Era então em simples gestos através do areal
Onde chapinava os outros com água e sal,
A enseada feita para quem se tinha lembrado
Que o presente é feito de futuro e de passado,
Dançava alada num ponto entre as margens
Que ora passavam ou ficavam por si e nela,
Os instantes sempre eram mediante as aragens
Trazendo-lhe os adornos que a tornavam bela,
Até as cicatrizes refulgiam aos olhos da maré
Que ela reflectia onde o seu bailar incidia
Era então vê-la, delicada, em bicos de pé,
Entretanto um coração em uníssono batia e batia,
Sem saber do porquê alimentava-se de boa fé
Enquanto ela me percorria a alma e sorria, sorria, sorria...
Blog de um músico e poeta português onde este vai escrevendo e reunindo escritos poéticos.Tal como as músicas são compostos de forma única a partir do mais sublime reflexo, em retoque, do seu sentimento e poesia. Alguns poemas já pertencentes a livros, outros ainda "frescos" e originais no website...
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Dois Passos: E a Viagem Torna-se Viagem
Após quantas viagens é uma viagem, viagem,
Quantos passos são precisos para enfim chegar,
O que faz do facto concreto ou da ideia miragem
Ou qual o ponto em que é inevitável descansar?
E a quem apetecer caminhar no céu pode?
E a quem só conseguir ficar sem partir?
Nem sempre são os passos ao trilho ode
E o andar nem todas as vezes significa ir,
Será o caminho alguma vez dado por terminado
E se o for, será esse fim no final da estrada?
Sei que o tempo passa para quem há passado
E há vezes em que só deixa um pouco de nada
Para a viagem sei o que há sempre precisado
Dois passos, o da partida e o da chegada...
(e tudo o que estiver pelo meio).
Quantos passos são precisos para enfim chegar,
O que faz do facto concreto ou da ideia miragem
Ou qual o ponto em que é inevitável descansar?
E a quem apetecer caminhar no céu pode?
E a quem só conseguir ficar sem partir?
Nem sempre são os passos ao trilho ode
E o andar nem todas as vezes significa ir,
Será o caminho alguma vez dado por terminado
E se o for, será esse fim no final da estrada?
Sei que o tempo passa para quem há passado
E há vezes em que só deixa um pouco de nada
Para a viagem sei o que há sempre precisado
Dois passos, o da partida e o da chegada...
(e tudo o que estiver pelo meio).
Soneto da Passagem: Para o Tio Virado Avô
Suspirou: “Estou do fim para o resto.”
Enquanto seus olhos ficavam azulados.
"Estou velho, para a viagem já não presto
Aqui é onde os passos se dão por acabados,
Fica com o sorriso de quem tanto há amado,
O olhar e a voz atenta que tão bem te escutou,
Lembra o homem que fui neste corpo hoje quebrado
E que o fim nunca é o fim para quem enfim se encontrou,
Leva ao mar, no barquinho, os conselhos já dados
Aqueles pequenos nadas só entre nós os dois,
Mesmo quando o mundo der voltas aos quadrados
E não faças ideia alguma do que vem depois,
Estarei, meu neto, sempre ao teu lado,
Melhores dias virão um dia pois…"
Enquanto seus olhos ficavam azulados.
"Estou velho, para a viagem já não presto
Aqui é onde os passos se dão por acabados,
Fica com o sorriso de quem tanto há amado,
O olhar e a voz atenta que tão bem te escutou,
Lembra o homem que fui neste corpo hoje quebrado
E que o fim nunca é o fim para quem enfim se encontrou,
Leva ao mar, no barquinho, os conselhos já dados
Aqueles pequenos nadas só entre nós os dois,
Mesmo quando o mundo der voltas aos quadrados
E não faças ideia alguma do que vem depois,
Estarei, meu neto, sempre ao teu lado,
Melhores dias virão um dia pois…"
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Certas Palavras: Não se Dizem
Certas palavras escrevem-se apenas no coração
E por lá ficam silenciosas até ao final do tempo
Tal comboio passando de estação em estação
Sabendo quais passou mas deixando-as ao vento,
Títulos de capítulos de hoje viram rodapés amanhã
Como vestígios de um fotografia tornada rascunho,
Os dias tornam-se noites e os carris trazem-se cá
Numa perpetuidade que se verte neste testemunho,
Aprendo a viver soletrando a ponta de um beijo,
Enquanto os deuses dormirem terei um lugar
Para ser o colibri entre a paixão e o desejo
Inclinado a poente ansiando por fim encontrar
O espaço entre a multidão e aquele ensejo
Onde só vivo e morro ao brilhar! Ao brilhar...
