sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Do Que Foi ao Que Será

As estrelas relançadas para os braços do horizonte,
Envolvido por reflexos de luz, de roupas rasgadas,
Estrofes e versos capotados diante de urdida fonte,
Deixando estas horas para trás, ao plural largadas,

Esta é a distância entre o que fui e o que serei um dia,
Aqui faremos casa vestidos com essas constelações,
Pendurado de cadentes, procurando a una harmonia,
De tempos passados ainda vindoiros em eternos sermões

De quem foi cego, porém verá, seja qual for o destino,
A caravana dos sonhos, os arco-íris e os seus tesoiros,
Fazer-nos-á chegar e das estrelas serei então seu menino,

E as cicatrizes tornar-se-ão enfim em esbeltos diademas,
Lá do cimo, sendo altura, finalmente livre de tristes agoiros,
A lembrar do que foi, e do que eventualmente será em poemas!

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Entre a Noite e a Aurora

Aqui confesso esta noite desejando ser alvorada,
A manhã que não regressa, o espaço da ausência,
Trovas e sonetos, princípios e fins da madrugada,
A verdade é que sou vazio e solidão em essência,

Persianas fechadas, camas desfeitas e emparedadas,
Procurando sofregamente sua mão na minha, o dilema
É que a ampulheta findou imaginando duas mãos dadas,
E assim se faria o triste feliz, ainda mais belo seria o poema,

Por isso busco a amnésia, uma outra forma de esquecimento,
Murmurando pela ruela nocturna o que ninguém ousa pensar,
Somos amantes feitos estranhos, não há sequer pertencimento,

Somente fumo sobre a água, iris num qualquer tempo perdida,
Reflectindo nas lembranças pousadas num sepulcro - um penar,
Entardeço com a Aurora tal a estrofe ao fundo do baú cedida.

domingo, 1 de dezembro de 2024

Entre Capítulos

Lembranças entre as páginas dos livros que não li,
Aqui foi onde a história terminou, o glorioso final,
De todas as coisas que não fomos, tudo o que não vi,
Para ti fui um capitulo, para mim foste o livro afinal,

Noite e dia, eras tu a tal, apenas tu a reluzir a lua do Sol,
Estivesses perto ou longe, pensava em ti noite e dia,
E rasgava os joelhos de tanto rastejar, a caída no anzol,
Esta solidão é perfeitamente esculpida, a soturna melodia,

Nem importa onde estás, nem o que farás, serei noite e dia,
Há estradas por fechar, tormentos a calcular, beijos por dar?
Talvez, mas vejo caminhos além, onde ainda floresce a poesia,

Pois tranquilizemos a guerra das rosas, e as feridas cicatrizarão,
Rebentados os balões ao vento, há sementes ao chão deixadas,
Delas brotam novos versos, novas histórias, e novas jornadas.

sábado, 16 de novembro de 2024

Entre a Resignação e a Esperança

Pois espera-me luz e brilho na noite vasta e profunda,
Então pelo inóspito irei procurando um dia de pertença,
Independentemente de qual seja a sua sina ou sentença,
Irei poça a poça, charco a charco, por cada pegada imunda,

Assim trilhando através da adversidade feita incerteza,
Há tantos desafios a superar e argumentos a ponderar,
Por entre aceitação do destino que irei de novo enfrentar,
Não me basta o suficiente, é preciso envolver toda a beleza!

E os desafios são inseparáveis da dúvida, qualquer é o dilema,
Pelos obstáculos concretos, haverá sempre reflexões internas,
Por isso vou indo louco e afoito! Mexendo e trocando as pernas!

O impulso irreprimível por algo maior, trarei o coração como emblema!
A intensidade e urgência da busca é visceral, é preciso me reencontrar,
Este anseio é por algo superior e significativo, a alma tem de se revelar!

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Entre Valas Comuns e Amanheceres


É este o martírio vivo por espectros sussurrado,
Entre as valas comuns de alguns lugares perdidos,
Pois larga-se este bater de coração, torna-se inesperado,
Resvalando para outros tempos de outrora então queridos,

Pois acorda para o amanhecer, sê enfim encontrado,
Há feixes de luz gentilmente te tocando a cabeça,
Não mais este homem meio morto, meio quebrado
Vagueando entre cruzes, pois, não há quem o mereça!

Porque tarde ou cedo navegamos num mar de enganos,
Aparentemente indo além, objectivamente parado,
Nesta jaula onde passo tempo, onde passam os anos,

Será que foi sonho o sonhar ter sido efectivamente amado?
Ou pesadelo após a verdade, a guerra entre gregos e troianos,
É indiferente, passem-me em frente, sou um homem fraccionado.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Amarras Soltas e Em Contramão, o Coração

Arregaço as mangas e enfim vem a despedida,
Chegada a hora de soltar as amarras deste cais,
Ande o vento me levar nesta vontade desmedida,
Irei, deixando por cá segredos que não ouvirei mais,

Era a noite, era a lua cheia, primeira dentre tantas,
Fugindo do Sol, escapando da sombra, doce ansiar,
Perdido entre mil contos de fadas, onde me acalantas,
Onde me sossegas e consolas, será esse o eterno lugar?

E com tanto caminho, tantos passos dados, tenho crescido,
Sendo infimamente pequeno tal passarinho recantando,
Seu brilho sussurra-me, pois, um pouco de vida ao ouvido,

Mesmo vindo o carro em contramão, a quebra do coração,
Encontrarei algures no vértice da estrada o estar estando,
E o ser simplesmente sendo, lentamente voltará a inspiração!


quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Fracção do Infinito

Lençóis amarrotados e ao ontem impingidos,
Pendurado de uma estrela, sou uma constelação,
De naus que seguem rotas, mudam de sentidos,
Do Inteiro que outrora fui, sou hoje só fracção,

Pois bem matemáticos excêntricos façam vossa equação,
Pouco me falta mais do que ir cedendo à vontade,
Que dá alívio a quem tem sido somente porção,
Mesmo que enganado por ser só sua metade,

Em boa verdade, há um frio que vai e subsiste,
Por onde quer que vá, mesmo que seja verão,
E formos prontos pr'a guerra de armas em riste!

O restante é só poças de água para chapinar,
Saltando para os charcos, permitindo a sazão,
Esqueçam pois quem tenho sido, todo este tentar.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

A Todas as Coisas Belas

Trago lembranças prendidas nos cabelos do vento,
Porções belas de momentos entretanto sossegados,
De espelhos quebrados onde hoje me torno sedento,
De vida, de morte, sob asas de contratempos desossados,

Galinhas de plástico correndo com a cabeça nos braços,
Vagueando deixando rastos de sangue, há aqui beleza…
Pois apontei a todos os aviões e retive-os em abraços,
(Então) Porque é que estes lençóis narrariam somente tristeza?

Assumo-o tal como o suponho, talvez sim a pontos de interrogação!
Conjugados com oxigénio engolido a colheres, meio hesitante,
Pois logo seremos gota de oceano, gesto estatístico ou medicação

Refreada em cápsulas à prova de água, retendo a respiração,
Ofegante ou anelante, deixa lá, que venha, pois, o instante!
Mas, porque é que todas as coisas belas sofrem do coração?

