Blog do músico e poeta português Joel Nachio onde este vai escrevendo e reunindo escritos poéticos.Tal como as músicas são compostos de forma única a partir do mais sublime reflexo, em retoque, do seu sentimento e poesia. Alguns poemas já pertencentes a livros, outros ainda "frescos" e originais no website...
segunda-feira, 22 de maio de 2017
Poeira e Pó
Se ainda respiramos somos os sortudos,
Foram os amantes que deram errado,
Estamos amargurados pelas mais-que-tudo,
Poeira e pó e restos de lenços rasgados,
Escrevemos poemas para os deixar à estrada,
Gargantas doridas tornam-se sonhos quebrados,
Do princípio somos fim, quase um nada,
Piscando os olhos há tanto e tanto a perder,
As visões do ventre materno são eternidade,
Ideias são o lugar lentamente a arder,
Sombras preenchem lugares já sem lugar,
O vazio de outro beijo trazem a inverdade
De um homem apaixonado que não sabe amar.
sexta-feira, 19 de maio de 2017
Coração, Porque
Tropeço em ti, procurando um apaziguamento,
Porém sou refém de tuas mil e uma emboscadas
Que somente me levam para a dor e o sofrimento...
Coração, porque bates e te silencias logo a seguir?
Será que perdeste a luzência e brilho de criança?
Parece que tua paz ainda não está bem para vir,
Será que a tua boémia é apenas uma lembrança?...
Coração, porque não esvoaças mais alto que o céu?
O mundo sem mercê ou sequer um pouco de perdão,
Ainda há tempo para reencontrar aquele leve troféu,
Espero que ainda haja tempo para partilhar uma mão,
Pois à sua ausência pouco mais és que lúgubre mausoléu
Onde dormita para sempre um triste e pesado coração.
Mais um Adeus
Procuramos quem não quer ser encontrado,
Até nunca meu amor, vem minha solidão,
Vivemos a ilusão de um sonho já quebrado,
"Mais um adeus", um outro instante passado,
Viva a agonia e miséria, a lágrima do trovador,
Outra vez maldito, outra vez o desencontrado,
Quem vem não o segura, não lhe confere amor,
"Mais um adeus", uma mão que não foi dada,
Dois não alcançando hoje o esbelto horizonte,
O sorriso ido de uma cama fria, não partilhada,
"Mais um adeus" que parece nunca mais passar,
Para o beijar perdeu-se o chão, foi-se a ponte,
Será assim tão difícil ter quem nos possa amar?
segunda-feira, 15 de maio de 2017
Refém de um Último Beijo
Refém de um último beijo e da sua lembrança,
Da ligeireza com que um abraço é perdido,
Torna o homem novamente numa criança,
Ficando toda uma espera enfim sem sentido,
Pois aguardámos silentes de coração na mão,
Permitindo estações passar e rios chegar à foz,
Hoje não há espaço para conceder seu perdão,
Mas não importa, para o fazer já não há a voz,
Deixando-a deixei parte cativa do meu passado,
Eu morri quando iniciaram a diferir nossos passos,
Momentos e memórias para um futuro partilhado
Não foram o suficiente para manter esses laços
Que envolviam dois numa dança e abraço apertado
Pois que durmam para sempre em mil pedaços.
Poder Adormecer
Ter simples regaço e descanso, o sonho infinito,
Num retrato a ode de cores a um firmamento
Que embeleza as suas redondezas e é bonito,
Esboçando as emboscadas para um coração,
O poeta acenando a mil e uma despedidas,
Jazigo pleno para quem não soube dar a mão
E se foi perdendo à passagem pelas avenidas,
De dedos esticados quase alcanço a lembrança,
Um momento delicado suavemente retocado
Por mim, quase eu, numa sumptuosa dança,
Para mim todo um almejo alguma vez ansiado,
O ar aberto, o sorriso indelével de uma criança
Que trago nas rugas de um dia outrora passado.
Por Janelas de Vidros Azuis
Somos plumas ao vento sendo o voo alcançado
Na queda da montanha até à margem querida,
Sob o indómito desejar de um céu mais azulado,
Procuramos razão para toda uma triste ansiedade,
Para saber que temos céu e chão para o passeio,
O silêncio acontece quando isso não é a verdade
E novamente caímos, reféns desse mesmo anseio,
Almejámos mais do que conseguimos enfim voar,
Passam instantes recordando-nos do findo tempo
Daqueles possíveis beijos que já não podemos dar
E que não há quem pare este tiquetaquear lento,
Há que o permitir, conseguir os passos enfim amar
E esperar que algures belo nos leve este lesto vento.
Procuro na Estrada
Por instantes que me façam inteiro,
Pois à sua falta só resta esta incerteza
Que ofusca a alma tal denso nevoeiro,
Em certas noites vem-me o cansaço,
A fadiga de para sempre ser aprendiz,
Sou parte, fragmentos sou até pedaço
Que em si próprio diz e se contradiz,
Era suposto ter já encontrado alguém
Que trilhasse comigo a vala incerta,
Estranho caso é ainda não ter quem
Para viver esta vida vivida e sonhada,
À margem ou pela porta entreaberta
Desde que longe fosse eu e a amada.
