domingo, 28 de abril de 2024

Desamparo Sob o Arco Quebrado

Estava errado, pois afinal não era para ter um final feliz,
Nas estrelas tal demarcado, e eu tratado como um petiz,
Até fui eu a escolher a minha dor do menu do coração,
Escolhi o júri, jurado e executor desta minha triste canção, 
 
E faltam-me as asas para poder ser voo, sua mão na minha,
Enganos após enganos, sim sou apenas outra alma sozinha
Sem lugar para ter sítio, sem sítio para possivelmente ter lugar, 
A esquecer lentamente o que é viver, a morrer por tanto amar,

Por baixo de um buraco, num arco quebrado cai a seta em mim,
Somos nós a regra partida de Cúpido, a dolorosa verdade assim,
Nem importa mais o caminho até agora trilhado, nada é importante,

O resguardo caiu, o refúgio fugiu, e neste trilho sempre inconstante
Sou peão e transeunte, com um beijo que de mim se foi esquecendo,
Se ela de mim já não é parte, então de mim me vou aqui perdendo.

Vínculos da Ausência

Confissões do poeta a um ainda visível rosto lunar,
Por entre a bruma, entre a noite a inevitável perda,
Entre os dedos ela escapou-se ficando um triste pesar,
O sonho sonhado lacrimejado da direita para a esquerda,

Passou o nosso instante, a distância reclamou o momento,
Dentre as margens ficou o afogado, eternamente encurralado,
Somos sepulcro, caixão e o espaço que percorre atrás do vento
E o coração é pó em cachoeira e através do tempo é enfim embalado,

E por fim não há beleza, já não há o seu olhar, nem aquela mão na mão,
Vem a brisa e o tumulto, vou por onde não sou sequer já encontrado,
É a vida a seguir caminho via trilho de vagão passando por cima do coração,

Estes bolsos de lembranças rasgados, este olhar novamente semicerrado,
É o reaprender a justificar o dado, o perceber entre o dizer sim ou o não
Ao próprio poema, mas a ela estou e estarei indubitavelmente amarrado.

terça-feira, 23 de abril de 2024

No Silêncio da Ausência

Silenciosamente, sussurramos os nossos apelidos,
Esticados por momentos alienígenas, algibeiras
Abertas por tempos incertos, enfim tão perdidos,
Por aqui é onde andávamos de mãos em rasteiras,

Aqui ecoam lembranças em surtos ao acaso deixados,
Nem poeta sou, não com este bater desassossegado,
A noite para estar confuso, dois trilhos desconectados,
Para esquecer e por um ombro desaparecido ser apoiado,

São pesadelos e cruzes no pavimento e sepulturas abertas
Somente para nós, com luz ou sem sol, por agora tudo bem,
O silêncio esperando ir adiante, são estas as horas tão incertas,

O tiquetaque é a lágrima batente, custa-me o mundo, dói-me a verdade,
Que é o fim, o absoluto fim, sem a despedida pelo comboio que vem,
Indubitavelmente sozinhos, esta é sim a minha eterna e única soledade.

A Despedida

Aqui divergem enfim os caminhos de dois perdidos,
Não mais temos a mão na mão, um futuro potencial,
As ondas oceânicas estilhaços nos dedos então urdidos,
Por mim, por ti, um para sempre a enlevar a ferida com sal,

Incompleto, fragmento da porção tida como um anseio,
Nascemos para um outrora podermos fenecer sozinhos
No abraço ofegante de uma liberdade onde me rareio,
Somos indiferentes perante o vindoiro redemoinho!