E por lá ficam silenciosas até ao final do tempo
Tal comboio passando de estação em estação
Sabendo quais passou mas deixando-as ao vento,
Títulos de capítulos de hoje viram rodapés amanhã
Como vestígios de um fotografia tornada rascunho,
Os dias tornam-se noites e os carris trazem-se cá
Numa perpetuidade que se verte neste testemunho,
Aprendo a viver soletrando a ponta de um beijo,
Enquanto os deuses dormirem terei um lugar
Para ser o colibri entre a paixão e o desejo
Inclinado a poente ansiando por fim encontrar
O espaço entre a multidão e aquele ensejo
Onde só vivo e morro ao brilhar! Ao brilhar...
terça-feira, 15 de julho de 2014
A Vida Pt. II: É o Renascimento
Então falavam sobre os pequenos fragmentos,
Aqueles que silenciosos pairavam na maresia,
Ouvi mortais! Haveis esquecido sua poesia
E hoje o bastardo é por trilhos poeirentos,
Tossindo e engasgando-se ante a fogueira
Enquanto o seu vizinho envelhece sorrindo,
Alcançando a luz, jaz o homem revindo
Que vai indo de mão aberta na algibeira,
Seu olhar é plena luz diurna, de Deus espelho,
Outros criam garras sob o solo macilento
Vomitando-se em sete tons de vermelho,
Eu? Eu só quero cor onde eles vêem cinzento,
Ser a criança mesmo quando fôr o velho
E um dia morrer mas até lá ser em renascimento.
Aqueles que silenciosos pairavam na maresia,
Ouvi mortais! Haveis esquecido sua poesia
E hoje o bastardo é por trilhos poeirentos,
Tossindo e engasgando-se ante a fogueira
Enquanto o seu vizinho envelhece sorrindo,
Alcançando a luz, jaz o homem revindo
Que vai indo de mão aberta na algibeira,
Seu olhar é plena luz diurna, de Deus espelho,
Outros criam garras sob o solo macilento
Vomitando-se em sete tons de vermelho,
Eu? Eu só quero cor onde eles vêem cinzento,
Ser a criança mesmo quando fôr o velho
E um dia morrer mas até lá ser em renascimento.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
A Ema XII: Sob o Oceano
Sob o azulado oceano jaz ela sossegada,
Daqueles que sonham com a horizonte
Por onde dormita a bela Ema recostada
Tornando-se entre o oceano e o céu a ponte...
E que ela passe por mim em seu caminho,
O mundo não espera quem em si passa
E sim quem grita, grita mas grita baixinho,
Porém até essa tortura tem a sua graça...
Em alturas em que Rosa respira água salgada
Do rio onde nenhum barco tem passagem,
Por vezes até ela se esquece de sua amada
Que acorda feliz atrás do ar tal miragem
Enquanto o dia da Lua faz sua escapada
Na dança que do noite retorna a aragem.
Daqueles que sonham com a horizonte
Por onde dormita a bela Ema recostada
Tornando-se entre o oceano e o céu a ponte...
E que ela passe por mim em seu caminho,
O mundo não espera quem em si passa
E sim quem grita, grita mas grita baixinho,
Porém até essa tortura tem a sua graça...
Em alturas em que Rosa respira água salgada
Do rio onde nenhum barco tem passagem,
Por vezes até ela se esquece de sua amada
Que acorda feliz atrás do ar tal miragem
Enquanto o dia da Lua faz sua escapada
Na dança que do noite retorna a aragem.
A Vida: Não Basta
Não me bastam os dias que tenho de Vida,
Preciso do almejo que jaz no fim da linha,
Do pesado se faz leve e à viagem apetecida
Vai cheio o barquito de quem o vazio tinha,
Ele não será náufrago por muitos mais portos,
Por Deus vou eu e ele em mim em nascimento,
Assim, doce, se lançam ao mar os mortos
Que os levem numa maré de esquecimento,
Não há rebanho para quem fez do mar casa,
Quantos portos já passámos, já beijámos?
O Adeus é a palavra, é a vela, a leve asa,
Sê paciente não obstante do quão ansiámos
As ondas, as marés e quão o porto se atrasa,
Onde por vezes nem nós a nós nos bastámos
Preciso do almejo que jaz no fim da linha,
Do pesado se faz leve e à viagem apetecida
Vai cheio o barquito de quem o vazio tinha,
Ele não será náufrago por muitos mais portos,
Por Deus vou eu e ele em mim em nascimento,
Assim, doce, se lançam ao mar os mortos
Que os levem numa maré de esquecimento,
Não há rebanho para quem fez do mar casa,
Quantos portos já passámos, já beijámos?
O Adeus é a palavra, é a vela, a leve asa,
Sê paciente não obstante do quão ansiámos
As ondas, as marés e quão o porto se atrasa,
Onde por vezes nem nós a nós nos bastámos
terça-feira, 8 de julho de 2014
Meia Luz: E o Resto nas Garrafas
Meia luz… e um resto nas garrafas de mim,
Corpos cansados e derramados pelo chão,
A vista semicerrada percebe que foi assim
Que outros poetas por tais lençóis já caíram...
Meia luz… e mais um trago sorvido a beijo,
Abraços de veludo para esquecer o mundo,
Perdidos entre a paixão, a volúpia e o almejo
Nem que bebesse de uma vez veria seu fundo,
Meia luz… e o toque dos dedos da madrugada
Que calor oferta com uma porção do antes,
O pé na estrada, o coração que bate por nada,
Não há como despertar dos anseios distantes
Deixados ante a vigília de uma colcha gelada,
Meia luz... só tu és Mãe pelas horas errantes…
Corpos cansados e derramados pelo chão,
A vista semicerrada percebe que foi assim
Que outros poetas por tais lençóis já caíram...
