Blog do músico e poeta português Joel Nachio onde este vai escrevendo e reunindo escritos poéticos.Tal como as músicas são compostos de forma única a partir do mais sublime reflexo, em retoque, do seu sentimento e poesia. Alguns poemas já pertencentes a livros, outros ainda "frescos" e originais no website...
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
A Flor Silenciosa
Ia ficando, não indo nem vindo,
Esperava por um dia de perdão
Anelando por um instante lindo,
Assim sobravam as cicatrizes do inverno,
Longo como a transição das estações,
Perdiam-se porções de amor fraterno
E os restos dormitavam em caixões,
A flor era incompleta em seu calar
O trilho só desencontro nesta terra,
Tomava então tragos de brilho lunar
E perguntava até quando a espera
Por vida estaria prestes a começar
Ou seria este trilho só outra guerra?
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Entoo da Frialdade
Quem espera enfim nunca alcança,
Poetas suspiram por suas amadas
E é essa espera que por fim cansa,
Até se vem dia o dia em si vai e passa,
Visto do canto e o canto é tão sozinho,
Brindemos então de bem erguida taça
Nada será para já neste caminho,
Encarando os dias vem o vil tempo
Rindo-se através de mãos cerradas
Vinha todo o frio em horas de vento
E segundos se vão em ágeis passadas
Entre o branco e negro há cinzento
Enquanto passam as doze badaladas.
Silêncio era Tal
De janelas semi-abertas e cães a ladrar,
Ia então o homem torto pela rua incerta
Querendo apenas a si próprio se encontrar,
Todos os rumos assim não tomados,
Celebrando as vezes em que não houve grito
Para assinalar o penar de uns olhos cansados,
As escolhas que conduzem a nenhum lado
Mesmo que nunca se haja partido
Independentemente do tanto querido
Ou do quanto mesmo se há tentado.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
Finalmente
Finalmente adiante era já tarde de mais
E enfim atrás já ninguém se lembrava,
Ia-se ficando, não se largando o cais,
No buraco que a si próprio se cava,
Ter lar era ideia de neurótico sonhador,
Palavras não chegavam para se ter,
Até o poeta se prostrava feito amador
Teria ele se esquecido de quem ser?
Eram suspiros deixados pelas alcovas,
Atirando infelicidade ao desvalido,
Sorvendo a melodia das suas trovas,
Quantas guerras já havia combatido,
Propiciando cicatrizes como provas
Daquelas vezes em que teria vivido?
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Perseguindo a Rota
Procurando o luar como se salvação fosse,
Um pouco mais de luz e ele seria clareza
Encerrada nos restos de um beijo doce,
A fuga do prisioneiro deixado em liberdade,
Agora era trono esquecido de sua coroação,
Fingindo dar a mão em tempo de ansiedade
Para lá deste jardim só a hora de maldição,
Pedia então da vida só mais um pouquinho
E ela sorria e quase lhe beijava os lábios,
Quase raiava o sol, quase se via o caminho,
O viandante não se passeava mais solitário,
Pereciam os insanos e erguiam-se os sábios
Até não haver mais dias assim no calendário.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Restam Bocados
Uma Vida culminando em barba branca,
Tal o vento varrendo as folhas aquietadas
Que se separam perante a estrada franca,
Pois ela não mente, não diz mais do que é,
Leva adiante os pedaços que já não são,
Nem pede, exige por um pouco de fé,
Mesmo que isso mate o resto do coração,
Deixamos um pouco de nós pelas esquinas
Enquanto a ferrugem se apodera dos ossos,
Vem o vento que deixa o tempo em ruínas
E o tempo que fica deixa de ser bem nosso,
É o suficiente para retirar a luz das lamparinas
Porém não chega para silenciar este alvoroço.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
A Chuva Caí
Preenchendo de passos suas poças,
É na companhia das trevas da rua
Que nem ouço o ruído das carroças,
Faz-se assim o silêncio feito de veludo
Calando então este teatro de papel,
E o tagarela enfim torna-se no mudo
No vesano frenesim deste carrossel,
Com amargura tocava-lhe no rosto
E ela dissipava-se entre estes dedos
E por cada beijo perdia-lhe o gosto
Maiores se tornando então os medos,
Confesso às gotas onde me encosto
Serei eu só sombras dentre os arvoredos?
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Através de Vislumbres
Longe de casa, do destino e de tudo,
A escassez vê-se no olho da escuridão
Onde o frio se deita no corpo desnudo,
O lugar é então lembrança e ilha deserta,
Bruma para o orvalho de acesa alvorada
Quando o passar era errante hora incerta
Para o pé descalço perdido da estrada,
O mundo - uma amálgama de ideias soltas,
Um tremeluzir de uma vontade entranhada
Mesmo sem saber bem ir - em voltas e voltas
Calam os sentidos esquecendo o amanhã,
Só ficam lábios e rosas sob a vista aguada
Na longa esperança pela alvorada irmã.
É Sim o Destino
Porção do passo dado e não dado
Que acorda o viandante tão cedo
No caminho pelo qual vai o passado,
Relembrando o regaço da donzela
Onde segundos perdidos não voltam
Na calma incessante ao passar da viela
São os prantos do não feito que soltam
À rua suas mil sombras e semblantes,
Indagando a procura como resposta,
São esses horizontes hoje tão distantes
Que esvaziam o silêncio para lá da encosta
Em gavetas almofadas em sítios errantes
Onde fumos de sonhos são ferida exposta.
sábado, 2 de janeiro de 2016
A Vida de um Perdido
E a sua alma por um último conforto,
Vinde, sorrio deste ímpio lugarejo
Onde o trilho enfim se dá por torto,
A espera face à promessa do eterno,
Porém em mim pareço já ter partido
Permanecendo parado no inverno,
É perda ao envelhecer da estação
Para quê me dar a todos os instantes
Pois passeando os dias flagelantes
Vem o poeta sem amada no coração.
Compasso Marcando
O prisioneiro da vida procura libertação
Pois o homem sentado na cadeira
Mal coloca a mão no coração
São ciladas deixadas pelo caminho
Que ditam que ele é só mais um
Triste em solidão a vagar sozinho,
Com tantas veredas atravessadas
Hoje já não há pressa para chegar
No trilho que se ausenta devagar,
Na procura pelas ruas quebradas.