terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O Sobreviver

O sobreviver é viver pela metade,
A impermanência a única constante,
É demasiado relativa a única verdade
E a caminhada deve ser sempre adiante,

O viver é também o eterno descobrimento,
O barco navegando evitando naufragar,
Os segundos passageiros do momento,
O coração latejante em perpétuo ansiar,

Criar raízes quando o vento as arranca?
Agulha no feno esta tentativa de controlo
O sangue derramado nem sempre estanca

Pois por vezes não encontra o chão, o solo,
E de pálpebras fechadas a noite é branca
Pois que este trilho enfim consinta seu colo.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Folhas Rasgadas

Folhas rasgadas atiradas ao cesto de papel,
Perdi o sol à margem desta caminhada,
A estória deixada à vertigem do carrossel
Pouco conta para a eternidade, a estrada

É mapas azuis de vida perdidos ao vento,
Tal beijos dados, lançados nesta brisa,
Parece que para viver já não temos tempo,
Que a musa ao ser se transviou da poetisa,

Suspirar é presente escrito no firmamento,
Vem o frio que nos cobre o esqueleto
E assim substitui o colorido por cinzento,

É o lamento com o trovador em dueto
Pudesse ele evitar o envelhecimento
Oh talvez assim este fosse outro soneto.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Pedaços de Nada

Pedaços de nada em palmas rasgadas,
Seu fantasma a lembrança tão distante,
Vejo sua passeata por estas horas adiadas,
Trazendo-o no peso triste deste semblante,

Espelho tempos idos numa nostalgia,
Arrastando sorrisos perdidos ao vento,
A brisa que resta não confere magia
Que sustenha o feitiço do esquecimento,

Fotos antigas tornam-se o único encosto
Para um amor que ignora o que é amar
Que a cada passagem de dia paga imposto

Por jamais saber quando deve cessar,
Assim é o lamento do poeta indisposto
Que às brumas confia seu próprio soluçar.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Mãos de Papel

Mãos de papel e sorriso de porcelana,
Olho para o firmamento em busca de Ema,
Divaga à sua ausência esta alma cigana,
Ardendo no fogo ateado por este poema,

Verto-me no abismo procurando salvação,
Sou vasilha para o sangue aqui derramado,
Por um último sonho, por um dar a mão,
Que não falte um beijo a quem há quebrado,

Aflorem as lembranças daquele sorriso,
Aquele suspiro de quem hoje é tão distante,
Rascunhos a carvão e giz a tom impreciso,

Que sirva o silêncio, tu, deserto emocional,
Mesmo que traga todos neste semblante
À saudade e sede de uma aurora boreal.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Como Aprecio a Luz

Como aprecio a luz e o seu terno regaço,
Pernoito dentro de mim sempre tão sozinho,
À espera dela... pela sua mão ou seu abraço,
Porém não sei e o não saber é o caminho,

Conta-me histórias que me façam adormecer,
No lugar onde durmo está uma dor, está frio,
Concede-me o ombro, pára este estremecer,
Relembra-me daquele sítio de eterno estio,

Assim ele sorri feito a criança renascida,
E essa é a loucura do homem crescido,
Apesar de apaziguar esta sua ferida

É toda a crença infundada no amor, no cupido
Que o afasta tão perto da sua margem querida,
Sem saber se ele é todo o cinza ou só o colorido.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Ama-me…

Ama-me… tal uma rima de outro verão,
A noite cai e leva consigo este soneto,
Grito implorando-lhe que me dê a mão,
Fico para trás em poeirento esqueleto,

Fico para trás mendigando réstias de amor,
Por porções que me tornem todo de novo,
E é coabitando com este intuito de amador
Que me espalho pelo chão e me comovo

Pois passam as nuvens e nenhuma é minha,
Passam as marés e nenhuma me leva além
É esta expectativa que esta alma desalinha,

E o tempo esquecendo-se dos tempos de herói
Que então não me beija de volta com ou sem
Mais tempo em si e quanto o tempo ainda dói.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Estas Ruas Mudaram