Meia luz… e mais um trago sorvido a beijo,
Abraços de veludo para esquecer o mundo,
Perdidos entre a paixão, a volúpia e o almejo
Nem que bebesse de uma vez veria seu fundo,
Meia luz… e o toque dos dedos da madrugada
Que calor oferta com uma porção do antes,
O pé na estrada, o coração que bate por nada,
Não há como despertar dos anseios distantes
Deixados ante a vigília de uma colcha gelada,
Meia luz... só tu és Mãe pelas horas errantes…
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Um: Aquele Que Foi Crescendo
Aquele que foi crescendo e de si se esqueceu,
Que aprendeu a pensar, a sentir, a discursar,
Deixou de ser Homem, parte de si perdeu
E é esse o espaço que é preciso recuperar,
Esse espelho coberto de pó dorme uma sesta,
É sorriso e é lágrima da criança lá atrás deixada,
Há que lembrar a alvorada e colhê-la numa cesta
E quando a noite vier vê-la no homem reclamada!
Sou a Vida, sou a Morte, sou dois ao mesmo tempo,
Ambos em moldura fluindo e a criança que a pinta
É o velho que a foi e hoje a traz em pensamento,
Como porção, sou o Universo e sou o seu resto,
Sou inteiro e ao seu complemento tenho a tinta
E o poder para me escrever ou abster num gesto.
Que aprendeu a pensar, a sentir, a discursar,
Deixou de ser Homem, parte de si perdeu
E é esse o espaço que é preciso recuperar,
Esse espelho coberto de pó dorme uma sesta,
É sorriso e é lágrima da criança lá atrás deixada,
Há que lembrar a alvorada e colhê-la numa cesta
E quando a noite vier vê-la no homem reclamada!
Sou a Vida, sou a Morte, sou dois ao mesmo tempo,
Ambos em moldura fluindo e a criança que a pinta
É o velho que a foi e hoje a traz em pensamento,
Como porção, sou o Universo e sou o seu resto,
Sou inteiro e ao seu complemento tenho a tinta
E o poder para me escrever ou abster num gesto.
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Entre Margens Pt. III: A Brevidade
Somos todos folhas caídas ao sabor do vento
Nesta colisão contra uma colina de lençóis,
Sim sei, vivo na brevidade do momento
Tempo esse aqui entre o antes e o depois,
Passageiros entre este espaço e o outro,
Em suspiros entre corredores de mármore
Lápides e pedaços largados noutro
Eco esquecido à sombra desta árvore,
Jamais pretendi parar ou sequer voltar atrás,
Sou a gota do rio que flui na pluma de Pégaso
Imbuída em meio canto entre horas boas e más
Nesta meia jornada esculpida ao quase acaso
Vamos dando tudo tendo o aqui como morada
Que de tanto darmos parece que não temos nada.
Nesta colisão contra uma colina de lençóis,
Sim sei, vivo na brevidade do momento
Tempo esse aqui entre o antes e o depois,
Passageiros entre este espaço e o outro,
Em suspiros entre corredores de mármore
Lápides e pedaços largados noutro
Eco esquecido à sombra desta árvore,
Jamais pretendi parar ou sequer voltar atrás,
Sou a gota do rio que flui na pluma de Pégaso
Imbuída em meio canto entre horas boas e más
Nesta meia jornada esculpida ao quase acaso
Vamos dando tudo tendo o aqui como morada
Que de tanto darmos parece que não temos nada.
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Entre Margens Pt. II: O Sítio Nenhum, Perto de Nada
Achem-me em sitio nenhum perto de nada,
A fazer pouco ou o que resta não ser feito,
Perdi-vos atrás, nas sinuosidades da estrada,
Através do esgar deste amor-próprio contrafeito,
Vós, vozes largadas pelo serafim ao se erguer
Pelos sítios pequeninos onde ninguém vai,
Por onde nada se faz ou se pensa em fazer
Por aqui, onde até o filho se estranha do pai
Vão-se esquecendo os solavancos da berma,
O passado lembrado e o futuro não pensado,
Levando a Vida quase morto por vista enferma…
Qual foi o motivo da partida? Quando chegarei?
Quando estamos sem estar face ao almejado
Quanto cansa o caminho ou o quanto o esperei.
A fazer pouco ou o que resta não ser feito,
Perdi-vos atrás, nas sinuosidades da estrada,
Através do esgar deste amor-próprio contrafeito,
Vós, vozes largadas pelo serafim ao se erguer
Pelos sítios pequeninos onde ninguém vai,
Por onde nada se faz ou se pensa em fazer
Por aqui, onde até o filho se estranha do pai
Vão-se esquecendo os solavancos da berma,
O passado lembrado e o futuro não pensado,
Levando a Vida quase morto por vista enferma…
Qual foi o motivo da partida? Quando chegarei?
