quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Fracção do Infinito

Lençóis amarrotados e ao ontem impingidos,
Pendurado de uma estrela, sou uma estação,
De naus que seguem rotas, mudam de sentidos,
Do Inteiro que outrora fui, sou hoje só fracção,

Pois bem matemáticos excêntricos façam vossa equação,
Pouco me falta mais do que ir cedendo à vontade,
Que dá alívio a quem tem sido somente porção,
Mesmo que enganado por ser só sua metade,

Em boa verdade, há um frio que vai e subsiste,
Por onde quer que vá, mesmo que seja verão,
E formos prontos pr'a guerra de armas em riste!

O restante é só poças de água para chapinar,
Saltando para os charcos, permitindo a sazão,
Esqueçam pois quem tenho sido, todo este tentar.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

A Todas as Coisas Belas

Trago lembranças prendidas nos cabelos do vento,
Porções belas de momentos entretanto sossegados,
De espelhos quebrados onde hoje me torno sedento,
De vida, de morte, sob asas de contratempos desossados,

Galinhas de plástico correndo com a cabeça nos braços,
Vagueando deixando rastos de sangue, há aqui beleza…
Pois apontei a todos os aviões e retive-os em abraços,
(Então) Porque é que estes lençóis narrariam somente tristeza?

Assumo-o tal como o suponho, talvez sim a pontos de interrogação!
Conjugados com oxigénio engolido a colheres, meio hesitante,
Pois logo seremos gota de oceano, gesto estatístico ou medicação

Refreada em cápsulas à prova de água, retendo a respiração,
Ofegante ou anelante, deixa lá, que venha, pois, o instante!
Mas, porque é que todas as coisas belas sofrem do coração?

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Armadilhas do Firmamento

Há armadilhas penduradas dos pés do firmamento, 
Escondendo a tristeza atrás de olhares penitentes,
Onde de outrora dois raiou deste protelado casamento,
Não adiado, mas arruinado no trilho dos renitentes,

Essas emboscadas são para os sonhadores esperança,
Para que quando não alcançadas a sua misera fracção,
Fracturados até sua utopia se tornar só lembrança,
E fugirmos da herança cerúlea onde se vicia o coração,

Escrevo palavras tal mágoa de um pianista perambulado,
Dentre margens e lugares ainda por serem em nós visita,
Esqueçam… o poeta foi de novo por si próprio prorrogado,

São as notas e os acordes desta estação ondeando ao vento,
Finando-se num olhar cerrado, num destino de si parasita,
Aonde anjos fizeram aterragens forçadas em porto turbulento.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Na Berma da Saudade

Entre o momento ido e o instante entretanto pausado,
Relembrando os traços dos beijos perdidos, não dados,
Encarando o perdão invertido, o toque por si fragmentado,
Por lágrimas então polidas por círculos tornados quadrados,

Trago a algibeira cheia de esperanças por palavras fracturadas,
Os toques suaves e mornos em mil sonhos por estrelas deixados,
Perdoa-me por nunca ter sido o que querias, as nascentes secadas,
De sentimentos para poder exprimir a carência de amantes separados,

E enquanto durmo querubins passam-me expeditos através das retinas,
Mensageiros do inaudito, do divino, do perecível perante a humanidade,
As andorinhas atravessam o céu e abrem o trilho para terras clandestinas,

Pois tudo me faz relembrar dela, de um amor morto na berma da estrada,
Sem luzes radiantes no fim do túnel, entre o céu e o inferno esta orfandade,
Em jazigo aberto, vala e sepulcro desta triste noite até ao início da alvorada.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Viandante no Nevoeiro

A noite vem e cai que nem uma cortina sobre este olhar,
Navegando tal idos fantasmas por quartos poeirentos,
A vida parece um fardo, parece que para nós não há lugar,
Pois o passado se tornou fracção de mil e um fragmentos,

