Blog do músico e poeta português Joel Nachio onde este vai escrevendo e reunindo escritos poéticos.Tal como as músicas são compostos de forma única a partir do mais sublime reflexo, em retoque, do seu sentimento e poesia. Alguns poemas já pertencentes a livros, outros ainda "frescos" e originais no website...
sexta-feira, 31 de março de 2017
Este Vago Olhar
O beijo de Judas, o apontar de um dedo
Daqueles sonhos abandonados no sótão,
Hoje esquecidos num certo dia tão cedo,
Pois que seja a lua no firmamento vadio
Pois esta saudade é um véu de veludo
Que não permite a passagem ao estio
Sobrando apenas rastos dum sono mudo,
Refractados por essa longínqua confissão,
Sonho com o dia para cantar pretextos,
Por um lugar onde descanse o coração,
Me habitue à distância entre as margens,
À luz da vela ao vento que dita contextos
Um galho para pousar após estas viagens.
terça-feira, 28 de março de 2017
Varrendo
Terra no rosto e pedaços deixados de leve
Nas feições da noite infinda esventrada,
Retocando o silêncio tão curto, tão breve
Que sou legado para quem perdeu a voz,
Esta outrora dada aos cantos da avenida,
Quase tal um rio extraviado da sua foz,
Haja afecto no deslumbrar de uma vida,
Haja vida no decorrer do homem perdido,
Deitado num sonho lindo quase acabado
Em constelações do que hei então querido
Que afaga os poros em impreciso traço,
Não recuso nem escuso o suspiro amado...
Para aqui, sou todo o tempo, todo o espaço.
segunda-feira, 27 de março de 2017
Para Quando
Eu serei chuva para a estação que não passa,
Servindo as sombras que nos antecederem,
Sem memórias de qual a avenida ou praça,
A poeira que vai assentando as promessas,
Os compromissos com a verdade e a madona
Enquanto caíamos desamparados às travessas,
Um suspiro e um pouco de força para respirar,
Por um sol que não se ponha ainda brilhante,
domingo, 26 de março de 2017
Tenciono a Intenção
Sorver a madrugada do céu e tê-la deitada
Por este caminho sem nunca querer parar
E essa vida toda oscular e senti-la amada,
Quando vier a manhã para me levar o sonho,
Outrora eu beijei estrelas e adormeci astros,
Hoje sou a sombra ao sol, feliz ou tristonho,
Deixando atrás brilhantes e radiosos rastros,
Tal uma estrela cadente, tal um brioso poeta,
Sou um pensamento almejando o sentimento,
Nem importa por onde jornadeie neste planeta,
Serei para sempre cativo do diferente momento,
Voluteando gracioso no adejar de uma borboleta,
Através da ponte entre margens sou do firmamento.
sexta-feira, 24 de março de 2017
Havemos De Ter
Estalando o verniz e a madeira desejada,
A saudade é esta ânsia deixada por escrito
Tal o lento acenar da longínqua alvorada,
Os beijos prometidos à rosa e o seu espinho
É um abandono, inverno, pecado, aflição,
Este caminho sou eu logo o faço sozinho,
Porém por onde vou ainda partilho a mão,
Relembra-me um sonho em mim esquecido,
O pastor das estrelas, esvoaçando à desfilada,
Alheio, indo a esmo pelo horizonte perdido,
Pretendo mais do que eu, o céu aberto cerrado,
Estourando no grito da estrada que se vê amada,
E por cada instante senti-lo no peito bem beijado.
segunda-feira, 20 de março de 2017
Assim Chovem Raios de Sol
Esperamos pelo breve instante da madrugada,
A pertença é mútua e maior que a humanidade,
Nestes passos largos dados na berma da estrada,
Indulgência é tentar ver um pouco de beleza
Pelas curvas e envolturas deste insano caminho,
Mesmo tendo na mão aqueles restos de tristeza
Que vem o sonho e então nunca estarei sozinho,
Compromissos com a arte do encontro, quase vejo,
O cego torna-se crente e a aventura é desmedida,
Por esta mão partilhada liberta-se também o beijo
Reconheço-o pelas memórias que entretanto esqueci,
Ele é no caos e no acaso, ela pela margem perdida,
Assim se estendem tal oferendas nas asas do colibri.
