quarta-feira, 25 de junho de 2025

Entre Linhas Não Escritas

Houve um dia em que a alma assinalou a sua partida,
Num amor que ficou entre linhas que não foram escritas,
Ouçam esta voz que ecoa dentre o silêncio por si contida,
Sozinho numa multidão sem rosto, as lembranças subscritas,

O ar rarefeito após um adeus, há uma lágrima nunca vertida,
Por um espelho que se recusa a devolver o reflexo do poeta,
Libertai-o com esse sorriso, tão leve é a flor ao céu remetida,
Isto é o que os sonhos dizem quando ninguém escuta a borboleta

Esvoejar, é preciso, há eternidade encerrada na infinidade de uma pausa,
E há presenças dos ausentes nos lugares vazios que deixaram para trás,
Um brinde ao que sobra quando ninguém está a ver, um brinde à causa,

Somos estranhos no próprio corpo, esta inquietação é estado natural,
A linguagem dos gestos interrompidos na espera por novas manhãs,
Enquanto o ontem ainda respira numa espera nesta paisagem pictural.

terça-feira, 17 de junho de 2025

Antes de o Ser, Já o Era

O instante, antes de tudo, é a memória do que nunca aconteceu,
É o tempo que dobra dentro de um abraço, a visita a um passado,
Esta saudade que chegou antes da partida, que em si esmoreceu,
Foi a hora em que o relógio perdeu a razão, o beijo quase sonhado

Que só um reconheceu, dentre mãos que lembram um toque perdido,
Numa ausência que dorme na almofada ao lado, o beijo em imaginação
De dois corpos que dançaram noutra vida, o anseio de um desejo ferido,
Pois amar é sentimento que apenas coexiste em poesia dentro do coração,

Porque há palavras que não quiseram algum dia ser ditas, assim é o trilho,
De poemas que se escreveram em lágrimas, o nome que o papel recusou,
Pois o verso ficou preso na garganta, a tinta sangrou desde o pai até ao filho,

Somente o vento sabe o segredo que a alma esconde, a confissão sem ouvinte,
A chuva é reencontro e as estrelas as cartas que o tempo leu e em si enclausurou,
Deus dança no detalhe do invisível, o corpo templo tanto para rei como para pedinte.

O Silêncio Entre os Dedos dos Dias

Sim, o eterno escorre entre os dedos dos dias,
A infinitude contida num instante de olhar,
Numa ausência que ocupa as horas fugidias,
É o relógio que não consegue o tempo buscar,

Há amor que só existe entre silêncios partilhados,
Mesmo no beijo nunca dado, mas vive nos lábios,
O sussurro das árvores ouvido baixo encaminhados
Para a noite que floresce ao dormir nos subúrbios

De um sonho, espelho tatuado de uma alma inquieta,
Escrito num poema feito sem papel, esta é a canção,
Pois há Deus no palpitar errante da nossa respiração,

O renascer da fénix acontece sem ninguém notar no poeta,
É o silêncio que escapa entre duas notas subentendidas,
É resposta muda, em gestos preteridos e gastos por partidas.

O Silêncio Entre um Passo e o Outro

O Adeus que nenhuns lábios conseguiram proferir,
Tal silêncio entre duas notas durante uma dança,
O intervalo poético de um eco de um passado sorrir,
Na pausa entre olhares, o ágil andar de uma criança,

Há um desejo magnético no limiar de um compasso,
O ritmo sincronizado com a respiração de um poeta,
Este ar entre os dedos que supera o tempo e o espaço,
É suspiro na pele, rastro feito por uma estrofe discreta,

Movemo-nos na latência de uma luz imóvel e brilhante,
Grãos do ido apossam-se num olhar entretanto cerrado,
É mudez tornada passo de dança coreografada e sonhante!

