Por Mim a Ponte (Entre Margens)
Blog do músico e poeta português Joel Nachio onde este vai escrevendo e reunindo escritos poéticos.Tal como as músicas são compostos de forma única a partir do mais sublime reflexo, em retoque, do seu sentimento e poesia. Alguns poemas já pertencentes a livros, outros ainda "frescos" e originais no website...
domingo, 28 de abril de 2024
Desamparo Sob o Arco Quebrado
Vínculos da Ausência
Confissões do poeta a um ainda visível rosto lunar,
Por entre a bruma, entre a noite a inevitável perda,
Entre os dedos ela escapou-se ficando um triste pesar,
O sonho sonhado lacrimejado da direita para a esquerda,
Passou o nosso instante, a distância reclamou o momento,
Dentre as margens ficou o afogado, eternamente encurralado,
Somos sepulcro, caixão e o espaço que percorre atrás do vento
E o coração é pó em cachoeira e através do tempo é enfim embalado,
E por fim não há beleza, já não há o seu olhar, nem aquela mão na mão,
Vem a brisa e o tumulto, vou por onde não sou sequer já encontrado,
É a vida a seguir caminho via trilho de vagão passando por cima do coração,
Estes bolsos de lembranças rasgados, este olhar novamente semicerrado,
É o reaprender a justificar o dado, o perceber entre o dizer sim ou o não
Ao próprio poema, mas a ela estou e estarei indubitavelmente amarrado.
terça-feira, 23 de abril de 2024
No Silêncio da Ausência
Silenciosamente, sussurramos os nossos apelidos,
Esticados por momentos alienígenas, algibeiras
Abertas por tempos incertos, enfim tão perdidos,
Por aqui é onde andávamos de mãos em rasteiras,
Aqui ecoam lembranças em surtos ao acaso deixados,
Nem poeta sou, não com este bater desassossegado,
A noite para estar confuso, dois trilhos desconectados,
Para esquecer e por um ombro desaparecido ser apoiado,
São pesadelos e cruzes no pavimento e sepulturas abertas
Somente para nós, com luz ou sem sol, por agora tudo bem,
O silêncio esperando ir adiante, são estas as horas tão incertas,
O tiquetaque é a lágrima batente, custa-me o mundo, dói-me a verdade,
Que é o fim, o absoluto fim, sem a despedida pelo comboio que vem,
Indubitavelmente sozinhos, esta é sim a minha eterna e única soledade.
A Despedida
Aqui divergem enfim os caminhos de dois perdidos,
Não mais temos a mão na mão, um futuro potencial,
As ondas oceânicas estilhaços nos dedos então urdidos,
Por mim, por ti, um para sempre a enlevar a ferida com sal,
Incompleto, fragmento da porção tida como um anseio,
Nascemos para um outrora podermos fenecer sozinhos
No abraço ofegante de uma liberdade onde me rareio,
Somos indiferentes perante o vindoiro redemoinho!
Prorrogáramos o inevitável fim, sem indulto ou perdão,
Este tempo e distância enfim serão campeões, a tristeza
É cair na real e perceber que sim, enfim perdemos o chão,
O resto é absolvição, o compreender que há também beleza
Na queda, na mágoa, na vontade terna de morrer do coração,
Pois se um dia fomos a altura, que sejamos agora a profundeza.
quarta-feira, 17 de abril de 2024
Lamento à Estrada
Desabafo suspiros na orla da branca estrada,
Perdido sem o seu fôlego, sem a sua beleza,
Nunca foi suficiente esta barca cá fragmentada
Para alumiar a luz com estes píncaros de incerteza,
Maremotos de saudade, tsunamis de nostalgia,
Durante horas, durante dias, senti-me completo,
Pois era porção e centro do tido como real magia,
E esse caminho levava-me face ao esbelto trajecto,
Desperdiçamos luz, sim, acredito que algures seriamos,
Mais do que alguma vez pudemos ser neste amanhã,
Sem esperança no ontem, por si nos quebraríamos,
Há uma lágrima que trago num beijo aqui protelado,
Adiado então para um dia que temo nunca vinda terá,
Esta é a triste sentença para o amador que há amado.
terça-feira, 16 de abril de 2024
Beleza e Solidão
Na solidão tão vasta e longínqua sua beleza ecoa,
Por tons oblíquos dentro de um silêncio cerrado,
Reverberando sua voz que por memórias entoa
O pedaço de nós dois pelo tempo não cobrado,
Sempre solitária, essa eterna beleza em si se revela,
Que não falte um sonho por cada noite e seu regresso,
Pois por e através de cada traço, há uma história singela,
De dois lábios sedentos dentre si e que em mim confesso,
Sua beleza e esta solidão, dançando em perpétua harmonia,
Por terna quietude, numa fonte que inadiável jamais cessará,
Em cada suspiro conferido sim virá um novo verso de poesia,
E por cada nova linha, uma nova tentativa de ver o amanhã,
Pois em boa verdade a sua beleza sempre encontrará sua via
Para o meu coração, somente um receptáculo para o que virá.
