Para esta entrega tenho todo um ser ausente,
Um quarto onde só o vento encontra guarida,
Num relógio sem ponteiros, o incrédulo crente,
O seu nome repetindo-se por uma manhã diferida,
Entre ecos não de memórias, mas desta ânsia sentida,
Há um abraço preso na parede de um tempo não meu,
É este fogo que queima e aquece, uma chama suprimida,
E um copo cheio de ausência que bebo até ao fundo, ao breu,
O horizonte é esta linha onde o olhar se encosta de saudade
Do que ainda não sucedeu, tal rio que não chega ao oceano,
Um brinde e seu trago, trago-o em memória e na sua brevidade
Um clarão, cego e torturado, esperando onde não sou encontrado,
Sem idade ou tempo, se pudesse encontrar-me em qualquer humano!
Eu até gosto da ideia de amar, será por isso que é tão difícil me sentir amado?
Blog de um músico e poeta português onde este vai escrevendo e reunindo escritos poéticos.Tal como as músicas são compostos de forma única a partir do mais sublime reflexo, em retoque, do seu sentimento e poesia. Alguns poemas já pertencentes a livros, outros ainda "frescos" e originais no website...
terça-feira, 26 de agosto de 2025
Rio que Não Chega ao Oceano
quarta-feira, 20 de agosto de 2025
Relógio Afogado nas Marés
O eclipse da aurora, lua nova - sou marés, vento, tempestade,
Há um vazio em memória, um futuro onde ainda a desejo,
Promessas ditam que se tu fores nostalgia, eu sou saudade,
Independentemente de qual for a cor ou sabor desse beijo,
Retoco cicatrizes em fogo, o segredo que entre lábios ficou,
O perfume é meu e de uma entrega entre vindoiras estações,
É uma viagem sem mapa, uma ponte sem destino que desabou,
Serei um dia chegada pois há muito fui partida entre estes botões,
Este é e sempre foi o caminho do viandante sob um céu estrelado,
A porta entreaberta, agora cerrada, é um novo pássaro a esvoaçar,
Passagem para o Verão, mesmo estando aqui o relógio quebrado,
Ela chama, chama-me, e eu vou, meio doce, meio apoquentado,
Abraçando o torvelinho, sou na espiral, ela ensina-me a sonhar,
Na dor de estômago aprendo finalmente a estar feliz e enamorado.
quarta-feira, 13 de agosto de 2025
O Relógio sem Ponteiros
Este é o silêncio antes de qualquer tempestade,
Encontro à beira de um cais quase abandonado,
O último instante antes de adormecer, em verdade
Um diálogo com a própria sombra - o assombrado,
Há uma luz que entra por uma janela esquecida,
Em imaginação pincelo a cidade após a chuva,
Coloco-a numa carta que será sempre perdida,
Este é o tempo do viandante antes da contracurva,
Vestígios de quem fora, ecos para idas alvoradas,
E vem a saudade, abismo para qualquer claridade,
Sou relento para os trilhos de umas outras estradas
Relógio sem ponteiros, dele tenho sido escravizado,
Pelas fendas destas quatro paredes, há eternidade,
E nessa espera a prisão, aqui sou o estigmatizado.
segunda-feira, 4 de agosto de 2025
O Velho Que Serei
A Criança Que Fui
quinta-feira, 31 de julho de 2025
Entre o Ontem que Não Acabou e o Amanhã que Não Veio
A ansiedade retroactiva numa nostalgia invertida,
Pressentimento e desejo por um pouco de esperança,
Esta saudade antecipada por um futuro ausente, a ferida
É passado presente de amanhãs esquecidos, a mudança,
Entre o medo e a intuição de ir entre um ontem inacabado,
Estas horas então cruzadas em ciclos de torvelinhos temporais,
Os relógios partidos e as estações trocadas, Cronos derrubado,
Ecos de promessas e fantasmas de planos com todos em espirais,
Há lembranças que nunca foram no cheiro de um dia que não veio,
E as vozes antes do silêncio, tal como as pegadas sem seu caminho,
Os gestos interrompidos de olhares que ainda não se deram em devaneio,
Estico os braços em abraços por vir, cartas não escritas, a multidão sem rosto,
E sei que tenho pressa no peito, cansaço de saber que por vezes não vivi no trilho,
Naqueles desejos suspensos, alma desalinhada, turbulência calma, outro sol-posto.
