mim um beijo, uma condolência
Assim escrevinha no caderno o passado,

Folhas caindo, vivendo ao sabor do vento,
A sombra do sol é num ensejo de gratidão,
É suficiente para buscar a Lua do firmamento
E para preencher de Amor um solitário coração,

O cruzamento pela Vida é dádiva descomunal, 
É partilha da vista da viagem indo lado a lado,
Bela envoltura, envolvência e abraço sem igual

Portanto há a agradecer, há a dizer obrigado,
Pois aprendi a caminhar, a voar pelo astral
Quando por quem partiu outrora fui albergado.

De Costas Dadas

Amor meu, ensina-me o caminho da terra,
O grito indómito que revela toda a certeza,
Este é o trilho dos que se levaram na guerra
Uma batalha onde se aprende o que é beleza,

Pois Amor, amar é fácil, simples é sim amar,
Reavive a alma, a espera é enfim culminada,
Deixam-se os botecos, deixa-se de procurar
O passo ladeado que vem ao pé da estrada,

A lágrima sobre o peito é um beijo perdido,
Dois a teimarem em não ser num coração,
Então se deita fora o que já foi recebido,

Assim se esconde o Sol nesta triste estação,
Quando o amor entre dois é mal-querido
Só resta velar o peito como se fosse caixão.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Quando a Vida é Quase, Quase Vivida

Saudade é aquele envolvimento golpeado,
O coração é estrado para um sentimento,
Abrem-se fagulhas dentre o lume apagado
E a emoção é bocado de um ido momento,

O esquecimento que não vem, amor é sabor
A terra na boca, língua saboreando o esgoto,
E eu, insonso, desgosto-me deste meu odor
Somos os filhos bastardos, o bastardo ignoto,

Estranhando porque o sol cai aos quadrados,
Porque a lua sempre é esta única companhia,
Enquanto nossos corações forem quebrados

Não haverá luz alguma que se lixe a maioria,
Sou parte de quem não tem todo, retornados
À manhã que foi deixada de um outrora dia.

terça-feira, 10 de julho de 2018

A Vida Sê

A Vida aqui tem passado e de antebraços sorrido,
Em bondade e maldade no segundo passageiro,
Por trilhos e veredas pelo horizonte tem corrido
Tem havido beleza no escuro, a luz do candeeiro

Que é Vista e luar para quem passa e quase vê
A noite prescrevendo o ditado do outrora dia,
É a súmula do homem ausente que em si é e sê
Não esquecendo a senda para o beijo, da magia, 

Raios de Sol e faz-se fulgente a letra do caderno,
Somos quase Deuses erguendo-se no forasteiro,
Passa o Outono, o Verão, a Primavera e o Inverno

Quase se toca à tangente a sombra do verdadeiro
Que é eu e tu, eles e nós num abraço fraterno
Num instante infinitésimo que se torna inteiro.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Quando Somos Todos Os Pores do Sol

Cobrindo a face do sol, de rostos encobertos,
A vontade de viver, a ânsia para aqui morrer,
Parece que furtaram a revelação dos tectos,
Sou apenas um homem, permitam-me ser,

Através da noite, a miséria é sombra emprestada,
Eu peço, eu rogo, eu pilho e sou submerso
Pela vontade de viver, a ânsia de morrer é dada,
Abro as feridas do lado da cama, o inverso

É alimentarmo-nos de passados, sois já idos,
Tentação, doce coração, albergues para o beijo,
A procura de fantasia, por sonhos coloridos,

Deitamo-nos no mar e permitimos a Vida ser,
Mais do que a verdade, a vontade, o almejo
Sou os pores do sol, soa a vista, sou o Ver.

domingo, 1 de julho de 2018

Tenho

Aqui, de olhos cerrados somos pecadores,
Os lençóis usados entre caminhos perdidos,
Cruzes e lajes são o silêncio destas dores,
Através de corpos convulsos, estremecidos!

