quarta-feira, 21 de maio de 2025

Pegadas que o Mar Apaga

Estás por todo o lado, cada nuvem e em cada pequena cicatriz,
De suspiros entrelaçados, mãos que se buscam em vertigem,
Sim, estás por todo o lado, da treva profunda ao final do arco-íris,
Escapando tal moedas entre dedos, ao prazer que as feridas infligem,

Sim, ainda escrevo versos a que a ela desejava tanto de confiar,
Ecos gastos pelo tempo, dançando valsas que vamos guardando,
Instantes nos prendem, e somos náufragos de um triste e solitário mar,
Sem dono, e sem descanso — as margens recuam apesar de irmos remando,

Esquecendo os moldes, as rimas, a ilusão da correspondência,
Pois há silêncios que habitam quem jamais se entende por palavras,
E assim se curva a infância ao tempo, assim se desenha a essência,
Na pele enrugada da espera, no passo lento de mil quase abracadabras,

Oiço correntes roçando o chão — e se repousar, quem me acolherá?
Outro instante, outro acaso… e que o resto venha sem cama traçada.
É o hino de quem não pertence ou tem pertença, é o rastro do amanhã,
É o pó dos dias na pele, buscando faróis num olhar ainda sem a alvorada.

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