segunda-feira, 28 de julho de 2025
Bilhete Só de Ida
Malas cheias de silêncios com mapas a linhas tremidas,
Os comboios levam as memórias, carimbos no passaporte,
Olhos presos a um nome antigo nestas cartas envelhecidas,
Relógios parados entre cruzamentos de meia vida e quase morte,
Um bilhete só de ida para um qualquer caminho sem qualquer chão,
A bússola quebrada apontada para dentro, perdido em cada espelho,
Outro prisioneiro de camas frias de hotéis anónimos, o berço do caixão,
Carregado em cada quilómetro esquecido onde o seguro morreu de velho,
Reinventando as fachadas da cidade para lá das portas à chave fechadas,
Quantas vezes vagueei por estas ruas em calendários por ela demarcados,
Regressei mil vezes a essas ruínas por cada uma destas fotos amareladas,
Hoje, deixo as correntes nos trilhos de cada estação por onde não passei,
Em papeis como estradas e poemas como paisagens, eu porções, tu bocados,
O velho eu ficou na paragem, e eu fui indo e sendo por onde um dia não fiquei.
terça-feira, 15 de julho de 2025
Lua Nova
O céu estrelado dá lugar ao brilho de constelações,
Sem sombras ou eclipses, o cosmos e o seu recomeço,
Tal metamorfoses e esperas em diferentes transições,
Sou só a mudança independentemente do que pareço,
Há saudades no vazio das memórias entretanto esquecidas,
Intuições de ausências, silêncios e vozes quase quebradas,
Por entre reflexos de potenciais sonhos e estrelas prometidas,
Sussurramos toques na pele, a margens então de novo beijadas,
Lua Nova a noite inteira, seja qual for o que vier na turva maré,
De pés descalços na areia, o vento é a neblina, a flor é nocturna,
Pelo horizonte é que há que continuar sempre com indomável fé,
Este ventre do tempo prepara-nos para o que estará na estrada,
Tal presságio para o destinado, fado e oração para a noite soturna,
Renunciando a oferenda de uma cópia, um dia virá a madrugada.
segunda-feira, 14 de julho de 2025
O Verso Que Não Fui
quarta-feira, 9 de julho de 2025
Como o vento leva sementes para sítios desconhecidos,
A noite pode esconder as minhas pegadas da tua porta,
Mas o teu nome ecoará através dos meus ossos,
Não deixes que a mágoa ancore a tua jovem alma,
Apesar de caminhar onde as estrelas são estranhas,
Jamais estou longe de ti,
Mesmo que desapareça para o silêncio
segunda-feira, 7 de julho de 2025
Entre o Agora e o Nunca
A contenda entre o presente e as sombras do passado,
É o velho relógio que já não marca o tempo, a procura,
Pois o tempo é inimigo da alma e do que esta há sonhado,
A brevidade da vida vista num pôr do sol ou numa rua escura,
Sei que há sonhos perdidos entre estações de comboio,
Em estradas que se desfazem mediante cada novo passo,
Somos andarilhos em busca de lugar seguindo um arroio,
Mesmo quando o poeta perde as palavras, marca o compasso,
E quando a noite vem, ele cobre-se com mantas estreladas,
Em danças de estações feitas de pinturas que ninguém vê,
O palco vazio depois do aplauso, as vozes do então ecoadas,
Entre o agora e o nunca, há espelhos que por nós foram esquecidos,
A liberdade do não saber, o infinito no horizonte de quem ainda crê,
Acredito que há luz entre os abismos, mesmo nos brilhos obscurecidos,
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Entre Linhas Não Escritas
Num amor que ficou entre linhas que não foram escritas,
Ouçam esta voz que ecoa dentre o silêncio por si contida,
Sozinho numa multidão sem rosto, as lembranças subscritas,
O ar rarefeito após um adeus, há uma lágrima nunca vertida,
Por um espelho que se recusa a devolver o reflexo do poeta,
Libertai-o com esse sorriso, tão leve é a flor ao céu remetida,
Isto é o que os sonhos dizem quando ninguém escuta a borboleta
Esvoejar, é preciso, há eternidade encerrada na infinidade de uma pausa,
E há presenças dos ausentes nos lugares vazios que deixaram para trás,
Um brinde ao que sobra quando ninguém está a ver, um brinde à causa,
Somos estranhos no próprio corpo, esta inquietação é estado natural,
A linguagem dos gestos interrompidos na espera por novas manhãs,
Enquanto o ontem ainda respira numa espera nesta paisagem pictural.
