quarta-feira, 29 de junho de 2022

Este Apelo

Vestidos alíferos dançando na palidez do luar,
Eu vendo ornamentos e rostos sem semblantes, 
Quem dera ter alguém em quem poder encostar,
Pois o beijo só é beijo se for entre dois amantes,

É a perfídia do antes alimentando-se do depois,
Sinto o tremelejar de uma noite sem dormida,
Um oceano preenchendo o espaço entre dois,
Onde vou perdendo de vista a margem querida, 

Numa voz que celebra o tempo e a sua passagem,
Uma tapeçaria pendurada do céu, mostrando vida, 
Fica o silêncio familiar de quem escuta a aragem,

Precisando de encontrar a luz, de sonho do pesadelo, 
Cada lugar e cada estar, faz um feitiço nesta lida,
Pois que as minhas ninjas e musas ouçam este apelo.

terça-feira, 28 de junho de 2022

As Horas Hediondas

 Vou dormindo pensando quase estar despertado,
A ruga aflorada na pele, essa verdade escondida,
Não é perceptível do topo da montanha, acordado,
Acredito ainda ter por sonhar, mas vem a despedida,

A dor é real, a mágoa é pertença de batente coração,
Porque não? Porque não haveria de por fim o fazer?
Vou perdendo a quem dar realmente esta minha mão,
Cada vez se torna mais difícil de acreditar ou de ver,

Este cadáver esmorece com o vento e as suas ondas,
A vida pesa-lhe assim como lhe pesa o seu passar,
As horas vêm e vão tornando-se assim hediondas

Cerrando os olhos, permitindo por fim o anoitecer,
Até quando poderei dobrar este corpo antes de quebrar?
Até quando percorrerei este caminho sem nele fenecer?

sábado, 18 de junho de 2022

O Homem Tornado Deus

O sol no passadiço relembra as odes do passado,
Preciso de prados para poder enfim respirar,
Reflectindo o beijo dado no instante eclipsado,
O fundamental é ter espaço onde a cabeça pousar,

Que haja raízes, troncos e ramos bem erguidos
Para a abobada celeste ter em eterna celebração,
Por mapas azuis de Vida deixados e por eles vestidos,
Por vezes não são o suficiente para perceber o coração,

Ou sim, ou não, nada de meios termos, de incertezas,
Pretendo sorrisos e choros imensuráveis, o ilimitado
No rosto traz as rugas de uma criança e as suas belezas

Constam no cardápio de Atlas, para sempre o brilhante
Entre as palmas das mãos, num momento diz o ditado
Do homem tornado Deus ou num caminho semelhante.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Por Aqui Ou Por Lá

Pétalas de flores lançadas do alto de uma varanda,
Enquanto elas caem vou procurando por mim,
Indubitavelmente a vida é sempre esta ciranda
Que por vezes nem parece um dia chegar ao fim,

Quatro homens carregando um lúgubre caixão,
Quem diria que o enaltecido seria nele contido,
Assim lentamente deixou de bater um coração
Que entre passos dados se deu pela noite vestido,

Agora vem o reino do além feito para os sonhadores,
Eu nem sei se me acerquei, se me dei por encontrado,
Quanto mais qual é o procedimento, qual será o estado

Para me libertar enfim destas fúteis e terrenas dores,
Porém a certeza vem da incerteza: como será o amanhã?
Desconheço por inteiro seja vida ou morte por aqui ou por lá! 

domingo, 5 de junho de 2022

Aos Caídos

Os vestidos de Outono em bonecas de porcelana,
Enquanto atiro ao ar esta velha roupa usada,
Nas curvas conturbadas desta estrada insana,
Por onde ninguém passa e a passagem é cessada,

Fios de papagaios largados, enfim conseguimos voar,
Se seguir os trilhos dos vagões a casa terei chegado?
Ignorando os passos dados e onde eles hão-de ecoar,
Suspira aquele que outrora caiu sozinho e postergado,

Aos esquecidos esperando perante os portões dos céus,
Por cada eons os caídos suplicando e rogando entrada
Acenando à redenção do paraíso, removendo os véus,

Suas asas de plumas arrancadas, removidas de intenção
Implorando santuário, o pecado ou bênção perpetrada,
Vamos ansiando o altivo mediante o bater do coração.