Com intenção, o som desaparece e o corpo continua a dançar,
O não-dito vibrando no meio de um gesto por si próprio fechado,
Entre um passo e o outro, há um Universo inteiro para morar!


segunda-feira, 9 de junho de 2025

O Poema Que Me Escreveu

Não fui eu que busquei escrever o poema,
Foi ele que veio — em palavra, crua e inteira,
Sem pensar no sentido ou rasto no diadema,
Chegando assim: belo, sem pudor ou rasteira,

Então, minha mente era somente o espaço
Onde a estrofe a si mesma se ia escrevendo
A toque preciso, a caneta — limpa, a subtil traço - 
Ia permitindo ser, ia permitindo e acontecendo,

Somente sentido, fui vendo a cor, o calor, o brilho,
E então fui página, fui folha em qualquer vento,
Sem controlo sobre o seu caminho ou sequer trilho,

Sei que cada soneto cura pedaços da aberta ferida,
E o poema me dá passo, asa e jornada em novo alento:
Sim, foi ele que me escreveu, foi ele que pincelou esta Vida.

terça-feira, 3 de junho de 2025

Cada Sonhador Tem Um Ícaro Dentro De Si

Sussurros de outrora próximos desta respiração,
Ofegante por Vida, ergue-se o sonhador prostrado,
O risco de queda, a possível tragédia é também bênção,
Por Dédalo essa altura, a ambição escombro do ansiado,

Há brilho nos seus olhos, no sacrifício de uma pluma ao vento,
Este é o labirinto de para quem o horizonte é lar, vive a fantasia,
Mesmo dentro do labirinto, a bravura que consta no contratempo
É inspiração, quimera, ideal e ânimo ao rubro seja noite ou dia,

Esperançando que a partida se torne um dia na chegada,
Ousado perante o abismo vertiginoso da vaidade e sua culpa,
Há cinzas onde havia penas, os raios solares a única estrada,

À glória desse destino, o fulgor de um ígneo grito, brasa e clarão,
E radiante o áureo torna-se terra, sem obrigado ou desculpa,
Ascendendo com o Zéfiro mesmo enfrentando a sua própria extinção.

terça-feira, 27 de maio de 2025

Dialecto dos Esporos Contra a Corrente

Sonhando com esporos resplandecentes indo contra a corrente, 
Um multiverso de caras sem nome ultrapassando em contramão,
Então parecia que o fontanário ia secando por causa dessa gente, 
E que ia assim endurecendo as paredes de um cinzento coração,
 
Esperando por um momento certo que tardava a ser chegada,
Conversava num dialecto que os outros pareciam ignorar,
Através de palavras que cabiam nos varões da berma da estrada,
Assim escapulia da realidade, assim se permitia a si mesmo esvoaçar,
 
Procurando por momentos belos que preenchessem a brisa,
Pois boas novas um dia trará o vento rodopiando o compasso,
Onde cairão esses esporos traçados em Vénus a uma luz imprecisa,
 
Por onde sorriremos, tentando ser o sentimento na sua plenitude,
Sei que haverá um dia qualquer um tempo, sei que haverá um espaço,
Mesmo que ainda magoe, mesmo que o sentir só conheça a servitude.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Pegadas que o Mar Apaga

Estás por todo o lado, cada nuvem e em cada pequena cicatriz,
De suspiros entrelaçados, mãos que se buscam em vertigem,
Sim, estás por todo o lado, da treva profunda ao final do arco-íris,
Escapando tal moedas entre dedos, ao prazer que as feridas infligem,

Sim, ainda escrevo versos a que a ela desejava tanto de confiar,
Ecos gastos pelo tempo, dançando valsas que vamos guardando,
Instantes nos prendem, e somos náufragos de um triste e solitário mar,
Sem dono, e sem descanso — as margens recuam apesar de irmos remando,

Esquecendo os moldes, as rimas, a ilusão da correspondência,
Pois há silêncios que habitam quem jamais se entende por palavras,
E assim se curva a infância ao tempo, assim se desenha a essência,
Na pele enrugada da espera, no passo lento de mil quase abracadabras,

Oiço correntes roçando o chão — e se repousar, quem me acolherá?
Outro instante, outro acaso… e que o resto venha sem cama traçada.
É o hino de quem não pertence ou tem pertença, é o rastro do amanhã,
É o pó dos dias na pele, buscando faróis num olhar ainda sem a alvorada.

domingo, 18 de maio de 2025

Eu Pertenço à Estrada

Há vestígios de ruínas cantando do alto da fachada,
Suspiros ofegantes entrelaçados que buscam a vertigem,
Quando o caminho diverge entre uma ou outra alvorada,
Há que nos agarrar na segurança na rua errante, sem origem,

