Não vale a pena despertar, este é o poema,
Vou embora, serei alguém ao sair por aí fora,
Serei o traço de pincel no bonito olhar de Ema,
Vou embora, escorrendo sozinho atrás da aurora,
Serei água, desaguarei em qualquer constelação,
As mãos lançadas ao vento, o beijo dado à beleza,
Procurando sem saber se é verdade ou alucinação,
A única verdade será saber que tudo é na incerteza,
Navegarei a noite, o cerúleo terá espaço em mim,
Cadente e brilhante, serei o brilho de fora da janela,
Difuso na cúpula do céu, esparso na noite sem fim,
Serei também sombra e semblante na treva da viela,
Espaço aberto para rascunho de carvão e giz e assim
Repousarei preenchido e o Universo em mim terá tela.