terça-feira, 17 de junho de 2025
Antes de o Ser, Já o Era
O instante, antes de tudo, é a memória do que nunca aconteceu,
É o tempo que dobra dentro de um abraço, a visita a um passado,
Esta saudade que chegou antes da partida, que em si esmoreceu,
Foi a hora em que o relógio perdeu a razão, o beijo quase sonhado
Que só um reconheceu, dentre mãos que lembram um toque perdido,
Numa ausência que dorme na almofada ao lado, o beijo em imaginação
De dois corpos que dançaram noutra vida, o anseio de um desejo ferido,
Pois amar é sentimento que apenas coexiste em poesia dentro do coração,
Porque há palavras que não quiseram algum dia ser ditas, assim é o trilho,
De poemas que se escreveram em lágrimas, o nome que o papel recusou,
Pois o verso ficou preso na garganta, a tinta sangrou desde o pai até ao filho,
Somente o vento sabe o segredo que a alma esconde, a confissão sem ouvinte,
A chuva é reencontro e as estrelas as cartas que o tempo leu e em si enclausurou,
Deus dança no detalhe do invisível, o corpo templo tanto para rei como para pedinte.
O Silêncio Entre os Dedos dos Dias
Sim, o eterno escorre entre os dedos dos dias,
A infinitude contida num instante de olhar,
Numa ausência que ocupa as horas fugidias,
É o relógio que não consegue o tempo buscar,
Há amor que só existe entre silêncios partilhados,
Mesmo no beijo nunca dado, mas vive nos lábios,
O sussurro das árvores ouvido baixo encaminhados
Para a noite que floresce ao dormir nos subúrbios
De um sonho, espelho tatuado de uma alma inquieta,
Escrito num poema feito sem papel, esta é a canção,
Pois há Deus no palpitar errante da nossa respiração,
O renascer da fénix acontece sem ninguém notar no poeta,
É o silêncio que escapa entre duas notas subentendidas,
É resposta muda, em gestos preteridos e gastos por partidas.
O Silêncio Entre um Passo e o Outro
O Adeus que nenhuns lábios conseguiram proferir,
Tal silêncio entre duas notas durante uma dança,
O intervalo poético de um eco de um passado sorrir,
Na pausa entre olhares, o ágil andar de uma criança,
Há um desejo magnético no limiar de um compasso,
O ritmo sincronizado com a respiração de um poeta,
Este ar entre os dedos que supera o tempo e o espaço,
É suspiro na pele, rastro feito por uma estrofe discreta,
Movemo-nos na latência de uma luz imóvel e brilhante,
Grãos do ido apossam-se num olhar entretanto cerrado,
É mudez tornada passo de dança coreografada e sonhante!
Com intenção, o som desaparece e o corpo continua a dançar,
O não-dito vibrando no meio de um gesto por si próprio fechado,
Entre um passo e o outro, há um Universo inteiro para morar!
segunda-feira, 9 de junho de 2025
O Poema Que Me Escreveu
Não fui eu que busquei escrever o poema,
Foi ele que veio — em palavra, crua e inteira,
Sem pensar no sentido ou rasto no diadema,
Chegando assim: belo, sem pudor ou rasteira,
Então, minha mente era somente o espaço
Onde a estrofe a si mesma se ia escrevendo
A toque preciso, a caneta — limpa, a subtil traço -
Ia permitindo ser, ia permitindo e acontecendo,
Somente sentido, fui vendo a cor, o calor, o brilho,
E então fui página, fui folha em qualquer vento,
Sem controlo sobre o seu caminho ou sequer trilho,
Sei que cada soneto cura pedaços da aberta ferida,
E o poema me dá passo, asa e jornada em novo alento:
Sim, foi ele que me escreveu, foi ele que pincelou esta Vida.
