Num sonho de coral uma vida erigida,
Frágil como porcelana numa despedida,
Neste sereno jardim cinzento,
Sente-se a passagem do vento,
Ouve-se ao longe, o murmúrio da fonte,
Suave como a brisa, que maternal me reconte,
Belas estórias de formosas princesas de lazúli,
Que em imensos contos me beije aqui,
A princesa das princesas, que seja ela,
Aquela que jamais apelide, mas chame de bela,
Assim como o esvoaçar de um dente-de-leão,
Que tenha sempre asas, que voe nesta imaginação;
Retratando desta feita a paisagem em redor,
A beleza a embelezar a beleza do amor.
Então com áureas asas veio o toque do céu,
Num enlevar que não é somente meu,
Pois colocaram-me uma coroa de estrelas,
E nesse retrato tornei-me irmão delas,
Tendo o mundo se revelado num puro sim,
Afirmação e paixão, dessa janela aparecestes assim,
Acenando ao longe com a vossa própria formosura,
Enviei aos céus um ver dessa espontaneidade pura,
Essa beleza que faz tremer o passageiro transeunte,
Pois então que ele se achegue e pergunte,
Qual a medida certa de um abraço,
Qual o nó perfeito para este laço,
Qual o preciso ritmo do palpitar cardíaco,
Aquando de encantada viajata por sonho idílico?
Pois, quão incerta é a proporção certa do sentir,
No que foi ou ainda no que há para vir,
E vós, oh bela e imortal rosa!?
Que do frio e vazio se há tornado piedosa,
Recordai a fortuna de vosso enamorado amante,
Que há caminhado ao vosso lado e adiante,
Vendo novamente as cores de vosso sorriso,
Num suspiro satisfeito, lestas nuvens vêem o piso,
Do caminhante errante, o nobre peregrino,
Procurando o néctar que perfaz o divino,
Retorná-lo-ei em segmentos de brilho,
E no pináculo da viagem, no fim do trilho,
Sorrirei então com o vosso sorriso no meu,
Contar-lhe-ei das odisseias de Orfeu,
Que evocava a esplêndida harmonia,
Mas que sem musa… nem a ele próprio se ouvia.