Prorrogáramos o inevitável fim, sem indulto ou perdão,
Este tempo e distância enfim serão campeões, a tristeza
É cair na real e perceber que sim, enfim perdemos o chão,

O resto é absolvição, o compreender que há também beleza
Na queda, na mágoa, na vontade terna de morrer do coração,
Pois se um dia fomos a altura, que sejamos agora a profundeza.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Lamento à Estrada

Desabafo suspiros na orla da branca estrada,
Perdido sem o seu fôlego, sem a sua beleza,
Nunca foi suficiente esta barca cá fragmentada
Para alumiar a luz com estes píncaros de incerteza,

Maremotos de saudade, tsunamis de nostalgia,
Durante horas, durante dias, senti-me completo,
Pois era porção e centro do tido como real magia,
E esse caminho levava-me face ao esbelto trajecto,

Desperdiçamos luz, sim, acredito que algures seriamos,
Mais do que alguma vez pudemos ser neste amanhã,
Sem esperança no ontem, por si nos quebraríamos,

Há uma lágrima que trago num beijo aqui protelado,
Adiado então para um dia que temo nunca vinda terá,
Esta é a triste sentença para o amador que há amado.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Beleza e Solidão

Na solidão tão vasta e longínqua sua beleza ecoa,
Por tons oblíquos dentro de um silêncio cerrado,
Reverberando sua voz que por memórias entoa
O pedaço de nós dois pelo tempo não cobrado,

Sempre solitária, essa eterna beleza em si se revela,
Que não falte um sonho por cada noite e seu regresso,
Pois por e através de cada traço, há uma história singela,
De dois lábios sedentos dentre si e que em mim confesso,

Sua beleza e esta solidão, dançando em perpétua harmonia,
Por terna quietude, numa fonte que inadiável jamais cessará,
Em cada suspiro conferido sim virá um novo verso de poesia,

E por cada nova linha, uma nova tentativa de ver o amanhã,
Pois em boa verdade a sua beleza sempre encontrará sua via
Para o meu coração, somente um receptáculo para o que virá.

terça-feira, 9 de abril de 2024

Emaranhado

Passando por aquilo pelas poças de água reflectido,
A refracção no olhar aberto de vidros embaciados,
Faz frio entre o vazio e o efémero é sempre o ido,
O amigo do Outono quebra-se em partes e bocados,

E dos fragmentos parecem não advir belos momentos,
Somente mais restos de algo ao vento e brisa deixado,
Por isso me dói o ar e o peito sob estes céus cinzentos,
Sem conseguir prosseguir adiante perante o sonho adiado,

Resignado a andar à deriva sob um luar triste de solidão,
Vou por onde não me encontro, e por fim sou não encontrado,
E mesmo que vá e me encontre, já se me quebrou o coração,

Não obstante de quem por lá passou ou quem tenho amado,
A tentativa do adiante, a tentativa de novamente dar a mão
É ilusão do poeta, a desilusão do amador, sem voz no soletrado.

Entre Quatro Paredes e Mil Espinhos

Pesa-me o espaço onde sou porção fragmentada
De um homem procurando o Inteiro, à desfilada,
Falta-me um pouco de amor para me dar sentido,
Alguém que me dê a mão e carregue este apelido,

Lábios descarnados, apelo à eternidade, sabendo a lar,
Contudo tal pegadas na areia que pretendem não ficar,
São o fogo na água e momento para um olhar cerrado
E uma mão que não encontra a outra no outrora beijado,

E é tão difícil caminhar sem tacto neste lúgubre caminho,
Pois de todos os trilhos este é o que ocupo ainda sozinho,
Vai-se o sorrir, vai-se o sorriso, cai a bruma sem firmamento

Entre horizontes deveras distantes, assim me arrasta o vento!
E eu, entre quatro paredes e um tecto, deixo este triste poema,
Hei-de morrer de pé e solitário e com espinhos como diadema!