terça-feira, 3 de junho de 2025
Cada Sonhador Tem Um Ícaro Dentro De Si
Sussurros de outrora próximos desta respiração,
Ofegante por Vida, ergue-se o sonhador prostrado,
O risco de queda, a possível tragédia é também bênção,
Por Dédalo essa altura, a ambição escombro do ansiado,
Há brilho nos seus olhos, no sacrifício de uma pluma ao vento,
Este é o labirinto de para quem o horizonte é lar, vive a fantasia,
Mesmo dentro do labirinto, a bravura que consta no contratempo
É inspiração, quimera, ideal e ânimo ao rubro seja noite ou dia,
Esperançando que a partida se torne um dia na chegada,
Ousado perante o abismo vertiginoso da vaidade e sua culpa,
Há cinzas onde havia penas, os raios solares a única estrada,
À glória desse destino, o fulgor de um ígneo grito, brasa e clarão,
E radiante o áureo torna-se terra, sem obrigado ou desculpa,
Ascendendo com o Zéfiro mesmo enfrentando a sua própria extinção.
terça-feira, 27 de maio de 2025
Dialecto dos Esporos Contra a Corrente
Sonhando com esporos resplandecentes indo contra a corrente,
Um multiverso de caras sem nome ultrapassando em contramão,
Então parecia que o fontanário ia secando por causa dessa gente,
E que ia assim endurecendo as paredes de um cinzento coração,
Esperando por um momento certo que tardava a ser chegada,
Conversava num dialecto que os outros pareciam ignorar,
Através de palavras que cabiam nos varões da berma da estrada,
Assim escapulia da realidade, assim se permitia a si mesmo esvoaçar,
Procurando por momentos belos que preenchessem a brisa,
Pois boas novas um dia trará o vento rodopiando o compasso,
Onde cairão esses esporos traçados em Vénus a uma luz imprecisa,
Por onde sorriremos, tentando ser o sentimento na sua plenitude,
Sei que haverá um dia qualquer um tempo, sei que haverá um espaço,
Mesmo que ainda magoe, mesmo que o sentir só conheça a servitude.
quarta-feira, 21 de maio de 2025
Pegadas que o Mar Apaga
Estás por todo o lado, cada nuvem e em cada pequena cicatriz,
De suspiros entrelaçados, mãos que se buscam em vertigem,
Sim, estás por todo o lado, da treva profunda ao final do arco-íris,
Escapando tal moedas entre dedos, ao prazer que as feridas infligem,
Sim, ainda escrevo versos a que a ela desejava tanto de confiar,
Ecos gastos pelo tempo, dançando valsas que vamos guardando,
Instantes nos prendem, e somos náufragos de um triste e solitário mar,
Sem dono, e sem descanso — as margens recuam apesar de irmos remando,
Esquecendo os moldes, as rimas, a ilusão da correspondência,
Pois há silêncios que habitam quem jamais se entende por palavras,
E assim se curva a infância ao tempo, assim se desenha a essência,
Na pele enrugada da espera, no passo lento de mil quase abracadabras,
Oiço correntes roçando o chão — e se repousar, quem me acolherá?
Outro instante, outro acaso… e que o resto venha sem cama traçada.
É o hino de quem não pertence ou tem pertença, é o rastro do amanhã,
É o pó dos dias na pele, buscando faróis num olhar ainda sem a alvorada.
domingo, 18 de maio de 2025
Eu Pertenço à Estrada
Há vestígios de ruínas cantando do alto da fachada,
Suspiros ofegantes entrelaçados que buscam a vertigem,
Quando o caminho diverge entre uma ou outra alvorada,
Há que nos agarrar na segurança na rua errante, sem origem,
Pois há poemas ainda por vir que a ela gostaria de dedicar,
Ecos desfeitos pelo tempo, percorrendo valsas em nós contidas,
Aprisionados por um instante, reféns e prisioneiros de um mar
Que não vê dono em quem não sabe remar, sem margens queridas,
Esqueço as rimas, esqueço a métrica, esqueço a vontade de reciprocidade,
Pois há silêncios encontrados no lar de quem nunca conseguiu ser chegada,
E assim a criança se torna no velho, e assim se avança no tido como idade,
Ouço correntes arrastando-se no chão, e se pernoitar aqui quem me dará guarida?