Quando estamos sem estar face ao almejado
Quanto cansa o caminho ou o quanto o esperei.
domingo, 4 de maio de 2014
Entre Margens: Sem Rumo
Estas crianças que vou deixando para trás,
Partirei em breve, estou em perigo mortal,
O crepúsculo envolverá a luz das manhãs
E beijá-las é o apetecer até à aurora boreal,
Que sem pernas vai caminhando sem rumo,
Por onde o horizonte nem sequer o alcança,
Aonde vai? Por onde atrás se torne em fumo,
Quando nem para trás ou a frente avança,
Entre margens, entre bermas onde ecoam
Suas mil caras, suas milhentas expressões,
Eis que essas porções já quase não soam
Pois este perfil torna-se sempre no distante,
Vejam o viandante, ouçam suas canções,
Enquanto se vai, perdendo-se no instante.
Partirei em breve, estou em perigo mortal,
O crepúsculo envolverá a luz das manhãs
E beijá-las é o apetecer até à aurora boreal,
Que sem pernas vai caminhando sem rumo,
Por onde o horizonte nem sequer o alcança,
Aonde vai? Por onde atrás se torne em fumo,
Quando nem para trás ou a frente avança,
Entre margens, entre bermas onde ecoam
Suas mil caras, suas milhentas expressões,
Eis que essas porções já quase não soam
Pois este perfil torna-se sempre no distante,
Vejam o viandante, ouçam suas canções,
Enquanto se vai, perdendo-se no instante.
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Insatisfação: Adiante
Insatisfação é a palavra mais vezes dita
E a tão pouco sabe que pouco deve ser,
O apetecido é tanto que não sei, não sei
O querido e até os instantes belos que amei,
Naquele olhar que acompanha as ondas do mar,
O caminho caro viandante foi feito para caminhar
Estando sempre tão perto daquilo que longe está
Pois a cada passo dado tanto se leva, tanto se dá,
No caminhante, o perfil, o distante que tarda sempre,
Seu semblante, em um a mil, infante ansiando tudo
Onde até brisa é parede porém o passo é em frente
Adiante, quebrado, ofegante mas sempre adiante,
Cansado, partido, quando as costas são escudo,
Passo a passo onde cada eco seu é errante.
E a tão pouco sabe que pouco deve ser,
O apetecido é tanto que não sei, não sei
O querido e até os instantes belos que amei,
Naquele olhar que acompanha as ondas do mar,
O caminho caro viandante foi feito para caminhar
Estando sempre tão perto daquilo que longe está
Pois a cada passo dado tanto se leva, tanto se dá,
No caminhante, o perfil, o distante que tarda sempre,
Seu semblante, em um a mil, infante ansiando tudo
Onde até brisa é parede porém o passo é em frente
Adiante, quebrado, ofegante mas sempre adiante,
Cansado, partido, quando as costas são escudo,
Passo a passo onde cada eco seu é errante.
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Os Grandes Poemas: Prolongam o Finito
Os grandes poemas escrevem-se na sarjeta,
Vêm de tanto que soam sempre a tão pouco,
São o pouco lido porém visto no olhar do poeta
Escritos a lágrimas e sangue na aflição do louco,
Corre frenética sua vida, caindo no nocturno,
Como quem já não tem ou mesmo perdeu
Porém não o viu ou sentiu como infortúnio
Pois sabe que do feito nem o escrito é seu,
Os grandes poemas são à margem do mundo,
Independentes do sítio, do tempo e do lugar,
Tendo o que há do mais alto ao mais fundo
Relembrando o passado e o finito desta vida,
Imaginai, um dia até o seu escritor irá passar
Só o poema prolongará seu eco pela avenida.
Vêm de tanto que soam sempre a tão pouco,
São o pouco lido porém visto no olhar do poeta
Escritos a lágrimas e sangue na aflição do louco,
Corre frenética sua vida, caindo no nocturno,
Como quem já não tem ou mesmo perdeu
Porém não o viu ou sentiu como infortúnio
Pois sabe que do feito nem o escrito é seu,
Os grandes poemas são à margem do mundo,
Independentes do sítio, do tempo e do lugar,
Tendo o que há do mais alto ao mais fundo
Relembrando o passado e o finito desta vida,
Imaginai, um dia até o seu escritor irá passar
Só o poema prolongará seu eco pela avenida.
sábado, 22 de março de 2014
O Pequeno Riacho Pt. II: O Fim da Primavera
Mantendo-a longe ainda a tenho perto,
Recalco os passos que nos juntaram,
Que trouxeram o beijo, o delírio, o incerto,
O belo instante em que eles se cruzaram
Porque eles os dois não eram sequer eu,
Eram partes e porções de quem não podia ser,
O frágil pedaço, o espaço por trás do véu,
Bordado pelo Sol para este definhar e morrer
Cujos farrapos em turva neblina é envolvido,
Existirmos? Nem eu nem ela podemos ser
Por isso meio eu ficou e ele há enfim partido
E fosse ele, fosse ele quem não me era,
Fosse ela quem em mim era todo o viver,
Seria então o início e o não fim da Primavera.