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Sob o Caixão dos Sonhos: Uma Elegia para a Busca e a Perda

Faltam-me sonhos para me manter acordado,
A cor própria da procura por o único semblante
Que leva ao inteiro, que busca o último bocado,
Que nos faz perceber a Vida e nos torna presente,

Desperto com sonhos colocando-os leves na algibeira,
Contudo é um oceano, é um deserto entre dois amantes,
Um labirinto e um abismo preenchem-me até chegar à sua beira,
Enquanto conjugamos dois particípios passados, somos distantes,

Quebra-me o coração e resguarda-o numa sepultura feita de plumas,
Cantando a eterna elegia, murmurando a cela em maiúsculas soletrada,
As carícias são parte do passado, as cicatrizes o que este poema perfuma,

E é o vento possante que nos arrasta para longe, sou só um transeunte,
Em breve para nos tornarmos estranhos na longa e branca estrada,
Por isso um último suspiro sobre o caixão, que sua resposta nos pergunte.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Poeta Procura Musa

O seu olhar e nome é pelas árvores sussurrado,
Por ela, o doce receptáculo do carinho profundo,
Eu sou o poeta perdido, procurando ser beijado,
Enquanto vamos pelas bermas do ribeiro fecundo,

As formas onde a Primavera é em si adormecida,
São vultos acossando o poeta e a sua envoltura,
É convulsante e no chão, a donzela seria fingida
Ou seria ele o dono que um mundo cão augura,

Que se curva tal a vida, por momentos pungente,
É esta batalha que vai reabrindo a sua eterna ferida
E que lhe relembra o conforto que é estar ausente,

Mas amor com amor se paga, amor é bem aqui preciso,
Somos a estrada e veículo para a passeata perdida,
Somos fuligem para o fumo que de si é indeciso.

domingo, 31 de março de 2024

Entre Correntes e Saudades: Um Cântico à Solidão

Estas correntes que me encarceram nesta prisão,
São fruto daquela que deu a mão neste caminho,
É súbita a paragem, porém faz parte do coração
Mesmo que o trilho se torne bruma e eu sozinho

Lentamente vá por onde este sonho é destroçado,
Com relâmpagos e fuligem nas costas, a saudade
De quem passou deixando passos no aposentado,
De quem tornou de mentiras esta única verdade!

Quando o amor se torna em minúscula, e a insónia
É noite e de dia, o crepúsculo abraçando a escuridão,
Nossos batimentos cardíacos ao ritmo da melancolia,

Somos somente um apêndice na retaguarda da Vida,
Apenas mais um prego nesta cruz feita de solidão,
Só mais duas mãos desencontradas, a eterna dúvida.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Entre Paredes de Cimento

As suas mãos brancas de lixívia, na sombra da aurora,
Brevemente teremos asas irmão, em breve encontrado,
O falhanço do desapego, este orgulho de quem namora
Uma tentativa de ser algo mais do que um beijo almejado,

E por onde quer que vá, simplesmente não há pertença,
Escorregando no resvalo da saudade, vou e não pertenço,
Este olhar chamuscado pela cegueira de uma quase sentença,
De coração quebrado, procurando o não de um falso pretenso,

De um correr esbracejando aos círculos, um amigo é sim preciso,
Entre quatro paredes de cimento não é o final que tenho ansiado,
Obcecado e perdido nos pormenores, uma lágrima pelo seu riso,

Sonhos sem sono ferem as nossas noites, e o hoje ainda não passou,
Era eu sim, procrastinando o quanto estava em relação a tudo errado,
O não ter pertença nem sei se esta é a doença ou a doença a si se curou.

domingo, 24 de março de 2024

Entre as Brechas da Persiana

Vejo-a entre as brechas na persiana num desfile singular,
E os meus olhos, tal enchente de maré, em calma matinal,
Lembranças e esperanças de momentos possíveis de amar,
Devagar, atiçando tempestades e verdades no beijo auroral,

Provocando-me almejos insaciáveis, os inabaláveis instantes,
De livros nunca lidos, porém estremecendo entre as letras,
Dessas memórias contidas nas páginas entre dois amantes,
Eternamente ligados pelo poder que em mim vais e soletras

Através de sonâncias e toques já esquecidos pelos mortais,
Agradeço a oportunidade, agradeço o ensejo por confissões
Que fui fazendo a um rosto lunar, o coração que entregais