O êxtase da noite, o toque da mão dada,
Um rio fluindo e nós enfim entrelaçados,
Quase amor, nossa cor era vida recriada
De momentos ausentes aqui procurados,

Beijando a chuva, a lágrima em labaredas,
A seta quebrada, eu sou o tolo de Cupido,
Por onde o passo é essa ida nas alamedas,

Indo aonde o pedido do coração é indeferido,
Ante ruelas e vielas, sendas virando veredas,
As saudades de sussurrar amor ao seu ouvido.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

E Plantamos Uma Semente

De ouvidos nesta estática, no ruído de fundo,
Vivendo em vinda, rasgando as costuras,
De joelhos arranhados, a sombra deste mundo
É enfiar a cabeça nas nuvens e ter aventuras,

Pertencentes a Ema, ao soneto de um poeta,
Esta voz gasta sob estas luzes resplandecentes,
A dor do não saber quando termina a ampulheta,
Partimos breve, somos os incrédulos, os crentes,

A noção de que o amor jaz debaixo de lençóis,
Em praias desertas, prados esverdeados, não!
Ele é mais das roxas sarjetas onde constróis

O colibri que esvoaça longe do mundo e vai alado
Por onde ninguém ousa ir, perto do coração,
Amor, para o simples amar basta estar enamorado.

sábado, 16 de junho de 2018

Escadarias

Há instantes em que somos toda a perdição,
Amor faz parte, a parte que foi ao acaso deixada,
Há instantes em que  esquecemos o coração,
Amor por vezes deixamos o passo na estrada,

E vamos indo sem desculpa ou sequer obrigado,
Tendo abrigo mas não tendo beijo ou noitada,
Amor, somos parte do resto deixado ao cuidado,
Oh amor, somos a seta de cupido quebrada,

Sentados em degraus, sem sítio para vindouro,
Procurando ruído como se um ceptro fosse,
Quando o caminho não é ruela feita de ouro,

Amor, perdidos - deixados ao acaso, ao nada
E o presente o que disse, o que foi que trouxe?
Amor, somos a alvorada um dia ida e atrasada.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Enquanto Fizer Parte de uma Estação

De dedos esticados alcançando o infinito,
Passeando onde deuses são espectadores,
Condensando estas estrofes num só grito
Que apazigua e clareia do céu suas cores,

Aos pintores do horizonte um aceno deixado,
Magias acontecem quando sem emboscadas,
Sois o pássaro azul do peito, do cá celebrado
Que é o pular dentre estas nebulosas amadas,

E somos o silêncio do segundo não acontecido,
O instante sem pertença, momento de indecisão
Onde por vida era quase encontrado e perdido

E o mundo vinha e se ia revirando este coração,
Ao vindoiro aceno e um dia quando for esquecido
Sorrirei desde que seja parte de qualquer estação.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Acorda, Acorda

Acorda, acorda, rasga as páginas doutro caminho,
És prisioneiro das salas traseiras, do teu vazio
Acorda, que importa ir acompanhado ou sozinho?
Desde que não tenhas medo de apanhar frio,

E estamos todos a meio gás, em meio sonho,
A benção, a maldição, somos donos de arrastados,
É engraçado como temos paciência, o eu risonho
Esquece-se que tudo passa, tudo é só bocados,

Quase nem sei o que é apanhar chuva, o beijo eterno
Do sono infindo, desta vez sou criança a sonhar
Com o que virá, a doença e cura em tom terno,

Acorda, acorda, a vida é ávida, passa depressa,
Levanta-te e vai por onde houver cores a pintar,
Que bom ser e passar, o que mais interessa?

Ante o Caminho Do Que Foi, Do Que Será

Aventesmas pairando ágeis entre corredores,
Sóis e Luas, confissões tornadas em sussurros,
Da envoltura dessas confidências vêm as cores
Pintando escadas para o céu e escalando muros,

Beijo-lhe o rosto, esperando pelo sono sem fim,
Vivendo e morrendo pelo tanto já aqui passado
Este é o olhar de quem aguarda o sonho enfim,
Este é o único sonho de quem se há enamorado

Por estrelas cadentes e aqui indo de mão em mão,
Isto é o suficiente para se ser aqui poeta em vida,
É o suficiente para preencher o resto do coração

De folhas caídas, contracenando com o horizonte,
Amor somos espectadores esperando pela partida
Para qualquer margem através de qualquer ponte.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Diferenciando o Procurar do Precisar

