Blog do músico e poeta português Joel Nachio onde este vai escrevendo e reunindo escritos poéticos.Tal como as músicas são compostos de forma única a partir do mais sublime reflexo, em retoque, do seu sentimento e poesia. Alguns poemas já pertencentes a livros, outros ainda "frescos" e originais no website...
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
Sobra, Entretanto, Sempre Apenas Um
Uma ruga na testa enfim aqui aprofundada,
Terra, somente terra, trago na boca a melodia
De porções que caíram aos poucos da estrada,
Reaprendendo o que já sei, o toque do perdão,
Espero crescer e cair onde o astro-rei é poente,
Onde a sombra não cobre a linha do coração,
Onde a vida só pretende ir adiante e em frente,
Trago a asfixia no peito e a cura é a esperança,
Posso sempre partir se for assim que vem o fim,
As rugas grisalhas doem no dançar da criança
Mas as ruas afogarão a tristeza, o tempo virá sim,
Poderá vir alguém enquanto o horizonte avança,
Entretanto só eu para dizer bom dia dentro de mim.
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
Não Pertenço Aqui Nem Acolá
Escassos são os ecos do passo arrastado,
Recordando o que esqueci vou sozinho,
Sou porção entre o aqui e o ali – o bocado,
Amor? Deixo o teu cadáver neste coração,
Enfeitando-o de ternas rosas e uma borboleta,
Querendo tal bela fénix desabrochar do caixão,
Sou porção entre o outrora e o aqui – quase poeta,
O errante numa linha sem pontos em concreto,
Hoje a noite é uma estrela no cerúleo viandante,
A despedida é um breve aceno largado ao incerto
Passageiro, sorrindo, cúmplice dos beijos à Lua lá,
Sob os suspiros cadentes de uma ânsia inquietante
E sou eu sem pertença aqui e sem pertença acolá.
domingo, 25 de fevereiro de 2018
Sou a Noite Alastrando-se Pela Luz
Este rio flui para a foz mesmo estagnado,
Sou o desencontro da margem querida,
A troca de alma por um beijo silenciado,
O embate das ondas numa costa perdida,
Preparem-se, o poeta não sabe o sentimento
Ou como o gerir pois ele é só vidraça anil,
A enxurrada cobertura para o sofrimento
Do homem que rápido vai de zero a mil,
Não pertenço ao trilho, ao sonho primaveril,
Hoje sou negro, morto, vulto pela treva fora,
Sou o monstro da noite, a emboscada, o covil
De onde vimos que enfim vamos todos embora,
Lanço-me na corrente, acorrentado, tão febril,
Que sinto falta de quem fui em esquecida hora.
De Todas As Vezes Ela É A Única Vez
Tento não ir pelas rachas no pavimento,
Pois todos nos apaixonamos por vezes,
Há vezes em que somos só sentimento,
A lua cheia, o trilho alumiado por estrelas,
Sou soturno Domingo, é à sua memória,
Pois todos nos apaixonamos por donzelas
Que não têm espaço para outra estória,
Abrigo-me sob estes lençóis amarrotados,
Fugindo de quem preenche este coração,
Entre os seus braços, entre postais rasgados,
Meu amor, és a minha dor, és a minha oração,
Até esqueço dos passos outrora já trilhados,
Porém és de todas a única vez, a única estação.
Como Perdurar No Momento Se O Momento Passa?
Os lençóis amarrotados, leitos do passado,
O silêncio onde nossos corpos eram versos,
De um toque dado, de um lume já crepitado,
Entrelaçados, vulneráveis, as ruas transbordando,
Sombras e semblantes pela janela entreaberta,
O peso do eclipsado aos ombros aqui suspirando:
Era eu e ela numa mescla divina pela hora incerta,
O seu rosto labirinto decorado nas vielas da mente,
O seu toque moldura para um eterno sentimento,
Cada forasteiro acobardava-se no beijo ausente,
As quebras do passeio, o acenar a cada momento,
Como posso ser se sou ao instante pertencente?