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Armadilhas do Firmamento

Há armadilhas penduradas dos pés do firmamento, 
Escondendo a tristeza atrás de olhares penitentes,
Onde de outrora dois raiou deste protelado casamento,
Não adiado, mas arruinado no trilho dos renitentes,

Essas emboscadas são para os sonhadores esperança,
Para que quando não alcançadas a sua misera fracção,
Fracturados até sua utopia se tornar só lembrança,
E fugirmos da herança cerúlea onde se vicia o coração,

Escrevo palavras tal mágoa de um pianista perambulado,
Dentre margens e lugares ainda por serem em nós visita,
Esqueçam… o poeta foi de novo por si próprio prorrogado,

São as notas e os acordes desta estação ondeando ao vento,
Finando-se num olhar cerrado, num destino de si parasita,
Aonde anjos fizeram aterragens forçadas em porto turbulento.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Na Berma da Saudade

Entre o momento ido e o instante entretanto pausado,
Relembrando os traços dos beijos perdidos, não dados,
Encarando o perdão invertido, o toque por si fragmentado,
Por lágrimas então polidas por círculos tornados quadrados,

Trago a algibeira cheia de esperanças por palavras fracturadas,
Os toques suaves e mornos em mil sonhos por estrelas deixados,
Perdoa-me por nunca ter sido o que querias, as nascentes secadas,
De sentimentos para poder exprimir a carência de amantes separados,

E enquanto durmo querubins passam-me expeditos através das retinas,
Mensageiros do inaudito, do divino, do perecível perante a humanidade,
As andorinhas atravessam o céu e abrem o trilho para terras clandestinas,

Pois tudo me faz relembrar dela, de um amor morto na berma da estrada,
Sem luzes radiantes no fim do túnel, entre o céu e o inferno esta orfandade,
Em jazigo aberto, vala e sepulcro desta triste noite até ao início da alvorada.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Viandante no Nevoeiro

A noite vem e cai que nem uma cortina sobre este olhar,
Navegando tal idos fantasmas por quartos poeirentos,
A vida parece um fardo, parece que para nós não há lugar,
Pois o passado se tornou fracção de mil e um fragmentos,

Pois o viandante está longe da origem, apartado da chegada,
Esqueceu-se do seu trono, da sua coroa, do seu celestial legado,
Onde as estrelas fulgiam, perto da sua pele, doce e sossegada,
Pois deita-me outra bebida e eu deixarei este amor alfandegado,

Sim, estou perdido desde que se escapou a sua mão da minha,
O doce ideal, quase fatal, aprimora-se a necessidade de uno ser,
Quem me dera conseguir, quem me dera reter essa torpe ladainha,

Tomei o que merecia, e é nenhum ou qualquer um o aprendizado,
Vai o orfão pela estrada sem fim num nevoeiro que não deixa ver
O que poderá vir, o que poderá colar num coração estigmatizado.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O Voo e o Labirinto

Rasurando as sentenças outrora em pedra escritas,
Nunca soubemos qual o futuro que nos era reservado, 
Não choraremos pelo pássaro que voou nas horas malditas,
Não rezemos pois para ele voltar, será que voou todo o voado?

E nesse bocado, um amigo caminhando este mesmo caminho,
Rascunhando sonhos até ao nascer do sol tal como profetizado,
Onde regressarei no detalhe da manhã num beijo com carinho,
Cada carta trocada constelação cintilante para o já encontrado, 

E mesmo que caia, erguer-me-ei num gesto de esperança,
A felicidade é eufemismo, indizível ante qualquer estranho,
Imbricada num jardim de quietude guardado em lembrança,

O homem insano morreu a apontar para o Sol e a beijar o Luar,
E nesse longo labirinto há momentos a conter longe do rebanho
Onde seremos por debaixo de uma estrela num eterno e belo lugar. 

terça-feira, 27 de agosto de 2024

A Queda do Sonhador

Esta é a queda do sonhador do apogeu do alcançado,
Onde Deus se ri de seus planos, a triste atribulação,
E onde as lágrimas caem nas páginas do rascunhado,
Vagões mortos na vertical por um contrafeito coração,

E mesmo assim não somos ao Céu qualquer chegada,
Reticentes quanto ao que passou, quanto ao que virá,
Perdoa dizê-lo, parece que temos a alma amordaçada,
Olhos postos nos relâmpagos da tempestade que cairá,

Milhões de sonhos acordados perdidos onde a ouvia
Renitente, cura a sua alma, dá-lhe o bilhete de partida,
Mesmo que nunca mais volte, antes apenas a pretendia,

Em estações esquecidas pela poeira, pela vontade de viver,
De onde vidros azuis são horizonte e esta vontade rescindida
Não mostra a tinta cinzenta que se evade do Céu, é deixá-la morrer.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Transitoriedade

Dentre estas mãos rios de areia vindos de ampulhetas,
Eu, proveniente do estelar, hoje virado somente poeira,
E o tempo jocoso brincando com o destino de mil poetas,
É aproveitar enquanto esta Vida for da Morte sua solteira,

Dentro destes olhos luzes e reflexos do que trago nos bolsos,
Tu, um pouco de sol manchado ao mais negro do negrume,
E a tempestade cujas tentativas não te arrancam destes ossos,
Sim, estás tatuada nesta alma ofegante que tenta seguir incólume,

Pois cada chaga e cicatriz foi outrora arco-íris, sorriso e flor,
Por uma estrada onde sonhávamos sem ansiar qualquer fim,
E por entre a brasa veio o frio, o gelo, e a verdade que incolor,

Foi tornando dias em noites, este poema longe dos teus caderninhos,
E há muito tempo que esperei, aqui vagueando ante o anjo serafim,
Pois qual o significado de continuar sem ti se for por distintos caminhos?

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Entre Eu e Ela

Há um mar de tempo que nos separa, imenso e frio,
Onde as marés se viram em ondas e se desdobram,
Num silêncio que mil mundos expressam e cobram,
Tão silentes num vento que resfria de um amor tardio,

No longínquo horizonte, vejo os toques enunciados,
Mas entre nós, um nevoeiro denso que se interpõe,
Envolvendo tal véu que o triste destino nos impõe,
O peso de um sentimento inerte de outros passados,

Seu olhos, como estrelas, guias nesta lúgubre noite difusa,
Porém o caminho impassível, para lá de longo e desolado,
Pois ouço nossos passos e cada passo, um sonho já quebrado,

Entre eu e ela, o não fadado, o poeta adiante sem musa,
Marcando sobejamente a distância de um beijo ausente,
Num amor que vive somente no resquício que se sente.

Entre Incertezas e Propósito

Entre a busca, o desafio é esta inquietação: o propósito,
Cada passo um poema de carga emocional profunda,
Refectindo a complexidade da existência tal apósito,
Deus nos detalhes e rostos iluminados em luz difunda,

Sugiro uma busca interior, uma procura por sentido,
Esforço em vão, em angústia não minha somente,
Onde, perdidos entre o começo e fim do pretendido,
Nos deixemos ir indo para alcançar o destino da mente,

Deixemos orientações e inspiração para quem nos ousar seguir,
Transmitindo esse conforto de pessoa a geração em geração,
Pois procuramos respostas num mar transitório que está por vir,

Mesmo que essa verdade seja enganosa e pouca luz oferecer,
Que estes ossos cheguem bem além e que entoem esta canção,
Nesta doce amalgama de incertezas, hei-de lá chegar, hei-de-o ser!

Entre Partidas e Chegadas

Rostos preenchidos pelo Luar, procurando lugar,
Em sítios há muito esquecidos, o sono não vem,
Por isso me movo entre os lençóis a esbanjar
A energia que não tenho, os gemidos que ouvem

Não são meus, mas de um outro ser, bem perdido,
Extraviado entre a partida e a consequente chegada,
Será que ele sabe que à partida sempre será bem-vindo
E que só chega quem tenta ir e isso é a ponte destinada,

Da canção que é trauteada simplesmente de mão em mão,
Que é asa e pluma para quem procura, para quem indaga
Na inquietação do momento passageiro, no fugir do coração,

Pois que importa a minha verdade se até o espelhado mente,
Entre mil muros e a semente que a Vida um pouco de luz traga!
O restante é somente resquício do passado indubitavelmente.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Resquícios de Resignação

Pedaços de sol em passagens de Luz, poeira ao vento,
A canção continua a ser mesma num rio sem ter fim,
Uma gota de água num oceano aparentemente turvento,
Sem minutos que sobrem para mais um instante assim,

São sonhos translúcidos crescendo no peito do trovador,
Mais sentido, haverá dias tal como noites tem havido,
Sem inquietação ou desespero, esta é a imaculada dor,
Para o viandante que por vezes do caminho é perdido,

Enquanto ouço o resfôlego dos fantasmas entre nós,
Entre miragens e alucinações de palavras inauditas,
Há silêncio onde ontem havia ruído, subtrai-se a voz,

Trago um sorriso na alma aqui estampado - tatuado,
Por instantes que foram nossos, e tu ainda acreditas?
Já sei que não, por isso amarei por dois o porcionado.