Pois o viandante está longe da origem, apartado da chegada,
Esqueceu-se do seu trono, da sua coroa, do seu celestial legado,
Onde as estrelas fulgiam, perto da sua pele, doce e sossegada,
Pois deita-me outra bebida e eu deixarei este amor alfandegado,

Sim, estou perdido desde que se escapou a sua mão da minha,
O doce ideal, quase fatal, aprimora-se a necessidade de uno ser,
Quem me dera conseguir, quem me dera reter essa torpe ladainha,

Tomei o que merecia, e é nenhum ou qualquer um o aprendizado,
Vai o orfão pela estrada sem fim num nevoeiro que não deixa ver
O que poderá vir, o que poderá colar num coração estigmatizado.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O Voo e o Labirinto

Rasurando as sentenças outrora em pedra escritas,
Nunca soubemos qual o futuro que nos era reservado, 
Não choraremos pelo pássaro que voou nas horas malditas,
Não rezemos pois para ele voltar, será que voou todo o voado?

E nesse bocado, um amigo caminhando este mesmo caminho,
Rascunhando sonhos até ao nascer do sol tal como profetizado,
Onde regressarei no detalhe da manhã num beijo com carinho,
Cada carta trocada constelação cintilante para o já encontrado, 

E mesmo que caia, erguer-me-ei num gesto de esperança,
A felicidade é eufemismo, indizível ante qualquer estranho,
Imbricada num jardim de quietude guardado em lembrança,

O homem insano morreu a apontar para o Sol e a beijar o Luar,
E nesse longo labirinto há momentos a conter longe do rebanho
Onde seremos por debaixo de uma estrela num eterno e belo lugar. 

terça-feira, 27 de agosto de 2024

A Queda do Sonhador

Esta é a queda do sonhador do apogeu do alcançado,
Onde Deus se ri de seus planos, a triste atribulação,
E onde as lágrimas caem nas páginas do rascunhado,
Vagões mortos na vertical por um contrafeito coração,

E mesmo assim não somos ao Céu qualquer chegada,
Reticentes quanto ao que passou, quanto ao que virá,
Perdoa dizê-lo, parece que temos a alma amordaçada,
Olhos postos nos relâmpagos da tempestade que cairá,

Milhões de sonhos acordados perdidos onde a ouvia
Renitente, cura a sua alma, dá-lhe o bilhete de partida,
Mesmo que nunca mais volte, antes apenas a pretendia,

Em estações esquecidas pela poeira, pela vontade de viver,
De onde vidros azuis são horizonte e esta vontade rescindida
Não mostra a tinta cinzenta que se evade do Céu, é deixá-la morrer.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Transitoriedade

Dentre estas mãos rios de areia vindos de ampulhetas,
Eu, proveniente do estelar, hoje virado somente poeira,
E o tempo jocoso brincando com o destino de mil poetas,
É aproveitar enquanto esta Vida for da Morte sua solteira,

Dentro destes olhos luzes e reflexos do que trago nos bolsos,
Tu, um pouco de sol manchado ao mais negro do negrume,
E a tempestade cujas tentativas não te arrancam destes ossos,
Sim, estás tatuada nesta alma ofegante que tenta seguir incólume,

Pois cada chaga e cicatriz foi outrora arco-íris, sorriso e flor,
Por uma estrada onde sonhávamos sem ansiar qualquer fim,
E por entre a brasa veio o frio, o gelo, e a verdade que incolor,

Foi tornando dias em noites, este poema longe dos teus caderninhos,
E há muito tempo que esperei, aqui vagueando ante o anjo serafim,
Pois qual o significado de continuar sem ti se for por distintos caminhos?