“Olá, adeus…” eu sou da brisa, eu sou do vento.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
Enquanto Olho Para o Lado O Mundo Passa-me (Ao Lado)
Nostalgia de vida longe do caos da cidade,
Olhos calejados e atirados enfim à margem,
Sou a parte deixada ao cuidado da saudade,
Por onde vou cada passo é tornado passado,
Amadas desvanecem no ardor do coração,
Para quê procurar consolo num retiro apartado
Se os semblantes e rostos são para o beijo monção,
Esta é a estória de um viandante de costas para o sol,
Do menino feliz, tornando um dia, outrora, senhor,
Seria este crescimento para a sua alegria o anzol?
Ficando as rugas grisalhas e indo a manhã serena,
Eu sei, há beleza na falha, na degradação, oh amor
Há tanta estação e eu contido por esta minha pena.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
Beleza É O Ângulo do Olhar Aqui
Passo eu no desencontro, inteiro e vertical,
Sim, sou assim por cada passo na enxurrada,
Deixem-me por aí em qualquer aurora boreal,
Se me cobrisses eu seria maior que o poente,
Perdoa, estou sob o cerúleo, perdido na estrada,
Estou algures onde só quem sabe é quem sente,
Intenso, apaixonado, maior que este mundo,
Dá-me a não, cada instante deve ser imperdível,
Calo-me no olhar das estrelas, eis o impreterível,
Este beijo inteiro através da pintura do segundo.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018
Poema do Perdão (Por Aqueles Que Não Fui) Pt. II
Sou um estranho familiar, um pedaço ao longo do caminho,
Cada instante ventre para a Vida, espectro para o passado,
Beijo no céu e na calçada, a vereda com todos indo sozinho,
Não alcançando o fim, a salvação é a perdição do buscador,
A combinação do cofre é a ausência de chave, é este perdão,
Não pelo que fui mas por todos aqueles que não fui, oh Amor,
És tu que me ergues pelas profundezas e cumes deste chão,
Sim, não! Talvez, nunca sem nunca o dizer, os olhos entreabertos,
As janelas para o infinito, visto-me de roupas semi-retalhadas
Como aprecio a luz destas horas ora paradas ora irrequietas,
Sim, não! Talvez, o êxtase está no sorver o dia, a noite, a beleza,
Só assim sou passageiro no carrossel e as correntes quebradas,
Um dia serei pó, um dia voltarei, apenas assim vejo com clareza.
Poema do Perdão (Por Aqueles Que Não Fui)
À memória esvoaçante celebrando o sentimento,
Ao precioso momento afastado da ansiedade,
Ao beijo sem rédea, à beleza de cada momento,
Estremecendo na cama dentre lençóis rasgados,
O homem cujo amanhã era cinzeiro para o sonho,
Esperando por um nascente por dedos apontados,
Assim era a passagem de quem ia indo suponho,
Eu - o poeta incitando o universo aqui mesmo contido,
A palavra de um mundo silenciado entre as margens
De um poema que desviveu antes de ser proferido,
Sou um som forasteiro na boca de mil e uma viagens,
Hoje um velho sentado na reiteração do que tem sido,
Um semblante familiar carregado das minhas bagagens.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
Amor Pelo Instante, Paixão Pelo Momento
Tiquetaque vem o vento, inglório passageiro,
Assim embarco e me endereço no momento,
Sou refém deste belo instante forasteiro,
Porém assim dita a brisa que passa pelo rosto,
Nasço, vivo e morro nas réstias do caminho,
Sou de mim a fuga e em mim o único encosto,
Pois ninguém é lágrima enxugada no mar,
É esta a batalha que confere ao pincel cor
Não obstante, sou fragmentos de eterno amor
E para tal basta-me querer ou não voar.