Fragmentos de Areia e Tempo

Há cortinas ondulando ao vento no olhar desafixado,
Sem sono que me socorra, que me leve para o além,
Com estes olhos cansados levados pelo outrora andado,
Que trago aos ombros tal escombros, podia caminhar sem,

Há pesadelos ainda por ter numa vida que continua adiante,
A sua ausência lembra-me o quanto que estou ainda perdido,
Por isso vou entre os cantos e as esquinas num voo inebriante
Sem as asas, sem voar, de coração na mão a querer ser vendido,

Se ficar em casa longe do frio e da chuva a Vida passa-me ao lado,
E a sua querida face manifesta-se entre os novelos destes tempos
Sem rosto, num caminho vou correndo melancólico e obnubilado,

Pelo resto da Vida ou por um bocado, perdi de mim fragmentos,
Vejo-me reflectido pelos vidros azuis de mil e um contratempos,  
Trago-te tal areia entre os dedos e para sempre são esses momentos.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

O Frio

Esvoaçamos que nem pássaros pelo céu, calados,
À deriva como fantasmas e sempre tão perdidos,
Parece que escasseiam ou mesmo faltam bocados,
Para nos encontrarmos na Luz, sermos acolhidos,

E se evitarmos a chuva nunca seremos do sol dignos,
Estas estações estagnam quem delas vai dependendo,
Pausamos para explicarmos estes cancros benignos,
Podemos ter os corações partidos, mas quase vivendo

Procuramos sentido às palavras silentes dos desencontrados,
E novamente, faltam bocados, porém há ainda intenções,
Partes de pétalas, partes de amantes nunca expirados,

E é o vazio desta casa que se tornou parte do meu vazio,
As cadeiras empoeiradas, o inaudito entre dois corações,
Meu amor deixaste-me o fundo das garrafas e o seu frio.

quarta-feira, 31 de julho de 2024

A Primavera Tardia

As flores ondulam dentre os dedos da brisa,
Bailando inocentemente por alheia vontade,
Entre as margens de uma alma tão indecisa,
Pedras atiradas, procurando uma verdade,

A de Amor verdadeiro que tanto me elude,
Porém vem a desilusão com cada madrugada,
Onde espero que o amanhecer me salude
Em esperança que outrora foi tão aguardada.

Mas no coração, a chama vai e ainda persiste,
Como estrelas em brasa cintilando na noite fria,
Onde um desejo que nem o tempo jamais desiste,

Pois mesmo na incerteza e nesta melancolia,
Renasce a fé de que o amor ainda existe,
E refloresce como uma primavera tardia.

Amor Silente

Há tantas memórias entre as palavras agora silentes,
Algo entre nós os dois, abraços e toques esquecidos,
A subtileza de um só beijo dado em noites confidentes.
São os instantes e momentos pelo sonhado enaltecidos,

Perdoa-me a mágoa conferida, nunca foi o pretendido,
Agora esta ausência torna-se presente, e o amanhã,
As horas partilhadas entre a esperança de um apelido,
Acerca-se o que vem, deixa-se o que foi, pezinhos de lã,

Amor, és estranha nestes lábios que foram teus outrora,
Anseio o estelar, um firmamento onde somos o caminho,
Caminho esse perdido tal areia dentre os dedos da hora,

Somos as cores que adornavam o céu, e a sombra deles caída,
Hoje, a pausa e paragem entre dois corações, o eu sozinho,
Ainda estão para vir muitas eras para que enfim feche esta ferida.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Raízes do Tempo

Tal como as árvores, morrerei de pé um dia,
Substantificado por um instante passado,
Sim, eu acredito ter sido parte da magia,
Apesar de saber que o instante está acabado,

Escrito em linhas cerúleas, de coração quebrado,
Entre gritos escutados do topo destes telhados,
Ainda não desisti de sentir o que é ter amado,
Independentemente do quanto temos procurado,

Urdimos templos erguidos a deuses esquecidos,
Algibeiras furadas que não contêm o horizonte,
Já fui o moço correndo e brincando embevecido,

No rio do tempo sem ter qualquer tipo de guarida,
Por outrora ter sido a árvore, a sua sombra e fonte,
Que esse amor vivido faça eterna esta minha Vida!

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Inquietação

Procura-me e encontra-me... Preciso de ser encontrado,
Subindo escadas feitas de cerúleo, esperando pelo ideal,
Sei que por vezes o tempo passa e deixa-me fragmentado,
Apenas pretendo o momento em que seja tudo menos banal,

O sol da manhã não é o suficiente para me manter acordado,
Arranhando as paredes desta cela, procurando lá fora inspiração,
Somente para não me permitir adormecer, quero ser tocado,
Somente para permitir o continuo bater deste meu coração,

Contudo, no meio deste caos abrupto, ainda não encontrei estação,
E tenho sido veementemente por estas ondas do tempo levado,
E esquecido por tudo o que tem de mim sido e ido, abdicado,

Percebei, a viagem tem sido passo a passo numa terna hesitação,
E as suas bagagens têm sido fundo de algibeira no peito cravado,
Há tempo para tudo, menos para no mesmo sítio ficar parado.

Ecos de Desalento

O trilho dos vagões abandonados jaz perante o olhar,
Um sepulcro para os curiosos, abismo para os sem rede,
Eu sou a Queda do firmamento, a tentativa de esvoaçar,
Mesmo que sem asas ou água que consiga saciar esta sede,

Ninguém virá ajudar, somente ecos de prantos conturbados,
Sozinhos e isolados, somos órfãos prendidos em arame farpado,
O meu reflexo é fidedigno nestes mil e um espelhos quebrados,
E perdi o fulgor nos lábios, a água no ver de quem eu tinha amado,

Trago algibeiras furadas, sonhos presos nos cateteres intravenosos,
Esta intensidade é profunda, mas não é ao Mundo de cá pertencente,
É um ontem sem amanhã, escape para a realidade, instantes saudosos,

Onde rezamos por um pouco de paz, o abraço que é a única envolvência,
Até quando vou e coloco o pé à estrada e no caminhar sou reticente,
Sou amador sem coisa amada, em mim essa é a única e vera essência.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Reflexos do Abismo e Luzes do Cosmos

Eu enterrei meus sonhos no fundo do abismo,
O cárcere dessa prisão é o reflexo do espelho,
Exaltando as sensações por este meu lirismo,
Aonde vou vendo a criança torna-se no velho,

Em erros azuis e mapas provenientes do além,
Afogamo-nos numa gota de água, vem a manhã,
A cama desfeita que vamos fazendo mal ou bem,
Caímos do precipício, e tudo para trazer para cá

Pedaços do velo estelar, o sorriso de Deus em porções,
Assim o poeta se revela e assim o trovador é o mago,
Entre a penumbra da noite sem fim há bateres de corações,

Mesmo quando não há mãos tentando nos assegurar,
Mesmo quando na algibeira não tenho aquilo que trago,
Por isso apelido as estrelas de irmãs e reaprendo a beijar.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Além do Velo da Humanidade

Parece que abstinente será a próxima aventura,
Das coisas fulminantes que procuram a alegria,
Mesmo dentro da cirurgia e sem qualquer sutura,
Nunca iremos deixar de procurar por vera magia, 

Que venham as dores do parto, os indícios da partida,
Sem regresso estimado ou qualquer vontade de voltar,
Não há mais juramentos ou sequer a promessa devida,
Pois tudo vale e nada vale, na Guerra das Rosas, no Amar,

Por isso gesticulo e esbracejo sem qualquer limite,
Almejando o sol, o céu e o mar num aqui e agora,
Indo mais longe do que este humanidade o permite,

Esvoaçando dentro de mim com estas asas de condor,
De silêncio delineado nuns lábios rascunhados a outrora
Lápis cerúleo, para além de todo o prazer e de toda a dor.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Rios Alados e Lanternas Eternas

Assim seguirei rios alados que nem cavalos selvagens,
O irromper dos relâmpagos terei como a vestimenta,
Venha a noite e a manhã e suas mil e umas imagens,
Por um dia triste que outro dia feliz aqui me ornamenta,