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Entre Eu e Ela

Há um mar de tempo que nos separa, imenso e frio,
Onde as marés se viram em ondas e se desdobram,
Num silêncio que mil mundos expressam e cobram,
Tão silentes num vento que resfria de um amor tardio,

No longínquo horizonte, vejo os toques enunciados,
Mas entre nós, um nevoeiro denso que se interpõe,
Envolvendo tal véu que o triste destino nos impõe,
O peso de um sentimento inerte de outros passados,

Seu olhos, como estrelas, guias nesta lúgubre noite difusa,
Porém o caminho impassível, para lá de longo e desolado,
Pois ouço nossos passos e cada passo, um sonho já quebrado,

Entre eu e ela, o não fadado, o poeta adiante sem musa,
Marcando sobejamente a distância de um beijo ausente,
Num amor que vive somente no resquício que se sente.

Entre Incertezas e Propósito

Entre a busca, o desafio é esta inquietação: o propósito,
Cada passo um poema de carga emocional profunda,
Refectindo a complexidade da existência tal apósito,
Deus nos detalhes e rostos iluminados em luz difunda,

Sugiro uma busca interior, uma procura por sentido,
Esforço em vão, em angústia não minha somente,
Onde, perdidos entre o começo e fim do pretendido,
Nos deixemos ir indo para alcançar o destino da mente,

Deixemos orientações e inspiração para quem nos ousar seguir,
Transmitindo esse conforto de pessoa a geração em geração,
Pois procuramos respostas num mar transitório que está por vir,

Mesmo que essa verdade seja enganosa e pouca luz oferecer,
Que estes ossos cheguem bem além e que entoem esta canção,
Nesta doce amalgama de incertezas, hei-de lá chegar, hei-de-o ser!

Entre Partidas e Chegadas

Rostos preenchidos pelo Luar, procurando lugar,
Em sítios há muito esquecidos, o sono não vem,
Por isso me movo entre os lençóis a esbanjar
A energia que não tenho, os gemidos que ouvem

Não são meus, mas de um outro ser, bem perdido,
Extraviado entre a partida e a consequente chegada,
Será que ele sabe que à partida sempre será bem-vindo
E que só chega quem tenta ir e isso é a ponte destinada,

Da canção que é trauteada simplesmente de mão em mão,
Que é asa e pluma para quem procura, para quem indaga
Na inquietação do momento passageiro, no fugir do coração,

Pois que importa a minha verdade se até o espelhado mente,
Entre mil muros e a semente que a Vida um pouco de luz traga!
O restante é somente resquício do passado indubitavelmente.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Resquícios de Resignação

Pedaços de sol em passagens de Luz, poeira ao vento,
A canção continua a ser mesma num rio sem ter fim,
Uma gota de água num oceano aparentemente turvento,
Sem minutos que sobrem para mais um instante assim,

São sonhos translúcidos crescendo no peito do trovador,
Mais sentido, haverá dias tal como noites tem havido,
Sem inquietação ou desespero, esta é a imaculada dor,
Para o viandante que por vezes do caminho é perdido,

Enquanto ouço o resfôlego dos fantasmas entre nós,
Entre miragens e alucinações de palavras inauditas,
Há silêncio onde ontem havia ruído, subtrai-se a voz,

Trago um sorriso na alma aqui estampado - tatuado,
Por instantes que foram nossos, e tu ainda acreditas?
Já sei que não, por isso amarei por dois o porcionado.

Fragmentos de Areia e Tempo

Há cortinas ondulando ao vento no olhar desafixado,
Sem sono que me socorra, que me leve para o além,
Com estes olhos cansados levados pelo outrora andado,
Que trago aos ombros tal escombros, podia caminhar sem,

Há pesadelos ainda por ter numa vida que continua adiante,
A sua ausência lembra-me o quanto que estou ainda perdido,
Por isso vou entre os cantos e as esquinas num voo inebriante
Sem as asas, sem voar, de coração na mão a querer ser vendido,

Se ficar em casa longe do frio e da chuva a Vida passa-me ao lado,
E a sua querida face manifesta-se entre os novelos destes tempos
Sem rosto, num caminho vou correndo melancólico e obnubilado,