Pois há poemas ainda por vir que a ela gostaria de dedicar,
Ecos desfeitos pelo tempo, percorrendo valsas em nós contidas,
Aprisionados por um instante, reféns e prisioneiros de um mar
Que não vê dono em quem não sabe remar, sem margens queridas,

Esqueço as rimas, esqueço a métrica, esqueço a vontade de reciprocidade,
Pois há silêncios encontrados no lar de quem nunca conseguiu ser chegada,
E assim a criança se torna no velho, e assim se avança no tido como idade,

Ouço correntes arrastando-se no chão, e se pernoitar aqui quem me dará guarida?
Outra hora, outro momento e o resto que venha – é o hino do pertencente à estrada,
É o passo vacilante, na pele o pó dos dias, procurando o olhar farol, num bater que não intimida.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

A Última Noite no Peito Dela

Há murmúrios ecoando no vazio da madrugada,
Em vestígios da sua ausência e em camas desfeitas,
O fantasma de outra despedida é erro na fachada,
Que assim se vai desmoronando dentre ruas estreitas,

Há lembranças cantando na ebriedade da noitada,
A insónia é rainha e o silêncio tão ensurdecedor,
Trago a sua respiração na minha e noutra facada
Encontro mote para enfim a lágrima e a sua dor,

Há sombras entre memórias, adeus nos espaços,
E o estilhaço no coração, a perda desta noção,
Pretendo renascer das cinzas em subtis traços,

Pois há o percorrer o ósculo deferido por esta estação,
Será que a chegada me aguarda em sutis e ternos abraços
Ou será que serei mais outro vivendo a vida em objeção?

terça-feira, 8 de abril de 2025

Vida em Tempo Emprestado

Encobre-me os ossos de murmúrios, estou tão frio,
Manifestando lábios que sussurram sombras - beijo,
Ensina-me a cantar, preenche-me de confetes o vazio,
Porque esta voz esqueceu o assobio das luzes do desejo,

Branco pálido, meu deus, perdi-me de mim, perdi-me de mim,
E a Vida não é um Sonho, tenho aprendido sob ferros e brasões,
Amarrado aos trilhos de um pôr-do-sol, haverá por fim um fim,
Pois procuramos sem encontrar, ao alto estão mil e um corações,

E estas fantasias, embalsamando-me, precisamos de um remédio,
Encobertos por uma dor adequada à tumba, esta é a maldição,
De um homem que outrora teve esperança, este insano assédio,

Onde vamos e pedimos tempo emprestado, esta enfim é a minha Vida,
Nas mãos de olhos fechados, de boca rasgada no meio da escuridão,
Este é o último adeus, numa tentativa sôfrega de atingir a margem querida.

quinta-feira, 20 de março de 2025

O Perfume da Sombra

A sua sombra é por uma brisa fria trazida,
Esta guerra das Rosas fez uma nova vítima,
Por isso aceno à morte, ela é sim bem-vinda,
Até que por fim a luz me inunde lindíssima!

Numa explosão supernova num instante brilhante
Esta pele por meros momentos deixa de ser lívida,
Finalmente o Universo reencontrou seu semelhante,
Enfim procedemos adiante nesta aurora então vivida,

Pois se a Rosa feneceu, o seu perfume ainda persiste,
E aprendemos a arte do desapego, o vil desencontro,
Porque sua pétala ao vento esvaeceu, assim desiste,

Resta a memória cravada a ferros num antigo e ido conto,
E caminhamos solitários onde somente a sombra existe,
Trago-a morta no canto do bolso, num sorriso triste pronto.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Ontem, Entre Marés e Lembranças

Memórias aladas a desfilar no pátio das lembranças,
Enchentes de marés em acalmias tidas no matinal,
Escondidos entre dedos espremidos de esperanças,
Pretendo viver a Vida num instante, mas o temporal,

É indiferente do Sonho, no tempo e no espaço, é igual,
Os sorrisos estampados devagar nas rugas destes rostos,
Pois várias faces têm aqui passado, livros lidos, é factual,
Porto sentido, margem estendida onde há fogos postos,

