terça-feira, 30 de setembro de 2025

Sob a Monção, o Beijo

O poeta pensando que não era efémero o beijado,
Sob árvores e ramos íamos construindo uma raiz,
Que o caminho tinha promessas à alma deixado,
Num Universo Privado colorido a partilhada matiz, 

O prazer da mão na mão, o abraço e até o safanão,
Não a deixo ir, mesmo que o jantar esteja gelado,
Mesmo que o caminhado seja menor que o coração,
Pois por onde houver trilho, é possível ser encontrado,

Por isso por entre o monção, a contracurva e a adaga,
Vou, entre sombras assustadoras, o mundo não mudará,
Depois da possível partida e antes da potencial chegada,

Sabe que antes de mais és toda a minha vontade e desejo!
Não finjo saber o que pretendes, pois o que será, será,
Quando vier o brilho do amanhecer ainda teremos beijo?


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Entre Adeuses e Saudades de...

Caminhamos sozinhos, para ninguém acenando,
Expressões silenciosas que vão para lado nenhum,
Sonhos vazios onde as procuras se fazem buscando,
Os mortos ouvindo discos esquecidos de jeito algum,

As flores dobram-se para o Sol, e eu sou somente lunar,
Por aqueles olhos e toque derrubei panteões de deuses,
De suspiros ao peito, procurando enfim aquele uno lugar,
Onde me posso encontrar, despedindo-me dos adeuses!

E quando o dia terminar teremos sequer exílios onde ficar?
O relento é interno, o frio real, sou seixo saltitando no lago,
E a verdade é que tenho saudades de ir, ser e acompanhar,

Aqueles bocadinhos de Vida que sabem a Amor, a vida vivida!
A pétalas de flor a esvoaçar, aos confetes que no bolso trago,
Comovem-me, enternecem-me, do olá à sua última despedida.

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Da Vala Comum à Sepultura Digna

Dos pedaços desta Vida de que só meus apelidei,
Vós tendes sido o trago de magia, o abracadabra,
Por vil graça, pelos bocados com as quais brindei,
Divino grau venerado, de mil odisseias  à palavra!

E por vós me hei tornado o tirano, louco e ufano,
Por entre corações partidos, o belo do instante,
Portanto voo mais do que brindo ao desengano,
Idas as Oressas, vós sois em mim o único instante,

Pois da vala comum irei até à mais digna sepultura,
Bela e casta, embutida em ouro, nesta alma pura,
A verdade é só uma, somos a latrina para o fado,

As estrelas e sementes, o estrume, o pé no estrado,
O sono eterno recheado por sonho, a despedida,
O resto vem vindo em seus termos seja morte ou vida!

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Entre o Sol e o Crepúsculo

Desvelando o sorriso pelo crepúsculo escondido,
Se sonhar hoje dar-me-ei como enfim encontrado,
Todo o meu coração espera por este terno bocado,
Inteiramente ao vosso dispor e à vossa graça rendido,

Vosso rosto verei por cada sítio em que seja passageiro,
Estrelas brilhantes aparecem e desaparecem no horizonte,
E nós, tal como elas, somente uma ideia que ao além aponte,
Para eventualmente voltar como uma beata ao seu cinzeiro,

E mesmo que o dia jamais amanheça, enfim vi vosso olhar,
Trago-o em épocas onde caminhei o trilho, onde fui o filho
Do destinado, com e sem fado, erguendo-se do Sol e do Mar,

Esses meus amigos, as noites sem fim são minhas companheiras,
Se ficar por aqui, já me dou por feliz, há quem puxe o gatilho?
Amor, és em mim víscera, este é o crepitar, com ou sem maneiras.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Trilhos do Inverno ao Outono

Aqui esperarei por Ester numa demora sem retorno,
Horas dentre jornadas, manhãs e tardes e estações,
O trilho do comboio virá para lá do Inverno ao Outono,
E será suficiente para um sorriso que alumie corações,

Brevidade, olhar fugaz, o silêncio da promessa quebrada,
Dentre véus e sombras, há segredos para lá de enigmas,
Por ela deixarem a porta entreaberta, o sinal na estrada,
O relógio pára mediante os passos na neve destes sigmas,

Tenho discursos ensaiados e cartas que nunca foram enviadas,
Porque estas correntes diáfanas, doiradas por auto-imposição
Não são presença real, são vestígio do efémero, não celebradas,

Porém prometi esperar dentro desta esfera feita de saudade,
Independentemente de qual for a altura do ano ou a estação,
Esta é a distância entre nós, para mim mesmo, e a única verdade.

Eco Maior que a Lembrança

Oh musas e ninfas ouvi o cantar deste trovador,
Há ternura nestas palavras, arrebatam um beijo,
Gestos imprecisos e bandeiras altas do estivador,
Pontes para espelhos, motes para anseios e desejos,

À memória de momentos que pertencem ao passado,
A cavar valas comuns com os dedos e unhas compridas,
E do caixão veio a constelação, por seu brilho acossado,
Pois o relógio é pai de órfão, horas permissivas e preteridas,

Pois este instante ecoa para a eternidade, para o infinito,
Mesmo que não me ouçam, sou uno num único grito!
Então após o crepúsculo virá a aurora numa bela dança,

E eu serei relembrado, serei muito mais que lembrança,
Não por meus versos, mas pelo deixado à humanidade,
Que serão seus, esta será a saída para além da efemeridade.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Nem a Eternidade nos Contém

Estas ruínas desta chama oculta - uma ponte quebrada,
A voz do crepúsculo, do pai para o filho, coração insone,
Renasce a aurora por cada instante e memória eclipsada,
O reflexo fragmentado é somente sombra, so very alone,

E do vértice do labirinto nos atiramos ao abismo, o caminho
É véu rasgado para o superior, escuridão translúcida, beleza,
Cinza ardente numa chuva de vidro, a cicatriz, o eu sozinho,
Há beldade na ferida, o olhar é suspenso mesmo na tristeza,

Naufragámos promessas quando o Amor verdadeiro é vero,
Passageiro dentre segundos, entre memórias e as aspirações,
A orfandade das ressonâncias, oh mãe, o tempo é tão severo,

Nem a eternidade nos contém a nós meu bom amigo Camões,
Pois caminhamos sem chão, voamos além do tido como austero,
A obra é tentativa maior que o homem, para o céu são estes corrimões! 

Poema Para Uma Alma Por Vezes Desencontrada

Há estórias a contar das profundidades destas cicatrizes,
Onde imaginava ósculos escondidos por instantes lunares,
E a sua voz cantava tão suavemente, esquecia as meretrizes,
Curioso por me aproximar da chama, por encontrar os lugares

Onde a sua radiância era serenata carpida por doce trovador,
E o resto me chamava, enquanto comia de colheres de prata,
Caído do paraíso ante um séquito seguido por um olhar observador,
Pois estes olhos traziam lágrimas de esperança escrevendo a errata,

Uma eulogia para quem nunca viveu, enaltecido por toques de despedida,
Permanecendo onde as nossas faces se revoltaram do tido como mortal,
Um mundo de sonhos, um berço de imaginação por uma luzência precedida,

Um conto de fadas irreal com aventuras como tu, e como eu de mão dada,
Sombras do nosso eu efémero, somos um caminho entre o sol e o fractal,
Será que finalmente vêem nosso brilho, e será que finalmente estás acordada?