Pelo resto da Vida ou por um bocado, perdi de mim fragmentos,
Vejo-me reflectido pelos vidros azuis de mil e um contratempos,  
Trago-te tal areia entre os dedos e para sempre são esses momentos.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

O Frio

Esvoaçamos que nem pássaros pelo céu, calados,
À deriva como fantasmas e sempre tão perdidos,
Parece que escasseiam ou mesmo faltam bocados,
Para nos encontrarmos na Luz, sermos acolhidos,

E se evitarmos a chuva nunca seremos do sol dignos,
Estas estações estagnam quem delas vai dependendo,
Pausamos para explicarmos estes cancros benignos,
Podemos ter os corações partidos, mas quase vivendo

Procuramos sentido às palavras silentes dos desencontrados,
E novamente, faltam bocados, porém há ainda intenções,
Partes de pétalas, partes de amantes nunca expirados,

E é o vazio desta casa que se tornou parte do meu vazio,
As cadeiras empoeiradas, o inaudito entre dois corações,
Meu amor deixaste-me o fundo das garrafas e o seu frio.

quarta-feira, 31 de julho de 2024

A Primavera Tardia

As flores ondulam dentre os dedos da brisa,
Bailando inocentemente por alheia vontade,
Entre as margens de uma alma tão indecisa,
Pedras atiradas, procurando uma verdade,

A de Amor verdadeiro que tanto me elude,
Porém vem a desilusão com cada madrugada,
Onde espero que o amanhecer me salude
Em esperança que outrora foi tão aguardada.

Mas no coração, a chama vai e ainda persiste,
Como estrelas em brasa cintilando na noite fria,
Onde um desejo que nem o tempo jamais desiste,

Pois mesmo na incerteza e nesta melancolia,
Renasce a fé de que o amor ainda existe,
E refloresce como uma primavera tardia.

Amor Silente

Há tantas memórias entre as palavras agora silentes,
Algo entre nós os dois, abraços e toques esquecidos,
A subtileza de um só beijo dado em noites confidentes.
São os instantes e momentos pelo sonhado enaltecidos,

Perdoa-me a mágoa conferida, nunca foi o pretendido,
Agora esta ausência torna-se presente, e o amanhã,
As horas partilhadas entre a esperança de um apelido,
Acerca-se o que vem, deixa-se o que foi, pezinhos de lã,

Amor, és estranha nestes lábios que foram teus outrora,
Anseio o estelar, um firmamento onde somos o caminho,
Caminho esse perdido tal areia dentre os dedos da hora,

Somos as cores que adornavam o céu, e a sombra deles caída,
Hoje, a pausa e paragem entre dois corações, o eu sozinho,
Ainda estão para vir muitas eras para que enfim feche esta ferida.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Raízes do Tempo

Tal como as árvores, morrerei de pé um dia,
Substantificado por um instante passado,
Sim, eu acredito ter sido parte da magia,
Apesar de saber que o instante está acabado,

Escrito em linhas cerúleas, de coração quebrado,
Entre gritos escutados do topo destes telhados,
Ainda não desisti de sentir o que é ter amado,
Independentemente do quanto temos procurado,

Urdimos templos erguidos a deuses esquecidos,
Algibeiras furadas que não contêm o horizonte,
Já fui o moço correndo e brincando embevecido,

No rio do tempo sem ter qualquer tipo de guarida,
Por outrora ter sido a árvore, a sua sombra e fonte,
Que esse amor vivido faça eterna esta minha Vida!