Pois eu sou as ruelas e as calçadas sob os passos já dados,
Grave e sério, sorridente e brincalhão à luz incandescente,
Era a primeira vez, o pé descalço nos espelhos quebrados,

Não obstante, esse tempo é tempo a mais, somos meros acenos,
Apelos na tentativa de nos adaptarmos, que sim, nos acrescente,
Pois pretendemos a plenitude do hoje, não um mais ou menos.

segunda-feira, 3 de março de 2025

O Último Acto

Sim, apressa o passo, mas mantém a sua cadência,
Olhos fechados, os dias não são grandes o suficiente,
Mais um adeus, não tem fim esta solidão sem clemência,
A agonia do amor, essa verdade de quem nela vai e mente,

Onde estrelas transbordarem, num alado firmamento,
Tão nostálgico, trazemos nos pulsos sonhos paletizados,
Preparados para a descarga, ou para o armazenamento,
Crus e enviados para o seu destinatário, estigmatizados,

Nunca foi suposto ter enfim um final mais do que feliz,
Por fim tenho espaço para admitir o quanto estava errado,
Estanquemos a ferida, curemos esta moribunda cicatriz,

Que esta morte seja breve, pois já não é possível viver,
Cansado de andar aos círculos dentro de um quadrado,
Se fosse um filme, este seria o final perfeito para um cadáver.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Além do Desencontro

Os meus sonhos são feitos de porções inacabadas
De desculpas e obrigados, princípios de quase serões,
Dando goles aos cálices de varas nas costas quebradas,
Onde continuo à procura de seus lábios em novos tubarões,

Avisaram-me sobre a perfídia da Vida, de uma multidão perdida,
Que vai partilhando o caminho do viandante - o mero instante,
Suponho que haverá um dia chegada naquela margem querida,
Porque buscamos um ombro amigo, aquele abraço reconfortante,

Não tenho receio de me perder, tenho mais receio de não me encontrar,
Deixemos ir este passeio dos inadvertidos, este medo do desencontro
É semente para uma raiz que cresce, que no Sol consegue se aposentar,

O vento vem e passa, passa e leva, leva e arranca mais do que consigo mostrar,
E mesmo que um dia a brisa leve os nossos passos para o fim deste conto,
Que reste em nós a essência de quem ousou nunca parar de sonhar.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Ainda Não É Tarde

Para os escravos do relógio dos corredores feitos de escuridão,
Por vezes procuramos a alegria como qualquer sentimento,
De repente vai-se o sonho, de repente perde-se o momento,
Porque o amor é fantasia, sobra-nos assim o ombro da solidão,

As sombras sussurram o que em gritos do saturado se torna,
O coração sabe a paralelo, a razão perde por completo a sazão,
Tricotando almejos, deixando o maior ter finalmente sua porção,
Haja assim cores no abismo mesmo quando somente o cinza retorna,

Talvez estes anseios um dia se tornem novamente simples suspiros,
Mas o rubor vermelho no céu é nosso! O crepúsculo é casa e lar!
Por isso vou e largo a pele, almejando mil e um diferentes retiros,

E a diferença será no olhar, nas lágrimas de fogo, não obstante do lugar,
Morrerei o tempo necessário para viver longe destes meus vampiros,
Que venha o novo reino, somente sei que ainda não é tarde para amar!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Ruas de Saudade

Se ao menos sentisse estes lábios beijados,
E a sua sombra não fosse parte do coração,
Se entre nós não fossemos desencontrados,
Veria algo mais para além desta maldição,

É a saudade tornada em cinzenta nostalgia,
O desconhecer o que é um porto de abrigo,
Algures durante o trilho perdeu-se a magia
E é tarde para reaprender a respirar contigo,

Está tudo bem, deixa o meu amor encontrar-te,
Assim por horas, por segundos, somos novamente,
E não bastaria a mim próprio como perdido bastar-te,

Não serei suficiente nem para estas horas mortas,
Sim, estou extraviado do caminho finalmente,
Por entre as curvas sinuosas e estas ruas tortas,

Se ao menos pudesse de novo sentir o seu calor,
Se este seu olhar, em memória, não fosse ilusão,
Se a ampulheta nos unisse enfim em seu favor,
E não nos deixasse separados e em solidão,