Estas ruas mudaram, estes olhos o mesmo,
São estas as sombras de um dia passado
Que ficaram porém eu sou outro, a esmo,
Hoje fragmento da porção de um bocado,

Não por muito ouvem-se uivos de desespero,
O rosto lunar perdido num lugar distante,
Os ecos das flores amontoadas a zero,
Sendo eu então outro homem e semblante,

Tal como as ruas e as praias, a chamar,
Irrequietas pela noite adentro, o toque,
É simples e dado ao uno e doce amar,

Perdido entre vielas soturnas este coração,
Que vai andando sem destino, a reboque
De uma lembrança que era de mão em mão.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Nem Retratos

Nem retratos numa estante, nem memórias,
Seremos só o que de nós é aqui deixado,
Pouco mais do que poeira de mil histórias,
A epítome de quem se há enfim findado,

A chave para esta prisão, sem abstenção,
Dispersa por onde passamos, eterno beijo,
O poeta a ir enquanto lhe bate o coração,
De olhos semicerrados num intenso lampejo,

E perto da água perdemos nossas pegadas,
Deixamo-nos à intempérie e à sua loucura,
A vida é o seu total, sempre acumuladas,

A melodia sublime desta bela seresta
E vindo a morte e a sua vil amargura,
Há que aproveitar a vida que nos resta.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Não te Vás

Não te vás ou dês triste à noite cinzenta,
Esperando por ela com olhos empoeirados,
É todo um mundo que passa e não se lamenta
De não sermos mais dois corações apressados,

Entrega-te à luz, pomposa e tão airosa,
Que ela te beije tal a mais formosa donzela,
Que nela concebas de amor uma nebulosa,
Que assim encontres a mais brilhante estrela,

Oferece-te ao universo como único presente,
Adormece ao seu ombro, numa eternidade,
Pois quem não sabe é só quem não sente,

E nesse não saber uma ignóbil monstruosidade,
Então que hoje se faça do incrédulo crente
Enquanto vem a poeira e se instala a saudade.

Mãe, Eles Estão a Deixar-me

Mãe, eles estão a deixar-me ficar para trás,
Vai assim o vagabundo até ao final da rua,
Sinto o amontoar enfim destas horas más,
Num vil momento que esvaece e se amua,

Eu vim um dia para ver as suas belas flores,
Para enfim desejar o fim destas tristes horas,
Para dar a mão e ver no varão dois amores,
Passando o Outono, chegando mil auroras,

Já amando fugi e fugiram, azul mostrado,
Soterrado por quem diz ter sido esquecido
Em roupas de areia coberto pelo passado

Vale este segundo de lembranças vestido,
Quase venerando as noites que hei amado,
Pouco sei para além de que quase hei vivido.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Não Vale a Pena Despertar

Não vale a pena despertar, este é o poema,
Vou embora, serei alguém ao sair por aí fora,
Serei o traço de pincel no bonito olhar de Ema,
Vou embora, escorrendo sozinho atrás da aurora,

Serei água, desaguarei em qualquer constelação,
As mãos lançadas ao vento, o beijo dado à beleza,
Procurando sem saber se é verdade ou alucinação,
A única verdade será saber que tudo é na incerteza,

Navegarei a noite, o cerúleo terá espaço em mim,
Cadente e brilhante, serei o brilho de fora da janela,
Difuso na cúpula do céu, esparso na noite sem fim,

Serei também sombra e semblante na treva da viela,
Espaço aberto para rascunho de carvão e giz e assim
Repousarei preenchido e o Universo em mim terá tela.

Então Debaixo das Asas

Então debaixo das asas escondia sonetos,
Pedaços da alma emoldavam a pintura,
Duas almas dançando em ignotos coretos
Enquanto a estrada vinha triste e escura,

Acreditava assim em vestígios do sétimo céu,
Em pedaços esquecidos de instantes perdidos,
Porções de beleza do espaço que era meu
Sentidos ao expoente na mudez dos sentidos,

Vejo o tempo atravessar as ruas deste lugar,
O sorriso é a inclinação de sempre dar a mão,
Naufrágio onde passam segundos a esvoaçar

