quarta-feira, 31 de julho de 2024

A Primavera Tardia

As flores ondulam dentre os dedos da brisa,
Bailando inocentemente por alheia vontade,
Entre as margens de uma alma tão indecisa,
Pedras atiradas, procurando uma verdade,

A de Amor verdadeiro que tanto me elude,
Porém vem a desilusão com cada madrugada,
Onde espero que o amanhecer me salude
Em esperança que outrora foi tão aguardada.

Mas no coração, a chama vai e ainda persiste,
Como estrelas em brasa cintilando na noite fria,
Onde um desejo que nem o tempo jamais desiste,

Pois mesmo na incerteza e nesta melancolia,
Renasce a fé de que o amor ainda existe,
E refloresce como uma primavera tardia.

Amor Silente

Há tantas memórias entre as palavras agora silentes,
Algo entre nós os dois, abraços e toques esquecidos,
A subtileza de um só beijo dado em noites confidentes.
São os instantes e momentos pelo sonhado enaltecidos,

Perdoa-me a mágoa conferida, nunca foi o pretendido,
Agora esta ausência torna-se presente, e o amanhã,
As horas partilhadas entre a esperança de um apelido,
Acerca-se o que vem, deixa-se o que foi, pezinhos de lã,

Amor, és estranha nestes lábios que foram teus outrora,
Anseio o estelar, um firmamento onde somos o caminho,
Caminho esse perdido tal areia dentre os dedos da hora,

Somos as cores que adornavam o céu, e a sombra deles caída,
Hoje, a pausa e paragem entre dois corações, o eu sozinho,
Ainda estão para vir muitas eras para que enfim feche esta ferida.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Raízes do Tempo

Tal como as árvores, morrerei de pé um dia,
Substantificado por um instante passado,
Sim, eu acredito ter sido parte da magia,
Apesar de saber que o instante está acabado,

Escrito em linhas cerúleas, de coração quebrado,
Entre gritos escutados do topo destes telhados,
Ainda não desisti de sentir o que é ter amado,
Independentemente do quanto temos procurado,

Urdimos templos erguidos a deuses esquecidos,
Algibeiras furadas que não contêm o horizonte,
Já fui o moço correndo e brincando embevecido,

No rio do tempo sem ter qualquer tipo de guarida,
Por outrora ter sido a árvore, a sua sombra e fonte,
Que esse amor vivido faça eterna esta minha Vida!

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Inquietação

Procura-me e encontra-me... Preciso de ser encontrado,
Subindo escadas feitas de cerúleo, esperando pelo ideal,
Sei que por vezes o tempo passa e deixa-me fragmentado,
Apenas pretendo o momento em que seja tudo menos banal,

O sol da manhã não é o suficiente para me manter acordado,
Arranhando as paredes desta cela, procurando lá fora inspiração,
Somente para não me permitir adormecer, quero ser tocado,
Somente para permitir o continuo bater deste meu coração,

Contudo, no meio deste caos abrupto, ainda não encontrei estação,
E tenho sido veementemente por estas ondas do tempo levado,
E esquecido por tudo o que tem de mim sido e ido, abdicado,

Percebei, a viagem tem sido passo a passo numa terna hesitação,
E as suas bagagens têm sido fundo de algibeira no peito cravado,
Há tempo para tudo, menos para no mesmo sítio ficar parado.

Ecos de Desalento

O trilho dos vagões abandonados jaz perante o olhar,
Um sepulcro para os curiosos, abismo para os sem rede,
Eu sou a Queda do firmamento, a tentativa de esvoaçar,
Mesmo que sem asas ou água que consiga saciar esta sede,

Ninguém virá ajudar, somente ecos de prantos conturbados,
Sozinhos e isolados, somos órfãos prendidos em arame farpado,
O meu reflexo é fidedigno nestes mil e um espelhos quebrados,
E perdi o fulgor nos lábios, a água no ver de quem eu tinha amado,

Trago algibeiras furadas, sonhos presos nos cateteres intravenosos,
Esta intensidade é profunda, mas não é ao Mundo de cá pertencente,
É um ontem sem amanhã, escape para a realidade, instantes saudosos,

Onde rezamos por um pouco de paz, o abraço que é a única envolvência,
Até quando vou e coloco o pé à estrada e no caminhar sou reticente,
Sou amador sem coisa amada, em mim essa é a única e vera essência.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Reflexos do Abismo e Luzes do Cosmos