Outra hora, outro momento e o resto que venha – é o hino do pertencente à estrada,
É o passo vacilante, na pele o pó dos dias, procurando o olhar farol, num bater que não intimida.
quarta-feira, 30 de abril de 2025
A Última Noite no Peito Dela
Há murmúrios ecoando no vazio da madrugada,
Em vestígios da sua ausência e em camas desfeitas,
O fantasma de outra despedida é erro na fachada,
Que assim se vai desmoronando dentre ruas estreitas,
Há lembranças cantando na ebriedade da noitada,
A insónia é rainha e o silêncio tão ensurdecedor,
Trago a sua respiração na minha e noutra facada
Encontro mote para enfim a lágrima e a sua dor,
Há sombras entre memórias, adeus nos espaços,
E o estilhaço no coração, a perda desta noção,
Pretendo renascer das cinzas em subtis traços,
Pois há o percorrer o ósculo deferido por esta estação,
Será que a chegada me aguarda em sutis e ternos abraços
Ou será que serei mais outro vivendo a vida em objeção?
terça-feira, 8 de abril de 2025
Vida em Tempo Emprestado
Encobre-me os ossos de murmúrios, estou tão frio,
Manifestando lábios que sussurram sombras - beijo,
Ensina-me a cantar, preenche-me de confetes o vazio,
Porque esta voz esqueceu o assobio das luzes do desejo,
Branco pálido, meu deus, perdi-me de mim, perdi-me de mim,
E a Vida não é um Sonho, tenho aprendido sob ferros e brasões,
Amarrado aos trilhos de um pôr-do-sol, haverá por fim um fim,
Pois procuramos sem encontrar, ao alto estão mil e um corações,
E estas fantasias, embalsamando-me, precisamos de um remédio,
Encobertos por uma dor adequada à tumba, esta é a maldição,
De um homem que outrora teve esperança, este insano assédio,
Onde vamos e pedimos tempo emprestado, esta enfim é a minha Vida,
Nas mãos de olhos fechados, de boca rasgada no meio da escuridão,
Este é o último adeus, numa tentativa sôfrega de atingir a margem querida.
quinta-feira, 20 de março de 2025
O Perfume da Sombra
A sua sombra é por uma brisa fria trazida,
Esta guerra das Rosas fez uma nova vítima,
Por isso aceno à morte, ela é sim bem-vinda,
Até que por fim a luz me inunde lindíssima!
Numa explosão supernova num instante brilhante
Esta pele por meros momentos deixa de ser lívida,
Finalmente o Universo reencontrou seu semelhante,
Enfim procedemos adiante nesta aurora então vivida,
Pois se a Rosa feneceu, o seu perfume ainda persiste,
E aprendemos a arte do desapego, o vil desencontro,
Porque sua pétala ao vento esvaeceu, assim desiste,
Resta a memória cravada a ferros num antigo e ido conto,
E caminhamos solitários onde somente a sombra existe,
Trago-a morta no canto do bolso, num sorriso triste pronto.
quinta-feira, 13 de março de 2025
Ontem, Entre Marés e Lembranças
Memórias aladas a desfilar no pátio das lembranças,
Enchentes de marés em acalmias tidas no matinal,
Escondidos entre dedos espremidos de esperanças,
Pretendo viver a Vida num instante, mas o temporal,
É indiferente do Sonho, no tempo e no espaço, é igual,
Os sorrisos estampados devagar nas rugas destes rostos,
Pois várias faces têm aqui passado, livros lidos, é factual,
Porto sentido, margem estendida onde há fogos postos,
Pois eu sou as ruelas e as calçadas sob os passos já dados,
Grave e sério, sorridente e brincalhão à luz incandescente,
Era a primeira vez, o pé descalço nos espelhos quebrados,
Não obstante, esse tempo é tempo a mais, somos meros acenos,
Apelos na tentativa de nos adaptarmos, que sim, nos acrescente,
Pois pretendemos a plenitude do hoje, não um mais ou menos.
