terça-feira, 27 de outubro de 2020

A Morte Bateu-me À Porta

A morte bateu-me à porta e eu permiti-lhe a entrada, 
Trouxe-me rebuçados e doces de um tempo perdido,
De magia e epopeias de quem não era de todo lembrada,
E o seu murmúrio era sossegado a um simples pincel colorido, 

A morte bateu-me à porta e eu mostrei-lhe o caminho, 
Trouxe-me cigarros e beatas na mão aberta, era o incerto,
Ela disse: "Não sabes que nesta vida morre-se sempre sozinho?"
E eu acenei com a cabeça, ela olhava-me como se fosse seu adepto,

A morte bateu-me à porta e eu permiti-lhe sentar-se,
Trouxe memórias de porções de beijos do tão distante,
No longínquo ouviam-se gemidos, era o velho a lamentar-se,

Pelo tempo que não foi Vida, pelo frio que era triste, pela geada, 
A morte bateu-me à porta e deu-me a mão num silêncio reconfortante, 
E eu fui com ela satisfeito por tudo ter feito, não obstante de tudo ou nada.


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