Pela noite infinda eu era apenas o viajante,
Sonhos doces eram as vozes do caminho,
O horizonte era a procura pelo distante
Que era em mim o caos deste torvelinho,

Jamais visto, próximo da margem querida,
Beleza incógnita era o singelo do abrigo,
Perecia por vielas enquanto era em vida
E a quem conferia a mão vinha comigo,

Na coroa do sol como uma sombra retorno
Ao toque de Ema, ao sussurro da alvorada,
Através do mundo vem o beijo que adorno

E eu, impreterivelmente, preso à leve pluma,
De que me importa enfim ter o lar, a amada,
Se só pretendo contar estrelas uma a uma?

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Para Este Mundo Que Lentamente Te Está a Matar

Sei que este mundo lentamente te está a matar,
Vai sorvendo vida por cada palpitar pungente,
Passam sóis e luas e parece que te estás a afogar
Na caricia lesta do tempo que é tão impermanente

E delicadamente nos vai conduzindo à sepultura,
Esvaecemos em tristes lágrimas da estrela do Norte,
Perdidos entre os lençóis sem nunca chegar a altura
Em que nos soltamos destas amarras, desta vil sorte,

Sim, sei que este mundo lentamente te está a matar,
Às vezes parecemos fantasmas ainda por cá vir
Porém há sorrisos por ter, plumas para alvoroçar,

Esta vida tem muito mais do que apenas o existir,
Somos poeira de estrelas douradas aqui a dourar
Acredita irmão, há diferentes cores para o colorir.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Enquanto Vamos Passando, Ouçam Nosso Passar

Sim, um dia morrerei, obrigado querida vida,
Entrega-me ao resto e permite-me o fragmento,
A pegada na estrada, o por fim fazê-la sentida
É ergue-la bem alto celebrando cada momento,

Tenho sido tantos, tantos por mim e no segundo, 
Chamam-me rua e por ela tenho sido a passagem,
Sempre sem destino de onde parti ainda sou oriundo
De tudo que passa pelo peito, essa é a única viagem,

Canto em qualquer canto, largando amor ao caminho,
Se um lindo dia partir e deixar a magia ser esquecida
Lembrem-se que ela está cá, acompanhado ou sozinho

E que somente depende da ponte para a margem querida,
Beijo a terra que piso, pele virá da cicatriz, e o escaninho
Para o Sol e Lua da algibeira contendo porções desta vida.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

O Instante Sou Eu

Vou indo e recolho-me ao abrigo da tempestade,
Sou espaço para o olvido e o seu esquecimento
Destes lábios em súmula minha única verdade
Que é perdição para os achados e o acontecimento

É este perdão por quem não fui, aquele não ser,
O toque não tocado, a vontade deixada à maresia,
Os amores que partiram ainda são parte deste ver,
Os amores que partiram são toda esta poesia,

Não há escape à envoltura do beijo do passado,
Esperando a cada esquina por um instante
Que já partiu e chegará no tido como ansiado,

Amor, o resto somos nós de olhos bem fechados,
Por tudo que vem parece que não basta o bastante,
Nem destino, nem fado, nem os trilhos já passados.

domingo, 20 de maio de 2018

Dentro do Olho da Tempestade

Um barco a remos flutuando entre a multidão,
Perdido para este mundo, levando a certeza,
Algures entre o azul, procurando a estação
Onde faz sentido o ver um pouco de beleza,

Onde a brisa sopra fresca e o céu tímido começa,
Há instantes em que Deus fala, há a eternidade
Que por muito que venha e seja e até aconteça
Somente encontrará refúgio pela tempestade,

De onda em onda, faz-se da maré o marinheiro,
De vaga em vaga, sob a chuva e sobre o sol
Que venha o arco-íris deste terno aguaceiro,

Submersos e imersos no sonho alado tornado,
Somos sementes no lazúli escapando do anzol
Que é mar adentro, rapidito, o azul respirado.

domingo, 13 de maio de 2018

De Olhos Acordados

Sol, queima-me as pálpebras e permite-me ver,
Passam épocas num olhar que é emoldurado
Por quem vem se tornando passado, este ser
Só pretende leito e repouso, lugar recatado,