terça-feira, 9 de abril de 2024
Emaranhado
Passando por aquilo pelas poças de água reflectido,
A refracção no olhar aberto de vidros embaciados,
Faz frio entre o vazio e o efémero é sempre o ido,
O amigo do Outono quebra-se em partes e bocados,
E dos fragmentos parecem não advir belos momentos,
Somente mais restos de algo ao vento e brisa deixado,
Por isso me dói o ar e o peito sob estes céus cinzentos,
Sem conseguir prosseguir adiante perante o sonho adiado,
Resignado a andar à deriva sob um luar triste de solidão,
Vou por onde não me encontro, e por fim sou não encontrado,
E mesmo que vá e me encontre, já se me quebrou o coração,
Não obstante de quem por lá passou ou quem tenho amado,
A tentativa do adiante, a tentativa de novamente dar a mão
É ilusão do poeta, a desilusão do amador, sem voz no soletrado.
Entre Quatro Paredes e Mil Espinhos
Pesa-me o espaço onde sou porção fragmentada
De um homem procurando o Inteiro, à desfilada,
Falta-me um pouco de amor para me dar sentido,
Alguém que me dê a mão e carregue este apelido,
Lábios descarnados, apelo à eternidade, sabendo a lar,
Contudo tal pegadas na areia que pretendem não ficar,
São o fogo na água e momento para um olhar cerrado
E uma mão que não encontra a outra no outrora beijado,
E é tão difícil caminhar sem tacto neste lúgubre caminho,
Pois de todos os trilhos este é o que ocupo ainda sozinho,
Vai-se o sorrir, vai-se o sorriso, cai a bruma sem firmamento
Entre horizontes deveras distantes, assim me arrasta o vento!
E eu, entre quatro paredes e um tecto, deixo este triste poema,
Hei-de morrer de pé e solitário e com espinhos como diadema!
quinta-feira, 4 de abril de 2024
Sob o Caixão dos Sonhos: Uma Elegia para a Busca e a Perda
Faltam-me sonhos para me manter acordado,
A cor própria da procura por o único semblante
Que leva ao inteiro, que busca o último bocado,
Que nos faz perceber a Vida e nos torna presente,
Desperto com sonhos colocando-os leves na algibeira,
Contudo é um oceano, é um deserto entre dois amantes,
Um labirinto e um abismo preenchem-me até chegar à sua beira,
Enquanto conjugamos dois particípios passados, somos distantes,
Quebra-me o coração e resguarda-o numa sepultura feita de plumas,
Cantando a eterna elegia, murmurando a cela em maiúsculas soletrada,
As carícias são parte do passado, as cicatrizes o que este poema perfuma,
E é o vento possante que nos arrasta para longe, sou só um transeunte,
Em breve para nos tornarmos estranhos na longa e branca estrada,
Por isso um último suspiro sobre o caixão, que sua resposta nos pergunte.
segunda-feira, 1 de abril de 2024
Poeta Procura Musa
Por ela, o doce receptáculo do carinho profundo,
Enquanto vamos pelas bermas do ribeiro fecundo,
As formas onde a Primavera é em si adormecida,
São vultos acossando o poeta e a sua envoltura,
É convulsante e no chão, a donzela seria fingida
Ou seria ele o dono que um mundo cão augura,
Que se curva tal a vida, por momentos pungente,
É esta batalha que vai reabrindo a sua eterna ferida
E que lhe relembra o conforto que é estar ausente,
Mas amor com amor se paga, amor é bem aqui preciso,
Somos a estrada e veículo para a passeata perdida,
Somos fuligem para o fumo que de si é indeciso.
domingo, 31 de março de 2024
Entre Correntes e Saudades: Um Cântico à Solidão
segunda-feira, 25 de março de 2024
Entre Paredes de Cimento
As suas mãos brancas de lixívia, na sombra da aurora,
Brevemente teremos asas irmão, em breve encontrado,
O falhanço do desapego, este orgulho de quem namora
Uma tentativa de ser algo mais do que um beijo almejado,
E por onde quer que vá, simplesmente não há pertença,
Escorregando no resvalo da saudade, vou e não pertenço,
Este olhar chamuscado pela cegueira de uma quase sentença,
De coração quebrado, procurando o não de um falso pretenso,
De um correr esbracejando aos círculos, um amigo é sim preciso,
Entre quatro paredes de cimento não é o final que tenho ansiado,
Obcecado e perdido nos pormenores, uma lágrima pelo seu riso,
Sonhos sem sono ferem as nossas noites, e o hoje ainda não passou,
Era eu sim, procrastinando o quanto estava em relação a tudo errado,
O não ter pertença nem sei se esta é a doença ou a doença a si se curou.