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Inquietação

Procura-me e encontra-me... Preciso de ser encontrado,
Subindo escadas feitas de cerúleo, esperando pelo ideal,
Sei que por vezes o tempo passa e deixa-me fragmentado,
Apenas pretendo o momento em que seja tudo menos banal,

O sol da manhã não é o suficiente para me manter acordado,
Arranhando as paredes desta cela, procurando lá fora inspiração,
Somente para não me permitir adormecer, quero ser tocado,
Somente para permitir o continuo bater deste meu coração,

Contudo, no meio deste caos abrupto, ainda não encontrei estação,
E tenho sido veementemente por estas ondas do tempo levado,
E esquecido por tudo o que tem de mim sido e ido, abdicado,

Percebei, a viagem tem sido passo a passo numa terna hesitação,
E as suas bagagens têm sido fundo de algibeira no peito cravado,
Há tempo para tudo, menos para no mesmo sítio ficar parado.

Ecos de Desalento

O trilho dos vagões abandonados jaz perante o olhar,
Um sepulcro para os curiosos, abismo para os sem rede,
Eu sou a Queda do firmamento, a tentativa de esvoaçar,
Mesmo que sem asas ou água que consiga saciar esta sede,

Ninguém virá ajudar, somente ecos de prantos conturbados,
Sozinhos e isolados, somos órfãos prendidos em arame farpado,
O meu reflexo é fidedigno nestes mil e um espelhos quebrados,
E perdi o fulgor nos lábios, a água no ver de quem eu tinha amado,

Trago algibeiras furadas, sonhos presos nos cateteres intravenosos,
Esta intensidade é profunda, mas não é ao Mundo de cá pertencente,
É um ontem sem amanhã, escape para a realidade, instantes saudosos,

Onde rezamos por um pouco de paz, o abraço que é a única envolvência,
Até quando vou e coloco o pé à estrada e no caminhar sou reticente,
Sou amador sem coisa amada, em mim essa é a única e vera essência.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Reflexos do Abismo e Luzes do Cosmos

Eu enterrei meus sonhos no fundo do abismo,
O cárcere dessa prisão é o reflexo do espelho,
Exaltando as sensações por este meu lirismo,
Aonde vou vendo a criança torna-se no velho,

Em erros azuis e mapas provenientes do além,
Afogamo-nos numa gota de água, vem a manhã,
A cama desfeita que vamos fazendo mal ou bem,
Caímos do precipício, e tudo para trazer para cá

Pedaços do velo estelar, o sorriso de Deus em porções,
Assim o poeta se revela e assim o trovador é o mago,
Entre a penumbra da noite sem fim há bateres de corações,

Mesmo quando não há mãos tentando nos assegurar,
Mesmo quando na algibeira não tenho aquilo que trago,
Por isso apelido as estrelas de irmãs e reaprendo a beijar.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Além do Velo da Humanidade

Parece que abstinente será a próxima aventura,
Das coisas fulminantes que procuram a alegria,
Mesmo dentro da cirurgia e sem qualquer sutura,
Nunca iremos deixar de procurar por vera magia, 

Que venham as dores do parto, os indícios da partida,
Sem regresso estimado ou qualquer vontade de voltar,
Não há mais juramentos ou sequer a promessa devida,
Pois tudo vale e nada vale, na Guerra das Rosas, no Amar,

Por isso gesticulo e esbracejo sem qualquer limite,
Almejando o sol, o céu e o mar num aqui e agora,
Indo mais longe do que este humanidade o permite,

Esvoaçando dentro de mim com estas asas de condor,
De silêncio delineado nuns lábios rascunhados a outrora
Lápis cerúleo, para além de todo o prazer e de toda a dor.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Rios Alados e Lanternas Eternas

Assim seguirei rios alados que nem cavalos selvagens,
O irromper dos relâmpagos terei como a vestimenta,
Venha a noite e a manhã e suas mil e umas imagens,
Por um dia triste que outro dia feliz aqui me ornamenta,

O desvario por onde fomos e perdemos a noção da hora,
Tal crianças vadias em tantas e tantas travessuras eternas
Ficarei no apelo da dor quando nos formos todos embora,
Deixa em teu encalço as tuas milhares de acesas lanternas,