Recalco os passos que nos juntaram,
Que trouxeram o beijo, o delírio, o incerto,
O belo instante em que eles se cruzaram
Porque eles os dois não eram sequer eu,
Eram partes e porções de quem não podia ser,
O frágil pedaço, o espaço por trás do véu,
Bordado pelo Sol para este definhar e morrer
Cujos farrapos em turva neblina é envolvido,
Existirmos? Nem eu nem ela podemos ser
Por isso meio eu ficou e ele há enfim partido
E fosse ele, fosse ele quem não me era,
Fosse ela quem em mim era todo o viver,
Seria então o início e o não fim da Primavera.
terça-feira, 11 de março de 2014
Esperando: Sempre Viandando (Entre Margens)
Esperando pelo assentar da poeira,
De sorriso nos lábios e coração na mão
Pois por vezes a viagem é pó, é canseira
Onde esquecemos nossa voz e o seu refrão,
Ansiando pelo belo momento que ora anseio
Que nem trovador suspirando ante o rosto lunar
Onde ambos nos perdemos em aceso devaneio
Pois todos os sítios que foram, todos foram lugar,
Hoje admito-o, sou eu – o último dos poetas,
Suspiro-vos às arestas de todos estes cantos
A todos estes sombrios becos e ruelas incertas
Através do beijo entre margens e solavancos
Vou eu – o viandante destas ruas desertas
A ténue linha entre o negro e o branco.
De sorriso nos lábios e coração na mão
Pois por vezes a viagem é pó, é canseira
Onde esquecemos nossa voz e o seu refrão,
Ansiando pelo belo momento que ora anseio
Que nem trovador suspirando ante o rosto lunar
Onde ambos nos perdemos em aceso devaneio
Pois todos os sítios que foram, todos foram lugar,
Hoje admito-o, sou eu – o último dos poetas,
Suspiro-vos às arestas de todos estes cantos
A todos estes sombrios becos e ruelas incertas
Através do beijo entre margens e solavancos
Vou eu – o viandante destas ruas desertas
A ténue linha entre o negro e o branco.
Enamorado Pelas Estrelas: Sorrio
Aqui escrevo um poema tão bonito, tão leve,
Quase ouço todas as cores do arco-íris,
Até se descongelam os corações feitos de neve
Se morrer agora, se morrer aqui, morrerei feliz…
As pétalas colhidas pela viagem são a caneta,
As pegadas dadas são a tinta, o aviso, o adeus
Para quem esqueceu a caligrafia, a sua letra,
Quem viver aqui, agora, será a ideia de Deus,
Para quem hoje chora como ontem ainda o fazia
Sorrio esta partilha convosco neste preciso aqui,
Por mim canto sim em qualquer canto a magia
Gargarejando a Terra e cuspindo as estrelas,
O poeta tão perdido e sempre encontrado em si
Que sou eu, que sois vós, somos nós todas elas...
Quase ouço todas as cores do arco-íris,
Até se descongelam os corações feitos de neve
Se morrer agora, se morrer aqui, morrerei feliz…
As pétalas colhidas pela viagem são a caneta,
As pegadas dadas são a tinta, o aviso, o adeus
Para quem esqueceu a caligrafia, a sua letra,
Quem viver aqui, agora, será a ideia de Deus,
Para quem hoje chora como ontem ainda o fazia
Sorrio esta partilha convosco neste preciso aqui,
Por mim canto sim em qualquer canto a magia
Gargarejando a Terra e cuspindo as estrelas,
O poeta tão perdido e sempre encontrado em si
Que sou eu, que sois vós, somos nós todas elas...
O Pequeno Riacho: Olhos Azuis, Olhar Castanho
Somos… no murmúrio do pequeno riacho
Dando ecos de suspiros feitos à eternidade
Nem o tempo ousará tirar-nos este espaço
Que o riacho espalhe nossos ecos pela cidade,
Em breve iremos embora, só o riacho será,
Levando nossas palavras, nossos beijos,
Eu, tu, nós os dois não seremos amanhã
Porém hoje fomos nestes acesos almejos,
Bela amiga trago-te no sorriso da corrente,
Nos lugares onde ninguém vai, neste olhar,
Onde o dia termina meio assim de repente
Quando o Sol adormece e se deita no mar,
Esta estória só a sabe quem amor sente
Ora sintamo-lo agora... deixando o riacho o afogar.
Dando ecos de suspiros feitos à eternidade
Nem o tempo ousará tirar-nos este espaço
Que o riacho espalhe nossos ecos pela cidade,
Em breve iremos embora, só o riacho será,
Levando nossas palavras, nossos beijos,
Eu, tu, nós os dois não seremos amanhã
Porém hoje fomos nestes acesos almejos,
Bela amiga trago-te no sorriso da corrente,
Nos lugares onde ninguém vai, neste olhar,
Onde o dia termina meio assim de repente
Quando o Sol adormece e se deita no mar,
Esta estória só a sabe quem amor sente
Ora sintamo-lo agora... deixando o riacho o afogar.
Da Não Vida: Haveis-me Capturado
Das ruas desertas e solavancos das bermas,
Do voo rente aos penhascos por rasgada asa,
Da lágrima de Vénus e seus quebrados poemas
Haveis-me capturado… estou quase em casa…
Das confidências à Lua e do perfume das Oressas,
Do vidro outrora azul ora tornado tão transparente
Do desejo à beira mar e do inebriar das promessas
Haveis-me capturado… sou novamente crente…
Do esquecimento do passado ou frémito do futuro
Por onde ninguém passa ou algum dia passará
Da saudade de outras vidas e daquele muro
Intransponível do passeio com a morte e seu horror,
Das pontes queimadas onde quem fui jamais será
Haveis-me capturado... será isto finalmente Amor?