segunda-feira, 3 de março de 2025
O Último Acto
Sim, apressa o passo, mas mantém a sua cadência,
Olhos fechados, os dias não são grandes o suficiente,
Mais um adeus, não tem fim esta solidão sem clemência,
A agonia do amor, essa verdade de quem nela vai e mente,
Onde estrelas transbordarem, num alado firmamento,
Tão nostálgico, trazemos nos pulsos sonhos paletizados,
Preparados para a descarga, ou para o armazenamento,
Crus e enviados para o seu destinatário, estigmatizados,
Nunca foi suposto ter enfim um final mais do que feliz,
Por fim tenho espaço para admitir o quanto estava errado,
Estanquemos a ferida, curemos esta moribunda cicatriz,
Que esta morte seja breve, pois já não é possível viver,
Cansado de andar aos círculos dentro de um quadrado,
Se fosse um filme, este seria o final perfeito para um cadáver.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Além do Desencontro
Os meus sonhos são feitos de porções inacabadas
De desculpas e obrigados, princípios de quase serões,
Dando goles aos cálices de varas nas costas quebradas,
Onde continuo à procura de seus lábios em novos tubarões,
Avisaram-me sobre a perfídia da Vida, de uma multidão perdida,
Que vai partilhando o caminho do viandante - o mero instante,
Suponho que haverá um dia chegada naquela margem querida,
Porque buscamos um ombro amigo, aquele abraço reconfortante,
Não tenho receio de me perder, tenho mais receio de não me encontrar,
Deixemos ir este passeio dos inadvertidos, este medo do desencontro
É semente para uma raiz que cresce, que no Sol consegue se aposentar,
O vento vem e passa, passa e leva, leva e arranca mais do que consigo mostrar,
E mesmo que um dia a brisa leve os nossos passos para o fim deste conto,
Que reste em nós a essência de quem ousou nunca parar de sonhar.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Ainda Não É Tarde
Para os escravos do relógio dos corredores feitos de escuridão,
Por vezes procuramos a alegria como qualquer sentimento,
De repente vai-se o sonho, de repente perde-se o momento,
Porque o amor é fantasia, sobra-nos assim o ombro da solidão,
As sombras sussurram o que em gritos do saturado se torna,
O coração sabe a paralelo, a razão perde por completo a sazão,
Tricotando almejos, deixando o maior ter finalmente sua porção,
Haja assim cores no abismo mesmo quando somente o cinza retorna,
Talvez estes anseios um dia se tornem novamente simples suspiros,
Mas o rubor vermelho no céu é nosso! O crepúsculo é casa e lar!
Por isso vou e largo a pele, almejando mil e um diferentes retiros,
E a diferença será no olhar, nas lágrimas de fogo, não obstante do lugar,
Morrerei o tempo necessário para viver longe destes meus vampiros,
Que venha o novo reino, somente sei que ainda não é tarde para amar!
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
Ruas de Saudade
Se ao menos sentisse estes lábios beijados,
E a sua sombra não fosse parte do coração,
Se entre nós não fossemos desencontrados,
Veria algo mais para além desta maldição,
É a saudade tornada em cinzenta nostalgia,
O desconhecer o que é um porto de abrigo,
Algures durante o trilho perdeu-se a magia
E é tarde para reaprender a respirar contigo,
Está tudo bem, deixa o meu amor encontrar-te,
Assim por horas, por segundos, somos novamente,
E não bastaria a mim próprio como perdido bastar-te,
Não serei suficiente nem para estas horas mortas,
Sim, estou extraviado do caminho finalmente,
Por entre as curvas sinuosas e estas ruas tortas,
Se ao menos pudesse de novo sentir o seu calor,
Se este seu olhar, em memória, não fosse ilusão,
Se a ampulheta nos unisse enfim em seu favor,
E não nos deixasse separados e em solidão,
Pois a mágoa se transforma em triste nostalgia,
Pois havemos perdido nosso rumo e direcção,
E tudo o que era luz, virou noite, um outro dia,
E das sombras vindas, há desalento e escuridão,
Por isso minto-me e sonho como se fosse minha,
Como que se o tempo nos concedesse um instante,
Que a vida, por piedade, permitisse uma nova alínea,
Porém, se perdido já estou, e tão e tão, tão distante,
Seguindo solitário por entre as ruas tão e tão sozinho,
Onde vou e sigo com a lágrima no olhar ainda brilhante.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Do Sótão de uma Colina
A regra à excepção é esta agridoce dor desta estação,
Numa sombra passageiro, um monge sem mosteiro,
Na refração de um olhar, sou uma vaca ainda a pastar,
Esperando por prados verdejantes em colinas estonteantes,
Relembro Dezembro escutando chuva a cair, o eco do teu sorrir,
Penso que tenho o suficiente para a Vida, mesmo da casa partida,
Pois é o silêncio entre as palavras, magia de mil abracadabras!