domingo, 24 de março de 2024
Entre as Brechas da Persiana
Vejo-a entre as brechas na persiana num desfile singular,
E os meus olhos, tal enchente de maré, em calma matinal,
Lembranças e esperanças de momentos possíveis de amar,
Devagar, atiçando tempestades e verdades no beijo auroral,
Provocando-me almejos insaciáveis, os inabaláveis instantes,
De livros nunca lidos, porém estremecendo entre as letras,
Dessas memórias contidas nas páginas entre dois amantes,
Eternamente ligados pelo poder que em mim vais e soletras
Através de sonâncias e toques já esquecidos pelos mortais,
Agradeço a oportunidade, agradeço o ensejo por confissões
Que fui fazendo a um rosto lunar, o coração que entregais
Faz jus aos poetas passados na ternura das suas mil canções,
Bom dia, somente outro caso de graça, o sangue me estancais,
De resto, sou pertença daqueles que se perderam entre gerações.
quarta-feira, 20 de março de 2024
Além das Palavras
quinta-feira, 14 de março de 2024
O Caminho É O Estelar
Os tesouros de uma existência na palma da íris são retidos,
Em simples instantes passageiros correndo enfim graciosos,
Por cada passo conferido, vejo-os no peito firmes e embutidos
Numa relapsão quase de mão na mão em vários olhares radiosos,
Deixando um trilho cadente, somos as porções de estrelas perecidas,
Por um Ver brilhante, almejando o bastante, nascidos do firmamento,
Através do esvoaçar das asas por fios feitos de constelações tecidas,
Nestes corações o pulsar de outras vidas passadas de outro fragmento,
Dentre salas vazias e com as ponta do dedo por ouro assim decorada,
A relutância perante o efémero, diante o meramente tido como humano,
Apontando para o horizonte e para a ponte que para se erguer é obstinada,
Almejando mais do que a própria Vida, anelando mais num brinde ao desengano,
Nesta passeata regida por encontros e desencontros, uma flecha na carne cravada
É somente ornamentação para o caminho, num lugar onde o caminho é o soberano.
sexta-feira, 8 de março de 2024
Melancolia dos Inóspitos
As lágrimas nos olhos fazem ver que estamos perdidos,
Não obstante do trilho caminhado ou do próprio caminho,
De vidros azuis observando pássaros hoje, outros partidos,
Nunca fui suficiente, emendiquei amor por portas cerradas,
Através delas restam estas ruínas, este eterno sofrimento,
O restante ainda é quase poeta apesar das asas quebradas,
O resto é somente esta ideia e este verdadeiro sentimento,
Sim! Somos nós os inóspitos, enlouquecidos e inadequados,
Os alicerces caídos, raízes sem ramagens, pés sem viagens,
Se um dia regressarmos a casa, ao longínquo lar no estelar,
Saberemos sequer ainda que dentro de nós somos regressados?
A dúvida é eterna, e este olhar peão perante tantas miragens,
Talvez um dia parta e vá esquecendo por fim o que é este amar.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2024
Observador de Pássaros II
Versos da Existência
Observador de Pássaros
O Vagão do Tempo
Apagam-se as luzes e esvazia-se enfim o palco,
Vamos todos para casa, essa é a triste sensação
Do momento tornado passado que aqui desfalco,
Havia tanto trilho para caminhar, para aqui esvoaçar,
Restam as veredas do caminho, a morte e o vizinho
Que é o Tempo pelas pernas agarrado e enfim a puxar,
O restante é lágrima ocular, vagabundo tragando vinho,
E esqueço-me dos planos que tinha para este futuro,
Fenecendo pelas noites onde os vidros são azulados,
Vou trazendo a sua beldade no mais claro, menos escuro,
Volto as costas para o mundo, cerrando assim o olhar,
Quem me dera ser diferente, ser de mim outros bocados,
Contudo este é o pedaço de mim que permitiu ver o Luar.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
Transitoriedade do Ser
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024
Venha O Fim
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024
A Morte Veio E Levou-me
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Fragmentos da Ausência
Sou a porção e a brecha dentre o pavimento,
É a frágil ferida como oxigénio em pedaços,
Esta não pertença é fatigante, traz o fragmento,
Insatisfeito e contrafeito vou perdendo os laços,
Estas mãos penitentes criadas pelo sonho rasurado,
A lágrima do ontem, o arrependimento do amanhã,
Tentando encontrar o sol enquanto sou encurralado,
Almejando a presença de quem se prostrou numa maca,
O silêncio é a voz dos perdidos, o beijo não retornado,
Até um dia, expressa-me nesta partida, numa mão vazia,
Entre vagões oxidados, anjos caídos e um coração pesado,
E eu já estive por cá, eu já fui mais hoje do que presente,
É o precipício que acalma homens como eu, venha o dia
Do descalabro, do ensejo do e para o eternamente ausente.