O vazio em mim é recusa para a última música cantada,
Promovo amor tal investimento, ah doce esquecimento,
Mal me lembro daquela palavra ainda não inventada,
Que era amor, era dor, era paragem e movimento,

Àqueles que trilham sob a chuva, um único beijo,
Larguem-me nas ruas, soletrando este apelido,
E percebei que quase não tem lugar este almejo,

Adormecerei ao ombro da Lua, aqui confessando
Os atalhos das vielas, o olhar de Ema, o prentendido,
Desvaneço em ar nesses nuances tal pluma esvoejando.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Nos Pássaros Azuis do Peito

Estou nas mãos do beijo, de uma alada fantasia,
De apelido cerúleo, voo enquanto ardem cidades,
Que venha o Apocalipse, sou detentor da melodia
Que separa peões de deuses, que ignora idades,

Despindo peles, sou camadas de ventos e brisas,
Encoberto pelo pássaro azul, acreditando no insano,
Respirando a liberdade de mil e um poetas e poetisas,
Sou anjo, sou coração aberto, vinda ano após ano,

Dou tudo, fico com mais, a fuga torna-se procura,
Até encontrar o segundo dourado e logo o deixar,
Deixem-me ir, permiti-me ficar no que foge e dura,

Sigo e caio entre os perdidos por vezes encontrado,
Onde todos somos belos, onde todos temos lugar
Pelo sujeito amar no estranho familiar sussurrado.

terça-feira, 8 de maio de 2018

A Crença é o Pavimento dos Sonhadores

A calçada é abrigo para os desalojados,
O caminho estrada para o beijo partido,
Somos evanescência dos já quebrados
O espaço entre o odiado e o querido,

Respiro fundo e lágrimas são no peito,
Amor um dia encontrar-te-ei no trilho,
Estas palavras sem qualquer despeito
Dizem sobre quem do elísio é filho,

E perdidos suspiramos a morte e a vida,
Entreabertos para o amanhã, o toque
É só o poema incompleto desta saída,

A crença é a apóstata e o apostolo aqui,
Ainda bem que por cá há quem troque
A cidade e a cinza pelo beijo do colibri.


segunda-feira, 7 de maio de 2018

A Ideia de Beijo Sem o Lábio Tocado

Água vai subindo enquanto o chão se quebra,
Estou de costas, flutuando sobre o infinito,
Olhando para o céu no que aqui se celebra
É a maré que me leva o silêncio e o grito,

Fujamos Amor, nada nos espera mais aqui,
Sem pertença além, afoga-te já comigo,
Se partires, quando for, encontra-me ali
Onde estrelas colidem sendo meu abrigo,

Corramos Amor que deixemos a água rasa
Nos beijar os pulmões tão delicadamente
Sem nada para dizer, esta paixão é brasa,

O lume consumir-nos-á enfim e certamente,
Este belo suicídio é só beijo e a ideia de casa
Que nunca chega aos lábios do homem ausente.


sexta-feira, 4 de maio de 2018

Este Beijo é o Meu Único Tesouro

O sol cobre-me o peito, sou um simples almejo,
Para além de onde estou, vem a revelação:
Anseio o para lá do horizonte, do que vejo
E entretanto esqueci no armário do coração,

Nas mãos de outros, estes olhos semi-cerrados,
O tempo perdido são estes trilhos percorridos,
Colapsando em camas desfeitas, enganados,
E nós dormindo entre lençóis meio rompidos,

Sentindo o seu respirar, um murmúrio sem apelido,
Estes cadáveres movendo-se perante o vindouro,
Somos as estrelas caídas em almofadas sem sentido

Os meninos dançando em berços feitos de ouro,
E eu sempre indo mas tão longe do pretendido,
Por favor compreendei, este beijo é o meu tesouro.