Rumo ao horizonte indagando restos de perdão,
Passa o tempo no cais de abrigo, é difícil amar,
Assim sou o mais glorioso dueto na maior solidão.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Vestígios de uma Vida

Os vestígios de uma vida dentro do peito vazio,
Cenas moldam esta janela de azuis vidraças,
Arrancando dentes a um velho enrugado a frio
Cujos pincéis concebem palavras e garrafas,

Esperando o reencontro, vagas tal praias desertas
De quem habita somente num belo imaginário,
Assim se pavoneiam incólumes as horas incertas,
Assim esvaecem os traços e riscos deste cenário,

Sonho com os mortos que me antecederam um dia,
Com a donzela que partindo quebrou este coração,
Por restos de som outrora perdido naquela melodia,

Hoje entoada por ecos de gritos e já idos pedaços,
Esta noite pretendo aquela que me beije e dê a mão,
Esta noite só pretendo morrer nos seus belos braços.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Caminhamos

Caminhamos com esqueletos no armário
Por ruas escuras de lágrimas no rosto,
Entretanto somos à lua a passagem do horário
Para onde não brilha, para lá do sol-posto,

Recostado onde os homens se dão perdidos,
Com uma garrafa em mão, lábios beijados,
Pernoitando nesta almofada dos sentidos
Onde os sonhos caem e se dão por quebrados,

Quase esqueci quem me deu a mão um dia,
Não me deixem esquecer quem é lembrança,
Aquela que é toda minha... minha agonia,

Amanhã ainda tenho uma última esperança,
Relembrar do éter traços de vera magia
E resgatar o amor verdadeiro de criança.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Um Poemário

Um poemário para o cansaço da corrida,
Espelhados pelo altivo contorno estelar,
Só mais um pouco, uma última investida
E teremos enfim sítio para um dia respirar,

Difícil é estar tão só, procurando o amor,
Escapa-se-me por entre os dedos descalços,
Onde estará a maravilha sem restos de dor?
Entre ruínas e escombros mil e um percalços!

Ergue-se a onda deixando o que era maré,
Atrás da sombra do ontem já esquecido,
Vivia vendo o mar, adeus, de estrada no pé,

Sou quem ficou na margem não trilhada,
Quem não chegou mas se deu por partido
E assim vai indo, entre o nada e a amada.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Guardo-a

Guardo-a atrás de pálpebras fechadas,
Como lembranças de um tempo passado,
Memória deixada no cinzeiro das amadas,
Quantas vezes este foi usado e quebrado,

Por ecos de ruelas tornadas vielas escuras,
Choro por quem trago neste triste coração,
O naufrágio póstumo de negras figuras
Do tempo em que íamos de mão em mão,

As saudades de quem enfim passou ao lado,
No peito há que matar esse pedaço latente,
Não viver para sempre num tempo afastado

Sem pertença ou pretenso de ir em frente,
Pois das vezes que a vida tenho evitado
Hoje só pretendo plantar nova semente.

Ofegantes

Ofegantes perante a perfídia deste tempo,
Árduos instantes, arfando por eternidade,
À sua recusa é ver-me à mercê do vento,
Vejam-me, sou apenas toda uma orfandade,

Cada passo tem um ritmo cujo eco esvaece,
Pedaços de amor, apelos sem destino,
É por aquelas vezes que a vida acontece
Que o homem grande se torna no menino

E que lembro os fragmentos do seu semblante,
O palpitar turvo de coração quebrado
Faz com que o lar pareça sempre distante,

Não vêem que só pretendo o éter resgatado
Do olhar perdido no outrora que deslumbrante
Mostrava amorosamente o beijo tão antecipado.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Sonho Com a Terra

Sonho com a terra que enche o coração,
Venho de um sítio procurando onde estar,
Pouco sabia antes de verdade ou antemão,
Onde será que encontrarei o meu lugar?

Confundo lágrimas com restos de riso,
Limpo o rosto com a esperança do amanhã,
Sou tantos, todos a traço tão impreciso,
Nenhum sem se encontrar aqui para já,

O triste com a mulher feliz em lembrança,
Aprendiz de uma grande dor desconhecida,
O sorriso esquecido da simples criança,

Onde será que a dei enfim como perdida,
Quando foi que esqueci os passos da dança
Ou em mim esbanjei e a não dei como sentida?