quinta-feira, 18 de janeiro de 2024
Reflexões de Encontros e Desencontros
Prolongo o fôlego do terno reencontro almejado,
Por isso vou respirando no meio desta tristeza,
Pois por ela fui enfim e novamente encontrado,
Quero de novo cantar as vicissitudes da beleza,
Perceber que há espaço para ainda ser sonhador,
Que o beijo é melhor quando a dois é partilhado,
Sim, sou amador com donzela esbelta e amada,
Trago-a no peito, no vislumbre do coração acenado,
E na roupa usada colocada sobre a cadeira empoeirada
Coloco segundos, ela já é demasiado pequena para agora,
E esta é a dor de olhar e não ver pelo espelho da retaguarda,
A dolência da não morada, da tentativa de lar quase em vão,
Fecho os olhos e imagino que finalmente vamos todos embora,
Esta é a consequência de quem não consegue colocar o pé no chão.
sexta-feira, 12 de janeiro de 2024
Dentre Pausas e Ciclos
terça-feira, 9 de janeiro de 2024
Segundos Enrugados
quarta-feira, 3 de janeiro de 2024
Versos da Astral Biblioteca
Através destas veias correm-me ideias e inspiração,
Escrevo acerca da Obra Superior, a Astral Biblioteca,
O pulsar perene que encharca as artérias, o coração,
O olhar e Ver que se expande e nunca terá hipoteca,
Através destes pulmões respiro o ar de mil idos profetas,
A verdade inescapável que submete Deuses à humanidade,
O esbelto rascunho que contem o fôlego de outros poetas
Que concederam ao Mundo vales e montanhas sem idade,
Através destes dedos rabisco estórias sobre a profunda beleza,
Mesmo que por vezes esta se rodeie por vidros azuis tornados,
Sim, não finjo ser para sempre feliz, reconheço bem essa tristeza
De ser diferente, de ser petiz, porém aí mesmo há também aprendizado,
Conhecer que há limites mesmo para o Homem Inteiro e sua destreza,
Saber que por vezes nem de nós mesmos somos sequer um bocado.
Entre Comboios e Anjos de Sessenta Toneladas
Mil comboios passando sem parar nesta estação,
Tais aqueles pores do Sol por um gesto atrasado,
Com óculos escuros parece que se escapa o Verão,
Portanto esqueço seu brilho no olhar estampado,
A queda na Terra de um anjo de sessenta toneladas,
Vejo sua estrela cadente entre as nuvens escondida,
As cicatrizes das suas pálidas costas, as asas quebradas,
Suficientes para colocar o firmamento sob sua guarida!
Esmerada a Luz que avança acima do céu diante os portões,
Deixamos os segundos prisioneiros para trás, na retaguarda,
Pois esquiva-se os ontem, lotado e apensado sobre os vagões,
A chaminé a rugir, o vento a uivar, chega-me a linha para trilhar,
Mesmo que estas se esquivem entre as rodas desta resguarda,
Esta breve e esbelta viagem ainda está para um dia recomeçar.
Ode à Conexão Profunda
Há algo no seu olhar maior do que esta Vida
O beijo solta-se quando enfim lhe dou a mão,
Sinto-me a esvoaçar numa chegada merecida,
Assim repleto e preenchido por ela neste coração,
Os seus lábios são mesmo à minha certa medida,
O seu deslizar sempre perene diante cada estação,
Sinto-a dentro do peito eternizada, tão querida,
É o Sol que nasce e a Lua que se põe na monção,
Há algo indescritível no seu rosto pela luz rascunhado,
Uma bênção num sorriso largado, numa envolvência,
Pois simplesmente ela é tudo com o que tenho sonhado,
Em boa e completa verdade, ela é a minha essência,
Acredito que somos duas almas criadas do mesmo bocado,
Ela traz-me crença, traz significado para esta minha existência.