Pois a mágoa se transforma em triste nostalgia,
Pois havemos perdido nosso rumo e direcção,
E tudo o que era luz, virou noite, um outro dia,
E das sombras vindas, há desalento e escuridão,

Por isso minto-me e sonho como se fosse minha,
Como que se o tempo nos concedesse um instante,
Que a vida, por piedade, permitisse uma nova alínea,

Porém, se perdido já estou, e tão e tão, tão distante,
Seguindo solitário por entre as ruas tão e tão sozinho,
Onde vou e sigo com a lágrima no olhar ainda brilhante.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Do Sótão de uma Colina

A regra à excepção é esta agridoce dor desta estação,
Numa sombra passageiro, um monge sem mosteiro,
Na refração de um olhar, sou uma vaca ainda a pastar,
Esperando por prados verdejantes em colinas estonteantes,

Relembro Dezembro escutando chuva a cair, o eco do teu sorrir,
Penso que tenho o suficiente para a Vida, mesmo da casa partida,
Pois é o silêncio entre as palavras, magia de mil abracadabras!
Entre o sono e o quase, quase sonhar, serei o suficiente para gostar

Da abertura dessa porta trancada, vamos indo numa íngreme jornada,
E seguir-te-ei quando cair a cortina, do mais alto sótão de uma colina,
Será escuro então, e o Céu e o Inferno decidirão, não basta o coração,

É preciso também satisfação no embarcar, rumo ao infinito, o eterno procurar,
Neste resto de dedos esticados para o horizonte, erguendo entre mim a ponte,
Estas ânsias tornar-se-ão desejos um dia, e nós continuaremos em busca da magia!


terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Reflexos do Instante

Permaneço perante minha refracção no instante,
O momento é vertido por um poeirento espelho,
O coração atiçado por uma espera sempre anelante,
Sou estranho mediante estes sentimentos, num só joelho

Prometo continuar a ser e acumular o que está por vir,
Enquanto viver, enquanto não morrer, até o sonho terminar,
Mesmo que engasgado por empatia, querendo somente ir
Por onde o caminho me aprouver ou em liberdade me deixar,

E sinto o tempo a passar, sem qualquer sítio onde pernoitar,
A moeda de troca é as areias do vento, seja qual for o intento,
Mesmo que outrora tenha sido asa voando no termo do horizonte,

Hoje sou somente o grito surdo de um instante enfim a acabar,
A lamúria indómita que me leva adiante é sempre este momento,
E entre margens sempre tentarei erguer e elevar seja qual for a ponte!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

A Eterna Saga

Os ponteiros do relógio contam belas histórias inauditas,
Sobre jornadas e caminhos onde o aprendizado é senhor,
Entre o silêncio das rugas, lembranças de quem acredita,
Que a Vida é para viver, então que venha a morte e seu penhor,

Cada linha no rosto é uma vivência transformada em realidade,
Há sim uma beleza dourada no refundar de cada vibrante dia,
Porque as marcas do tempo delineiam as sombras desta idade,
E é a verdade, tal clamor de cidade, o quanto eu a mim me queria,

O fim nunca é o fim, somente outro momento de passagem,
Até o brilho da alma persiste mesmo quando a pele se apaga,
Quando surgir o eterno repouso saibam, um dia serei aragem,

Na promessa do vindoiro, no palpitar esperançoso do coração,
O fim do caminho é apenas o inicio de uma nova e perene saga,
Saibam pois! Nas páginas que escrevi, outros encontrarão inspiração!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Ausência - Entre Ontem e Amanhã

O espelho partido consciente por onde passo descalço,
Entorna-se nestes corredores a mármore revestidos,
Damos a nossa vida por uma revolução em doce percalço,
Que não acontece, somos a penúria de dois corpos despidos,

E quando olho para trás ainda vejo a sua mão na minha,
Aonde se vai e se quebra, novamente, o quebrado coração,
Pois ensombrado por uma gentil voz que ainda me encaminha,
E sublinha-se a negrito, encaminhado assim numa eterna monção,

E onde sepulcros se erguem, berços choram, é a triste realidade,
Pois permaneço onde estava, não caminho ainda de facto adiante,
Onde amor foi investido não foi capitalizado em total reciprocidade,

Encurralado entre o ontem e o amanhã, isto dentro de mim é vazio,
Como a beleza facilmente se torna em tristeza, é um mero instante,
A retribuição, obliterada, os lençóis amarrotados, tenho tanto frio...