sexta-feira, 17 de março de 2017
Somos Encruzilhadas
Navegando desertos procurando amor,
Outrora poetas da longa estrada amantes,
Caleidoscópios brilhantes dispersos em cor,
Vêm as bermas das ruelas próximas do peito,
Mendigo e imploro por um instante de paz,
Por amor para preencher este triste despeito,
Dizer adeus à dor e plenificar as horas más,
De olhos iridescentes, descanso em regaço,
Para assim eternizar o coração hoje ausente,
Buscando conforto na ternura de um abraço,
Ambas sombras reflectindo a luz perdida,
Só anseio acordar este coração dormente
E marear esta barca para uma costa querida.
quarta-feira, 15 de março de 2017
Beijos de Boas Noite
Beijos de boas noites enquanto não chega a manhã,
Poços sem fundo e a alma em si prisoneira,
Escapes com sapatos de chumbo e pés de lã
E restos de vestidos rasgados atirados na lareira,
Entre dias, agonias e pedaços de fragmentos,
Irradiam minhas alegrias deixadas a metade,
São pertença do poeta seus mil e um tormentos,
Trago o esquecimento de toda uma vontade,
Vimos do resto esperando um beijo leve,
Esvoaçando, perdurando, lua na algibeira,
Sendo tão pouco, sendo tão pequeno e leve,
O beijo que não passa quase alcançado,
Deixando os poucos num pouco de poeira
E no pouco quase, quase nunca beijado.
terça-feira, 14 de março de 2017
Nego a Indecisão
Onde estás sonho alado, asa de primavera?
O amor sozinho sabe a pouco, sabe a nada
E não compensa a insanidade da espera,
Trazendo no olhar o beijo imenso de outrora,
Os ecos dos passos suspirados à berma da rua,
Aonde passam os segundos e não vem a hora
Todavia confessamos o feitiço da briosa Lua,
Largamos as malas carregando seu conteúdo,
Aos ombros fantasmas, vultos e semblantes,
Entre trevas e luzes jaz apartado um miúdo
À procura do que se alheou da sua algibeira,
De cores e íris para as ser enfim suas amantes,
Da interrupção da morte do poeta, desta canseira.
segunda-feira, 6 de março de 2017
Sou o Filho do Meu Pai
O viúvo da boa vida, desta geração órfã,
A orfandade é pertença, herói e heroína
Sem ver o brilho de um frutífero amanhã,
Passeio breve para a intenção de futuro,
Beijo curto na testa de Judas o pregador,
Liberado porém rodeado por um muro
Cuja parede é feita dele próprio e labor,
Geração sem propósito, perdida no trilho,
Desejando estrelas sem conseguir voar,
Assim morreu o pai, assim morrerá o filho,
Minha viúva és mátria ausente à intenção,
Devagar devagarinho esquecendo o sonhar,
Actualmente quase sem céu, quase sem chão.
sexta-feira, 3 de março de 2017
Esta Saudade
Arrastando segundos para baixo e eu ensobrado,
É como suster a respiração dentro de um caixão
E numa esquina da noite cair então recostado,
Estas crenças póstumas, esta vontade de viver,
De quando eu era nome e verbo para esvoaçar,
Largam na praça palavras suspiradas a esquecer
Outros tempos, outrora e quão difícil é se dar,
Beija-me as cicatrizes e faz do amanhã promessa,
Há clareiras para receber em júbilo nosso enlevo,
Então seremos sóis a esbater a sombra da travessa,
O espelho do já não visível em esbelto sentimento,
Acreditai em mim, até juro ir por onde não me atrevo,
Assim espero que o mundo se deslinde deste sofrimento.