Perdemos o Sol
Derramados em suspiros feitos de luar
Sou espectros de ecos à ida madrugada,
Atento ainda ao passado, procurando lugar,
Para mim não bastam estas mil imagens,
Preciso de brilhos em mim encontrados,
Pois à vista da morte, de cinzas paisagens,
Espero-a onde me perdi, no chão ajoelhado,
Sob a enxurrada pergunto-me pelo destino,
A última despedida removeu todo o fado,
Eu roubo, eu rogo, eu prego tão franzino
Por uma mão na minha ou um beijo dado,
Pois vai passando breve a tarde vespertina
Que não me parece levar a nenhum lado.
sábado, 6 de maio de 2017
Este Desconhecido
A vigília do instante impregnada no presente,
Confere a esta passagem vestígios de beleza
Salvaguardada no coração do homem ausente,
Pedindo o possível desejando todo o oposto,
Assim me ergo onde os Deuses vão tombando,
Através e no firmamento encontrei o encosto
Para do puramente humano me ir libertando,
Guardo numa caixa toda a dor do enamorado,
O tempo passa e traz-me cicatrizes esquecidas,
Eu que os cantos e esquinas tenho aqui tragado,
Serei mais do que as breves estações perdidas?
Não, pouco mais sou do que um presente passado
E escoltado pelos dias ao rodopio das avenidas.
Era à Margem
Tudo de uma vez era luzência e escuridão,
Era o abrir da porta, o rodar da maçaneta,
No pequeno menino que ia de mão em mão,
Perdia-me só pelas horas enfim transviadas,
Na procura incessante e ânsia pela pertença,
As lembranças doutrora das ruelas beijadas
Pouco mais eram do que uma vil sentença,
Confesso às estrelas o indómito sentimento,
E sento-me esperando por cerúleas escadas,
Que me levem para o céu em contentamento,
Que me mostrem beleza pelas noites erradas,
Pois afinal a palma da mão é só um momento,
Onde as horas enfim se dão por idas e findadas.
Percalços e Encalços
Luzências da noite, sombras deste dia,
Outrora era fonte, tudo e quase nada,
Mais do que muito, mais do que podia,
O último dos poetas, beijo-a na testa,
Sou, fui um semblante deste passado,
Hoje outro boémio procurando festa,
Cambaleando torto de si quase abdicado,
Mãe, dá-me a mão, puxa-me para o céu,
Estampa-me o sorriso que foi deixado
Confere-me um caixão que seja só meu,
Um pouco do firmamento tão, tão amado,
Cansado deste andar por campos de asmodeu
Por mim já tão esquecido, por mim tão ansiado.
Passo a Passo
Na vereda do sonho vem outra despedida,
Parte-se o coração, sinto-me tão sozinho,
Assim não alcançando a margem querida,
A envolvência do mesmo olhar perdido
Entre arvoredos por ontem ensombrado,
Caindo pelo horizonte em mim expedido,
Sem destinatário e por ninguém esperado,
A brisa e o vento, meus nomes abreviados,
Através da planície, o ausente desta vida
Entre margens de sonhos sempre adiados,
Sou as ruelas, sujo e ímpio, sob a lua partida,
Poças de água choca, pores-do-sol deixados,
Atrás, os ecos largados são ósculo à avenida.
segunda-feira, 1 de maio de 2017
Daqui
Daqui, sonhos ausentes são acordados,
As suas plumas destas costas penduradas,
Estala a madeira sob os olhos cerrados
Pela colina abaixo apanho as enxurradas,
Canta o meu rouxinol e vem a madrugada,
Acredito em princesas e anjos do mundo,
Não sou único, punhos fechados à alvorada,
Sou a montanha escalada pelo vale profundo,
As algibeiras por nós de cabelos alinhadas,
Sussurrado por cada direcção, qual estação
Será lar para o vagabundo? Garras cravadas,
Respiro o afago de Deus e canta o coração,
Porque não me vês tu de peles pigmentadas?
Eu só preciso do arremesso dado pela tua mão.
Um Último Beijo
Seus lábios sepultura neste resto de mim,
Tanto já feito, tanta cor por aqui deixada,
Será mais do que pluma caída do querubim?
A lágrima largada ao desleixo da enxurrada,
À penúria do instante do demónio andante,
Eu, o poeta trovador tocando a trovoada,
Cativo do seu olhar ermo, frio e hesitante,
Em cada rio há um cinzeiro: eu na rua,
Minhas musas, minhas Oressas - sou recluso
Do breve passado, da minha mão na sua,
Saudade deste coração cego e alado a correr,
Saibam que outrora fui parte do sonho difuso
Pois à sua ausência por cá ainda prefiro morrer.