As Pedras Nos Sapatos

As pedras nos sapatos e um peito vazio,
O resguardo para a intempérie lá fora,
Fechando os olhos espera-se então o frio,
Enquanto ela não vem e assim demora,

Viagens passadas tornam-se miragens,
Dias eclipsados em algo falso tornado,
Resta-nos o ósculo a essas idas aragens,
Todos esses passos hei enfim amado,

Enamorados pelas estrelas - mãos dadas,
Seu coração com o meu é hoje estória
De outros passeios, outras caminhadas,

Algures na margem da estrada em memória,
De farrapos ao vento e roupas rasgadas,
Pertenço a outros tempos, a outra glória.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

E Com o Vento

E com o vento vem uma nova direcção,
Algo suave e mais próximo das estrelas,
Que elas desçam e me confiem sua mão
Ainda tenho tons para pintar estas aguarelas,

Procuramos lar onde um dia fomos perdidos,
Por pódio para descansar uns ossos cansados,
Ainda há tempo para usar os lápis coloridos
E por belas escadarias ter céus rascunhados,

A vida doerá o resto de um pensar entorpecido,
A asa quebrada que não aprendeu a voar,
Tal como o beijo não dado e assim esquecido

O desperdício do poeta que não sabe amar,
Não importa a direcção nem seu sentido,
Importante é saber por onde caminhar.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Quem Quiser Flores

Quem quiser flores que plante seu jardim,
Há sorrisos no íngreme instante impreciso,
Fragmentos jazem na metade e é assim
Que encontro caminho no chão que piso,

Mesmo que perca partes da identidade,
Trago-a onde ela palpita pelo coração,
Fecho as pálpebras e vai-se a orfandade
Do esquecimento do resto desta canção,

Canto e choro onde ninguém me vê chorar
Por quem espera de mão em casto peito
E que um dia, espero eu, me possa encontrar,

Pois é difícil ter fé num mundo agreste e feio,
Mais fácil é morrer perdido e contrafeito,
Desde que enfim morra de coração cheio.

domingo, 27 de novembro de 2016

Pensar é Infracção

Pensar é infracção punível com morte,
Ou pior, não vida – “Prometo amor”,
Nenhuma promessa mantida, má sorte,
Espera-se enquanto não passa a dor,

São os melhores amigos deste fardo,
Torturado e anoitecido por um ideal,
Por um porto de abrigo, um resguardo,
Para já sou na tormenta, pelo vendaval,

Desgosto, à falta da chegada sou a ilha,
Procurando quem me deu por perdido
Outrora a península hoje a armadilha,

Pensar é chaga aberta, vento esquecido,
Por vós, eu sou a brisa que a si se trilha,
A tristeza e solidão de alguém desvalido.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Rastos de Sombras

Rastos de sombras dobradas num semblante,
O seu rosto é o meu, vestígio de cicatriz,
Vejo-o chegar no tão longínquo, adiante,
Numa sede imensa que ignora o chafariz,

O reflexo dos espelhos é a ignorância
De um ser e estar que não tem pertença,
Por isso sou entre mim toda a distância
Para a margem que faz toda a diferença,

A guerra das flores não faz prisoneiros,
Não inflige chagas a quem não a tem querida,
Não detém quem sobre ela não é mensageiro

Ou diferencia diademas de uma ferida,
Pois quem vai seja ao sol ou nevoeiro
Por vezes nada mais é que interno infanticida.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

E Quantas Vezes

E quantas vezes o sol abdicou de brilhar?
Beijámos a Lua e apaixonámo-nos assim,
Pelo rosto que esquecemos, o rosto lunar
E até pelo muito que não passa por mim,

A resposta à pergunta não feita sou eu,
O olhar amálgama de um pouco de nada,
Vermelho erubescido tal vil Asmodeu
Em mim vivo que nem a pior cilada,

Sombras pintadas no branco da parede,
Rindo dos invólucros largados ao tempo
Somos chagas envolvidas por uma rede,