Se morrer aqui e agora, morrerei feliz nesta linda partida,
Em discussões com Deus, desse olhar sinuoso e risonho,
Meu choro, coisa pequena nesta alma viva e sempre contida,

Guardo renitente o cálice dourado de um beijo terminado,
Mesmo que carente aventuremo-nos pois assim é o sonho,
Seja alegre ou tristonho, porém num canto alto e obstinado.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Trazendo uma Fénix no Coração

São os ecos de um sonho perdido, fragmentos do esquecimento,
A resignação à estrada vista pelos olhos diáfanos de pouco ver,
Estas lágrimas translucidas são apoteose para o passado momento,
Porém também legado e facto de que estamos a ir e estamos a viver,

Mesmo que rumo ao esvaecimento, a uma saudade sem qualquer cura,
A Lua nos charcos, o vento no cabelo, trago em mim cadernos de poesia,
A nenhum lugar condenado, o doloroso que fica em nós e que dura e dura,
Sou morte e renascimento, pluma de fénix em cinzeiro, oh que doce algesia!

Este é o fim de um anseio, o assentar da poeira, trago na vista o entardecer,
A pétala da flor descarnada e encarnada em mim, é uma estrada de fragmentos,
Pois para nela ir e conseguir ser nesta Vida, por vezes é preciso também morrer,

Portanto sim, há silêncio dentre estas palmas das mãos entre si e por si cerradas,
Desesperançando onde outrora somente havia esperança, assim são os sentimentos
De um poeta vagueando entre planícies, aguardando, porém, as estrelas almejadas.

Memórias de uma Vida Preterida

Assim ansiando estrelas numa busca interminável,
O Sonho está enfim morto e agora aqui enterrado,
Recomeço do início com esta vontade indomável,
E irei pela estrada e bermas apesar de quebrado,

Com ela ficou parte e fracção do que era fragmento
De mim e em mim, estarei eu ao nenhures condenado?
Hoje prefiro as manhãs, são a lembrança dum momento
Em que eramos complementares e me sentia enamorado,

Beijo as memórias que são estes pulsos ensanguentados,
Pois sou quase menos, sou a Lua pelos charcos reflectida,
Percebem porque de mim em mim sou mil aposentados?

Trago-a perto, na algibeira ao lado de uma luzência querida,
Pouco mais tenho a fazer cá pois os bares estão fechados,
Ao esquecimento rumo, ao esvaecimento de uma Vida preterida.

terça-feira, 18 de junho de 2024

Estilhaços de Uma Jornada

Caminhando nos dedos dos pés por uma Vida,
A procura por um lar tem sido um belo percalço,
Aonde temos ido e vindo por uma aventura querida,
Por onde temos quase chegado em seu doce encalço,

Estas quase plumas são asas em cansaço enfim tornadas,
Coração solitário perdido entre uma multidão sem rosto,
Pois as braçadas são para a eternidade palpitações entoadas,
Abraçadas, envolvidas e num sorriso comovidas, porém o oposto

Também trago, pois, a morte foi o tocar seus lábios ornamentados
A felicidade, a glória, a beijo ecoado num infinito e terno momento,
Nosso reflexo mudou e somente ficaram estes mil espelhos quebrados,

Fragmentado não pela tormenta, mas pelo subtil toque desta brisa então,
Que mutilou as artérias, deixando lágrimas e sangue onde só ficou o vento,
Não quero saber se ficar aqui para sempre segurando nada para além do coração.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Trilhos de Ausência

Os trilhos do caminho exibindo a sua ausência,
Um último trago para recuperar destes sentidos,
Tropeção para os astros num tapete e a luzência
De um êxtase cadente dentre mil beijos perdidos,

Anseio por luz pois os vagões vão na escuridão,
Estas paredes interiores, prisão para a felicidade,
Correntes envoltas por asas quebradas, combustão,
Aqui - onde íamos de mão em mão em reciprocidade,