Do voo rente aos penhascos por rasgada asa,
Da lágrima de Vénus e seus quebrados poemas
Haveis-me capturado… estou quase em casa…
Das confidências à Lua e do perfume das Oressas,
Do vidro outrora azul ora tornado tão transparente
Do desejo à beira mar e do inebriar das promessas
Haveis-me capturado… sou novamente crente…
Do esquecimento do passado ou frémito do futuro
Por onde ninguém passa ou algum dia passará
Da saudade de outras vidas e daquele muro
Intransponível do passeio com a morte e seu horror,
Das pontes queimadas onde quem fui jamais será
Haveis-me capturado... será isto finalmente Amor?
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Amanhã: Primavera, Vem
Outrora, onde a manhã ainda aparecia
Seu perfume esta noite ainda perdura
E quando se ia a noite e vinha o dia,
Eu surgia e para lá do alto era a altura…
E sua ausência eram as confidências à Lua,
O espaço vazio entre a palma da mão,
As gotas deixadas onde a foz desagua,
O aperto no peito, o sopro no coração…
Vinham as noites e as estrelas todas aluadas,
Seu fantasma arrastava as correntes do aqui
Onde o passeio se esquecia das estradas
Por onde o viandante foi e ainda caminha,
Se ele era um beija-flor, eu sou o colibri
E ela será a única flor - a jovem andorinha.
Seu perfume esta noite ainda perdura
E quando se ia a noite e vinha o dia,
Eu surgia e para lá do alto era a altura…
E sua ausência eram as confidências à Lua,
O espaço vazio entre a palma da mão,
As gotas deixadas onde a foz desagua,
O aperto no peito, o sopro no coração…
Vinham as noites e as estrelas todas aluadas,
Seu fantasma arrastava as correntes do aqui
Onde o passeio se esquecia das estradas
Por onde o viandante foi e ainda caminha,
Se ele era um beija-flor, eu sou o colibri
E ela será a única flor - a jovem andorinha.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Ao Espelho Pt. II: A Criança, O Homem e o Velho
... que frequentemente é tão breve quanto silente
No oscilar das ramagens do emoldurado retrato
Onde uma porta ecoa o alvorecer da semente,
Assim trazendo a luz da alvorada ao imediato
Eu, agora, partido de dentro do espelho
Permite que enfim te pergunte quem sou
Quem vês será a criança ou o velho
Ocupando este espaço onde estou?
Acorda quem vires e relembra-o quem sou,
Sob a água que Ela venha à tona assim
Que seja aquele que venha por onde vou,
Para ele que é quem sou e que é em mim
Mas que apurado prazer de ti para mim trago
Do semblante deste azul - teu vidro reflectido,
Por vezes tão delineado, por vezes tão vago
Em partes reconheço-o, outras sei-o perdido...
No oscilar das ramagens do emoldurado retrato
Onde uma porta ecoa o alvorecer da semente,
Assim trazendo a luz da alvorada ao imediato
Eu, agora, partido de dentro do espelho
Permite que enfim te pergunte quem sou
Quem vês será a criança ou o velho
Ocupando este espaço onde estou?
Acorda quem vires e relembra-o quem sou,
Sob a água que Ela venha à tona assim
Que seja aquele que venha por onde vou,
Para ele que é quem sou e que é em mim
Mas que apurado prazer de ti para mim trago
Do semblante deste azul - teu vidro reflectido,
Por vezes tão delineado, por vezes tão vago
Em partes reconheço-o, outras sei-o perdido...
Ao Espelho Pt. I: A Queda da Neve é Este Palpitar
Os anos, beatas caídas tal como a neve,
Vamos vendo, as folhas amarelas a cair,
Sua queda, sempre tão fofa tão leve,
Pergunto-me se verei a minha a seguir,
Ao esquecer a intenção e a sua noção
Não intencional do enfim quase ver,
Deslizamos entre os cabelos da solidão
Preterindo o existir pelo finalmente ser,
... do anseio ardente pelas flores perdidas
À orla da estrada, das horas de Verão
De onde falei com deuses e erigi vidas
Crescendo brandas ao riso da criançada
Que murmura este nome pela noite dentro
Numa música de tão insano e estranho tom
De quando o sol se queda sob o olhar atento
Deste ténue palpitar deste meio coração...
Vamos vendo, as folhas amarelas a cair,
Sua queda, sempre tão fofa tão leve,
Pergunto-me se verei a minha a seguir,
Ao esquecer a intenção e a sua noção
Não intencional do enfim quase ver,
Deslizamos entre os cabelos da solidão
Preterindo o existir pelo finalmente ser,
... do anseio ardente pelas flores perdidas
À orla da estrada, das horas de Verão
De onde falei com deuses e erigi vidas
Crescendo brandas ao riso da criançada
Que murmura este nome pela noite dentro
Numa música de tão insano e estranho tom
De quando o sol se queda sob o olhar atento
Deste ténue palpitar deste meio coração...