O desvario por onde fomos e perdemos a noção da hora,
Tal crianças vadias em tantas e tantas travessuras eternas
Ficarei no apelo da dor quando nos formos todos embora,
Deixa em teu encalço as tuas milhares de acesas lanternas,

Se morrer aqui e agora, morrerei feliz nesta linda partida,
Em discussões com Deus, desse olhar sinuoso e risonho,
Meu choro, coisa pequena nesta alma viva e sempre contida,

Guardo renitente o cálice dourado de um beijo terminado,
Mesmo que carente aventuremo-nos pois assim é o sonho,
Seja alegre ou tristonho, porém num canto alto e obstinado.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Trazendo uma Fénix no Coração

São os ecos de um sonho perdido, fragmentos do esquecimento,
A resignação à estrada vista pelos olhos diáfanos de pouco ver,
Estas lágrimas translucidas são apoteose para o passado momento,
Porém também legado e facto de que estamos a ir e estamos a viver,

Mesmo que rumo ao esvaecimento, a uma saudade sem qualquer cura,
A Lua nos charcos, o vento no cabelo, trago em mim cadernos de poesia,
A nenhum lugar condenado, o doloroso que fica em nós e que dura e dura,
Sou morte e renascimento, pluma de fénix em cinzeiro, oh que doce algesia!

Este é o fim de um anseio, o assentar da poeira, trago na vista o entardecer,
A pétala da flor descarnada e encarnada em mim, é uma estrada de fragmentos,
Pois para nela ir e conseguir ser nesta Vida, por vezes é preciso também morrer,

Portanto sim, há silêncio dentre estas palmas das mãos entre si e por si cerradas,
Desesperançando onde outrora somente havia esperança, assim são os sentimentos
De um poeta vagueando entre planícies, aguardando, porém, as estrelas almejadas.

Memórias de uma Vida Preterida

Assim ansiando estrelas numa busca interminável,
O Sonho está enfim morto e agora aqui enterrado,
Recomeço do início com esta vontade indomável,
E irei pela estrada e bermas apesar de quebrado,

Com ela ficou parte e fracção do que era fragmento
De mim e em mim, estarei eu ao nenhures condenado?
Hoje prefiro as manhãs, são a lembrança dum momento
Em que eramos complementares e me sentia enamorado,

Beijo as memórias que são estes pulsos ensanguentados,
Pois sou quase menos, sou a Lua pelos charcos reflectida,
Percebem porque de mim em mim sou mil aposentados?

Trago-a perto, na algibeira ao lado de uma luzência querida,
Pouco mais tenho a fazer cá pois os bares estão fechados,
Ao esquecimento rumo, ao esvaecimento de uma Vida preterida.

terça-feira, 18 de junho de 2024

Estilhaços de Uma Jornada

Caminhando nos dedos dos pés por uma Vida,
A procura por um lar tem sido um belo percalço,
Aonde temos ido e vindo por uma aventura querida,
Por onde temos quase chegado em seu doce encalço,

Estas quase plumas são asas em cansaço enfim tornadas,
Coração solitário perdido entre uma multidão sem rosto,
Pois as braçadas são para a eternidade palpitações entoadas,
Abraçadas, envolvidas e num sorriso comovidas, porém o oposto

Também trago, pois, a morte foi o tocar seus lábios ornamentados
A felicidade, a glória, a beijo ecoado num infinito e terno momento,
Nosso reflexo mudou e somente ficaram estes mil espelhos quebrados,

Fragmentado não pela tormenta, mas pelo subtil toque desta brisa então,
Que mutilou as artérias, deixando lágrimas e sangue onde só ficou o vento,
Não quero saber se ficar aqui para sempre segurando nada para além do coração.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Trilhos de Ausência

Os trilhos do caminho exibindo a sua ausência,
Um último trago para recuperar destes sentidos,
Tropeção para os astros num tapete e a luzência
De um êxtase cadente dentre mil beijos perdidos,

Anseio por luz pois os vagões vão na escuridão,
Estas paredes interiores, prisão para a felicidade,
Correntes envoltas por asas quebradas, combustão,
Aqui - onde íamos de mão em mão em reciprocidade,

Invadido por vigílias ao gelado cadáver do passado,
Restos de sonho, a minha mãe partiu ainda era criança,
Com os olhos na estrada, órfão solitário, fragmentado,

Esta Vida é tempo recluso, tarde ansiada sempre distante,
O meu Amor sozinho negou esta nossa única aliança,
Parece que quem partiu é fantasma em ido instante.

domingo, 9 de junho de 2024

Estrelas Cadentes e Esperança

Esperança é a saudade que no futuro projecto,
Um destino por acontecer, um abraço a esperar,
Pois mesmo na ausência será que já estarei perto
De, apesar do silêncio, ouvir vosso eterno sussurrar?

A esperança guia-me tal estrela oblíqua e cadente,
Depositada no peito como a luz de um doce sonho,
Pois mesmo que por vezes só haja a escuridão à frente 
Devemos sempre procurar por um reencontro no risonho,

Na calma dessa esperança, essa tormenta tão próxima,
Esta alma ansiosa, solitária, vai aguardando um abraço,
Vosso olhar distante e sem promessa de volta, a lástima

De não sabermos qual o nosso fragmento, nosso fado,
Descansarei algum dia minha cabeça nesse terno regaço
Ou serei só mais uma alma perdida de um tempo eclipsado?

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Elegia Para Orfeu

Seguirei até aos Infernos as suas lúgubres pegadas,
As suas lágrimas somente carreiros para os suspiros,
Por entre as cordas soltas destas mil liras quebradas
São elegia para Orfeu pelo enxofre que aqui inspiro,

As sombras que me acossam, a morte e a paixão, 
Resgatarei o meu Amor por tudo que é sagrado, 
Ouçam este lamento sobre a forma de canção,
Esperancei com sua melodia neste meu fado,

A tristeza é assim deste moribundo rapaz das estrelas,
É o eterno pois a fugir-lhe entre os dedos entrelaçados,
A alma em Tártaro, escapa-se em lembranças de aguarelas,

Era, pois, Eurídice a delicada promessa - a morte do poeta,
O destino, a saudade, o Ver entre si a escuridão dos olhados,
Tragédia dolorosa na dor afagado por esta caminhada obsoleta.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

O Nosso Tempo É Passado

As cadeiras vazias ostentam as memórias de ausência, 
Ditando pós de ouro num olhar submisso ao passado,
As fragrâncias do seu perfume na noite e a sua essência,
Estas roupas vazias de tempo resgatado em garrafas de fado,

Que é meu momento, eclipsado pelo vento, um beijo na brisa,
As águas do rio enlevaram-nos para um longínquo oceano,
Já te esqueceste da nossa canção, aquela que fulgia indecisa,
Este sorriso cravado em profundas cicatrizes, a dor do insano!
 
Entretanto, não tenho nada para lembrar, nada para esquecer, 
Se partir amanhã, serei somente mais uma sombra neste panteão
De Vida, onde o Amor é barato, onde os berços são para morrer,
 
Estas trevas são sangue não fluindo, não há razão mais para sonhar,
As estações revolvem cobrindo com Tempo os restos do coração, 
Vivo no tempo errado, vivo no lugar errado, sem espaço para amar.
 

