Não te vás ou dês triste à noite cinzenta,
Esperando por ela com olhos empoeirados,
É todo um mundo que passa e não se lamenta
De não sermos mais dois corações apressados,
Entrega-te à luz, pomposa e tão airosa,
Que ela te beije tal a mais formosa donzela,
Que nela concebas de amor uma nebulosa,
Que assim encontres a mais brilhante estrela,
Oferece-te ao universo como único presente,
Adormece ao seu ombro, numa eternidade,
Pois quem não sabe é só quem não sente,
E nesse não saber uma ignóbil monstruosidade,
Então que hoje se faça do incrédulo crente
Enquanto vem a poeira e se instala a saudade.