Faz jus aos poetas passados na ternura das suas mil canções,
Bom dia, somente outro caso de graça, o sangue me estancais,
De resto, sou pertença daqueles que se perderam entre gerações.


quarta-feira, 20 de março de 2024

Além das Palavras

Sustendo as asas repletas de plumas neste escrevinhar, 
O poeta é pintor e o poema é a escrita no firmamento
Das sentenças a que lhe foi possível outrora reivindicar, 
Com esse pintar e esvoaçar por cada incólume momento, 

Sacro sacramento, o beijo dado aos céus sem pedir em troca, 
Precisamos de dar para além do que é possível cá receber, 
Passando os arcos das portas e o que seu fogo estoca,
À procura de algo mais inteiro que permita perceber

O porquê de pintamos palavras que vão de mão em mão, 
A pergunta é feita para finalmente podermos responder
Quando será que faz sentido beijar a corrente estação, 

Mesmo quando melhores dias virão e a lágrima secará,
Portanto ao longo infinito esta moldura iremos remeter
Até quando por fim formos e chegarmos ao lado de lá. 


quinta-feira, 14 de março de 2024

O Caminho É O Estelar

Os tesouros de uma existência na palma da íris são retidos,
Em simples instantes passageiros correndo enfim graciosos,
Por cada passo conferido, vejo-os no peito firmes e embutidos
Numa relapsão quase de mão na mão em vários olhares radiosos,

Deixando um trilho cadente, somos as porções de estrelas perecidas,
Por um Ver brilhante, almejando o bastante, nascidos do firmamento,
Através do esvoaçar das asas por fios feitos de constelações tecidas,
Nestes corações o pulsar de outras vidas passadas de outro fragmento,

Dentre salas vazias e com as ponta do dedo por ouro assim decorada,
A relutância perante o efémero, diante o meramente tido como humano,
Apontando para o horizonte e para a ponte que para se erguer é obstinada,
 
Almejando mais do que a própria Vida, anelando mais num brinde ao desengano,
Nesta passeata regida por encontros e desencontros, uma flecha na carne cravada
É somente ornamentação para o caminho, num lugar onde o caminho é o soberano.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Melancolia dos Inóspitos

E assim pousa outro dia, indubitavelmente sozinho,
As lágrimas nos olhos fazem ver que estamos perdidos,
Não obstante do trilho caminhado ou do próprio caminho,
De vidros azuis observando pássaros hoje, outros partidos,

Nunca fui suficiente, emendiquei amor por portas cerradas,
Através delas restam estas ruínas, este eterno sofrimento,
O restante ainda é quase poeta apesar das asas quebradas,
O resto é somente esta ideia e este verdadeiro sentimento,

Sim! Somos nós os inóspitos, enlouquecidos e inadequados,
Os alicerces caídos, raízes sem ramagens, pés sem viagens,
Se um dia regressarmos a casa, ao longínquo lar no estelar,

Saberemos sequer ainda que dentro de nós somos regressados?
A dúvida é eterna, e este olhar peão perante tantas miragens,
Talvez um dia parta e vá esquecendo por fim o que é este amar.


terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Observador de Pássaros II

O poeta é um simples observador de pássaros em extinção,
Cada pássaro é a tentativa de aproveitar o alado momento,
Preenchendo-se até à borda de pássaros e da sua canção,
Observando-os numa dança graciosa perante este vento,

Este olhar, farol iminente para o além sempre desfocado,
Porém quando açambarcado enfim tudo faz mais sentido,
Entre ramos e galhos, um baile de plumas por si enfeitado,
As folhas, caleidoscópios de emoções para ele e o despendido, 

Nestas asas de poesia, um voo gracioso no contorno de um coração,
Cada trinar é um contemplar de um novo e entusiasmante firmamento,
Onde ele, sereno e atento, finalmente encontrou a sua eterna vocação,

Assim, o poeta se torna pássaro em seu ser, aprendiz para o esvoaçar,
Numa sintonia com a natureza coligada do estar para sempre sedento,
Por fim, o poeta se reencontra com o potencial de poder enfim amar.