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Trazendo

Trazendo no olhar e vista esta enxurrada,
Desde o início me resta a eterna chamada,
Um vento tão cruel as lágrimas enlevando,
Ouvindo só o som de uma alma quebrando,

Trazendo no peito esta saudade de uma geração,
Sou do Cupido peão, simples poeta, a refração
De luz num instante inexacto, dou-me por fraco,
Pois não a consigo esquecer mesmo Dionísico,

Trazendo fantasmas na mente e no caminhar,
Sozinho e mal-acompanhado, rápido e devagar,
Sinto a sua falta, reaprendendo esta companhia,

Trazendo-a sempre no coração, que doce maldição,
Nada mais para andar, nada mais aqui para amar,
Eu sou o meu pior inimigo, a mais cruel contradição.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Vaga-lumes

O efémero vagueia na luz transiente da aurora,
Sonhei com o rosto que não consegui alcançar,
Pois antes de chegar já me tinha ido embora,
O amor que trago é sozinho neste só caminhar,

O poeta vagueia no suspiro que ninguém entende,
É o trajecto que ninguém irá alguma vez compreender,
Pela ferida pelas vezes que a si mesmo se rende,
Ele um dia se irá, ele suspirará até por fim morrer,

O encanto vagueia no murmúrio ao eterno deixado,
Este lenço enxuto, o chorar até não mais conseguir,
Prisioneiro de suas amarras, a ela sempre acorrentado,

E a brisa envolve as lembranças de um beijo já partilhado,
Folhas de papel transviadas por um vento que a me perseguir
Demonstra o regaço que perdi, a mão na mão, o nosso bocado.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Eu Amo-te, Adeus

“Eu amo-te, adeus” – cada verso por lágrimas contidas,
Num descuido a alma resvala entre este coração partido,
Ecoando as palavras ditas, entretanto num hoje perdidas,
Numa voz ausente que nos pertence num beijo preterido,

Parto dela, ficando em mim o eco do que foi o firmamento,
Agora, por solidão, tão triste, tão cego, envolvido noite e dia,
Este é o cruel compasso da vida que nos separa do momento,
Ter-te-ei em sonhos e não nesta despedida, tão cruel, tão fria,

Eu amo-te, adeus, neste espaço dentre sonetos terás lugar,
Seguindo em frente, rumo à canção cantada por uma metade,
Mesmo aflorando no peito a memória de um doce e belo amar,

Eu amo-te, adeus, o lamento de uma melancolia aqui rascunhada,
Pois assim que por fim da mentira se faça novamente a verdade,
Trago-te na poesia, de mim para ti, para sempre em mim lembrada.

domingo, 12 de maio de 2024

Poeira de Ouro

Há poeira de ouro no olho e no seu canto,
Pois canto lamentos para quem os ouvir,
Vistas e sons vão e alimentam este pranto,
Por vezes neste trilho apetece é desistir,

Fotografias que relembram o então passado,
Congeladas em memória num doce beijo,
Algures sei que tenho enfim por cá ficado,
E que por cá tenho sim perdido o almejo,
 
Esses caminhos que juntos fomos caminhando,
Onde nossos apelidos se juntavam alegremente,
Nunca pensaria que este coração se ia quebrando
 
Pois alguém algures sorriu entre a bruma e escuridão,
Tempos esses que passaram tão rápido e docemente
Que a poeira de ouro já nem quer ficar nesta mão.


sábado, 11 de maio de 2024

Vigília Sobre O Nosso Cadáver

O tempo vai passando e eu por cá sediado,
Vem a pegada que vou trilhando sozinho, 
Onde de mim faço fragmentos em bocado,
Por onde mim faço solitário este caminho,

Desperto para memórias dum tempo levado,
As sombras do dia subjacentes a esta alma,
Parece que o páramo já nem é tão estrelado,
Pois a algibeira sussurra pelo trilho calma,

A mim me abandonei quando perdi a sua mão,
E permiti a distância por fim ser vencedora,
Trago uma dolorosa cicatriz neste coração,

E assim fugi da sua envolvência tão acolhedora,
Agora vou por desertos e glaciares à contramão,
Até quando durará esta vigília entristecedora?

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Entre o Universo e a Poesia

Há poemas entre as estrelas, galáxias e constelações,
São estes os astros forjados no âmago das nebulosas,
O cosmos espreitando no infinito em mil observações,
O gentil sopro de ar debaixo de asas sempre formosas,

E há brilhantes estrofes em sorridentes e esbeltos versos,
Há emoção no Crepúsculo e há sentimento na Aurora, 
Cometas e meteoros tal como estrofes por céus dispersos,
O Sol espelhado por um rosto lunar, o sonho de outrora,

Névoas e vórtices retornados na breve escrita de um caderno,
A beleza é tácita como um "amo-te" deixada num sussurro,
Entre a poesia e a prosa e sim, entre o Verão e o Inverno,

A alma é metáfora para o ainda não lido, a eterna melodia,
Reflexos de mil estrelas cadentes indo afluentes no enxurro,
E eu, simples poeta olhando o firmamento - o quão tudo queria… 

Ecos de Um Amor Perdido

Em breve meu amor seremos novamente poeira,
Os laços que unem desprenderam-se na eternidade,
Não alcançamos o horizonte, solidificou-se a fronteira,
Fronteira essa que, porém, não matou esta voraz saudade,

O vazio no peito aliado as lembranças esquecidas são esta solidão
A sua querida ausência, outro adeus para esta alma tão perdida, 
Faz-me incidir tal estrela num silêncio ensombrado tricotado à mão,
É tão difícil caminhar de novo sozinho, é tão difícil esta nova despedida,

Da nostalgia de quem sente as cicatrizes abertas, esvaecendo num lamento,
É a ruína de quem acredita que amar é o mais altivo dom, o sacro sacramento,
Desesperado e abandonando o sítio ao qual outrora apelidávamos de querido lar,

No meio deste desencanto, deste desvanecer, não me parece ser possível aqui ficar,
Queria ser breve, somente dizer-lhe o quanto para mim ela para sempre significará,
Mas este é o tempo do consolo num silêncio sem dono dum amor que jamais perecerá.

domingo, 28 de abril de 2024

Desamparo Sob o Arco Quebrado

Estava errado, pois afinal não era para ter um final feliz,
Nas estrelas tal demarcado, e eu tratado como um petiz,
Até fui eu a escolher a minha dor do menu do coração,
Escolhi o júri, jurado e executor desta minha triste canção, 
 
E faltam-me as asas para poder ser voo, sua mão na minha,
Enganos após enganos, sim sou apenas outra alma sozinha
Sem lugar para ter sítio, sem sítio para possivelmente ter lugar, 
A esquecer lentamente o que é viver, a morrer por tanto amar,

Por baixo de um buraco, num arco quebrado cai a seta em mim,
Somos nós a regra partida de Cúpido, a dolorosa verdade assim,
Nem importa mais o caminho até agora trilhado, nada é importante,

O resguardo caiu, o refúgio fugiu, e neste trilho sempre inconstante
Sou peão e transeunte, com um beijo que de mim se foi esquecendo,
Se ela de mim já não é parte, então de mim me vou aqui perdendo.

Vínculos da Ausência

Confissões do poeta a um ainda visível rosto lunar,
Por entre a bruma, entre a noite a inevitável perda,
Entre os dedos ela escapou-se ficando um triste pesar,
O sonho sonhado lacrimejado da direita para a esquerda,

Passou o nosso instante, a distância reclamou o momento,
Dentre as margens ficou o afogado, eternamente encurralado,
Somos sepulcro, caixão e o espaço que percorre atrás do vento
E o coração é pó em cachoeira e através do tempo é enfim embalado,

E por fim não há beleza, já não há o seu olhar, nem aquela mão na mão,
Vem a brisa e o tumulto, vou por onde não sou sequer já encontrado,
É a vida a seguir caminho via trilho de vagão passando por cima do coração,

Estes bolsos de lembranças rasgados, este olhar novamente semicerrado,
É o reaprender a justificar o dado, o perceber entre o dizer sim ou o não
Ao próprio poema, mas a ela estou e estarei indubitavelmente amarrado.

terça-feira, 23 de abril de 2024

No Silêncio da Ausência

Silenciosamente, sussurramos os nossos apelidos,
Esticados por momentos alienígenas, algibeiras
Abertas por tempos incertos, enfim tão perdidos,
Por aqui é onde andávamos de mãos em rasteiras,

Aqui ecoam lembranças em surtos ao acaso deixados,
Nem poeta sou, não com este bater desassossegado,
A noite para estar confuso, dois trilhos desconectados,
Para esquecer e por um ombro desaparecido ser apoiado,

São pesadelos e cruzes no pavimento e sepulturas abertas
Somente para nós, com luz ou sem sol, por agora tudo bem,
O silêncio esperando ir adiante, são estas as horas tão incertas,

O tiquetaque é a lágrima batente, custa-me o mundo, dói-me a verdade,
Que é o fim, o absoluto fim, sem a despedida pelo comboio que vem,
Indubitavelmente sozinhos, esta é sim a minha eterna e única soledade.