Entre o sono e o quase, quase sonhar, serei o suficiente para gostar
Da abertura dessa porta trancada, vamos indo numa íngreme jornada,
E seguir-te-ei quando cair a cortina, do mais alto sótão de uma colina,
Será escuro então, e o Céu e o Inferno decidirão, não basta o coração,
É preciso também satisfação no embarcar, rumo ao infinito, o eterno procurar,
Neste resto de dedos esticados para o horizonte, erguendo entre mim a ponte,
Estas ânsias tornar-se-ão desejos um dia, e nós continuaremos em busca da magia!
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
Reflexos do Instante
Permaneço perante minha refracção no instante,
O momento é vertido por um poeirento espelho,
O coração atiçado por uma espera sempre anelante,
Sou estranho mediante estes sentimentos, num só joelho
Prometo continuar a ser e acumular o que está por vir,
Enquanto viver, enquanto não morrer, até o sonho terminar,
Mesmo que engasgado por empatia, querendo somente ir
Por onde o caminho me aprouver ou em liberdade me deixar,
E sinto o tempo a passar, sem qualquer sítio onde pernoitar,
A moeda de troca é as areias do vento, seja qual for o intento,
Mesmo que outrora tenha sido asa voando no termo do horizonte,
Hoje sou somente o grito surdo de um instante enfim a acabar,
A lamúria indómita que me leva adiante é sempre este momento,
E entre margens sempre tentarei erguer e elevar seja qual for a ponte!
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
A Eterna Saga
Os ponteiros do relógio contam belas histórias inauditas,
Sobre jornadas e caminhos onde o aprendizado é senhor,
Entre o silêncio das rugas, lembranças de quem acredita,
Que a Vida é para viver, então que venha a morte e seu penhor,
Cada linha no rosto é uma vivência transformada em realidade,
Há sim uma beleza dourada no refundar de cada vibrante dia,
Porque as marcas do tempo delineiam as sombras desta idade,
E é a verdade, tal clamor de cidade, o quanto eu a mim me queria,
O fim nunca é o fim, somente outro momento de passagem,
Até o brilho da alma persiste mesmo quando a pele se apaga,
Quando surgir o eterno repouso saibam, um dia serei aragem,
Na promessa do vindoiro, no palpitar esperançoso do coração,
O fim do caminho é apenas o inicio de uma nova e perene saga,
Saibam pois! Nas páginas que escrevi, outros encontrarão inspiração!
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Ausência - Entre Ontem e Amanhã
O espelho partido consciente por onde passo descalço,
Entorna-se nestes corredores a mármore revestidos,
Damos a nossa vida por uma revolução em doce percalço,
Que não acontece, somos a penúria de dois corpos despidos,
E quando olho para trás ainda vejo a sua mão na minha,
Aonde se vai e se quebra, novamente, o quebrado coração,
Pois ensombrado por uma gentil voz que ainda me encaminha,
E sublinha-se a negrito, encaminhado assim numa eterna monção,
E onde sepulcros se erguem, berços choram, é a triste realidade,
Pois permaneço onde estava, não caminho ainda de facto adiante,
Onde amor foi investido não foi capitalizado em total reciprocidade,
Encurralado entre o ontem e o amanhã, isto dentro de mim é vazio,
Como a beleza facilmente se torna em tristeza, é um mero instante,
A retribuição, obliterada, os lençóis amarrotados, tenho tanto frio...