Versos da Existência

Versos pingam vertidos sobre o calor de um regaço,
Engolimos colheres com oxigénio para cá nos manter,
Estas covas sob estes olhares penitentes, este cansaço
É somente outro dia por terminar, um sim quase viver,

E sobre a minha sepultura colocarão as mais belas flores,
Estas mãos outrora dadas em uma apoteótica celebração 
Versos caídos no firmamento colorindo-o em vivas cores,
O resto é permitir vir o sorriso e sol no meio desta monção,

Estas estrofes para sempre pertencentes à Biblioteca Astral,
Perscrutando os sulcos de luz colados nestas frias paredes,
Perseguimos a noite esperando dia, e aquele beijo não banal,

Amor encontrado então, regressando a casa, por fim descanso,
Reconstruindo com palavras o que as acções deixam em redes,
Para além da sombra do silêncio finalmente a mim me alcanço.

Observador de Pássaros

De poeira na boca e de cotovelo e joelho rasgado,
A cinza vai cobrindo o que o vento vai esquecendo,
Sou, pois, observador de pássaros, o elo quebrado,
Que liga o amanhecer à noite que vem me querendo,

Aqueles lábios e olhar já os sei de cor, o reino da flor,
Os desencontros de todos os caminhos deste mundo,
O que tenho e ainda ofereço é este somente amor
Que me liga à Obra Divina, ao Saber sempre profundo,

Nos ponteiros de um relógio velho, a acalmia do mar,
Um deserto cujas pegadas pertencem a pés cansados,
Trago-a onde o sol perdura e se encontra com o luar,

O preciso instante de tranquilidade onde passa a estação,
Mesmo perante esta bússola pertença dos desnorteados,
Sei que algures ofereci e partilhei este humilde coração.

O Vagão do Tempo

Esmorece o vagão, a veia oriunda do coração,
Apagam-se as luzes e esvazia-se enfim o palco,
Vamos todos para casa, essa é a triste sensação
Do momento tornado passado que aqui desfalco,

Havia tanto trilho para caminhar, para aqui esvoaçar,
Restam as veredas do caminho, a morte e o vizinho
Que é o Tempo pelas pernas agarrado e enfim a puxar,
O restante é lágrima ocular, vagabundo tragando vinho,

E esqueço-me dos planos que tinha para este futuro,
Fenecendo pelas noites onde os vidros são azulados,
Vou trazendo a sua beldade no mais claro, menos escuro,

Volto as costas para o mundo, cerrando assim o olhar,
Quem me dera ser diferente, ser de mim outros bocados,
Contudo este é o pedaço de mim que permitiu ver o Luar. 

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Transitoriedade do Ser

Estes sentidos emudecidos por um tempo eclipsado,
Sou somente mais um no meio de tanta e tanta gente,
Desde os pedaços de plumas até um céu enxovalhado,
E eu, entre quem em mim é, pois que vá e se apoquente,

Este é somente mais um poema para em mim me acumular,
Ao monte de terra trazido numa perda nesta boca aberta,
Perante o instante em que eu vou indo e pareço não passar,
Sou, pois, e assim segundo passageiro desta hora que é incerta,

Por favor sepultem-me sob uma cascata de incógnitas esbeltas,
Olhos fechados neste caixão ornado pelas estrelas mais brilhantes,
Enfim neste peito enfocam-se assim os vultos e as suas silhuetas,

E destas paredes estes mundos se tornam num lar para o enjaulado,
Libertem-me, serei esquecimento para o que venha depois ou dantes,
Serei finalmente a morte dum irmão penante sob um sonho renunciado.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Venha O Fim

Verte-te neste cálice e concede-me de novo vida,
Há alturas em que feliz fujo deste tempo perdido, 
Porém há fantasmas que trago na algibeira vestida
E cicatrizes que relembram as maleitas do querido,