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Roupas ao Vento Pt. I: Por Janelas Azuis
Vejo roupas rasgadas ao
sabor do Tempo,
Este é o eco das salas
vazias e suas ofertas
São a passagem do
tique-taque do vento,
Parecido com o silêncio
das ruas desertas
Onde esperámos por quem
aguardámos
E que não chega ou até
mesmo já passou
Não nos ouvindo apesar do
quanto gritámos
Mas vai perseguindo quem
um dia os chamou,
Vem a estória de um
longo, longo Inverno
O entretanto de quem vive
ou já morreu,
A quem o infindo vento levou ao
eterno
Tal o observar o ténue
amontoar da neve,
Relembrando o instante que
já ocorreu
Naquele suspiro que é sempre
tão, tão breve.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Dois: Sobre a Elísia Criança e a Menina das Estrelas
Mil lágrimas e mil suspiros aqui me tomem,
Ele era belo, belo como a paz do caixão,
O filho pródigo que ensinava ao Homem
O andar sem tocar com os seus pés no chão,
Mil gotas e mil adagas a pele me perfurem,
Ela era linda, linda como a negra solidão,
A filha das estrelas que lentamente somem,
A menina que voejava de coração na mão,
Um lá ia indo, mal deixando pegadas no solo,
O ontem que se foi e é o hoje que cá está,
Outra ia ficando adormecendo neste colo
Que era vista e era janela para o amanhã,
Que ia tardando não trazendo consolo
Para dois que não iam nem ficavam cá.
Ele era belo, belo como a paz do caixão,
O filho pródigo que ensinava ao Homem
O andar sem tocar com os seus pés no chão,
Mil gotas e mil adagas a pele me perfurem,
Ela era linda, linda como a negra solidão,
A filha das estrelas que lentamente somem,
A menina que voejava de coração na mão,
Um lá ia indo, mal deixando pegadas no solo,
O ontem que se foi e é o hoje que cá está,
Outra ia ficando adormecendo neste colo
Que era vista e era janela para o amanhã,
Que ia tardando não trazendo consolo
Para dois que não iam nem ficavam cá.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
À Cópia da Lua Pt. II: Vela Por Mim (à Ausência da Lua)
21 gramas em entrelinhas aos pedaços
Nestes restos à beira da cópia da Lua,
Por vezes lanço-me leve em seus braços
Esperando pela Lua enquanto o dia recua,
Esta é a varanda do morto e este silêncio
É o da sua ausência onde lhe confidencio
Tal e qual quanto uma cópia me basta,
A ela tal meretriz penosa, triste e gasta,
Hoje o morto quer viver, ele quer vida!
Pergunta à Lua se ela brilhará sobre ele,
Será que ela virá, será que se fará sentida,
Entre a aurora e o anoitecer de sua pele
Serei o revelar da cópia em mim perdida
À ausência da Lua, que ela por mim vele.
Nestes restos à beira da cópia da Lua,
Por vezes lanço-me leve em seus braços
Esperando pela Lua enquanto o dia recua,
Esta é a varanda do morto e este silêncio
É o da sua ausência onde lhe confidencio
Tal e qual quanto uma cópia me basta,
A ela tal meretriz penosa, triste e gasta,
Hoje o morto quer viver, ele quer vida!
Pergunta à Lua se ela brilhará sobre ele,
Será que ela virá, será que se fará sentida,
Entre a aurora e o anoitecer de sua pele
Serei o revelar da cópia em mim perdida
À ausência da Lua, que ela por mim vele.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
À Cópia da Lua: Vamos Por Onde Não Nos Encontrámos
Olha-a bem na alma, a Lua está acesa…
Ela, a cúmplice deste soneto que escrevo
Eu do outro lado da meia-noite na incerteza
Deste vaguear clandestino a que me atrevo,
Insónias diferentes nesta sombra das cores,
Mementos de restos de poemas e maresias
Em estórias de ninguém pelo céu e arredores
Lua, Lua minha sem dono, rainha das poesias,
Fragmentos da vertigem dos campos estrelados
Por onde íamos os dois, ela sem pé, eu sem chão,
Em nuvens tal poltronas e candeeiros tal Eldorados,
Ela sendo a luz e eu o crepúsculo desta nossa mão
Onde deslizamos em mil gotas em lagos azulados
Nós – este Tudo, este nada entre o berço e o caixão.
Ela, a cúmplice deste soneto que escrevo
Eu do outro lado da meia-noite na incerteza
Deste vaguear clandestino a que me atrevo,
Insónias diferentes nesta sombra das cores,
Mementos de restos de poemas e maresias
Em estórias de ninguém pelo céu e arredores
Lua, Lua minha sem dono, rainha das poesias,
Fragmentos da vertigem dos campos estrelados
Por onde íamos os dois, ela sem pé, eu sem chão,
Em nuvens tal poltronas e candeeiros tal Eldorados,
Ela sendo a luz e eu o crepúsculo desta nossa mão
Onde deslizamos em mil gotas em lagos azulados
Nós – este Tudo, este nada entre o berço e o caixão.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Capturai-me: E Fazei-me Sorrir
Por favor, capturai-me a essência,
Não vedes que quero ser capturada?