Eu enterrei meus sonhos no fundo do abismo,
O cárcere dessa prisão é o reflexo do espelho,
Exaltando as sensações por este meu lirismo,
Aonde vou vendo a criança torna-se no velho,

Em erros azuis e mapas provenientes do além,
Afogamo-nos numa gota de água, vem a manhã,
A cama desfeita que vamos fazendo mal ou bem,
Caímos do precipício, e tudo para trazer para cá

Pedaços do velo estelar, o sorriso de Deus em porções,
Assim o poeta se revela e assim o trovador é o mago,
Entre a penumbra da noite sem fim há bateres de corações,

Mesmo quando não há mãos tentando nos assegurar,
Mesmo quando na algibeira não tenho aquilo que trago,
Por isso apelido as estrelas de irmãs e reaprendo a beijar.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Além do Velo da Humanidade

Parece que abstinente será a próxima aventura,
Das coisas fulminantes que procuram a alegria,
Mesmo dentro da cirurgia e sem qualquer sutura,
Nunca iremos deixar de procurar por vera magia, 

Que venham as dores do parto, os indícios da partida,
Sem regresso estimado ou qualquer vontade de voltar,
Não há mais juramentos ou sequer a promessa devida,
Pois tudo vale e nada vale, na Guerra das Rosas, no Amar,

Por isso gesticulo e esbracejo sem qualquer limite,
Almejando o sol, o céu e o mar num aqui e agora,
Indo mais longe do que este humanidade o permite,

Esvoaçando dentro de mim com estas asas de condor,
De silêncio delineado nuns lábios rascunhados a outrora
Lápis cerúleo, para além de todo o prazer e de toda a dor.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Rios Alados e Lanternas Eternas

Assim seguirei rios alados que nem cavalos selvagens,
O irromper dos relâmpagos terei como a vestimenta,
Venha a noite e a manhã e suas mil e umas imagens,
Por um dia triste que outro dia feliz aqui me ornamenta,

O desvario por onde fomos e perdemos a noção da hora,
Tal crianças vadias em tantas e tantas travessuras eternas
Ficarei no apelo da dor quando nos formos todos embora,
Deixa em teu encalço as tuas milhares de acesas lanternas,

Se morrer aqui e agora, morrerei feliz nesta linda partida,
Em discussões com Deus, desse olhar sinuoso e risonho,
Meu choro, coisa pequena nesta alma viva e sempre contida,

Guardo renitente o cálice dourado de um beijo terminado,
Mesmo que carente aventuremo-nos pois assim é o sonho,
Seja alegre ou tristonho, porém num canto alto e obstinado.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Trazendo uma Fénix no Coração

São os ecos de um sonho perdido, fragmentos do esquecimento,
A resignação à estrada vista pelos olhos diáfanos de pouco ver,
Estas lágrimas translucidas são apoteose para o passado momento,
Porém também legado e facto de que estamos a ir e estamos a viver,

Mesmo que rumo ao esvaecimento, a uma saudade sem qualquer cura,
A Lua nos charcos, o vento no cabelo, trago em mim cadernos de poesia,
A nenhum lugar condenado, o doloroso que fica em nós e que dura e dura,
Sou morte e renascimento, pluma de fénix em cinzeiro, oh que doce algesia!

Este é o fim de um anseio, o assentar da poeira, trago na vista o entardecer,
A pétala da flor descarnada e encarnada em mim, é uma estrada de fragmentos,
Pois para nela ir e conseguir ser nesta Vida, por vezes é preciso também morrer,

Portanto sim, há silêncio dentre estas palmas das mãos entre si e por si cerradas,
Desesperançando onde outrora somente havia esperança, assim são os sentimentos
De um poeta vagueando entre planícies, aguardando, porém, as estrelas almejadas.

Memórias de uma Vida Preterida

Assim ansiando estrelas numa busca interminável,
O Sonho está enfim morto e agora aqui enterrado,
Recomeço do início com esta vontade indomável,
E irei pela estrada e bermas apesar de quebrado,

Com ela ficou parte e fracção do que era fragmento
De mim e em mim, estarei eu ao nenhures condenado?
Hoje prefiro as manhãs, são a lembrança dum momento
Em que eramos complementares e me sentia enamorado,

Beijo as memórias que são estes pulsos ensanguentados,
Pois sou quase menos, sou a Lua pelos charcos reflectida,
Percebem porque de mim em mim sou mil aposentados?

Trago-a perto, na algibeira ao lado de uma luzência querida,
Pouco mais tenho a fazer cá pois os bares estão fechados,
Ao esquecimento rumo, ao esvaecimento de uma Vida preterida.