A sua sombra é por uma brisa fria trazida,
Esta guerra das Rosas fez uma nova vítima,
Por isso aceno à morte, ela é sim bem-vinda,
Até que por fim a luz me inunde lindíssima!
Numa explosão supernova num instante brilhante
Esta pele por meros momentos deixa de ser lívida,
Finalmente o Universo reencontrou seu semelhante,
Enfim procedemos adiante nesta aurora então vivida,
Pois se a Rosa feneceu, o seu perfume ainda persiste,
E aprendemos a arte do desapego, o vil desencontro,
Porque sua pétala ao vento esvaeceu, assim desiste,
Resta a memória cravada a ferros num antigo e ido conto,
E caminhamos solitários onde somente a sombra existe,
Trago-a morta no canto do bolso, num sorriso triste pronto.
Blog do músico e poeta português Joel Nachio onde este vai escrevendo e reunindo escritos poéticos.Tal como as músicas são compostos de forma única a partir do mais sublime reflexo, em retoque, do seu sentimento e poesia. Alguns poemas já pertencentes a livros, outros ainda "frescos" e originais no website...
quinta-feira, 20 de março de 2025
O Perfume da Sombra
quinta-feira, 13 de março de 2025
Ontem, Entre Marés e Lembranças
Memórias aladas a desfilar no pátio das lembranças,
Enchentes de marés em acalmias tidas no matinal,
Escondidos entre dedos espremidos de esperanças,
Pretendo viver a Vida num instante, mas o temporal,
É indiferente do Sonho, no tempo e no espaço, é igual,
Os sorrisos estampados devagar nas rugas destes rostos,
Pois várias faces têm aqui passado, livros lidos, é factual,
Porto sentido, margem estendida onde há fogos postos,
Pois eu sou as ruelas e as calçadas sob os passos já dados,
Grave e sério, sorridente e brincalhão à luz incandescente,
Era a primeira vez, o pé descalço nos espelhos quebrados,
Não obstante, esse tempo é tempo a mais, somos meros acenos,
Apelos na tentativa de nos adaptarmos, que sim, nos acrescente,
Pois pretendemos a plenitude do hoje, não um mais ou menos.
segunda-feira, 3 de março de 2025
O Último Acto
Sim, apressa o passo, mas mantém a sua cadência,
Olhos fechados, os dias não são grandes o suficiente,
Mais um adeus, não tem fim esta solidão sem clemência,
A agonia do amor, essa verdade de quem nela vai e mente,
Onde estrelas transbordarem, num alado firmamento,
Tão nostálgico, trazemos nos pulsos sonhos paletizados,
Preparados para a descarga, ou para o armazenamento,
Crus e enviados para o seu destinatário, estigmatizados,
Nunca foi suposto ter enfim um final mais do que feliz,
Por fim tenho espaço para admitir o quanto estava errado,
Estanquemos a ferida, curemos esta moribunda cicatriz,
Que esta morte seja breve, pois já não é possível viver,
Cansado de andar aos círculos dentro de um quadrado,
Se fosse um filme, este seria o final perfeito para um cadáver.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Além do Desencontro
Os meus sonhos são feitos de porções inacabadas
De desculpas e obrigados, princípios de quase serões,
Dando goles aos cálices de varas nas costas quebradas,
Onde continuo à procura de seus lábios em novos tubarões,
Avisaram-me sobre a perfídia da Vida, de uma multidão perdida,
Que vai partilhando o caminho do viandante - o mero instante,
Suponho que haverá um dia chegada naquela margem querida,
Porque buscamos um ombro amigo, aquele abraço reconfortante,
Não tenho receio de me perder, tenho mais receio de não me encontrar,
Deixemos ir este passeio dos inadvertidos, este medo do desencontro
É semente para uma raiz que cresce, que no Sol consegue se aposentar,
O vento vem e passa, passa e leva, leva e arranca mais do que consigo mostrar,
E mesmo que um dia a brisa leve os nossos passos para o fim deste conto,
Que reste em nós a essência de quem ousou nunca parar de sonhar.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Ainda Não É Tarde
Para os escravos do relógio dos corredores feitos de escuridão,
Por vezes procuramos a alegria como qualquer sentimento,
De repente vai-se o sonho, de repente perde-se o momento,
Porque o amor é fantasia, sobra-nos assim o ombro da solidão,
As sombras sussurram o que em gritos do saturado se torna,
O coração sabe a paralelo, a razão perde por completo a sazão,
Tricotando almejos, deixando o maior ter finalmente sua porção,
Haja assim cores no abismo mesmo quando somente o cinza retorna,
Talvez estes anseios um dia se tornem novamente simples suspiros,
Mas o rubor vermelho no céu é nosso! O crepúsculo é casa e lar!
Por isso vou e largo a pele, almejando mil e um diferentes retiros,
E a diferença será no olhar, nas lágrimas de fogo, não obstante do lugar,
Morrerei o tempo necessário para viver longe destes meus vampiros,
Que venha o novo reino, somente sei que ainda não é tarde para amar!