Invadido por vigílias ao gelado cadáver do passado,
Restos de sonho, a minha mãe partiu ainda era criança,
Com os olhos na estrada, órfão solitário, fragmentado,

Esta Vida é tempo recluso, tarde ansiada sempre distante,
O meu Amor sozinho negou esta nossa única aliança,
Parece que quem partiu é fantasma em ido instante.

domingo, 9 de junho de 2024

Estrelas Cadentes e Esperança

Esperança é a saudade que no futuro projecto,
Um destino por acontecer, um abraço a esperar,
Pois mesmo na ausência será que já estarei perto
De, apesar do silêncio, ouvir vosso eterno sussurrar?

A esperança guia-me tal estrela oblíqua e cadente,
Depositada no peito como a luz de um doce sonho,
Pois mesmo que por vezes só haja a escuridão à frente 
Devemos sempre procurar por um reencontro no risonho,

Na calma dessa esperança, essa tormenta tão próxima,
Esta alma ansiosa, solitária, vai aguardando um abraço,
Vosso olhar distante e sem promessa de volta, a lástima

De não sabermos qual o nosso fragmento, nosso fado,
Descansarei algum dia minha cabeça nesse terno regaço
Ou serei só mais uma alma perdida de um tempo eclipsado?

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Elegia Para Orfeu

Seguirei até aos Infernos as suas lúgubres pegadas,
As suas lágrimas somente carreiros para os suspiros,
Por entre as cordas soltas destas mil liras quebradas
São elegia para Orfeu pelo enxofre que aqui inspiro,

As sombras que me acossam, a morte e a paixão, 
Resgatarei o meu Amor por tudo que é sagrado, 
Ouçam este lamento sobre a forma de canção,
Esperancei com sua melodia neste meu fado,

A tristeza é assim deste moribundo rapaz das estrelas,
É o eterno pois a fugir-lhe entre os dedos entrelaçados,
A alma em Tártaro, escapa-se em lembranças de aguarelas,

Era, pois, Eurídice a delicada promessa - a morte do poeta,
O destino, a saudade, o Ver entre si a escuridão dos olhados,
Tragédia dolorosa na dor afagado por esta caminhada obsoleta.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

O Nosso Tempo É Passado

As cadeiras vazias ostentam as memórias de ausência, 
Ditando pós de ouro num olhar submisso ao passado,
As fragrâncias do seu perfume na noite e a sua essência,
Estas roupas vazias de tempo resgatado em garrafas de fado,

Que é meu momento, eclipsado pelo vento, um beijo na brisa,
As águas do rio enlevaram-nos para um longínquo oceano,
Já te esqueceste da nossa canção, aquela que fulgia indecisa,
Este sorriso cravado em profundas cicatrizes, a dor do insano!
 
Entretanto, não tenho nada para lembrar, nada para esquecer, 
Se partir amanhã, serei somente mais uma sombra neste panteão
De Vida, onde o Amor é barato, onde os berços são para morrer,
 
Estas trevas são sangue não fluindo, não há razão mais para sonhar,
As estações revolvem cobrindo com Tempo os restos do coração, 
Vivo no tempo errado, vivo no lugar errado, sem espaço para amar.
 

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Trazendo

Trazendo no olhar e vista esta enxurrada,
Desde o início me resta a eterna chamada,
Um vento tão cruel as lágrimas enlevando,
Ouvindo só o som de uma alma quebrando,

Trazendo no peito esta saudade de uma geração,
Sou do Cupido peão, simples poeta, a refração
De luz num instante inexacto, dou-me por fraco,
Pois não a consigo esquecer mesmo Dionísico,

Trazendo fantasmas na mente e no caminhar,
Sozinho e mal-acompanhado, rápido e devagar,
Sinto a sua falta, reaprendendo esta companhia,

Trazendo-a sempre no coração, que doce maldição,
Nada mais para andar, nada mais aqui para amar,
Eu sou o meu pior inimigo, a mais cruel contradição.