É preciso este silêncio e nesse bocado
Sou a ponte entre o canto e a aresta,
Trago nas pálpebras o olhar semicerrado
E parte da brisa que da mão aberta resta,
Tenho passado por lampiões e ruas vazias
Por vós a voz amada, amante e amiga
Ofereço-a onde soam doces melancolias
Partilho-a e a mim ao abrigo desta cantiga
A gente que passe e não seja apenas gente,
Entre o vértice e o ângulo, sempre à margem
De abraços cruzados deslizando em frente
Onde gritos se dissipam juntando-se à aragem,
Bebo-os inteiros e trago-os todos neste presente
Nestas nébulas que do viandante são a viagem.