quinta-feira, 11 de abril de 2019

Os Mortos Que Trago Aos Ombros

Estes são os mortos que vêm de mão dada,
Eu sou mausoléu e sepulcro para os partidos,
Talvez sonhe sobre negros sonhos de enxurrada,
Escutando por longos monólogos ainda sentidos,

Vejo-os através do canto do olho rapidamente a passar,
Num cemitério o fantasmagórico e funesto casamento
Entre os mortos que fui e os vivos que hei-de alcançar,
Pois quando chegar esse será de todos o testamento

Aqui deixado por um coração pulsante ainda a pernoitar
Por um instante que algures também deixou de acontecer,
Trago aos ombros estes mortos apesar de ainda respirar

Trago-os no peito, ao abraço assim reflectidos no viver
Pois quando partir e da terra me retornar enfim ao ar
Esses mortos serão tudo o que nesta vida soube ser.


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