domingo, 25 de fevereiro de 2018

Sou a Noite Alastrando-se Pela Luz

Este rio flui para a foz mesmo estagnado,
Sou o desencontro da margem querida,
A troca de alma por um beijo silenciado,
O embate das ondas numa costa perdida,

Preparem-se, o poeta não sabe o sentimento
Ou como o gerir pois ele é só vidraça anil,
A enxurrada cobertura para o sofrimento
Do homem que rápido vai de zero a mil,

Não pertenço ao trilho, ao sonho primaveril,
Hoje sou negro, morto, vulto pela treva fora,
Sou o monstro da noite, a emboscada, o covil

De onde vimos que enfim vamos todos embora,
Lanço-me na corrente, acorrentado, tão febril,
Que sinto falta de quem fui em esquecida hora.

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