Sustêm-me violinos, culpa e um olhar
Para o amanhã procurando desatento
Por um eterno beijo possível de amar.

sábado, 19 de novembro de 2016

Beautiful Girls

Beautiful girls do dig the best graves,
As pieces of puzzles bedazzle screams,
Shards of hearts unrelenting like waves,
Wishing for it like never-ending streams,

Further along the path, margins shattered,
And I bothered, wonder about its shimmer,
We lull ourselves to sleep as nothing mattered,
In this communion of faces growing dimmer,

Eventide of beauty, beautiful spark of light,
Where earth meets the sky I’m lost within,
The fairest tale overgrowing with bright

In ethereal grace, free from the gift of life,
Nightfall, evenfall, behold where we begin,
Without words, the netherworld is our wife. 

Deixado e Esquecido

Deixado e esquecido na berma da estrada,
O viandante assim usado tal lenço de papel,
O gosto na sua boca deixava um pouco de nada
Quanto ele se perdia no torvelinho desta babel,

Enquanto ela já se foi, ele por cá ainda ia ficando,
Ao vento e à maré distraído por uma lembrança
E enquanto o seu oxigénio não lhe ia bastando
Morria-lhe então o alento e o sorriso de criança,

Outrora seu coração era dela única pertença,
Invólucro para pinceis e cores de mil amores
Pois nesse ideal jaz então esta vil sentença

De silêncio entoado por um coração abandonado
Alheio ao burburinho proferido em seus arredores,
Desperdiçado e pelo que não virá ainda esperado.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Pretendo Sentir

Pretendo sentir o vertido neste firmamento,
Esperando adiante por luz clandestina,
Sou livre e tão disperso é este intento
Mesmo que negra e escura vá a lamparina,

Imagino-a vestida de estrelas cadentes,
Onde o sol se põe, amor abre a porta,
Sinto com todo o esplendor, perdidamente
Com o suor e sangue que me corre pela aorta,

Que nasça a primavera e me beije a boca,
Que as confidências tenham um rosto lunar,
Apenas tenho este olhar e toque para troca,

Algures por lá irei, esteja calor ou frialdade,
Mesmo que suspire pela falta estelar,
Mesmo tendo do que já não é saudade.

domingo, 13 de novembro de 2016

Sou Filho Elísio

Sou filho Elísio de mão na cintura,
Vida tão pesada, vida avariada,
À procura por vestígios de candura
Dando o coração de mão beijada,

Próximo do fim neste cetim de verão,
Perto de quem não somos, sem sentido,
O cruel destino do viandante é o não,
A paragem em si e o abandono do cupido,

Houvesse quem escutasse sua voz,
Um lugar bonito para soltar o colibri,
O porto de abrigo no fundo de nós

E o seu único instante agora e aqui
Tal rio afluente correndo para a foz
Do lado de dentro contido por si.

sábado, 12 de novembro de 2016

Por Onde Vamos

Por onde vamos, vamos lado a lado,
De mão bem dada com a incerteza,
O coração em trapos veste-se calado
Ainda buscando por traços de beleza,

Aqui vamos com ninguém além de nós,
Nesta vigília, neste sono esta procura
Perene por vestígios de uma una voz
Enquanto não se encontra a ternura

Própria do cais de abrigo do amador,
Espera-se luz do sol vinda da aurora
E esse é o pior castigo do sonhador

Andar sem passar, imaginar o inaudito
Sem entender a passagem desta hora
E do que possa ser pelo segundo maldito.

Através do Mesmo Azul

Através do mesmo azul na vidraça,
As gotas d’água irrompem lá fora,
Vejo-as cair em tal beleza e graça
Que por instantes esqueço o agora,

Caem tão ternas na palma desta mão,
Brandas e leves agraciando o telhado,
Quase as consigo sentir neste coração
Que quase parece trazer-me um recado,

Já chega de trevas, já chega de ansiedade,
Está na altura de partir e quando me for
Espero perceber qual é mesmo a verdade

Pois por cá tem sido tanta e tanta a dor
A tristeza, o sofrimento e a saudade
Que parece que um dia morrerei de amor.