Sede o espelho da minha presença
Trazei à infindável noite a alvorada,
Ponde a mão na minha mão e vinde
Fechai os olhos e chorai-me ao ombro,
Esperarei por ser a refém num brinde
Por vossa voz para erguer o escombro
Do tempo que não passando se perde
Dentre a entrelinha desta terna espera
Pois se não vierdes que a vida me deserde
Levando-me a última réstia de primavera,
Só preciso desse sorriso como sentença
Trazei-lo na mão da partilha e pertença.
Não vedes que quero ser capturada?
Sede o espelho da minha presença
Trazei à infindável noite a alvorada,
Ponde a mão na minha mão e vinde
Fechai os olhos e chorai-me ao ombro,
Esperarei por ser a refém num brinde
Por vossa voz para erguer o escombro
Do tempo que não passando se perde
Dentre a entrelinha desta terna espera
Pois se não vierdes que a vida me deserde
Levando-me a última réstia de primavera,
Só preciso desse sorriso como sentença
Trazei-lo na mão da partilha e pertença.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Viagens Pt. III: Por Terreno Familiar
Sou o conceito trazido na nebulosa
Espero ansioso a difusão pelo espaço
Envolto pelo silêncio e solidão brumosa
Neste desejo de me libertar do compasso
Que nem incauta criança a brincar
No afluente em direcção ao estuário,
Fluo e flutuo em mim neste abandonar
De quem sou ao reflexo do calendário,
Aquele que espelha esta subtil silhueta
Perseguindo o caminhar do mensageiro,
Visto ao longe tal esvoejar de borboleta
Trazendo o último àquele que fora o primeiro
E guardando-o no canto do fundo da gaveta
Nesta viagem feita ao toque do travesseiro.
Espero ansioso a difusão pelo espaço
Envolto pelo silêncio e solidão brumosa
Neste desejo de me libertar do compasso
Que nem incauta criança a brincar
No afluente em direcção ao estuário,
Fluo e flutuo em mim neste abandonar
De quem sou ao reflexo do calendário,
Aquele que espelha esta subtil silhueta
Perseguindo o caminhar do mensageiro,
Visto ao longe tal esvoejar de borboleta
Trazendo o último àquele que fora o primeiro
E guardando-o no canto do fundo da gaveta
Nesta viagem feita ao toque do travesseiro.
sábado, 7 de dezembro de 2013
Da Minha Rua: Vejo Milhares de Janelas
Da minha rua vejo milhares de janelas,
Estes olhos que tanto têm por onde ver
Foram sendo esquecidos pelas ruelas
Que o escuro enlaçou sem devolver…
A vista, sem pista, tornou-se na subtil cilada
Fugindo avultada levando o precioso sorriso
Até que a pálpebra ficou tão e tão pesada
Que os olhos olvidaram o que é preciso,
O amanhecer, glorioso sobre a vista indefesa
Enquanto a noite finge ofertar a Lua à viela
Donde mal consigo ver Ema e sua beleza,
Prisioneira de quem não a vê, será ela cega?
Quando o não ver se torna a parede e cela
Há sempre o feixe de luz que a vista sossega.
Estes olhos que tanto têm por onde ver
Foram sendo esquecidos pelas ruelas
Que o escuro enlaçou sem devolver…
A vista, sem pista, tornou-se na subtil cilada
Fugindo avultada levando o precioso sorriso
Até que a pálpebra ficou tão e tão pesada
Que os olhos olvidaram o que é preciso,
O amanhecer, glorioso sobre a vista indefesa
Enquanto a noite finge ofertar a Lua à viela
Donde mal consigo ver Ema e sua beleza,
Prisioneira de quem não a vê, será ela cega?
Quando o não ver se torna a parede e cela
Há sempre o feixe de luz que a vista sossega.
terça-feira, 26 de novembro de 2013
À Branquidão Pt. III: O Paraíso dos Fracos
Então ele fechou os olhos perante o sono,
A cada pronunciação o sonho tardava
Deflagrando as ramagens de um outono
Esquecido, como sua pele o queimava,
E eu via-o, de olhos fechados, sem sonhar,
Num quarto fechado por nevoeiro cerrado,
A não adormecer e também sem acordar
Onde o vi naquela porção do bocado:
Era o paraíso dos fracos – o beijo na testa
Do pai ausente, a sangrenta asa do colibri
Levando o tempo para o que já não resta,
Acreditai em mim, eu faria tudo mais belo,
A vida é mais que o sonho e o sonho aqui
Não será sem vida na moldura que pincelo.
A cada pronunciação o sonho tardava
Deflagrando as ramagens de um outono
Esquecido, como sua pele o queimava,
E eu via-o, de olhos fechados, sem sonhar,
Num quarto fechado por nevoeiro cerrado,
A não adormecer e também sem acordar
Onde o vi naquela porção do bocado:
Era o paraíso dos fracos – o beijo na testa
Do pai ausente, a sangrenta asa do colibri
Levando o tempo para o que já não resta,
Acreditai em mim, eu faria tudo mais belo,
A vida é mais que o sonho e o sonho aqui
Não será sem vida na moldura que pincelo.
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