A ansiedade retroactiva numa nostalgia invertida,
Pressentimento e desejo por um pouco de esperança,
Esta saudade antecipada por um futuro ausente, a ferida
É passado presente de amanhãs esquecidos, a mudança,
Entre o medo e a intuição de ir entre um ontem inacabado,
Estas horas então cruzadas em ciclos de torvelinhos temporais,
Os relógios partidos e as estações trocadas, Cronos derrubado,
Ecos de promessas e fantasmas de planos com todos em espirais,
Há lembranças que nunca foram no cheiro de um dia que não veio,
E as vozes antes do silêncio, tal como as pegadas sem seu caminho,
Os gestos interrompidos de olhares que ainda não se deram em devaneio,
Estico os braços em abraços por vir, cartas não escritas, a multidão sem rosto,
E sei que tenho pressa no peito, cansaço de saber que por vezes não vivi no trilho,
Naqueles desejos suspensos, alma desalinhada, turbulência calma, outro sol-posto.
Blog de um músico e poeta português onde este vai escrevendo e reunindo escritos poéticos.Tal como as músicas são compostos de forma única a partir do mais sublime reflexo, em retoque, do seu sentimento e poesia. Alguns poemas já pertencentes a livros, outros ainda "frescos" e originais no website...
quinta-feira, 31 de julho de 2025
Entre o Ontem que Não Acabou e o Amanhã que Não Veio
segunda-feira, 28 de julho de 2025
Bilhete Só de Ida
Malas cheias de silêncios com mapas a linhas tremidas,
Os comboios levam as memórias, carimbos no passaporte,
Olhos presos a um nome antigo nestas cartas envelhecidas,
Relógios parados entre cruzamentos de meia vida e quase morte,
Um bilhete só de ida para um qualquer caminho sem qualquer chão,
A bússola quebrada apontada para dentro, perdido em cada espelho,
Outro prisioneiro de camas frias de hotéis anónimos, o berço do caixão,
Carregado em cada quilómetro esquecido onde o seguro morreu de velho,
Reinventando as fachadas da cidade para lá das portas à chave fechadas,
Quantas vezes vagueei por estas ruas em calendários por ela demarcados,
Regressei mil vezes a essas ruínas por cada uma destas fotos amareladas,
Hoje, deixo as correntes nos trilhos de cada estação por onde não passei,
Em papeis como estradas e poemas como paisagens, eu porções, tu bocados,
O velho eu ficou na paragem, e eu fui indo e sendo por onde um dia não fiquei.
terça-feira, 15 de julho de 2025
Lua Nova
O céu estrelado dá lugar ao brilho de constelações,
Sem sombras ou eclipses, o cosmos e o seu recomeço,
Tal metamorfoses e esperas em diferentes transições,
Sou só a mudança independentemente do que pareço,
Há saudades no vazio das memórias entretanto esquecidas,
Intuições de ausências, silêncios e vozes quase quebradas,
Por entre reflexos de potenciais sonhos e estrelas prometidas,
Sussurramos toques na pele, a margens então de novo beijadas,
Lua Nova a noite inteira, seja qual for o que vier na turva maré,
De pés descalços na areia, o vento é a neblina, a flor é nocturna,
Pelo horizonte é que há que continuar sempre com indomável fé,
Este ventre do tempo prepara-nos para o que estará na estrada,
Tal presságio para o destinado, fado e oração para a noite soturna,
Renunciando a oferenda de uma cópia, um dia virá a madrugada.
segunda-feira, 14 de julho de 2025
O Verso Que Não Fui
quarta-feira, 9 de julho de 2025
Como o vento leva sementes para sítios desconhecidos,
A noite pode esconder as minhas pegadas da tua porta,
Mas o teu nome ecoará através dos meus ossos,
Não deixes que a mágoa ancore a tua jovem alma,
Apesar de caminhar onde as estrelas são estranhas,
Jamais estou longe de ti,
Mesmo que desapareça para o silêncio
segunda-feira, 7 de julho de 2025
Entre o Agora e o Nunca
A contenda entre o presente e as sombras do passado,
É o velho relógio que já não marca o tempo, a procura,
Pois o tempo é inimigo da alma e do que esta há sonhado,
A brevidade da vida vista num pôr do sol ou numa rua escura,
Sei que há sonhos perdidos entre estações de comboio,
Em estradas que se desfazem mediante cada novo passo,
Somos andarilhos em busca de lugar seguindo um arroio,
Mesmo quando o poeta perde as palavras, marca o compasso,
E quando a noite vem, ele cobre-se com mantas estreladas,
Em danças de estações feitas de pinturas que ninguém vê,
O palco vazio depois do aplauso, as vozes do então ecoadas,
Entre o agora e o nunca, há espelhos que por nós foram esquecidos,
A liberdade do não saber, o infinito no horizonte de quem ainda crê,
Acredito que há luz entre os abismos, mesmo nos brilhos obscurecidos,