Este olhar penitente que mal se vê assim de repente,
Deixem-me sozinho, perdi o sonho, dou-me por vencido, 
Não há poesia nem magia nestes dedos, deixem-me gente, 
Apenas mentiras e a perfídia de outra dor, de outro gemido, 

Colhemos espinhos por flores, já morto me dou noutras mortes, 
O ideal é a paz do sepulcro, longe dos seus almejados beijos, 
Portanto não tenho caminho, um rei sem as suas consortes, 

Há neve nas fendas destes pulsos e no interior do coração, 
Esta alma quase ida, que morra também coberta de percevejos,
Que dentro de mim encontre por fim a minha conclusão!




quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A Morte Veio E Levou-me

O quebrado pássaro azul encurralado contra a parede,
Um precipício para aqueles que vão e respiram ofegantes
No fundo da vala comum encontram outro tipo de rede, 
Realizando o óbvio, teremos sempre os olhos brilhantes, 

E uma lágrima a escorrer do sorriso e da sua alvura, 
Apetece subir a mais alta das profundidades, esquecer, 
O beijo de quem amo, descansar no topo da altura
E depois ser queda, no céu me esconder e com êxito perder

As sombras neste olhar, brumas atrás de outras sortes, 
Pois sabei que procuro a bênção de obter mil mortes, 
Ser olvidado e apagado desta vida, por fim suspirar, 

Porque neste breve tempo em que cá ando reaprendi a amar, 
Para capotar, sabotar, menosprezar e cair na profundidade, 
Ouvi o eco destas palavras, esta é a minha única verdade. 

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Fragmentos da Ausência

Sou a porção e a brecha dentre o pavimento,
É a frágil ferida como oxigénio em pedaços,
Esta não pertença é fatigante, traz o fragmento,
Insatisfeito e contrafeito vou perdendo os laços,

Estas mãos penitentes criadas pelo sonho rasurado,
A lágrima do ontem, o arrependimento do amanhã,
Tentando encontrar o sol enquanto sou encurralado,
Almejando a presença de quem se prostrou numa maca,

O silêncio é a voz dos perdidos, o beijo não retornado,
Até um dia, expressa-me nesta partida, numa mão vazia,
Entre vagões oxidados, anjos caídos e um coração pesado,

E eu já estive por cá, eu já fui mais hoje do que presente,
É o precipício que acalma homens como eu, venha o dia
Do descalabro, do ensejo do e para o eternamente ausente.


quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Reflexões de Encontros e Desencontros

Prolongo o fôlego do terno reencontro almejado,
Por isso vou respirando no meio desta tristeza,
Pois por ela fui enfim e novamente encontrado,
Quero de novo cantar as vicissitudes da beleza,

Perceber que há espaço para ainda ser sonhador,
Que o beijo é melhor quando a dois é partilhado,
Sim, sou amador com donzela esbelta e amada,
Trago-a no peito, no vislumbre do coração acenado,

E na roupa usada colocada sobre a cadeira empoeirada
Coloco segundos, ela já é demasiado pequena para agora,
E esta é a dor de olhar e não ver pelo espelho da retaguarda,

A dolência da não morada, da tentativa de lar quase em vão,
Fecho os olhos e imagino que finalmente vamos todos embora,
Esta é a consequência de quem não consegue colocar o pé no chão.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Dentre Pausas e Ciclos

Esperando o retorno do fôlego, o assentar da poeira,
Não procuro o que já encontrei, preciso de repousar,
Entre as folgas do pavimento liberta-se esta canseira,
Esquecendo o momento eclipsado que não irá retornar,

Expresso profundamente o almejo desta ímpar caminhada,
O bocado pertencente ao soalho que vou enfim passando,
Entre o espaço dos tijolos desta prisão, há uma escapada
Para outros tempos e ventos que aqui ainda vão soprando,