A Despedida

Aqui divergem enfim os caminhos de dois perdidos,
Não mais temos a mão na mão, um futuro potencial,
As ondas oceânicas estilhaços nos dedos então urdidos,
Por mim, por ti, um para sempre a enlevar a ferida com sal,

Incompleto, fragmento da porção tida como um anseio,
Nascemos para um outrora podermos fenecer sozinhos
No abraço ofegante de uma liberdade onde me rareio,
Somos indiferentes perante o vindoiro redemoinho!

Prorrogáramos o inevitável fim, sem indulto ou perdão,
Este tempo e distância enfim serão campeões, a tristeza
É cair na real e perceber que sim, enfim perdemos o chão,

O resto é absolvição, o compreender que há também beleza
Na queda, na mágoa, na vontade terna de morrer do coração,
Pois se um dia fomos a altura, que sejamos agora a profundeza.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Lamento à Estrada

Desabafo suspiros na orla da branca estrada,
Perdido sem o seu fôlego, sem a sua beleza,
Nunca foi suficiente esta barca cá fragmentada
Para alumiar a luz com estes píncaros de incerteza,

Maremotos de saudade, tsunamis de nostalgia,
Durante horas, durante dias, senti-me completo,
Pois era porção e centro do tido como real magia,
E esse caminho levava-me face ao esbelto trajecto,

Desperdiçamos luz, sim, acredito que algures seriamos,
Mais do que alguma vez pudemos ser neste amanhã,
Sem esperança no ontem, por si nos quebraríamos,

Há uma lágrima que trago num beijo aqui protelado,
Adiado então para um dia que temo nunca vinda terá,
Esta é a triste sentença para o amador que há amado.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Beleza e Solidão

Na solidão tão vasta e longínqua sua beleza ecoa,
Por tons oblíquos dentro de um silêncio cerrado,
Reverberando sua voz que por memórias entoa
O pedaço de nós dois pelo tempo não cobrado,

Sempre solitária, essa eterna beleza em si se revela,
Que não falte um sonho por cada noite e seu regresso,
Pois por e através de cada traço, há uma história singela,
De dois lábios sedentos dentre si e que em mim confesso,

Sua beleza e esta solidão, dançando em perpétua harmonia,
Por terna quietude, numa fonte que inadiável jamais cessará,
Em cada suspiro conferido sim virá um novo verso de poesia,

E por cada nova linha, uma nova tentativa de ver o amanhã,
Pois em boa verdade a sua beleza sempre encontrará sua via
Para o meu coração, somente um receptáculo para o que virá.

terça-feira, 9 de abril de 2024

Emaranhado

Passando por aquilo pelas poças de água reflectido,
A refracção no olhar aberto de vidros embaciados,
Faz frio entre o vazio e o efémero é sempre o ido,
O amigo do Outono quebra-se em partes e bocados,

E dos fragmentos parecem não advir belos momentos,
Somente mais restos de algo ao vento e brisa deixado,
Por isso me dói o ar e o peito sob estes céus cinzentos,
Sem conseguir prosseguir adiante perante o sonho adiado,

Resignado a andar à deriva sob um luar triste de solidão,
Vou por onde não me encontro, e por fim sou não encontrado,
E mesmo que vá e me encontre, já se me quebrou o coração,

Não obstante de quem por lá passou ou quem tenho amado,
A tentativa do adiante, a tentativa de novamente dar a mão
É ilusão do poeta, a desilusão do amador, sem voz no soletrado.

Entre Quatro Paredes e Mil Espinhos

Pesa-me o espaço onde sou porção fragmentada
De um homem procurando o Inteiro, à desfilada,
Falta-me um pouco de amor para me dar sentido,
Alguém que me dê a mão e carregue este apelido,

Lábios descarnados, apelo à eternidade, sabendo a lar,
Contudo tal pegadas na areia que pretendem não ficar,
São o fogo na água e momento para um olhar cerrado
E uma mão que não encontra a outra no outrora beijado,

E é tão difícil caminhar sem tacto neste lúgubre caminho,
Pois de todos os trilhos este é o que ocupo ainda sozinho,
Vai-se o sorrir, vai-se o sorriso, cai a bruma sem firmamento

Entre horizontes deveras distantes, assim me arrasta o vento!
E eu, entre quatro paredes e um tecto, deixo este triste poema,
Hei-de morrer de pé e solitário e com espinhos como diadema!

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Sob o Caixão dos Sonhos: Uma Elegia para a Busca e a Perda

Faltam-me sonhos para me manter acordado,
A cor própria da procura por o único semblante
Que leva ao inteiro, que busca o último bocado,
Que nos faz perceber a Vida e nos torna presente,

Desperto com sonhos colocando-os leves na algibeira,
Contudo é um oceano, é um deserto entre dois amantes,
Um labirinto e um abismo preenchem-me até chegar à sua beira,
Enquanto conjugamos dois particípios passados, somos distantes,

Quebra-me o coração e resguarda-o numa sepultura feita de plumas,
Cantando a eterna elegia, murmurando a cela em maiúsculas soletrada,
As carícias são parte do passado, as cicatrizes o que este poema perfuma,

E é o vento possante que nos arrasta para longe, sou só um transeunte,
Em breve para nos tornarmos estranhos na longa e branca estrada,
Por isso um último suspiro sobre o caixão, que sua resposta nos pergunte.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Poeta Procura Musa

O seu olhar e nome é pelas árvores sussurrado,
Por ela, o doce receptáculo do carinho profundo,
Eu sou o poeta perdido, procurando ser beijado,
Enquanto vamos pelas bermas do ribeiro fecundo,

As formas onde a Primavera é em si adormecida,
São vultos acossando o poeta e a sua envoltura,
É convulsante e no chão, a donzela seria fingida
Ou seria ele o dono que um mundo cão augura,

Que se curva tal a vida, por momentos pungente,
É esta batalha que vai reabrindo a sua eterna ferida
E que lhe relembra o conforto que é estar ausente,

Mas amor com amor se paga, amor é bem aqui preciso,
Somos a estrada e veículo para a passeata perdida,
Somos fuligem para o fumo que de si é indeciso.

domingo, 31 de março de 2024

Entre Correntes e Saudades: Um Cântico à Solidão

Estas correntes que me encarceram nesta prisão,
São fruto daquela que deu a mão neste caminho,
É súbita a paragem, porém faz parte do coração
Mesmo que o trilho se torne bruma e eu sozinho

Lentamente vá por onde este sonho é destroçado,
Com relâmpagos e fuligem nas costas, a saudade
De quem passou deixando passos no aposentado,
De quem tornou de mentiras esta única verdade!

Quando o amor se torna em minúscula, e a insónia
É noite e de dia, o crepúsculo abraçando a escuridão,
Nossos batimentos cardíacos ao ritmo da melancolia,

Somos somente um apêndice na retaguarda da Vida,
Apenas mais um prego nesta cruz feita de solidão,
Só mais duas mãos desencontradas, a eterna dúvida.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Entre Paredes de Cimento

As suas mãos brancas de lixívia, na sombra da aurora,
Brevemente teremos asas irmão, em breve encontrado,
O falhanço do desapego, este orgulho de quem namora
Uma tentativa de ser algo mais do que um beijo almejado,

E por onde quer que vá, simplesmente não há pertença,
Escorregando no resvalo da saudade, vou e não pertenço,
Este olhar chamuscado pela cegueira de uma quase sentença,
De coração quebrado, procurando o não de um falso pretenso,

De um correr esbracejando aos círculos, um amigo é sim preciso,
Entre quatro paredes de cimento não é o final que tenho ansiado,
Obcecado e perdido nos pormenores, uma lágrima pelo seu riso,

Sonhos sem sono ferem as nossas noites, e o hoje ainda não passou,
Era eu sim, procrastinando o quanto estava em relação a tudo errado,
O não ter pertença nem sei se esta é a doença ou a doença a si se curou.

