terça-feira, 24 de setembro de 2024

Na Berma da Saudade

Entre o momento ido e o instante entretanto pausado,
Relembrando os traços dos beijos perdidos, não dados,
Encarando o perdão invertido, o toque por si fragmentado,
Por lágrimas então polidas por círculos tornados quadrados,

Trago a algibeira cheia de esperanças por palavras fracturadas,
Os toques suaves e mornos em mil sonhos por estrelas deixados,
Perdoa-me por nunca ter sido o que querias, as nascentes secadas,
De sentimentos para poder exprimir a carência de amantes separados,

E enquanto durmo querubins passam-me expeditos através das retinas,
Mensageiros do inaudito, do divino, do perecível perante a humanidade,
As andorinhas atravessam o céu e abrem o trilho para terras clandestinas,

Pois tudo me faz relembrar dela, de um amor morto na berma da estrada,
Sem luzes radiantes no fim do túnel, entre o céu e o inferno esta orfandade,
Em jazigo aberto, vala e sepulcro desta triste noite até ao início da alvorada.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Viandante no Nevoeiro

A noite vem e cai que nem uma cortina sobre este olhar,
Navegando tal idos fantasmas por quartos poeirentos,
A vida parece um fardo, parece que para nós não há lugar,
Pois o passado se tornou fracção de mil e um fragmentos,

Pois o viandante está longe da origem, apartado da chegada,
Esqueceu-se do seu trono, da sua coroa, do seu celestial legado,
Onde as estrelas fulgiam, perto da sua pele, doce e sossegada,
Pois deita-me outra bebida e eu deixarei este amor alfandegado,

Sim, estou perdido desde que se escapou a sua mão da minha,
O doce ideal, quase fatal, aprimora-se a necessidade de uno ser,
Quem me dera conseguir, quem me dera reter essa torpe ladainha,

Tomei o que merecia, e é nenhum ou qualquer um o aprendizado,
Vai o orfão pela estrada sem fim num nevoeiro que não deixa ver
O que poderá vir, o que poderá colar num coração estigmatizado.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O Voo e o Labirinto

Rasurando as sentenças outrora em pedra escritas,
Nunca soubemos qual o futuro que nos era reservado, 
Não choraremos pelo pássaro que voou nas horas malditas,
Não rezemos pois para ele voltar, será que voou todo o voado?

E nesse bocado, um amigo caminhando este mesmo caminho,
Rascunhando sonhos até ao nascer do sol tal como profetizado,
Onde regressarei no detalhe da manhã num beijo com carinho,
Cada carta trocada constelação cintilante para o já encontrado, 

E mesmo que caia, erguer-me-ei num gesto de esperança,
A felicidade é eufemismo, indizível ante qualquer estranho,
Imbricada num jardim de quietude guardado em lembrança,

O homem insano morreu a apontar para o Sol e a beijar o Luar,
E nesse longo labirinto há momentos a conter longe do rebanho
Onde seremos por debaixo de uma estrela num eterno e belo lugar.