O Monstro Disfarçado de Princesa

Ser poeta - ainda não cheguei e já fui a partida,
Perdido entre a volúpia de um abraço involuntário,
Sou só qualquer ponte para aquela margem querida
Pois das suas cores favoritas eu sou o seu contrário,

A silhueta da sua voz é a distância presente no mundo,
Distrai a solidão, o ansiar estar é ir de mão em mão
Mesmo sabendo que para o sentir sou só poço profundo,
Esquecendo os lábios que nos beijaram, abate o coração!

Este toque é um vampiro cravando as garras no transeunte,
Abutre e lobo para o desprevenido, sem descanso ou sono,
Fugi, “o monstro disfarçado de princesa” há quem pergunte

Pois morreu em seu langor, no ventre do matricida, só poeira,
Sem qualquer culpa ou dor, no ponto sem presente ou retorno,
Perdido já estou eu, este é o último resto desta minha algibeira.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Por Prados e Planaltos

Recebido o partilhado é largado um obrigado,
Fecho os olhos e entreaberto torno-me janela,
A iris pálida, o pássaro negro, o prado sobrevoado
Até que ante nós apareça a mais bela estrela,

O poeta é de outros planetas, traz no coração a alma,
É suspiro no eterno, frágil e delicado tal Orfeu,
É o murmúrio no riacho que sossega e acalma,
O vendaval que é algures entre Nero e Romeu,

A procura é o que traz do horizonte tão distante,
É beijo aos segundos entretanto já caminhados,
E ele, aos bocados, é da fagulha o único amante,

Estirado por onde em passos outrora ecoados
Foi pluma de pássaros negros por paragem errante,
Chegou o seu tempo, esta é a hora do ansiado.

sábado, 28 de abril de 2018

Amor, Somos as Crianças Perdidas

Amor, somos somente frágeis crianças perdidas,
Cantado às estrelas beijos de épocas douradas,
Transbordando do seu peito revistas, renascidas,
Porém sabendo que a noite as deixa quebradas,

Por onde caminhamos já fomos outros a passar,
Desde quando deixamos de ver o firmamento?
Entardecendo entre pássaros e insectos a clamar,
Procurando tal vampiro novo beijo entre o nevoento,

Procuramos o estelar sendo por vielas reclamados,
Leve e docemente a queda é a almofada do sentido
E onde nos vamos buscar em nós somos bocados 

Pois Amor, fomos o que nos restou e nos era querido,
Um delicado toque, semblantes outrora agasalhados
À sombra deste quase reduto de um coração bandido.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Grito De Guerra Para Os Sonhadores Pt. II

Sois sonhadores, sois vós a voz que erguerá a una voz,
Precisos para a lugubridade de uma época perdida,
Por favor trazei luzes para alumiar este dantes, este após,
Pois esta cidade ficou enfim cinzenta e perdeu toda a vida, 

Entre os seus escombros estes belos pirilampos enfeitados,
É preciso ousar sonhar, é preciso retornar, é preciso sentir,
Viverei um dia mais cada vez que por eles formos adornados,
Esvaecido na ideia intemporal, num pio chorar ou até sorrir, 

Verdade é que a morte é este tiquetaque, este pérfido abate,
A impermanência é irmã do sonho alado, das plumas coloridas,
Apaixonemo-nos por nossos irmãos, partilhemos a mão, à parte

Que é partilha mesmo que sejamos apenas crianças perdidas,
Amor, Sonho, Vida? Todos em mim e eu neles essa é nossa arte
A ponte entre o céu e a terra, venham a mim quimeras queridas!

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Grito De Guerra Para Os Sonhadores

Luzes reincididas para lá de gotículas caídas,
Deixamos um rasto para as estrelas, o beijo,
É poesia para o sol e chuva, mil e uma vidas
Passam por olhos entreabertos, é o almejo,

Oração para o coração silente, a alma caiada
De gotículas de orvalho tornadas semblantes,
Assim se faz o trilho agridoce, assim é a estrada
Para o segundo passageiro, para os viandantes,

Este é o agora, após e desde, aqui permanentes
E dissidentes, feitos de poeira dum mar estrelado.
Aquecer-me-ão quando estiver frio, Luas confidentes?

Não, adeus às cópias, por Ela sempre enamorado,
É o Amor impossível que faz dos incrédulos, crentes,
Então sonhai mais alto de que tudo o jamais sonhado!