domingo, 24 de março de 2024

Entre as Brechas da Persiana

Vejo-a entre as brechas na persiana num desfile singular,
E os meus olhos, tal enchente de maré, em calma matinal,
Lembranças e esperanças de momentos possíveis de amar,
Devagar, atiçando tempestades e verdades no beijo auroral,

Provocando-me almejos insaciáveis, os inabaláveis instantes,
De livros nunca lidos, porém estremecendo entre as letras,
Dessas memórias contidas nas páginas entre dois amantes,
Eternamente ligados pelo poder que em mim vais e soletras

Através de sonâncias e toques já esquecidos pelos mortais,
Agradeço a oportunidade, agradeço o ensejo por confissões
Que fui fazendo a um rosto lunar, o coração que entregais

Faz jus aos poetas passados na ternura das suas mil canções,
Bom dia, somente outro caso de graça, o sangue me estancais,
De resto, sou pertença daqueles que se perderam entre gerações.


quarta-feira, 20 de março de 2024

Além das Palavras

Sustendo as asas repletas de plumas neste escrevinhar, 
O poeta é pintor e o poema é a escrita no firmamento
Das sentenças a que lhe foi possível outrora reivindicar, 
Com esse pintar e esvoaçar por cada incólume momento, 

Sacro sacramento, o beijo dado aos céus sem pedir em troca, 
Precisamos de dar para além do que é possível cá receber, 
Passando os arcos das portas e o que seu fogo estoca,
À procura de algo mais inteiro que permita perceber

O porquê de pintamos palavras que vão de mão em mão, 
A pergunta é feita para finalmente podermos responder
Quando será que faz sentido beijar a corrente estação, 

Mesmo quando melhores dias virão e a lágrima secará,
Portanto ao longo infinito esta moldura iremos remeter
Até quando por fim formos e chegarmos ao lado de lá. 


quinta-feira, 14 de março de 2024

O Caminho É O Estelar

Os tesouros de uma existência na palma da íris são retidos,
Em simples instantes passageiros correndo enfim graciosos,
Por cada passo conferido, vejo-os no peito firmes e embutidos
Numa relapsão quase de mão na mão em vários olhares radiosos,

Deixando um trilho cadente, somos as porções de estrelas perecidas,
Por um Ver brilhante, almejando o bastante, nascidos do firmamento,
Através do esvoaçar das asas por fios feitos de constelações tecidas,
Nestes corações o pulsar de outras vidas passadas de outro fragmento,

Dentre salas vazias e com as ponta do dedo por ouro assim decorada,
A relutância perante o efémero, diante o meramente tido como humano,
Apontando para o horizonte e para a ponte que para se erguer é obstinada,
 
Almejando mais do que a própria Vida, anelando mais num brinde ao desengano,
Nesta passeata regida por encontros e desencontros, uma flecha na carne cravada
É somente ornamentação para o caminho, num lugar onde o caminho é o soberano.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Melancolia dos Inóspitos

E assim pousa outro dia, indubitavelmente sozinho,
As lágrimas nos olhos fazem ver que estamos perdidos,
Não obstante do trilho caminhado ou do próprio caminho,
De vidros azuis observando pássaros hoje, outros partidos,

Nunca fui suficiente, emendiquei amor por portas cerradas,
Através delas restam estas ruínas, este eterno sofrimento,
O restante ainda é quase poeta apesar das asas quebradas,
O resto é somente esta ideia e este verdadeiro sentimento,

Sim! Somos nós os inóspitos, enlouquecidos e inadequados,
Os alicerces caídos, raízes sem ramagens, pés sem viagens,
Se um dia regressarmos a casa, ao longínquo lar no estelar,

Saberemos sequer ainda que dentro de nós somos regressados?
A dúvida é eterna, e este olhar peão perante tantas miragens,
Talvez um dia parta e vá esquecendo por fim o que é este amar.


terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Observador de Pássaros II

O poeta é um simples observador de pássaros em extinção,
Cada pássaro é a tentativa de aproveitar o alado momento,
Preenchendo-se até à borda de pássaros e da sua canção,
Observando-os numa dança graciosa perante este vento,

Este olhar, farol iminente para o além sempre desfocado,
Porém quando açambarcado enfim tudo faz mais sentido,
Entre ramos e galhos, um baile de plumas por si enfeitado,
As folhas, caleidoscópios de emoções para ele e o despendido, 

Nestas asas de poesia, um voo gracioso no contorno de um coração,
Cada trinar é um contemplar de um novo e entusiasmante firmamento,
Onde ele, sereno e atento, finalmente encontrou a sua eterna vocação,

Assim, o poeta se torna pássaro em seu ser, aprendiz para o esvoaçar,
Numa sintonia com a natureza coligada do estar para sempre sedento,
Por fim, o poeta se reencontra com o potencial de poder enfim amar.

Versos da Existência

Versos pingam vertidos sobre o calor de um regaço,
Engolimos colheres com oxigénio para cá nos manter,
Estas covas sob estes olhares penitentes, este cansaço
É somente outro dia por terminar, um sim quase viver,

E sobre a minha sepultura colocarão as mais belas flores,
Estas mãos outrora dadas em uma apoteótica celebração 
Versos caídos no firmamento colorindo-o em vivas cores,
O resto é permitir vir o sorriso e sol no meio desta monção,

Estas estrofes para sempre pertencentes à Biblioteca Astral,
Perscrutando os sulcos de luz colados nestas frias paredes,
Perseguimos a noite esperando dia, e aquele beijo não banal,

Amor encontrado então, regressando a casa, por fim descanso,
Reconstruindo com palavras o que as acções deixam em redes,
Para além da sombra do silêncio finalmente a mim me alcanço.

Observador de Pássaros

De poeira na boca e de cotovelo e joelho rasgado,
A cinza vai cobrindo o que o vento vai esquecendo,
Sou, pois, observador de pássaros, o elo quebrado,
Que liga o amanhecer à noite que vem me querendo,

Aqueles lábios e olhar já os sei de cor, o reino da flor,
Os desencontros de todos os caminhos deste mundo,
O que tenho e ainda ofereço é este somente amor
Que me liga à Obra Divina, ao Saber sempre profundo,

Nos ponteiros de um relógio velho, a acalmia do mar,
Um deserto cujas pegadas pertencem a pés cansados,
Trago-a onde o sol perdura e se encontra com o luar,

O preciso instante de tranquilidade onde passa a estação,
Mesmo perante esta bússola pertença dos desnorteados,
Sei que algures ofereci e partilhei este humilde coração.

O Vagão do Tempo

Esmorece o vagão, a veia oriunda do coração,
Apagam-se as luzes e esvazia-se enfim o palco,
Vamos todos para casa, essa é a triste sensação
Do momento tornado passado que aqui desfalco,

Havia tanto trilho para caminhar, para aqui esvoaçar,
Restam as veredas do caminho, a morte e o vizinho
Que é o Tempo pelas pernas agarrado e enfim a puxar,
O restante é lágrima ocular, vagabundo tragando vinho,

E esqueço-me dos planos que tinha para este futuro,
Fenecendo pelas noites onde os vidros são azulados,
Vou trazendo a sua beldade no mais claro, menos escuro,

Volto as costas para o mundo, cerrando assim o olhar,
Quem me dera ser diferente, ser de mim outros bocados,
Contudo este é o pedaço de mim que permitiu ver o Luar. 