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

As Pessoas Que Vivem No Nevoeiro

Há pessoas que vivem a vida inteira no nevoeiro, 
Sem perceber de todo de que há vida fora dele, 
Trilham caminho tal cigarro poisado em cinzeiro, 
Longe da sua dádiva, sendo só esqueleto sob a pele, 
 
Há pessoas que vivem a vida inteira no nevoeiro,
Cobrindo a face do céu, medicadas e de cinto apertado, 
Enquanto resquícios delas se acumulam em vil bueiro,
Até que o mundo lhes vai levando todo e qualquer bocado,

Acredito que estas tumbas são mais para os vivos apropriadas,
Essa é a maldição dos homens de si para sempre perdidos,
Uma festa de pijama estática de mil vontades quebradas,

Gritos suspensos, respirando sob a água, roubados de intento!
Pacatas e com as mãos sobre a boca, por névoa envolvidos,
Estas sãos as pessoas não vivas e este é o seu destino lazarento.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Do Que Foi ao Que Será

As estrelas relançadas para os braços do horizonte,
Envolvido por reflexos de luz, de roupas rasgadas,
Estrofes e versos capotados diante de urdida fonte,
Deixando estas horas para trás, ao plural largadas,

Esta é a distância entre o que fui e o que serei um dia,
Aqui faremos casa vestidos com essas constelações,
Pendurado de cadentes, procurando a una harmonia,
De tempos passados ainda vindoiros em eternos sermões

De quem foi cego, porém verá, seja qual for o destino,
A caravana dos sonhos, os arco-íris e os seus tesoiros,
Fazer-nos-á chegar e das estrelas serei então seu menino,

E as cicatrizes tornar-se-ão enfim em esbeltos diademas,
Lá do cimo, sendo altura, finalmente livre de tristes agoiros,
A lembrar do que foi, e do que eventualmente será em poemas!

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Entre a Noite e a Aurora

Aqui confesso esta noite desejando ser alvorada,
A manhã que não regressa, o espaço da ausência,
Trovas e sonetos, princípios e fins da madrugada,
A verdade é que sou vazio e solidão em essência,

Persianas fechadas, camas desfeitas e emparedadas,
Procurando sofregamente sua mão na minha, o dilema
É que a ampulheta findou imaginando duas mãos dadas,
E assim se faria o triste feliz, ainda mais belo seria o poema,

Por isso busco a amnésia, uma outra forma de esquecimento,
Murmurando pela ruela nocturna o que ninguém ousa pensar,
Somos amantes feitos estranhos, não há sequer pertencimento,

Somente fumo sobre a água, iris num qualquer tempo perdida,
Reflectindo nas lembranças pousadas num sepulcro - um penar,
Entardeço com a Aurora tal a estrofe ao fundo do baú cedida.

domingo, 1 de dezembro de 2024

Entre Capítulos

Lembranças entre as páginas dos livros que não li,
Aqui foi onde a história terminou, o glorioso final,
De todas as coisas que não fomos, tudo o que não vi,
Para ti fui um capitulo, para mim foste o livro afinal,

Noite e dia, eras tu a tal, apenas tu a reluzir a lua do Sol,
Estivesses perto ou longe, pensava em ti noite e dia,
E rasgava os joelhos de tanto rastejar, a caída no anzol,
Esta solidão é perfeitamente esculpida, a soturna melodia,

Nem importa onde estás, nem o que farás, serei noite e dia,
Há estradas por fechar, tormentos a calcular, beijos por dar?
Talvez, mas vejo caminhos além, onde ainda floresce a poesia,

Pois tranquilizemos a guerra das rosas, e as feridas cicatrizarão,
Rebentados os balões ao vento, há sementes ao chão deixadas,
Delas brotam novos versos, novas histórias, e novas jornadas.

sábado, 16 de novembro de 2024

Entre a Resignação e a Esperança

Pois espera-me luz e brilho na noite vasta e profunda,
Então pelo inóspito irei procurando um dia de pertença,
Independentemente de qual seja a sua sina ou sentença,
Irei poça a poça, charco a charco, por cada pegada imunda,

Assim trilhando através da adversidade feita incerteza,
Há tantos desafios a superar e argumentos a ponderar,
Por entre aceitação do destino que irei de novo enfrentar,
Não me basta o suficiente, é preciso envolver toda a beleza!