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
Ruas de Saudade
Se ao menos sentisse estes lábios beijados,
E a sua sombra não fosse parte do coração,
Se entre nós não fossemos desencontrados,
Veria algo mais para além desta maldição,
É a saudade tornada em cinzenta nostalgia,
O desconhecer o que é um porto de abrigo,
Algures durante o trilho perdeu-se a magia
E é tarde para reaprender a respirar contigo,
Está tudo bem, deixa o meu amor encontrar-te,
Assim por horas, por segundos, somos novamente,
E não bastaria a mim próprio como perdido bastar-te,
Não serei suficiente nem para estas horas mortas,
Sim, estou extraviado do caminho finalmente,
Por entre as curvas sinuosas e estas ruas tortas,
Se ao menos pudesse de novo sentir o seu calor,
Se este seu olhar, em memória, não fosse ilusão,
Se a ampulheta nos unisse enfim em seu favor,
E não nos deixasse separados e em solidão,
Pois a mágoa se transforma em triste nostalgia,
Pois havemos perdido nosso rumo e direcção,
E tudo o que era luz, virou noite, um outro dia,
E das sombras vindas, há desalento e escuridão,
Por isso minto-me e sonho como se fosse minha,
Como que se o tempo nos concedesse um instante,
Que a vida, por piedade, permitisse uma nova alínea,
Porém, se perdido já estou, e tão e tão, tão distante,
Seguindo solitário por entre as ruas tão e tão sozinho,
Onde vou e sigo com a lágrima no olhar ainda brilhante.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Do Sótão de uma Colina
A regra à excepção é esta agridoce dor desta estação,
Numa sombra passageiro, um monge sem mosteiro,
Na refração de um olhar, sou uma vaca ainda a pastar,
Esperando por prados verdejantes em colinas estonteantes,
Relembro Dezembro escutando chuva a cair, o eco do teu sorrir,
Penso que tenho o suficiente para a Vida, mesmo da casa partida,
Pois é o silêncio entre as palavras, magia de mil abracadabras!
Entre o sono e o quase, quase sonhar, serei o suficiente para gostar
Da abertura dessa porta trancada, vamos indo numa íngreme jornada,
E seguir-te-ei quando cair a cortina, do mais alto sótão de uma colina,
Será escuro então, e o Céu e o Inferno decidirão, não basta o coração,
É preciso também satisfação no embarcar, rumo ao infinito, o eterno procurar,
Neste resto de dedos esticados para o horizonte, erguendo entre mim a ponte,
Estas ânsias tornar-se-ão desejos um dia, e nós continuaremos em busca da magia!
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
Reflexos do Instante
Permaneço perante minha refracção no instante,
O momento é vertido por um poeirento espelho,
O coração atiçado por uma espera sempre anelante,
Sou estranho mediante estes sentimentos, num só joelho
Prometo continuar a ser e acumular o que está por vir,
Enquanto viver, enquanto não morrer, até o sonho terminar,
Mesmo que engasgado por empatia, querendo somente ir
Por onde o caminho me aprouver ou em liberdade me deixar,
E sinto o tempo a passar, sem qualquer sítio onde pernoitar,
A moeda de troca é as areias do vento, seja qual for o intento,
Mesmo que outrora tenha sido asa voando no termo do horizonte,
Hoje sou somente o grito surdo de um instante enfim a acabar,
A lamúria indómita que me leva adiante é sempre este momento,
E entre margens sempre tentarei erguer e elevar seja qual for a ponte!
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
A Eterna Saga
Os ponteiros do relógio contam belas histórias inauditas,
Sobre jornadas e caminhos onde o aprendizado é senhor,
Entre o silêncio das rugas, lembranças de quem acredita,
Que a Vida é para viver, então que venha a morte e seu penhor,
Cada linha no rosto é uma vivência transformada em realidade,
Há sim uma beleza dourada no refundar de cada vibrante dia,
Porque as marcas do tempo delineiam as sombras desta idade,
E é a verdade, tal clamor de cidade, o quanto eu a mim me queria,
O fim nunca é o fim, somente outro momento de passagem,
Até o brilho da alma persiste mesmo quando a pele se apaga,
Quando surgir o eterno repouso saibam, um dia serei aragem,
Na promessa do vindoiro, no palpitar esperançoso do coração,
O fim do caminho é apenas o inicio de uma nova e perene saga,
Saibam pois! Nas páginas que escrevi, outros encontrarão inspiração!
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Ausência - Entre Ontem e Amanhã
O espelho partido consciente por onde passo descalço,
Entorna-se nestes corredores a mármore revestidos,
Damos a nossa vida por uma revolução em doce percalço,
Que não acontece, somos a penúria de dois corpos despidos,
E quando olho para trás ainda vejo a sua mão na minha,
Aonde se vai e se quebra, novamente, o quebrado coração,
Pois ensombrado por uma gentil voz que ainda me encaminha,
E sublinha-se a negrito, encaminhado assim numa eterna monção,
E onde sepulcros se erguem, berços choram, é a triste realidade,
Pois permaneço onde estava, não caminho ainda de facto adiante,
Onde amor foi investido não foi capitalizado em total reciprocidade,
Encurralado entre o ontem e o amanhã, isto dentro de mim é vazio,
Como a beleza facilmente se torna em tristeza, é um mero instante,
A retribuição, obliterada, os lençóis amarrotados, tenho tanto frio...