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Transitoriedade do Ser

Estes sentidos emudecidos por um tempo eclipsado,
Sou somente mais um no meio de tanta e tanta gente,
Desde os pedaços de plumas até um céu enxovalhado,
E eu, entre quem em mim é, pois que vá e se apoquente,

Este é somente mais um poema para em mim me acumular,
Ao monte de terra trazido numa perda nesta boca aberta,
Perante o instante em que eu vou indo e pareço não passar,
Sou, pois, e assim segundo passageiro desta hora que é incerta,

Por favor sepultem-me sob uma cascata de incógnitas esbeltas,
Olhos fechados neste caixão ornado pelas estrelas mais brilhantes,
Enfim neste peito enfocam-se assim os vultos e as suas silhuetas,

E destas paredes estes mundos se tornam num lar para o enjaulado,
Libertem-me, serei esquecimento para o que venha depois ou dantes,
Serei finalmente a morte dum irmão penante sob um sonho renunciado.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Venha O Fim

Verte-te neste cálice e concede-me de novo vida,
Há alturas em que feliz fujo deste tempo perdido, 
Porém há fantasmas que trago na algibeira vestida
E cicatrizes que relembram as maleitas do querido,

Este olhar penitente que mal se vê assim de repente,
Deixem-me sozinho, perdi o sonho, dou-me por vencido, 
Não há poesia nem magia nestes dedos, deixem-me gente, 
Apenas mentiras e a perfídia de outra dor, de outro gemido, 

Colhemos espinhos por flores, já morto me dou noutras mortes, 
O ideal é a paz do sepulcro, longe dos seus almejados beijos, 
Portanto não tenho caminho, um rei sem as suas consortes, 

Há neve nas fendas destes pulsos e no interior do coração, 
Esta alma quase ida, que morra também coberta de percevejos,
Que dentro de mim encontre por fim a minha conclusão!




quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A Morte Veio E Levou-me

O quebrado pássaro azul encurralado contra a parede,
Um precipício para aqueles que vão e respiram ofegantes
No fundo da vala comum encontram outro tipo de rede, 
Realizando o óbvio, teremos sempre os olhos brilhantes, 

E uma lágrima a escorrer do sorriso e da sua alvura, 
Apetece subir a mais alta das profundidades, esquecer, 
O beijo de quem amo, descansar no topo da altura
E depois ser queda, no céu me esconder e com êxito perder

As sombras neste olhar, brumas atrás de outras sortes, 
Pois sabei que procuro a bênção de obter mil mortes, 
Ser olvidado e apagado desta vida, por fim suspirar, 

Porque neste breve tempo em que cá ando reaprendi a amar, 
Para capotar, sabotar, menosprezar e cair na profundidade, 
Ouvi o eco destas palavras, esta é a minha única verdade. 

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Fragmentos da Ausência

Sou a porção e a brecha dentre o pavimento,
É a frágil ferida como oxigénio em pedaços,
Esta não pertença é fatigante, traz o fragmento,
Insatisfeito e contrafeito vou perdendo os laços,

Estas mãos penitentes criadas pelo sonho rasurado,
A lágrima do ontem, o arrependimento do amanhã,
Tentando encontrar o sol enquanto sou encurralado,
Almejando a presença de quem se prostrou numa maca,

O silêncio é a voz dos perdidos, o beijo não retornado,
Até um dia, expressa-me nesta partida, numa mão vazia,
Entre vagões oxidados, anjos caídos e um coração pesado,

E eu já estive por cá, eu já fui mais hoje do que presente,
É o precipício que acalma homens como eu, venha o dia
Do descalabro, do ensejo do e para o eternamente ausente.


quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Reflexões de Encontros e Desencontros

Prolongo o fôlego do terno reencontro almejado,
Por isso vou respirando no meio desta tristeza,
Pois por ela fui enfim e novamente encontrado,
Quero de novo cantar as vicissitudes da beleza,

Perceber que há espaço para ainda ser sonhador,
Que o beijo é melhor quando a dois é partilhado,
Sim, sou amador com donzela esbelta e amada,
Trago-a no peito, no vislumbre do coração acenado,

E na roupa usada colocada sobre a cadeira empoeirada
Coloco segundos, ela já é demasiado pequena para agora,
E esta é a dor de olhar e não ver pelo espelho da retaguarda,

A dolência da não morada, da tentativa de lar quase em vão,
Fecho os olhos e imagino que finalmente vamos todos embora,
Esta é a consequência de quem não consegue colocar o pé no chão.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Dentre Pausas e Ciclos

Esperando o retorno do fôlego, o assentar da poeira,
Não procuro o que já encontrei, preciso de repousar,
Entre as folgas do pavimento liberta-se esta canseira,
Esquecendo o momento eclipsado que não irá retornar,

Expresso profundamente o almejo desta ímpar caminhada,
O bocado pertencente ao soalho que vou enfim passando,
Entre o espaço dos tijolos desta prisão, há uma escapada
Para outros tempos e ventos que aqui ainda vão soprando,

As chuvas caídas pelo chão escorregadio de outras estações,
Mostra o quão é importante respeitar o instante e sua pegada,
Pois quando desaparecermos será preenchido pelas pretensões 

De novos e desconhecidos momentos, de uma renovada jornada,
Entre os segundos que, entretanto, fui, o turbilhão e os furacões,
Trago-os a todos nas algibeiras, dentre os dedos, na alma cravada! 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Segundos Enrugados

Sou frases perdidas, o pássaro azul de asa quebrada,
De olhar ermo, pele pálida e plumas arrancadas, 
Perguntando se o voo é somente partida sem chegada,
Aonde as sortes foram sob a chuva gélida esbanjadas,

Que não falte um sonho a este mar de esquecimento, 
Pretendo só apenas mais um instante, silentemente, 
E despertar novamente com rubro em sentimento, 
Pois dissolve-me o recordar, a rubrica do antigamente

É peso e tristeza, a ilusão é a passagem para a carícia, 
Estranho-me a mim, confundo as palavras com a voz
As bermas das ruelas recorrem a abraços,  que delícia, 

Imagino a melancolia que passa entre os vidros azulados, 
Onde me pesa o Inverno, o rio que não alcança a Foz, 
Revendo o espelho de outros segundos enrugados. 




quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Versos da Astral Biblioteca

Através destas veias correm-me ideias e inspiração,
Escrevo acerca da Obra Superior, a Astral Biblioteca,
O pulsar perene que encharca as artérias, o coração,
O olhar e Ver que se expande e nunca terá hipoteca,

Através destes pulmões respiro o ar de mil idos profetas,
A verdade inescapável que submete Deuses à humanidade,
O esbelto rascunho que contem o fôlego de outros poetas
Que concederam ao Mundo vales e montanhas sem idade,

Através destes dedos rabisco estórias sobre a profunda beleza,
Mesmo que por vezes esta se rodeie por vidros azuis tornados,
Sim, não finjo ser para sempre feliz, reconheço bem essa tristeza

De ser diferente, de ser petiz, porém aí mesmo há também aprendizado,
Conhecer que há limites mesmo para o Homem Inteiro e sua destreza,
Saber que por vezes nem de nós mesmos somos sequer um bocado.

Entre Comboios e Anjos de Sessenta Toneladas

Mil comboios passando sem parar nesta estação,
Tais aqueles pores do Sol por um gesto atrasado,
Com óculos escuros parece que se escapa o Verão,
Portanto esqueço seu brilho no olhar estampado,

A queda na Terra de um anjo de sessenta toneladas,
Vejo sua estrela cadente entre as nuvens escondida,
As cicatrizes das suas pálidas costas, as asas quebradas,
Suficientes para colocar o firmamento sob sua guarida!

Esmerada a Luz que avança acima do céu diante os portões,
Deixamos os segundos prisioneiros para trás, na retaguarda,
Pois esquiva-se os ontem, lotado e apensado sobre os vagões,

A chaminé a rugir, o vento a uivar, chega-me a linha para trilhar,
Mesmo que estas se esquivem entre as rodas desta resguarda,
Esta breve e esbelta viagem ainda está para um dia recomeçar.

Ode à Conexão Profunda

Há algo no seu olhar maior do que esta Vida
O beijo solta-se quando enfim lhe dou a mão,
Sinto-me a esvoaçar numa chegada merecida,
Assim repleto e preenchido por ela neste coração,

Os seus lábios são mesmo à minha certa medida,
O seu deslizar sempre perene diante cada estação,
Sinto-a dentro do peito eternizada, tão querida,
É o Sol que nasce e a Lua que se põe na monção,

Há algo indescritível no seu rosto pela luz rascunhado,
Uma bênção num sorriso largado, numa envolvência,
Pois simplesmente ela é tudo com o que tenho sonhado,

Em boa e completa verdade, ela é a minha essência,
Acredito que somos duas almas criadas do mesmo bocado,
Ela traz-me crença, traz significado para esta minha existência.