quarta-feira, 29 de maio de 2024

O Nosso Tempo É Passado

As cadeiras vazias ostentam as memórias de ausência, 
Ditando pós de ouro num olhar submisso ao passado,
As fragrâncias do seu perfume na noite e a sua essência,
Estas roupas vazias de tempo resgatado em garrafas de fado,

Que é meu momento, eclipsado pelo vento, um beijo na brisa,
As águas do rio enlevaram-nos para um longínquo oceano,
Já te esqueceste da nossa canção, aquela que fulgia indecisa,
Este sorriso cravado em profundas cicatrizes, a dor do insano!
 
Entretanto, não tenho nada para lembrar, nada para esquecer, 
Se partir amanhã, serei somente mais uma sombra neste panteão
De Vida, onde o Amor é barato, onde os berços são para morrer,
 
Estas trevas são sangue não fluindo, não há razão mais para sonhar,
As estações revolvem cobrindo com Tempo os restos do coração, 
Vivo no tempo errado, vivo no lugar errado, sem espaço para amar.
 

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Trazendo

Trazendo no olhar e vista esta enxurrada,
Desde o início me resta a eterna chamada,
Um vento tão cruel as lágrimas enlevando,
Ouvindo só o som de uma alma quebrando,

Trazendo no peito esta saudade de uma geração,
Sou do Cupido peão, simples poeta, a refração
De luz num instante inexacto, dou-me por fraco,
Pois não a consigo esquecer mesmo Dionísico,

Trazendo fantasmas na mente e no caminhar,
Sozinho e mal-acompanhado, rápido e devagar,
Sinto a sua falta, reaprendendo esta companhia,

Trazendo-a sempre no coração, que doce maldição,
Nada mais para andar, nada mais aqui para amar,
Eu sou o meu pior inimigo, a mais cruel contradição.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Vaga-lumes

O efémero vagueia na luz transiente da aurora,
Sonhei com o rosto que não consegui alcançar,
Pois antes de chegar já me tinha ido embora,
O amor que trago é sozinho neste só caminhar,

O poeta vagueia no suspiro que ninguém entende,
É o trajecto que ninguém irá alguma vez compreender,
Pela ferida pelas vezes que a si mesmo se rende,
Ele um dia se irá, ele suspirará até por fim morrer,

O encanto vagueia no murmúrio ao eterno deixado,
Este lenço enxuto, o chorar até não mais conseguir,
Prisioneiro de suas amarras, a ela sempre acorrentado,

E a brisa envolve as lembranças de um beijo já partilhado,
Folhas de papel transviadas por um vento que a me perseguir
Demonstra o regaço que perdi, a mão na mão, o nosso bocado.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Eu Amo-te, Adeus

“Eu amo-te, adeus” – cada verso por lágrimas contidas,
Num descuido a alma resvala entre este coração partido,
Ecoando as palavras ditas, entretanto num hoje perdidas,
Numa voz ausente que nos pertence num beijo preterido,

Parto dela, ficando em mim o eco do que foi o firmamento,
Agora, por solidão, tão triste, tão cego, envolvido noite e dia,
Este é o cruel compasso da vida que nos separa do momento,
Ter-te-ei em sonhos e não nesta despedida, tão cruel, tão fria,

Eu amo-te, adeus, neste espaço dentre sonetos terás lugar,
Seguindo em frente, rumo à canção cantada por uma metade,
Mesmo aflorando no peito a memória de um doce e belo amar,

Eu amo-te, adeus, o lamento de uma melancolia aqui rascunhada,
Pois assim que por fim da mentira se faça novamente a verdade,
Trago-te na poesia, de mim para ti, para sempre em mim lembrada.

domingo, 12 de maio de 2024

Poeira de Ouro

Há poeira de ouro no olho e no seu canto,
Pois canto lamentos para quem os ouvir,
Vistas e sons vão e alimentam este pranto,
Por vezes neste trilho apetece é desistir,

Fotografias que relembram o então passado,
Congeladas em memória num doce beijo,
Algures sei que tenho enfim por cá ficado,
E que por cá tenho sim perdido o almejo,
 
Esses caminhos que juntos fomos caminhando,
Onde nossos apelidos se juntavam alegremente,
Nunca pensaria que este coração se ia quebrando
 
Pois alguém algures sorriu entre a bruma e escuridão,
Tempos esses que passaram tão rápido e docemente
Que a poeira de ouro já nem quer ficar nesta mão.


sábado, 11 de maio de 2024

Vigília Sobre O Nosso Cadáver

O tempo vai passando e eu por cá sediado,
Vem a pegada que vou trilhando sozinho, 
Onde de mim faço fragmentos em bocado,
Por onde mim faço solitário este caminho,

Desperto para memórias dum tempo levado,
As sombras do dia subjacentes a esta alma,
Parece que o páramo já nem é tão estrelado,
Pois a algibeira sussurra pelo trilho calma,

A mim me abandonei quando perdi a sua mão,
E permiti a distância por fim ser vencedora,
Trago uma dolorosa cicatriz neste coração,

E assim fugi da sua envolvência tão acolhedora,
Agora vou por desertos e glaciares à contramão,
Até quando durará esta vigília entristecedora?

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Entre o Universo e a Poesia

Há poemas entre as estrelas, galáxias e constelações,
São estes os astros forjados no âmago das nebulosas,
O cosmos espreitando no infinito em mil observações,
O gentil sopro de ar debaixo de asas sempre formosas,

E há brilhantes estrofes em sorridentes e esbeltos versos,
Há emoção no Crepúsculo e há sentimento na Aurora, 
Cometas e meteoros tal como estrofes por céus dispersos,
O Sol espelhado por um rosto lunar, o sonho de outrora,

Névoas e vórtices retornados na breve escrita de um caderno,
A beleza é tácita como um "amo-te" deixada num sussurro,
Entre a poesia e a prosa e sim, entre o Verão e o Inverno,

A alma é metáfora para o ainda não lido, a eterna melodia,
Reflexos de mil estrelas cadentes indo afluentes no enxurro,
E eu, simples poeta olhando o firmamento - o quão tudo queria… 

Ecos de Um Amor Perdido

Em breve meu amor seremos novamente poeira,
Os laços que unem desprenderam-se na eternidade,
Não alcançamos o horizonte, solidificou-se a fronteira,
Fronteira essa que, porém, não matou esta voraz saudade,

O vazio no peito aliado as lembranças esquecidas são esta solidão
A sua querida ausência, outro adeus para esta alma tão perdida, 
Faz-me incidir tal estrela num silêncio ensombrado tricotado à mão,
É tão difícil caminhar de novo sozinho, é tão difícil esta nova despedida,

Da nostalgia de quem sente as cicatrizes abertas, esvaecendo num lamento,
É a ruína de quem acredita que amar é o mais altivo dom, o sacro sacramento,
Desesperado e abandonando o sítio ao qual outrora apelidávamos de querido lar,

No meio deste desencanto, deste desvanecer, não me parece ser possível aqui ficar,
Queria ser breve, somente dizer-lhe o quanto para mim ela para sempre significará,
Mas este é o tempo do consolo num silêncio sem dono dum amor que jamais perecerá.