As chuvas caídas pelo chão escorregadio de outras estações,
Mostra o quão é importante respeitar o instante e sua pegada,
Pois quando desaparecermos será preenchido pelas pretensões 

De novos e desconhecidos momentos, de uma renovada jornada,
Entre os segundos que, entretanto, fui, o turbilhão e os furacões,
Trago-os a todos nas algibeiras, dentre os dedos, na alma cravada! 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Segundos Enrugados

Sou frases perdidas, o pássaro azul de asa quebrada,
De olhar ermo, pele pálida e plumas arrancadas, 
Perguntando se o voo é somente partida sem chegada,
Aonde as sortes foram sob a chuva gélida esbanjadas,

Que não falte um sonho a este mar de esquecimento, 
Pretendo só apenas mais um instante, silentemente, 
E despertar novamente com rubro em sentimento, 
Pois dissolve-me o recordar, a rubrica do antigamente

É peso e tristeza, a ilusão é a passagem para a carícia, 
Estranho-me a mim, confundo as palavras com a voz
As bermas das ruelas recorrem a abraços,  que delícia, 

Imagino a melancolia que passa entre os vidros azulados, 
Onde me pesa o Inverno, o rio que não alcança a Foz, 
Revendo o espelho de outros segundos enrugados. 




quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Versos da Astral Biblioteca

Através destas veias correm-me ideias e inspiração,
Escrevo acerca da Obra Superior, a Astral Biblioteca,
O pulsar perene que encharca as artérias, o coração,
O olhar e Ver que se expande e nunca terá hipoteca,

Através destes pulmões respiro o ar de mil idos profetas,
A verdade inescapável que submete Deuses à humanidade,
O esbelto rascunho que contem o fôlego de outros poetas
Que concederam ao Mundo vales e montanhas sem idade,

Através destes dedos rabisco estórias sobre a profunda beleza,
Mesmo que por vezes esta se rodeie por vidros azuis tornados,
Sim, não finjo ser para sempre feliz, reconheço bem essa tristeza

De ser diferente, de ser petiz, porém aí mesmo há também aprendizado,
Conhecer que há limites mesmo para o Homem Inteiro e sua destreza,
Saber que por vezes nem de nós mesmos somos sequer um bocado.

Entre Comboios e Anjos de Sessenta Toneladas

Mil comboios passando sem parar nesta estação,
Tais aqueles pores do Sol por um gesto atrasado,
Com óculos escuros parece que se escapa o Verão,
Portanto esqueço seu brilho no olhar estampado,

A queda na Terra de um anjo de sessenta toneladas,
Vejo sua estrela cadente entre as nuvens escondida,
As cicatrizes das suas pálidas costas, as asas quebradas,
Suficientes para colocar o firmamento sob sua guarida!

Esmerada a Luz que avança acima do céu diante os portões,
Deixamos os segundos prisioneiros para trás, na retaguarda,
Pois esquiva-se os ontem, lotado e apensado sobre os vagões,

A chaminé a rugir, o vento a uivar, chega-me a linha para trilhar,
Mesmo que estas se esquivem entre as rodas desta resguarda,
Esta breve e esbelta viagem ainda está para um dia recomeçar.

Ode à Conexão Profunda

Há algo no seu olhar maior do que esta Vida
O beijo solta-se quando enfim lhe dou a mão,
Sinto-me a esvoaçar numa chegada merecida,
Assim repleto e preenchido por ela neste coração,

Os seus lábios são mesmo à minha certa medida,
O seu deslizar sempre perene diante cada estação,
Sinto-a dentro do peito eternizada, tão querida,
É o Sol que nasce e a Lua que se põe na monção,

Há algo indescritível no seu rosto pela luz rascunhado,
Uma bênção num sorriso largado, numa envolvência,
Pois simplesmente ela é tudo com o que tenho sonhado,

Em boa e completa verdade, ela é a minha essência,
Acredito que somos duas almas criadas do mesmo bocado,
Ela traz-me crença, traz significado para esta minha existência.