E os desafios são inseparáveis da dúvida, qualquer é o dilema,
Pelos obstáculos concretos, haverá sempre reflexões internas,
Por isso vou indo louco e afoito! Mexendo e trocando as pernas!

O impulso irreprimível por algo maior, trarei o coração como emblema!
A intensidade e urgência da busca é visceral, é preciso me reencontrar,
Este anseio é por algo superior e significativo, a alma tem de se revelar!

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Entre Valas Comuns e Amanheceres


É este o martírio vivo por espectros sussurrado,
Entre as valas comuns de alguns lugares perdidos,
Pois larga-se este bater de coração, torna-se inesperado,
Resvalando para outros tempos de outrora então queridos,

Pois acorda para o amanhecer, sê enfim encontrado,
Há feixes de luz gentilmente te tocando a cabeça,
Não mais este homem meio morto, meio quebrado
Vagueando entre cruzes, pois, não há quem o mereça!

Porque tarde ou cedo navegamos num mar de enganos,
Aparentemente indo além, objectivamente parado,
Nesta jaula onde passo tempo, onde passam os anos,

Será que foi sonho o sonhar ter sido efectivamente amado?
Ou pesadelo após a verdade, a guerra entre gregos e troianos,
É indiferente, passem-me em frente, sou um homem fraccionado.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Amarras Soltas e Em Contramão, o Coração

Arregaço as mangas e enfim vem a despedida,
Chegada a hora de soltar as amarras deste cais,
Ande o vento me levar nesta vontade desmedida,
Irei, deixando por cá segredos que não ouvirei mais,

Era a noite, era a lua cheia, primeira dentre tantas,
Fugindo do Sol, escapando da sombra, doce ansiar,
Perdido entre mil contos de fadas, onde me acalantas,
Onde me sossegas e consolas, será esse o eterno lugar?

E com tanto caminho, tantos passos dados, tenho crescido,
Sendo infimamente pequeno tal passarinho recantando,
Seu brilho sussurra-me, pois, um pouco de vida ao ouvido,

Mesmo vindo o carro em contramão, a quebra do coração,
Encontrarei algures no vértice da estrada o estar estando,
E o ser simplesmente sendo, lentamente voltará a inspiração!


quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Fracção do Infinito

Lençóis amarrotados e ao ontem impingidos,
Pendurado de uma estrela, sou uma constelação,
De naus que seguem rotas, mudam de sentidos,
Do Inteiro que outrora fui, sou hoje só fracção,

Pois bem matemáticos excêntricos façam vossa equação,
Pouco me falta mais do que ir cedendo à vontade,
Que dá alívio a quem tem sido somente porção,
Mesmo que enganado por ser só sua metade,

Em boa verdade, há um frio que vai e subsiste,
Por onde quer que vá, mesmo que seja verão,
E formos prontos pr'a guerra de armas em riste!

O restante é só poças de água para chapinar,
Saltando para os charcos, permitindo a sazão,
Esqueçam pois quem tenho sido, todo este tentar.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

A Todas as Coisas Belas

Trago lembranças prendidas nos cabelos do vento,
Porções belas de momentos entretanto sossegados,
De espelhos quebrados onde hoje me torno sedento,
De vida, de morte, sob asas de contratempos desossados,

Galinhas de plástico correndo com a cabeça nos braços,
Vagueando deixando rastos de sangue, há aqui beleza…
Pois apontei a todos os aviões e retive-os em abraços,
(Então) Porque é que estes lençóis narrariam somente tristeza?

Assumo-o tal como o suponho, talvez sim a pontos de interrogação!
Conjugados com oxigénio engolido a colheres, meio hesitante,
Pois logo seremos gota de oceano, gesto estatístico ou medicação

Refreada em cápsulas à prova de água, retendo a respiração,
Ofegante ou anelante, deixa lá, que venha, pois, o instante!
Mas, porque é que todas as coisas belas sofrem do coração?